sexta-feira, dezembro 31, 2010

Desejo...

(Clichê ou não, todo ano, nesta época, me lembro da letra desta música escrita pelo Frejat e concluo que ela expressa muito bem algumas das coisas que eu julgo importante desejar para as pessoas de quem gosto. Então, vai lá, mais uma vez, Amor Prá Recomeçar. Feliz começo de ano para todos e que 2011 seja melhor, muito melhor que 2010)

Te desejo
Não parar tão cedo
Pois toda idade tem
Prazer e medo

E que com os que erram
Feio e bastante
Você consiga
Ser tolerante
Que quando você ficar triste
seja por um dia
E não pelo ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero...

Desejo que você tenha a quem amar.
E que quando estiver bem cansado
Ainda exista amor para recomeçar

Eu te desejo muitos amigos
Mas que em um
Você possa confiar
E que tenha até
Inimigos
Prá você não deixar de duvidar

Desejo que você ganhe dinheiro
(Pois é preciso viver também)
E que você diga a ele
Pelo menos uma vez
Quem é mesmo
O dono de quem

Desejo que você tenha a quem amar
E que quando estiver bem cansado
Ainda exista amor prá recomeçar...

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Rio-Santos (3 min)

De rolê pelo trecho Ubatuba (SP)-Cubatão (SP) da estrada Rio-Santos (BR-101), uma das mais belas dos país.

aparelho utilizado: Nokia E72

terça-feira, dezembro 28, 2010

Invasões Bárbaras


Conforme previsto, Eles chegaram.

Vieram em hordas. E embora avançassem lentamente, não podiam ser contidos nem mesmo pelas inúmeras praças de pedágio que separavam nossos mundos. Os homens cobriam suas vergonhas com peças ínfimas que não escondiam sua palidez. As mulheres, por sua vez, tinham as protuberâncias artificialmente hipertrofiadas e as faces pintadas.

Traziam caixas de isopor, cadeiras, esteiras, uma espécie de grande guarda-chuva, bolas, recipientes de alumínio, recipientes de plástico, mais plástico, boias, pranchas, comida e, sobretudo, dinheiro que, inicialmente, nos pareceu bom.
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Entoavam estranhos hinos que lhes motivavam e dos quais só entendiamos algo como “beber, cair, levantar” ou então “eu quero mais é beijar na boca”. Era comum que, quando combinados cânticos e o líquido contido nos recipientes de alumínio, os machos avançassem sem mais delongas contra nossas mulheres - muitas das quais, atraídas pela novidade, não ofereciam qualquer resistência.

Besuntadas com uma substância branca, as crianças temiam o mar. Já os machos se atiravam de barriga contra a água. Não raramente, um de nós tinha que socorrê-los para que não se afogassem. Quando não estavam na areia da praia, deitados sob o sol, gostavam de se reunir em um mesmo local, onde paravam em ordem anárquica, um atrás do outro. Não havia, nesta época, comida e água suficiente para todos. Ainda assim, nós não os rechassávamos. Pelo contrário. Inicialmente, nós os admirávamos. Principalmente as mulheres, cuja pele ainda não maltratada pela exposição contínua ao sol nos passava a falsa ideia de superioridade.

A admiração se tornou influência e não demorou para que muitos de nós passássemos a imitar alguns de seus hábitos. A maneira de vestir, a forma de construir, o jeito de falar...Tudo foi sendo assimilado e logo nós havíamos perdido parte de nossos hábitos e costumes. Já não éramos nós, mas não havíamos conseguido ser como eles. Nossas praias se deterioraram, os melhores terrenos já não nos pertenciam, nossas comunidades se agigantaram, nossos jovens já não mais se interessavam pelas antigas atividades, mas continuávamos apequenados, meros serviçais, trabalhando para Eles, para garantir sua comodidade de fim de semana em nosso próprio território. Em muitos pontos, até mesmo o acesso ao mar e a possibilidade de ver o céu e o horizonte nos foram negados.

Isso não faz muito tempo. Algumas décadas, apenas. Tempo suficiente para que a história quase esquecesse os caiçaras e sua rica cultura.
foto: Moacyr Lopes Junior / Folhapress
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(escrito após um fim de semana na praia das Toninhas, em Ubatuba (SP))

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Maresias




23 47´30 S
23 33´23 W

Maresias. São Sebastião. Litoral Norte de São Paulo. Ou, para ser mais preciso, do interior do veículo 5673 da empresa Litorânea, a caminho de Caraguatatuba (53 km, mais de uma hora e meia devido à estrada sinuosa, R$ 10,20). e, dali, enfim para Ubatuba (R$ 5,30. A vida em rede...


Maresias, uma das muitas praias de São Sebastião, é Um dos lugares em que eu mais me sinto à vontade - ou em que eu melhor me sinto. Principalmente quando, apesar do feriado (que é, em geral, quando eu consigo passar uns dias por aqui), ela ainda não está tão cheia de turistas. A partir de amanhã, contudo, a estrada deverá estar cheia e aí acabou o sossego.

Dos muitos lugares em que já tive o privilégio de estar, poucos são tão cinematograficamente belos quanto o trecho litorâneo que vai da praia de Boracéa, ainda em São Paulo, à Paraty, já no Rio de Janeiro. E, por isso mesmo, me arrisco a afirmar que pegar a Rodovia Rio-Santos é trafegar por um dos mais fantásticos trechos da costa brasileira.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

À Sombra de Brás Cubas...

...sigo de 4 para o Centro do meu velho universo por artérias congestionadas de monóxido e paranoias automotivas. Não há nada antigo aqui que eu não conheça como a palma das minhas mãos. Já farejei cada uma destas portas à procura *Da Boa*, experimentando a frustração enquanto esperava por uma demorada recompensa. Isso foi quando eu me dava ao luxo de me achar bom. Agora que a recompensa parece prestes a vir, sou apenas mais um cara de um outro lugar nenhum, torcendo por uma eficiente e prometida "onda verde".

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Tetro: A dificuldade da crítica

Embora nos últimos tempos este blog esteja parecendo uma versão on-line do livro Clube do Filme (sem o viés de auto-ajuda), eu acho que jamais seria um crítico de cinema. Imagino que se uma publicação estivesse me pagando para assistir e dar minha opinião sobre algo como este último filme de Francis Ford Coppola, Tetro, não pegaria nada bem eu admitir que não o entendi direito e que precisaria ou de mais tempo ou de assistí-lo novamente para formar minha opinião.

No geral, a ótima fotografia em preto e branco e as boas atuações de Vincent Gallo, Alden Ehrenreich e Maribel Verdu me levaram a acompanhar com interesse a história do jovem garçom de navio de 17 anos que, em busca de informações sobre sua mãe morta e tentando compreender sua própria família, desembarca em Buenos Aires para encontrar o irmão mais velho, Tetro (Gallo), um escritor promissor, mas que, atormentado pela dimensão da figura paterna - um maestro mundialmente conhecido - e pelas relações familiares conturbadas, abandona seu país e rompe qualquer contato com quaisquer parentes. A indesejada chegada de Bennie (Ehrenreich), portanto, é algo que transtorna a rotina de Tetro.

Só que a trama do filme é complexa e, em certos momentos,a impressão que se tem é que Coppola tenta dizer mais do que dá conta de colocar na tela. Para isso, ele inclusive recorre à música, à dança e a elementos teatrais que, filmados com maestria pelo diretor, enriquecem a história.

O fato é que, hoje, Coppola já não depende das bilheterias de cinemas para complementar sua renda. Dono de vinícolas e de um hotel, além de detentor de alguns sucessos comerciais como Drácula de Bram Stoker, o diretor pode se dar ao luxo de financiar ele próprio seu projetos pessoais, filmando o que quer e como quer. Ou seja, cinema autoral de fato, o que, por si só já é um luxo. Felizmente, mesmo com a suposta liberdade, Coppola não faz fil
mes herméticos. Rebuscados sim, mas não incompreensíveis.

Tetro, evidentemente, não faz sombra aos filmes pelos quais o diretor será lembrado, clássicos como Apocalypse Now e a trilogia O Poderoso Chefão. E, aparentemente, alguns criticos não o perdoam por isso. Caso do santista enciclopédico Rubens Ewald Filho, que sustenta que Coppola "não existe mais" e em quem eu pensava ao, no início, citar a figura do profissional de quem se espera, de afogadilho, uma opinião definitiva sobre uma obra que permite diferentes leituras.
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É verdade que eu nunca espero nada muito profundo do meu conterrâneo, principalmente depois do que ele escreveu sobre o diretor David Fincher ("Nunca gostei muito de David Fincher porque ele fez Clube da Luta,um filme moralmente discutível que provocou, justamente no Brasil, um assassinato num cinema"), mas a crítica dele ao filme de Coppola é algo tão absurdamente equivocado que tive a impressão de que vimos a filmes diferentes.

"
Tetro é um primor de equívocos, começando por dar o papel central a Vincent Gallo", afirmou Filho, fazendo o que se espera dele, ou seja, emitir um parecer. O problema é quando o crítico "que mais entende de cinema no Brasil", segundo alguns, tem que justificar sua opinião. "Não sei porque [Coppola] insistiu em filmar em preto e branco, um convite certo ao suícido comercial já que os jovens não gostam". Putz!
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Também o que esperar de alguém que ao assistir Tetro se vê a vontade para revelar ter uma teoria de que "(infelizmente) os cineastas têm no máximo dez ou 15 anos de apogeu. Depois viram meros fotógrafos, imitações de si mesmo"? Além de Clint Eastwood e de Robert Altman, por ele mesmo citados como "exceções que confirmam a regra", eu perguntaria: e se incluirmos neste time os cineastas não-norte-americanos (que parecem ser o máximo referencial do crítico)? E Kurosawa? Almodóvar? Os franceses e outros tantos de que não me recordo agora, mas que, estou certo, somados, derrubam por terra esta teoria insustentável?

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Nada a ver

Todos que me conhecem sabem do meu entusiasmo pelo cinema argentino. Nove Rainhas, Plata Quemada, o Cachorro, O Filho da Noiva, Clube da Lua, Elsa e Fred, O Pântano, Menina Santa, Abraço Partido, Las Viudas de Los Jueves, O Segredo dos Seus Olhos e tantos outros. Há anos eu não assistia a um único filme argentino ruim. Até este último domingo.

Nem mesmo o "muso" Ricardo Darín consegue salvar Abutres (Carancho), o 12º filme do diretor Pablo Trapero, responsável pelo bem-comentado A Família Rodante, que eu nunca consegui ver. E olha que o ator se esforça para dar credibilidade ao advogado caído em desgraça que, para sobreviver, tem de trabalhar para um pequeno escritório que se dedica exclusivamente a representar, contra empresas seguradoras, inúmeras famílias que, além de pobres e pouco instruídas, estão sob o impacto da morte ou grave acidente de trânsito envolvendo um parente.

Não apenas Darin se esforça bastante, como o entrosamento dele com Martina Gúsman é ótimo e consegue despertar alguma empatia do público. Infelizmente, qualquer envolvimento logo se esvai diante do roteiro arrastado, que parte de uma boa premissa - denunciar a existência de grupos que lucram em cima dos milhares de acidentes de trânsito que ocorrem todos os anos, sobretudo na capital portenha. Quer estes acidentes aconteçam, quer não -, mas não chega a lugar algum.

Ainda que algumas notícias publicadas no Brasil deem conta de que a história atingiu a um enorme sucesso em seu país, motivando inclusive o congresso argentino a discutir mudanças na legislação de seguros a serem pagos para vítimas de acidentes automotivos, o roteiro deixa muito a desejar. Não bastasse o roteiro fraco, ou por isso mesmo, o filme acaba deixando a sensação de que se alonga demais e se perde em detalhes e digressões desnecessárias para a boa compreensão da história, ao mesmo tempo que não explica alguns fatos que despertam a curiosidade do espectador.

Há, lógico, bons momentos ao longo da trama, mas nada que chegue a justificar os últimos minutos, patéticos, e a impressão de que Trapero não sabia exatamente o que queria contar. Pena.

Seguindo as curvas de Santos (vídeo completo)

Gravação feita e editada com um celular pelo surfista trotamundo Carlos Leite, no último final de semana, em Santos, no litoral paulista, terra deste semifosco que vos escreve. Se interessar, leia três posts abaixo deste o texto "Carlos Leite vê Santos"

aparelho utilizado: Nokia E72

sábado, dezembro 18, 2010

As coisas simples da vida

Praia, surf, um bom prato, um livro e um filme às vezes são o bastante para nos fazer lembrar de que a vida é simples e que nós é que a complicamos. Em essência, além da companhia da pessoa certa, não precisariamos de muito mais que um trabalho socialmente relevante (com o valor atribuído pela própria pessoa, que é quem deve saber o que acha relevante) que nos permitisse pagar o aluguel e bancar alguns prazeres modestos.

Eu, por exemplo, estou convencido de que toda a variedade de restaurantes existentes em São Paulo e a sofisticação dos melhores lugares de Brasília não são capazes de me proporcionar o prazer, o deleite, que é comer uma legítima e simples comida caiçara.

Um feijão bem temperado, um arroz soltinho, fritas e um filé de peixe empanado ou cozido em postas é o bastante para satisfazer meus fetiches gastronômicos. Da mesma forma que, para mim, terno é coisa de segurança de shopping e sucesso profissional seria chegar ao trabalho de bermuda, tênis e camiseta, numa bicicleta. Pena que, para a maioria de nós mortais, garantir esse mínimo não seja algo assim tão simples, de forma que nos vemos obrigados a aceitar esta ridícula roda-viva.

É como na piada em que um empresário urbano vai à praia e, ao encontrar um pescador habilidoso, tenta convencê-lo a pescar mais, vender o excedente e, com o lucro, expandir suas atividades para ganhar cada vez mais dinheiro e, assim, poder ter uma aposentadoria tranquila, na praia...pescando. Impossível não ver o absurdo desta lógica, por mais que estejamos conscientes de que, nas sociedades capitalistas, é assim que se constrói o progresso, algo positivo, desde que não seja obtido em detrimento de outros valores.

Lógico que é bom provar outros sabores, conhecer outras pessoas, ver outras paisagens, mas, no fim das contas, voltar ao que considero trivial é o que me dá maior prazer. Pode parecer uma viagem sem sentido, mas almoçar no Restaurante Cooks, no SuperCentro Boqueirão, em Santos, é, além de um prazer, uma forma de confirmar que sou sou uma criatura litorânea e que, mais dia, menos dia, voltarei a morar na praia. Se em Santos, ainda melhor.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Sangue e risos arrancados a machetadas

"MACHETE NÃO MANDA MENSAGENS"
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O cara abaixo é Danny Trejo, ator já conhecido de quem assistiu a filmes como Um Drink no Inferno e A Balada do Pistoleiro.
E estas são, da esquerda para a direita, Jessica Alba, a garota problema Lindsay Lohan e Michelle Rodriguez

Quem conseguiria arrancar dinheiro dos judeus de Hollywood para produzir um filme em que o "latin lover" aparecesse se dando bem com as três enquanto arranca cabeças, tripas, olhos e miolos de traficantes e policiais corruptos usando, na maior parte do tempo, apenas um...machete (uma espécie de peixera).

Só mesmo seu primo, o diretor Robert Rodriguez, que também produziu e colaborou na criação da história do herói latino-americano, defensor dos mexicanos e demais latinos que tentam ingressar ilegalmente nos Estados Unidos, onde, quando conseguem, se tornam reserva de mão de obra barata e são perseguidos e discriminados. O filme conta ainda com as participações de Robert De Niro e Steven Seagal.

"Eu queria usar a imigração ilegal como pano de fundo para mostrar a verdadeira corrupção que acontece e que é difícil de enfrentar. Na verdade, é tão difícil que ninguém quer falar sobre isso ou se envolver no assunto. As pessoas falam sobre imigração, mas não falam sobre a corrupção que existe entre México e Estados Unidos", disse Rodriguez ao site Collider, aqui reproduzido pelo Omelete.

Terminou por fazer um filme do gênero "exploitation", ao qual já se associava o recente A Prova de Morte, de Quentin Tarantino. O exploitation foi um filão de grande sucesso comercial durante as décadas de 1960 e 1970 e, usualmente, é associado a filmes produzidos com pouca ou nenhuma preocupação em termos de qualidade ou de mérito artístico, mas com ampla publicidade. Recentemente, Tarantino e Rodriguez se propuseram a produzir filmes esteticamente parecidos com os exploitations como mero exercício estilístico.

Ao G1, Rodriguez disse que o longa não é uma crítica direta às políticas de imigração adotadas pelos EUA, embora acabe chamando atenção para o tema. “Tudo o que quis fazer foi um filme divertido, sexy e com grandes atores. Agora, se veem mensagens nele... Sim, há recados para todos. E tudo aberto a interpretações”, avisa.

Sou, portanto, alguém próximo do espectador idealizado por Rodriguez: não vi mensagem alguma no filme. Assisti ao filme com um balde de pipocas, certo de que Machete serviria apenas de entretenimento. Neste sentido, valeu o ingresso, embora não seja o tipo de filme que muitas pessoas vão gostar.


segunda-feira, dezembro 13, 2010

Olhos Azuis

O cineasta José Joffily (Dois Perdidos Numa Noite Suja) acertou a mão em seu mais recente filme, Olhos Azuis. A mistura bem dosada de drama, suspense policial e denúncia social, mais um elenco afinado, tem garantido elogios de crítica e público, além de prêmios, como os cinco conquistados no Festival de Paulínia do ano passado, incluindo o de melhor filme.

Segundo o diretor, a motivação para se debruçar sobre os constrangimentos porque passam alguns dos muitos estrangeiros que, legal ou ilegalmente, chegam aos Estados Unidos a trabalho, passeio ou por qualquer outro motivo, surgiu com o relato de um amigo submetido a um interrogatório de mais de 30 horas, ao fim das quais foi impedido de entrar em solo norteamericano e obrigado a retornar ao Brasil.

A trama acompanha o último dia de trabalho do responsável pelo Departamento de Imigração do Aeroporto JFK, em Nova Iorque - David Rasche (“Queime depois de ler”) - cujo alcoolismo reforça sua paranoia antiterrorista e xenofobia. Pós-11 de Setembro, o burocrata e seus dois subalternos – uma negra e um chicano-americano – decidem se divertir às custas de um grupo de estrangeiros escolhidos aleatoriamente para prestar informações sobre suas reais motivações.

Além de uma cubana que diz ser bailarina convidada para dançar em uma companhia local, de um grupo de supostos lutadores hondurenhos também convidados para participar de um torneio e de dois poetas argentinos em busca do reconhecimento, há um professor universitário brasileiro, o excelente ator Irandhir Santos (Tropa de Elite 2 e Quincas Berro D´Água), que há cinco anos vive legalmente nos Estados Unidos e que tem consigo toda a documentação necessária para retornar ao país após ter visitado sua filha, que continuava vivendo em Recife.

A meu ver, embora entregue o final previsível desde a primeira cena, Joffily acerta ao tentar – com sucesso – prender a atenção do espectador pelo absurdo da situação, deixando claro que a situação em algum momento fugirá ao controle, com consequências imprevisíveis para todos. E, a partir daí, contar uma segunda história, que é da tentativa do agente Marshall, o Olhos Azuis, de se redimir, o que o faz viajar aos grotões nordestinos na companhia de uma prostituta, vivida pela ótima, mas ainda pouco conhecida, Cristina Lago, que, em breve, estará nos cinemas na pele de outra prostituta, no filme Bruna Surfistinha.

O filme não é novo – foi lançado comercialmente no primeiro semestre deste ano e, acredito, já está disponível em DVD -, mas eu só o assisti neste último final de semana, no Cine Arte de Santos (R$ 3 a inteira).


domingo, dezembro 12, 2010

Carlos Leite vê Santos

De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Valeu!
Para: semifosco semifosco@blogspot.com
11 de dezembro de 2010 22:50


Salve, semifosco. Acabo de chegar em casa, em Brasília, e, pra variar, não foi fácil encontrar, no aeroporto, um taxista disposto a transportar minha prancha. Eu poderia estar trazendo drogas, armas ou até mesmo uma bomba presa ao corpo que nenhum deles suspeitaria de nada. Já a prancha provoca, de cara, as mais diversas reações.... Outro dia, após conseguir convencer um senhorzinho de que a prancha caberia perfeitamente no interior do carro, ele me perguntou se a pesca tinha sido boa rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs

Quero te agradecer mais uma vez por ter me recebido na casa dos teus pais. E me desculpar por não ter te ajudado mais enquanto teu velho esteve no hospital. Confesso que me senti um pouco culpado porque, apesar da preocupação inicial com o coroa, me deixei convencer muito facilmente de que você e sua mãe não precisavam de ajuda e logo estava me divertindo pra kct enquanto meus anfitriões se revezavam no hospital cuidando de soro e bolsas de urina. Mas o importante é que ele está bem e, no fim, até você conseguiu pegar umas ondas.

Acho que depois desses 12 dias em Santos, consegui compreender um pouco melhor não apenas algumas das coisas que você já havia comentado como também a própria cidade. E admito que, apesar de algumas ressalvas, comecei a gostar dela. Por isso, torço para que seu pessimismo em relação ao futuro seja um exagero, ainda que até um ignorante como eu note que, como você disse, "a conta não fecha".

Para mim, acostumado que estou com as facilidades do Plano Piloto de Brasília e com as possibilidades de um emprego bem-remunerado, foi estranho ver seus amigos, mais velhos que eu, contando sobre as dificuldades de se arranjar, na cidade, um emprego que pague mais de R$ 1.2 mil, enquanto o custo de vida local se compara ao do Distrito Federal.

Qual não foi minha surpresa ao pagar R$ 2.50 para andar de ônibus se, aqui, há dois anos pagamos os mesmos R$ 2 (a menor tarifa). E olha que ao descer em São Paulo, eu gastei R$ 2.25 para ir do aeroporto ao Jabaquara e lá, além das distâncias percorridas serem maiores, tem a integração, que permite ao usuário apanhar outra condução, de graça, dentro de um certo período de tempo. E os R$ 3 cobrados por um coco?!?!?! Na Asa Norte, você sabe, dá para encontrar por R$ 2. E quando pensei em deixar de dar trabalho pra sua mãe e ir para um hotel, não encontrei nada por menos de R$ 140, sendo que nenhum deles oferecia nada que justificasse os preços cariocas (Daí eu ter continuado na pensão dos Rodrigues). Isso para não falar da, como você disse, "especulação imobilária" causada pela expectativa com o Pré-Sal. Ou do reajuste de 11% do IPTU, praticamente o dobro da inflação. Agora, te pergunto, os orgulhosos santistas não reclamam desses disparates? Como viver numa cidade classe média alta com os salários pagos atualmente? E isso para não falar dos seus conhecidos da Associação dos Moradores de Cortiços do Centro - aliás, conhecê-los foi uma grande lição de vida.

Mesmo assim, entendi que teu amor pela cidade não se deve apenas ao fato dali ser teu chão ou de tua história pessoal estar ligada a cada uma daquelas ruas e paisagens. Não bastasse isso, a cidade é, de fato, muito legal para se viver. Depois do terceiro dia pegando onda enquanto assistia, do mar, o sol se por detrás da Serra do Mar, com aquela enorme escultura da Lina Bo Bardi e a Ilha de Urubuqueçaba em primeiro plano, comecei a me perguntar como você conseguiu se adaptar tão bem a Brasília a ponto de estar voltando pra cá. A falta de melhor opção profissional não me parece o bastante? Ainda mais para um cara como você, que tem tão pouco a ver com o clima palaciano. Não à toa teus amigos riem quando você lhes diz que, agora, usa terno. Justo você, o caiçara que há apenas quatro anos comprou o primeiro celular, a primeira calça social, o primeiro terno e que resistia até mesmo a usar sapatos rs,rs,rs,rs,rs,rs

A sensação de deixar o mar no final de tarde, após duas ou três horas surfando, e voltar pra casa caminhando pela areia é algo indescritível e, brasiliense e surfista tardio, sinto como se a vida tivesse me negado algo. Assim como chegar ao jardim da praia e se deparar com um monte de gente caminhando, correndo, jogando bola e até nadando tarde da noite é algo estranho para quem cresceu acostumado às ruas vazias do Plano Piloto a noite. Não digo que seja melhou ou pior, mas percebo agora que estas são experiências determinantes na forma como vemos e lidamos com a realidade a nossa volta.

Bom, enfim, é isso. Adorei o bolinho de bacalhau do Toninho e o pf de arroz, feijão e pescada. A programação daquele cineminha do jardim da praia (R$ 3!!!) é ótimo e, de fato, a tão comentada roda de samba do Ouro Verde é divertidíssima, ainda mais por ser de graça. Tomara que a vizinhança não consiga acabar com ela e que se chegue a um acordo. A vista do alto do morro da asa delta é bonita pacas e ver o Neymar saindo tranquilamente do prédio em que mora, saudando a galera, foi algo bacana. E ainda confirmei o que você sempre me diz sobre a vida cultural santista ao saber que o genial Milo Manara tinha estado por lá poucos dias antes da minha chegada. Pô, Manara! Que eu saiba, o cara só passou por São Paulo e Rio de Janeiro. E pra não dizer que não falei de flores: ahhh! as santistas... Pena serem tão patricinhas.

Agora, as ondas podiam ser um pouco mais constantes, não acha?

Abraço, do seu amigo
Carlos Leite