quinta-feira, novembro 30, 2006

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Acho que eu nunca escrevi a palavra xixi. Urina sim. Mas o popular xixi, nunca. Quer dizer, não que me lembre. Talvez eu até tenha escrito enquanto aprendia a escrever, só para ver como ficava ‘desenhada’ no papel. Assim, tipo criança repetindo palavrão. Ocorre que, se o fiz, não me lembro. E não apenas xixi. Tem um monte de palavras cotidianas com que convivo sonoramente que são ignoradas graficamente por mim, que ganho a vida escrevendo palavras dignas como inconstitucional, desenvolvimento, presidência, intransigentemente, etc

Estava pensando em bobeiras que nunca escrevei quando me lembrei de um outro episódio envolvendo palavras que me surpreendeu. Mas desta outra vez foi algo que ouvi. Apesar da palavra - na verdade, um nome – me ser familiar, me dei conta de nunca tê-la pronunciado alto antes. Estava sentado no meio-fio esperando pela minha mãe. Ao meu lado, alguém que não me lembro quem (devo estar com algum problema de memória!) a chamou: “Nair”. Pensei comigo, “Vejam só. Não é que o nome da minha mãe é bonito".
Me dei conta de que durante toda minha vida, eu só a chamei por mãe. E fiquei imaginando como devia ser conviver com um nome bonito durante boa parte da vida e, de repente, perdê-lo.

segunda-feira, novembro 27, 2006

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Databus informa: Em Belo Horizonte, a passagem de ônibus mais barata custa R$ 1,85.

Tem oito dias desde minha chegada à capital mineira, de onde retornei no último sábado e onde passei a última semana trabalhando de onze a treze horas diárias. Direto, sem pausa. Não deu para conhecer muito além do trajeto Aeroporto/hotel/UFMG, onde acontecia o 3º Encontro Educacional do Mercosul. Por sorte - ou, azar - o Aeroporto de Confins faz jus ao nome. Fica, realmente, próximo aos confins do mundo. De van, são cerca de 40 minutos sacudindo pelas ruas em obra até o centro.

Pela janela do táxi, ou nas rápidas caminhadas noturnas pelo centro, para ir jantar, deu para sacar que a cidade é dinâmica, que o barato é louco, o vapor é total e, principalmente, que é verdade factual a história de que Belô é uma das cidades com a maior concentração de mulher bonita do país. Lógico que, diante da relatividade do conceito, não vou eu, semi-fosco afetado pela saudade da namorada e pelo cansaço de uma semana ouvindo falar em integração dos povos do bloco, querer que me acreditem. Para los chicos, vale a pena conferir com os próprios olhos. Recomendo uma mesa do Western House, de preferência na calçada da Rua Guajajara, altura do 466, no Centro.

De mais a mais, não tenho muito mais o que escrever. Poupo-os, eventuais leitores e amigos, dos detalhes das discussões infinitas, das deliberações e recomendações dos intermináveis grupos de trabalho, das falas ministeriais. Sim, voltei de bode. Cara amarrada e abatido. Não quero nem ouvir falar em desarollo, en la educación como um bien público y en la integración de la educación de los hermanos. Cansei. Como diz a atriz do Terças Insanas, "Me deixem ser burro. A inteligência dói".

quinta-feira, novembro 16, 2006

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Perigos Capitais

Brasília é uma capital muito perigosa. E olha que eu nem mesmo estou me referindo ao entorno, às cidades-satélites da capital federal. Não. Falo unicamente da Ilha da Fantasia composta pelo Plano Piloto e pelos Lagos Sul e Norte.

Enquanto caminha pelas entrequadras, se o sujeito incauto escapa de ser atingido por uma jaca, é vitimado por uma manga. Ou por um abacate. Ou, no melhor dos casos, por um jambolão que, ainda que eventualmente lhe manche a roupa, pelo menos não oferece o risco de um traumatismo.

É realmente necessário andar esperto em Brasília. E não pensem que o perigo se resume à flora. Não! A fauna também oferece sérios riscos à saúde, principalmente dos novos candangos. Quando não à integridade física, aos nervos dos mais sensíveis. Por exemplo, as cigarras de Brasília (aliás, no início de cada primavera, melhor seria dizer Brasília das cigarras, pois é como se todas migrassem para cá. Pelo menos minha namorada garante que em Florianópolis não há cigarras. Segundo ela, lá é terra de formiga, de trabalho).

Seguindo o raciocínio, as cigarras, em Brasília, distraem, irritam e fazem mal ao sono. Não bastasse elas começarem a cantar tão logo o sol aparece no horizonte, elas não respeitam a lei do silêncio e, vez por outra, se põem a cantar tarde da noite. E não apenas uma. São milhares. No meio do dia você já se esqueceu de como soa o tráfego, as ruas, o aspirador de pó, sem o fundo sonoro das cigarras.

Eu, semi-fosco que sou, dia destes consegui ser atingido por uma nos olhos. Isso porque eu uso óculos. Pois nem assim. A desgraçada conseguiu entrar entre meus olhos e a lente do óculo. E ficou ali, batendo asas, eu sentindo o frêmito na pálpebra do olho esquerdo...


É, Brasília é realmente muito perigosa.

segunda-feira, novembro 13, 2006

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Voltando após quase duas semanas sem postar. E, como de hábito, segunda-feira é dia de despretensiosamente comentar algo sobre o que li, assisti, ouvi durante a semana. Pois bem...

UM LIVRO - O Alienista. Será o melhor conto de Machado de Assis? Não saberia dizê-lo, pois além de entender pouco do riscado (na verdade, em se tratando de literatura, entendo apenas do que gosto e não gosto), conheço quase nada de Machado. Até bem pouco tempo, gostava de polemizar menosprezando a unanimidade em torno de sua obra. Dizia a todos que preferia Lima Barreto (ainda prefiro, mas, hoje, já admito que isso é pessoal). Acho que a culpa por esta minha rebeldia era das professoras do ensino médio, que nos obrigam a ler livros inacessíveis - pelo menos, na época, para mim - à nossa sensibilidade de adolescentes criados em meio à cultura audiovisual.

Mas voltando à dica, muitos afirmam ser o melhor conto do autor. Para quem não leu ou não lembra do que leu apenas para fazer a prova, a editora LP&M disponibilizou a obra através da coleção Pocket, que é boa e barata. Além disso, para os mais preguiçosos, o conto tem uma vantagem. Exige folêgo curto, já que tem apenas 86 páginas, tamanho pequeno. Ao menos um livro do Machado já se poderá dizer ter lido.

UM VÍDEO - Tudo bem. Chamem-me de obsessivo, de exagerado. Até de quinta-coluna. Mas volto a indicar um filme argentino. O Cachorro, de Carlos Sorín.
O filme não é o melhor da recente leva de produções argentinas, mas tem muitas das qualidades que as têm caracterizado. Uma história simples, tocante e muito bem contada por um diretor capaz de escalar excelentes atores para os papéis principais. Atores estes capazes de representar a diversificada e complexa gama de sensações e emoções que caracterizam a todos nós. Deixando de viadagem e sendo mais objetivo, O Cachorro é a história de um frentista desempregado que, aos 52 anos, sobrevive às custas de pequenos bicos e dos favores da filha. Tudo vai mal até que, ao prestar um favor a uma desconhecida, ele ganha como pagamento um dogue branco chamado Bombom. Com o cachorro pela coleira, sua sorte vai mudar.
Portas se abrem, cartões de visita e números telefônicos - importantes patrimômios em uma cultura que valoriza o QI, de Que Indica - se multiplicam e, enfim, o protagonista terá a chance de ir além de seus até então estreitos horizontes . Que, vale anotar, em termos naturais, se trata da bela e agreste paisagem da Patagônia. Enfim, mais um belo filme argentino.
UMA EXPOSIÇÃO - Olha só, Cibele. Esta é para os poucos amigos de Brasília que me lêem. Como acho que você e minha namorada são as duas únicas, mas ela já foi comigo, então fica aqui registrada uma dica unicamente para você.
A mostra inédita do indiano Anish Kapoor, Ascension. Embora Kapoor seja basicamente um escultor, quem visitar o Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, não deve esperar pelas clássicas reproduções em pedra ou outros materias convencionais. O artista brinca com as leis da física e utiliza materiais empregados por pintores para propor um jogo com quem vê sua obra. Ou então, recorre à equipamentos emprestados à indústria aeronáutica para, com a ajuda de alguma fumaça, esculpir o vento. Sim, o vento.
Não ficou muito claro? Pois acredite, vai ficar ainda menos óbvio para quem for à exposição de Kapoor, de terça a domingo. Ou você acha fácil explicar a sensação de colocar a cabeça dentro - sim, dentro - de um quadro? Ou ser surpreendido por uma parede aparentemente branca e plana que, súbito, se revela grávida?Pois vá lá e experimente ser envolvido pela fumaça para interferir nas formas de uma escultura. É de graça.
Fica para outro dia o comentário sobre Volver, o novo filme de Pedro Almodovar.