segunda-feira, outubro 30, 2006

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Esta semana a preguiça venceu.

Queria ir à exposição do artista plástico e escultor indiano Anish Kapoor, em cartaz até o dia 7 de janeiro no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), mas os dias passaram, a semana acabou e eu não fui. No cinema, a mesma coisa. Pretendia assistir ou a Elza e Fred - Um Amor de Paixão ou O Buda. Derrotado pela preguiça, não fui a nenhum dos dois. Não assisti à apresentação do grupo de dança de Florianópolis, Cia. 11, nem à peça de teatro que estava em cartaz a poucos metros da minha casa.

E por que tanto cansaço? Talvez pela batalha que travei para comprar o meu primeiro celular. Se bem que desconfio que foi mais de fundo moral. Abri mão do único título que me distinguia e me tornei mais um cidadão rastreável.

Assim, por hoje, tudo que tenho a sugerir é o vídeo Três Enterros de Melquiades Estrada, dirigido por Tommy Lee Jones e que só fui me animar a assistir após atentar para o detalhe que o roteiro foi escrito por Guilherme Arriaga, o mesmo do excelente Amores Brutos e 21 gramas. No fim das contas, descobri que a direção e a interpretação de Jones também são certeiras.

Já para ler, bem, descobri João Gilberto Noll. Mas sobre este eu prefiro falar numa outra hora, porque agora bateu uma preguiça.

quarta-feira, outubro 25, 2006

quarta-feira, 25 de outubro de 2006






Midiótica
Não pude escrever antes a respeito da discussão resultante da reportagem de capa da edição de CartaCapital da semana passada (ver o post de 17 de outubro). Quando, nesta quarta-feira, reproduzi as capas desta semana, queria fazê-lo. Mas só hoje (sexta) pude comentar algo. Durante todo este tempo, as acusações sobre o papel desempenhado pelos veículos de comunicação nestas eleições causaram a irritação ou a indignação de vários profissionais que se posicionaram ao sabor de suas convicções políticas.

Resumo da ópera para os que não sabem do que se trata: o experiente repórter político Raimundo Rodrigues Pereira publicou na edição de CartaCapital de 18/10 a primeira matéria de, até agora, duas, sobre o tratamento dado pela mídia aos fatos que antecederam a realização do primeiro turno. Leia-se, a exibição das fotos tiradas pela Polícia Federal do dinheiro apreendido na operação que deteve os militantes petistas envolvidos na compra do Dossiê Vedoin.

Em linhas gerais, a reportagem “Os Fatos Ocultos” procura demonstrar que a mídia, em especial a Globo, omitiu informações cruciais ao divulgar as fotos e, assim, contribuiu para que houvesse um 2º turno, prejudicando a candidatura de Lula. Dada a riqueza de detalhes apurados pelo repórter, os editores imaginaram estar, com a matéria, dando sua contribuição a um eventual Dossiê da Mídia.

Além de algumas revelações de bastidores (jornalistas teriam sido avisados da prisão dos petistas por um dos donos da produtora de marketing político que presta serviços a José Serra e a Geraldo Alckmin; as fotos do dinheiro foram entregues a alguns repórteres pelo mesmo delegado da Polícia Federal que, duas semanas antes, havia prendido os petistas), Raimundo levanta dúvidas sobre os procedimentos técnicos e éticos dos profissionais de comunicação. (Por que o Jornal Nacional de sexta-feira (29) teria dado tanto destaque à divulgação das imagens quando concorrentes já falavam do acidente com o avião da Gol?).

A principal questão, porém, é por que os jornalistas teriam omitido de seus leitores/ouvintes/telespectadores a informação de como o cd com as fotos chegara as suas mãos?

Qualquer pessoa minimamente esclarecida sabe dos interesses políticos e econômicos que permeiam a atividade jornalística. Sabe, também, que a credibilidade de um veículo é proporcional a sua capacidade de manter a isenção e a objetividade, possíveis apenas por meio da fidelidade à verdade factual e à compreensão do que é notícia de interesse público (e não do público). Pois então, neste caso, qualquer um saberia também que a informação divulgada com alarde só estaria completa caso os jornalistas revelassem as condições em que haviam obtido as cópias das fotos.

Não se tratava de revelar uma fonte, mas de deixar claro que um delegado da Polícia Federal havia entregue a cinco jornalistas um cd com 23 fotos cuja exibição havia sido desautorizada pela Justiça. Que havia lhes recomendado afirmarem ter recebido o material de alguém que o teria roubado dele próprio. E que, para dar verossimilhança ao álibi, ele, o próprio delegado, disse que forjaria um boletim de ocorrência e insinuaria aos seus superiores que o autor do furto poderia ser um jornalista mais ousado. Segundo Raimundo Pereira, o delegado chegou a recomendar que as fotos fossem editadas a fim de suprimir detalhes e despistar sua origem.

O pior. Toda a conversa entre o delegado e os jornalistas a quem entregou o cd estava gravada e foi apresentada a outros profissionais. Um deles, o repórter da Tv Globo, Luiz Carlos Azenha, chegou a veicular em seu blog (http://viomundo.globo.com) trechos desta gravação. Em uma das passagens, o delegado deixa clara sua principal preocupação ao entregar o material. “Tem de sair hoje à noite na tevê. Tem de sair no Jornal Nacional”.

É como diz Azenha na apresentação de seu blog. "Não dá para mostrar tudo na tevê".

Então, vá à net e tire suas próprias conclusões:


Os Fatos Ocultos – (a reportagem que originou a polêmica)
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5457

Rede Globo: os fatos – (a réplica do diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo, publicada inclusive na CartaCapital desta semana, como matéria publicitária paga)
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=403JDB010

Tartufo trabalha na Globo? - (a tréplica de Mino Carta à carta-resposta de Ali Kamel)
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=5459

O Fantasma do Paredón – (a opinião do jornalista Alberto Dines sobre a matéria de CartaCpital)
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=404JDB001

De onde veio o Dinheiro – (texto que o jornalista global Luiz Carlos Azenha publicou em seu blog sobre a montagem cenográfica em torno do dinheiro apreendido pela Polícia Federal)
http://viomundo.globo.com/site.php?nome=PorBaixoPano&edicao=359

Réquiem do jornalismo – (o elogio a Raimundo Pereira, a crítica ao antijornalismo e a opinião do jornalista Luis Nassif)
http://z001.ig.com.br/ig/04/39/946471/blig/luisnassif/2006_10.html#post_18660494

O 1º Golpe já houve. E o segundo? – (a opinião de Paulo Henrique Amorim fica explícita no título)
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/394501-395000/394778/394778_1.html

Quase mais uma ... (A notícia do ‘laranja’ que não era ‘laranja’ e da jornalista que não era jornalista, ambos à serviço do PSDB, foi divulgada como verdadeira pelos principais veículos da imprensa, ocupando as primeiras páginas de sexta-feira, 27. Para entender, é necessário, após assistir ao vídeo –primeiro link – ler a entrevista que o delegado da PF concedeu a Paulo Henrique Amorim – segundo link)
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/397001-397500/397246/397246_1.html
http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/397001-397500/397257/397257_1.html

segunda-feira, outubro 23, 2006

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

O que li, vi e ouvi e recomendo embora ninguém tenha pedido
Na telona - A estréia nacional Pequena Miss Sunshine, comédia on the road sobre uma famíla autenticamente norte-americana que, apesar da esquisitice e desequilíbrio de seus membros - paranóicos por estarem à altura das promessas do american way of life - se assemelha demais à média das famílias ocidentais.
Particularmente, apesar de achar os personagens carismáticos e o filme divertido, tenho algumas ressalvas. Primeiro, após sugerir o que poderia ser entendido como a crise do modelo familiar tradicional, o filme defende-o da forma mais conservadora possível. Segundo, me parece pedante e desnecessária a opção por sustentar, ou mesmo relacionar, as idiossincrasias do adolescente que se recusa a falar após ter feito voto de silêncio, ou do tio homosexual, às figuras do filósofo alemão Nietzsche e do escritor francês Marcel Proust.
Mas minha principal ressalva é quanto ao fato de ambas as idéias centrais do filme, ou seja, a crítica ao modelo de sucesso imposto pela cultura norte-americana, aqui representado pelo concurso de beleza infantil (Miss Sunshine) e a própria possibilidade de superação dos problemas familiares através da união para atingir um objetivo comum, ou da simples fuga do cotidiano, já terem sido exploradas ao extremo pelo cinema norte-americano. De cabeça, lembro, no primeiro caso, Miss Simpatia. No segundo, Férias Frustradas, um filme também engraçado com o 'mala' do Chevy Chase.
Apesar desta minha rabugice, a platéia parece ter gostado muito do filme e eu próprio dei boas risadas. De forma que fica valendo a indicação. Melhor ainda que, no Brasília Shopping, até o dia 26, o ingresso é promocional, custando a metade do preço.
Na telinha - Um argentino. Sim, qualquer um argentino. A Nuvem, Nove Rainhas, O Pântano, O Filho da Noiva, Menina Santa, Clube da Lua, O Cachorro...Tudo bem. Talvez O Pântano e Menina Santa não sejam palatáveis à qualquer sensibilidade, mas uma década de ótimos filmes me fez concluir que não há, hoje, produção cinematográfica como a argentina.
Nessa semana, assisti a O Abraço Partido (El Abrazo Partido - 96 min.), dirigido por Daniel Burman e vencedor de dois prêmios do prestigiado Festival de Berlim. Conta a história de Ariel, descendente de judeus-poloneses que migraram para a Argentina fugindo aos horrores da Segunda Guerra e ao extermínio de judeus. Criado pela mãe após o pai ter abandonado à família para ir defender Israel durante a guerra do Yon Kipur (1973), o garoto cresce em meio à bugigangas made in china, às histórias pessoais e aos desencontros dos lojistas de uma galeria comercial decadente de Buenos Aires, onde sobrevive a loja de tecidos criada e deixada pelo pai e administrada pela mãe. Sem horizontes após ter largado a faculdade e abandonado a namorada, Ariel planeja tentar a sorte na Europa como cidadão polonês, porém, para isso, tem de remontar seu passado e o de sua família.
Um filme emocionante, engraçado, de atuações carismáticas e roteiro inteligente.
Para ler - A Louca da Casa (Ediouro, 196 pág.). Não li o romance em forma de ensaio da espanhola Rosa Monteiro durante a semana que passou, mas o fiz em igual tempo, no início deste ano. Após muito tempo, foi o primeiro livro que li de um só fôlego.
A louca a que a escritora alude é a imaginação. E o livro é, a bem da verdade, indefinível. Misto de romance, com elementos autobiográficos e, no fundo, um ensaio sobre a importância da imaginação para os criadores, sobretudo para os que lidam com a literatura, e desta para a humanidade. Tudo isso sem a chatice da erudição, como um bom bate-papo.
Para ouvir - Digam o que disserem, Deus salve o E-mule e similares programas de compartilhamento de arquivos. Pois graças a ele, e à dica valiosa de um amigo conhecedor de samba, fui apresentado à malandragem de Roberto Ribeiro (1940 - 1996). Estranho que eu nunca tivesse ouvido falar do carioca, nascido em Campos, ex-jogador do Fluminense e puxador de samba da Império Serrano. Na internet há muito dele para baixar. Eu fiz minha seleção. Mel pra minha dor; Todo menino é um rei, Acreditar, Conto de areia, Viola da Serrinha, Vazio, Favela, Só pra Chatear, Recordações de um Batuqueiro (com Elza Soares), Cartas Marcadas, Proposta Amorosa, Viva meu Samba, Me engana que eu gosto, Sereno da madrugada, Estrela da madureira, Ingenuidade, Cinzas da solidão, Desalento, Triste desventura e Ingenuidade. Só pérolas que, não fosse a democratização possibilitada pelas novas tecnologias, estariam jogadas nos espúrios arquivos das gravadoras multinacionais.

sexta-feira, outubro 20, 2006

sexta-feira, 20 de outubro de 2006


Octopus Surfer
Pelé, Schumacher, Michael Jordan, Robert Scheidt, Muhammad Ali, o belga Eddy Merckx (e não o norte-americano Lance Armstrong), Tony Hawk....O esporte produziu uma seleta lista de atletas cujos feitos transcenderam os limites de suas respectivas modalidades, transformando-os em mitos. Na esteira de vitórias e novos recordes, vieram a fama, o dinheiro, as mulheres – o que contribuiu para que, além de darem o devido retorno a seus patrocinadores, se tornassem ainda mais populares e, conseqüentemente, angariassem mais fama, dinheiro, mulheres....No surf, este cara se chama Kelly Slater.

Apontado como o melhor surfista de todos os tempos, Kelly se destaca por ser completo, dominando qualquer tipo de onda, em qualquer condição. Seja voando sobre a junção de merrecas, seja dropando atrasado e entubando fundo em ondas grandes ou perigosas como Teahupoo, no Taiti, o norte-americano parece sempre pronto a expandir os limites do esporte.

Não bastasse ter igualado, ainda no início da temporada 2006, o recorde de seu conterrâneo Tom Curren, outra lenda do esporte que venceu 33 etapas do circuito mundial, Kelly, na semana passada, ensinou jornalistas e surfistas a pronunciarem a palavra OCTACAMPEÃO.

Não é pouca coisa. Merecidamente, o floridiano (estado conhecido pela má qualidade de suas ondas) é o profissional mais bem-sucedido da história do surf – esporte em que os atletas só começaram a colher os benefícios da profissionalização no final da década de 70. Desde que, em 1992, com 20 anos, se tornou o mais jovem campeão mundial, Kelly foi capa de revistas extra-surf como Interview, participou do seriado Baywatch, namorou a ‘siliconizada’ atriz Pamela Anderson e a ubermodel Gisele Bundchen, emprestou seu nome para um jogo de vídeo-game, estrelou dezenas de vídeos de surf e campanhas publicitárias, publicou uma precoce autobiografia e surfou por quase todo o mundo. Agora, com 34 anos, ao vencer seu oitavo título, Kelly se torna o surfista mais velho a conquistar o tour mundial.

Mesmo que os jornais não tenham noticiado seus feitos, diga, ele é ou não o cara? Caso concorde, me faça um favor. Se acaso esbarrar com um pretenso jornalista esportivo, pergunte a ele sobre a trajetória de Kelly. Caso ele não o conheça, mande-o à merda.

terça-feira, outubro 17, 2006

terça-feira, 17 de outubro de 2006

AGENDA SETTING


"O mundo parece diferente para pessoas diferentes, dependendo do mapa que lhes é desenhado pelos redatores, editores e diretores dos jornais que lêem."
(Bernard Cohen, The Press and Foreign Policy, 1963)

segunda-feira, outubro 16, 2006

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Aquilo não era um cachimbo, não era a mamãe, e isto não é um blog cultural. Mas mesmo que minha opinião não valha à pena, me dêem a chance de brincar de crítico cultural, nem que por exercício. Amigos, aguardo comentários, opiniões e críticas de quem já tenha lido, assistido, ouvido ou visitado a qualquer uma das sugestões que eu indicar, se tudo der certo, a cada segunda-feira.

Para assistir na telinha - De início, indicarei dois, pois não estou certo de que o primeiro, a produção hispano-argentina Na Cidade Sem Limites, de 2002, esteja disponível em vídeo, já que o assisti no Cine Brasília, durante a Mostra de Cinema Espanhol. De qualquer forma, o filme de Antonio Hernandéz surpreende ao tornar um drama familiar em um excelente suspense onde nada é óbvio, sejam as relações familiares, seja a própria doença que acomete o pai e motiva a reunião familiar em um hospital de Paris.
Na impossibilidade de encontrar esta fita, fica valendo o brasileiro Nina (www.ninaofilme.com.br), primeiro longa-metragem do diretor Heitor Dhalia . Livremente inspirado no romance Crime e Castigo, do russo Dostoievski, o filme recorre aos traços do igualmente atormentado desenhista Lourenço Mutarelli para dar vida às angústias e alucinações da personagem principal, excelentemente interpretada pela atriz de A Grande Família, Guta Stresser. Além disso, o diretor mostra ter credibilidade e ser bem-relacionado, pois pode se dar ao luxo de contar com um elenco de feras: Selton Mello, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Matheus Nachtergaele, Renata Sorrah, Juliana Galdino e a ótima Myriam Muniz, um assombro no papel da velha Eulália.

Para assistir na telona – Já indiquei, anteriormente, o indie Eu, Você, Todos Nós. Assim, atualizo a dica com um filme que acaba de estrear. Dália Negra, o novo policial do diretor Brian de Palma é pipoca, mas das que têm a qualidade de proporcionar prazer momentâneo. Além de trazer beldades como Scarlett Johansson, Hilary Swank e Mia Kirshner (tudo bem, vá lá! Para as garotas, tem também o atual queridinho Josh Hartnett), prende a atenção do espectador. Algumas cenas violentas são dispensáveis, mas, afinal, isso é Hollywood.

Para ouvir em casa – Nem que seja por ocasião dos dez anos de morte de seu vocalista e letrista, Renato Russo, acho que vale a pena (re)escutar com atenção os discos da Legião Urbana. Nem que seja para verificar se suas músicas e as letras escritas por aquele que, a meu ver, foi o maior letrista do rock brasileiro, continuam dizendo algo sobre nosso tempo.

Para ler no Parque da Cidade ou na praia – Os textos são bons, embora sejam o que, em jornalismo, se chama de frios, ou seja, que não tem data de validade porque não são factuais. De qualquer forma, o lançamento da revista Piauí (R$ 7,50) foi “o fato” para o mercado editorial. E como é uma empreitada do diretor de videodocumentários João Moreira Salles (Notícias de Uma Guerra Particular, Entreatos), filho de banqueiro e irmão do Walter Sales de Central do Brasil, é lógico que a revista vai virar assunto obrigatório de mudérnos, estudantes de jornalismo e afins. Mas o que me incomodou foi o fato de que continuamos em desvantagem frente à geração anterior. O melhor texto é do Ivan Lessa, o mesmo que, em 60, escrevia para O Pasquim. Ironia fina.

sexta-feira, outubro 13, 2006

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

LERO-LERO
Reproduzo aqui as 10 perguntas de ordem moral consideradas realmente relevantes pelo editor do fanzine carioca Outros Baratos - “uma despretensiosa tentativa de registrar em celulose o tom da conversa-fiada que livreiros e clientes do sebo Baratos da Ribeira (www.baratosdaribeiro.com.br) mantém”.

“Já que excesso de cultura pode tornar a vida mais infeliz quando não se tem coragem de errar...porque conhecer melhor o mundo costuma tornar as decisões mais lentas, uma vez que aumentam os detalhes, as alternativas e as consequências a serem consideradas... as perguntas que realmente merecem sacrifício e empenho para serem respondidas, as respostas que nos repartem em partidos e que pesarão no momento de julgarmos e sermos julgados são meia dúzia. Ou um pouco mais. Aqui seguem dez delas:

01 – Em que ponto o resultado de uma fecundação se torna uma pessoa?

02 – O corpo de cada um é um patrimônio pessoal sobre o qual somos absolutamente soberanos ou recursos biológicos que nos são emprestados por um prazo limitado e pelo qual há alguma obrigação de zelo?

03 – Dentro de quais condições e em que medidas a humanidade deve usufruir os recursos naturais?

04 – Qual o máximo de recursos monetários que se deve permitir que uma pessoa ganhe sem que ela tenha trabalhado para tanto?

05 - A privacidade, no sentido do espaço onde estamos livres de sermos julgados, consiste num modo de fazer ou naquilo que se faz?

06 – Qual o tamanho do esforço que a sociedade deve despender para tornar um indivíduo auto-suficiente quando as oportunidades que a média das pessoas recebe não são o bastante?

07 – Quando um crime ou pecado causa tanto estrago que torna impossível ao culpado compensar o mal cometido?

08 – Até onde é possível transformar quimicamente a personalidade de alguém sem que suas vontades e desejos se tornem as do fabricante ou as do psiquiatra?

09 – Quais idéias são tão perigosas que não valhem a pena deixar circular e discutir, já que proibí-las não as tornarão menos convincentes?

10 – Para que serve a Arte?”

quarta-feira, outubro 11, 2006

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Há dez anos, neste mesmo horário, o telefone do hotel onde eu trabalhava, em Santos, começou a tocar. Atendi-o. Era minha então namorada. As duas chamadas que se sucederam também eram pessoais, de amigos muito próximos. Um deles ligava de São Paulo. Os três tinham o mesmo tom de voz embargado e denunciavam a mesma hesitação em reproduzir a notícia que tinham acabado de ouvir: Renato Russo, vocalista da Legião Urbana e principal letrista do rock brasileiro durante a década de 80, estava morto.

Não tenho vergonha de dizer que quando atendi a quarta chamada - esta, de trabalho - estava chorando. Da mesma forma que para meus amigos e para milhares de fãs da Legião Urbana, eu parecia ter perdido alguém muito próximo. Lembro de diversos apresentadores da MTV, Soninha entre eles, consternados, apresentando seus programas com as pálpebras inchadas. Por quase dois dias, shows, entrevistas e clipes da Legião ocuparam quase que a totalidade da grade da emissora.

Hoje, entendo porque. Renato Manfredini Júnior (1960 – 1996) foi realmente muito próximo e teve influência direta sobre a educação sentimental de milhares de pessoas.

Por mais de uma década, desde que, em 1985, o primeiro disco da banda chegou às rádios e estourou sucessos como Ainda é Cedo, Geração Coca-Cola, Soldados e Por Enquanto, as letras de Renato e a postura da banda conquistaram não apenas a simpatia do público, mas uma admiração que levou jornalistas a atribuírem a seu vocalista uma liderança quase messiânica sobre os fãs. Ledo engano. Estes ouviam-no e assimilavam quando ele dizia não haver nada de especial em si mesmo. Ainda que isso contribuísse ainda mais para que o achassem especial, impedia que se tornassem tietes. Assim, Renato não era adorado por ser famoso, por dar entrevistas ou porque aparecia na tevê. Em geral, era admirado pela capacidade de se comunicar com quem o ouvia.

Hoje, lógico, ouço Legião de outra forma. Mas a admiração por suas mensagens não diminuiu. Pelo contrário. Ao ver garotos e garotas que estavam nascendo em 1996 cantando as mesmas músicas que eu cantava nas rodinhas de violão de meus tempos de adolescente, acompanhado por meus amigos, sei que Renato Russo e a Legião deixaram uma obra perene.

segunda-feira, outubro 09, 2006

segunda-feira, 09 de outubro de 2006

A Outra Revolução Necessária
Apartado do Ministério da Educação (MEC) em 1985, o Ministério da Cultura (MinC) cumpre o importante papel de ‘desesconder’ o Brasil. Traduzindo em ações, isso significa, por exemplo, mapear e proteger as expressões culturais locais e elaborar políticas de proteção diante da avalanche produzida pelos conglomerados de mídia e entretenimento. É esse o objetivo quando o ministério se propõe a valorizar a capoeira; a defender o samba-de-roda; a criar pontos de cultura em comunidades carentes a fim de democratizar o acesso aos bens culturais ou ao patrocinar os filmes que vêm sendo produzidos nas periferias, comunidades indígenas e quilombolas: preservar nossa identidade cultural.

Porém, a fatia do bolo que cabe ao MinC é de apenas 0,5% do orçamento total da União. Em 2005, isso significou menos de R$ 350 milhões. Não fossem os recursos arrecadados graças às leis de incentivo fiscal e, provavelmente, o ministério morreria de inanição. A Lei Rouanet, por exemplo, só no ano passado movimentou mais de R$ 600 milhões de reais ao permitir que empresas invistam em cultura parte do que teriam de recolher aos cofres do Estado sob a forma de impostos. Impostos que se transformariam – ou deveriam – em investimentos em Educação, Saúde, Saneamento Básico e...Cultura.

O problema deste modelo, segundo alguns especialistas da área é que, com isso, o governo deixa a cargo da iniciativa privada a responsabilidade por definir o que vale a pena ser visto, lido, ouvido, enfim, conhecido.
Segundo estes mesmos especialistas, o que está ocorrendo, além da privatização da gestão cultural, é que, como nunca, os produtos da indústria cultural se tornaram “mercadorias”. Portanto, valem conforme sua capacidade de oferecer retorno. Daí decorre que o departamento de marketing - a quem geralmente cabe a palavra final sobre quais projetos merecem o aporte financeiro em troca da exposição do logo da empresa - privilegiam o que já é conhecido das massas. No teatro, para ficar em apenas uma expressão artística, são, em geral, os atores já conhecidos graças à tevê os que conseguem amealhar o maior percentual de patrocínios. O pior é que, na certeza de contarem com teatros lotados, estes mesmos atores, ignorando os patrocínios que obtiveram graças à renúncia fiscal, cobram uma exorbitância do público.

Some-se à falta de dinheiro a carência de recursos humanos do MinC (hoje, são 2,5 mil servidores. Correção: A exemplo da CartaCapital, escrevi que há 20 anos o MinC não realiza concurso público. Na verdade, após duas décadas sem contratar, no início deste ano o ministério fez um novo concurso. Os aprovados estão sendo convocados) e está criado o cenário para que surja o abismo entre as propostas apresentadas pelos sucessivos ministros e a real capacidade de ação da pasta.
Como bem lembrou o atual ministro, Gilberto Gil, “a recomendação da Unesco é de que as instituições culturais recebam 1% do orçamento nacional”.
(fonte: CartaCapital, ed. nº 411, 20/09/06)

quinta-feira, outubro 05, 2006

quinta-feira, 05 de outubro de 2006

QUANTO VALE OU É POR QUILO
O que interessa mais ao leitor? A periodicidade ou a informação precisa e atualizada?
Época,Veja e Istoé (R$ 7,90 cada) chegaram às bancas de todo o país no domingo (1º) em que os brasileiros decidiam os rumos políticos dos próximos quatro anos. CartaCapital (R$ 7,50) preferiu atrasar a publicação da edição semanal. Graças a isso, trouxe uma primeira radiografia do resultado das urnas de todo o país. Sem falar das notícias mais atuais a respeito do acidente aéreo em que morreram 155 pessoas.

quarta-feira, outubro 04, 2006

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Ando sem tempo para escrever. E pouco disposto a falar sobre o resultado das eleições. Gostaria de comentar um pouco mais sobre os personagens brasilienses, mais especificamente sobre os que habitam este diversificado centro comercial - e, por que não, cultural - que é o Setor de Diversões Sul (SDS), informalmente chamado por CONIC. Como tenho citado-o repetidamente em meus posts, acho que devo ao menos uma explicação para os amigos que não são de Brasília ou não conhecem o lugar. Mas isso exigiria o tempo e a paciência que andam escassas. Então, fica aqui a sugestão de leitura da pesquisa etnográfica A “SOCIOLOGIA” DE UM EDIFíCIO URBANO: O CONIC NO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA, publicada em http://www.unb.br/ics/sol/urbanidades/brasilmarnara.htm
Para quem aceitar a leitura, duas ressalvas. a) Impossível apreender o real significado e a importância de um local como o CONIC - ainda mais em uma cidade como Brasília - em uma visita de fim-de-semana. b) O subsolo do conjunto, à época abandonado, hoje abriga, além de lojas de roupas e quiosques dedicados à venda de cds de rap e hip-hop, uma movimentada praça de alimentação, onde inclusive acontecem, nas noites de quintas e de sexta-feira, happy-hours.

terça-feira, outubro 03, 2006

terça-feira, 3 de outubro de 2006

A gente se vê por aqui

No Plano Piloto, é no Conic que o povo se encontra. O pernambucano Francisco Gonçalves da Silva, o Zé do Pífano, sabe disso. Afinal, não há nada mais povo que um pernambucano que viva da venda dos pífanos que fabrica. Assim, lá vai ele pelos corredores do Conic, entre a admiração e a surpresa dos que param para ouvir sua arte.