segunda-feira, outubro 29, 2012

Em lugar nenhum familiar



De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto: viagens
Para: semifosco semifosco@blogspot.com
29 de outubro de 2012  09:23

Hoje eu vi golfinhos.
Sim, mais cedo eu vi golfinhos. Três. Nadando bem próximos à areia. Que areia? Foi pra contar isso que te liguei assim que cheguei no aeroporto, mas você estava ocupado e eu acabei não conseguindo falar nada.
Eu também queria dizer que acho que descobri porque você diz que já não gosta mais de viajar tanto quanto antes. Acho que é porque você se acostumou a pertencer aos lugares familiares. Sua casa, seu bairro, sua cidade...
Pensei nisso ontem, quando acordei no meio da noite, cansado de tanto surfar, em um quarto escuro desconhecido e, assim que recobrei a memória de onde estava, percebi que gosto muito desta sensação de não-pertencimento, de estar em lugares onde não tenho uma história.
Acho que isso explica em parte porque gosto tanto de partir. E porque, após alguns dias, volto a desejar viajar. Acho que ajuda também a entender porque gosto tanto de quartos de hotéis, albergues, pousadas, pensões: são lugares impessoais, cuja história de cada pessoa que por eles passa se apaga tão logo ela parte. Aliás, exatamente como acontece no surf, quando estamos a gastar nosso valioso tempo deslizando sobre as ondas. Completada a onda, não restam vestígios.
Não sei porque andei pensando essas coisas. Muito menos porque decidi te escrever. Talvez seja por não ter conseguido conversar com o amigo, sempre muito ocupado para ver golfinhos e para não pertencer a lugar algum.

segunda-feira, outubro 22, 2012

Capital Musical


O playlist da vez soa a um samba do criolo doido (embora traga um único samba). Fazer o que se minha Brasília sonora é assim: multifacetada, heterogênea, eclética.

Escolhi 21 músicas de estilos variados para provar minha tese (bastante repetida por aqui, em outros posts) de que a ex-capital do rock é, hoje, uma das cidades com uma das mais férteis cenas musicais do país, ao lado de Belém e Porto Alegre (São Paulo? Bem, assim como em todos os outros campos, boa parte do que é feito em São Paulo, capital (onde está concentrada a produção), é produzido por gente que é de fora). Tem quem culpe a UNB. Tem quem diga que é por causa da Escola de Música de Brasília. E há, ainda, quem desdenhe alegando que o fenômeno se deve ao fato de a cidade não ter praia.

Deixei muita coisa de fora. Priorizei artistas novos, em atividade, mas ainda pouco conhecidas fora do `quadradinho´ ou dos festivais independentes. A exceção, talvez, sejam o Gog, bastante conhecido na cena rap nacional, e o Móveis Coloniais de Acaju, que mesmo ainda não sendo mainstream, já alcançou uma certa projeção, com presença na Globo e clip na MTV. Ellen Oléria também está indo pelo mesmo caminho, tendo sido, até agora, uma das maiores sensações do programa The Voice. E, lógico, Hamilton de Holanda, um dos maiores instrumentistas brasileiros da atualidade.

Como fui puxando de memória os grupos e artistas que já tive oportunidade de ouvir (o que não significa que, pessoalmente, eu goste de tudo), alguns gêneros com os quais não estou muito familiarizado ficaram de fora, caso do reggae e do heavy metal. Ainda assim, podem estar certos de que, se procurar, haverá uma banda brasiliense do tipo que não faça feio em qualquer festival independente brasileiro. (putz! Enquanto eu me justificava, meu pão torrou...)

Outros artistas muito legais ficaram de fora simplesmente porque não tem músicas no Grooveshark. Caso, por exemplo, da sambista Renata Jambeiro (outra a se apresentar no The Voice). Da baixista jazz Paula Zimbres. No caso do rap, a coisa foi um tanto opcional, um pouco por ignorância: não me recordo de ninguém mais que tenha um discurso coeso, que se aproxime do de Gog e do que vem sendo feito de bom no restante do país. Desculpem. Vejamos se em algum momento eu reparo isso.

É isso. Espero que curtam. Se não...dane-se. Não estou ganhando nada mesmo.

#004 - Capital Musical by Alex Rodrigues on Grooveshark

Ouça também: 

#003 - A Perfect Day 
#002 - Life´s Better in a Boardshort
#001 - Para Shirley Temple Ouvir

sexta-feira, outubro 19, 2012

Avenida Brasil



"Acho que a gente entrega uma novela para a História" - Vera Holtz

Eu, que nunca fui noveleiro, sou forçado a concordar. Por razões que muitos programas e veículos (inclusive internacionais) tentam explicar há meses, Avenida Brasil se tornou um fenômeno. E de nada adianta atribuir o sucesso da novela à influência global, pois como uma olhada nos meus posts mais recentes pode revelar, eu próprio sou uma das muitas pessoas altamente refratárias ao discurso global, fato que não me impede de reconhecer quando a emissora faz coisas boas, como a minissérie Som & Fúria, os poucos capítulos de Cordel  Encantado a que assisti, o sitcom Tapas & Beijos e o jornalístico Globo Rural.   

Acho engraçado os moderninhos que enchem a boca para falar de séries americanas ou de filmes brasileiros chatíssimos enquanto, por mero preconceito, tentam minimizar o ótimo trabalho do elenco e a arejada que o autor, João Emanuel Carneiro, deu à dramaturgia, com uma trama dinâmica e personagens muito distantes do usual maniqueísmo a que estamos acostumados na tv. (Daí porque me parece tão estranho ver o mero anúncio de mais uma inverossímil história de Glória Perez para substituir a atual novela das nove).

Lógico que uma novela será sempre uma novela. Esta, mesmo com todas as transgressões, não pode deixar de derrapar. Que crianças bonitas e felizes aquelas do lixão mais bem frequentado do planeta. Que heroína tapada, capaz de arquitetar um bem-elaborado plano de vingança, mas incapaz de fazer cópias digitais das provas que acabariam com sua rival ou de revelar logo a Tufão tudo o que sabia. Ainda assim, a história tem seu lugar entre os ícones da cultura popular.

Entre o elenco, vários atores vão carregar uma dívida de gratidão com o autor e com o diretor. Caso de Adriana Esteves, Marcello Novaes,Vera Holtz, Marcos Caruso e José de Abreu, que após muitos anos de carreira e alguns personagens marcantes, receberam em Avenida Brasil os papéis de suas vidas. Toda vez que eu ver Adriana Esteves vou lembrar de sua Carminha mandando o motorista tocar para o inferno. Outros, como Murilo Benício, Cauã Reymond, Heloisa Perissé, Eliane Giardini, Isis Valverde, Otávio Augusto com certeza ganharam, com sua eficaz versatilidade, muitos pontos não só com o público, mas com os responsáveis por selecionar o casting das novelas. Se saíram bem.

Entre as novidades quando comparada a outras novelas, Avenida Brasil apresentou também uma agradável característica: a possibilidade de atores ainda pouco conhecidas ou em busca de se firmarem desenvolverem plenamente as possibilidades de suas personagens. Caso de Thiago Martins, Bruno Gissoni, Letícia Isnard, Daniel Rocha e, principalmente, o brasiliense Juliano Cazarré - um dos que mais caíram nas graças do público, seu Adauto foi vítima de uma maquinação de uma última hora do autor que ameaça o ator de ficar conhecido para sempre como Chupetinha.

Por fim, os que tem mais motivos para estarem felizes, por terem entrado desconhecidos e terminado com os nomes na boca do povo: José Loreto, que saiu direto de Malhação para um papel de extremo destaque,  a ex-modelo Débora Nascimento, que embora já tivesse se projetado em outros trabalhos, se tornou agora um rosto reconhecível em qualquer lugar e a dupla de empregadas da mansão Cláudia Missura (Janaína) e Cacau Protásio (Zezé). E a Débora Falabella, semifosco? Esta é a única de quem não sou capaz de escrever, porque mesmo sendo seu fã e achando que ela cumpriu eficientemente um papel fundamental para o sucesso da trama, fiquei com a impressão que foi a personagem que, a partir de um dado momento, foi mais mal explorada e desenvolvida.  Fora o núcleo Cadinho, que, conforme conversei com vários colegas, foi o único que não "funcionou" a contento. 

O sucesso inegável foi por ter colocado em destaque a classe C em ascensão? Foi porque o público já estava apto a conhecer personagens menos maniqueístas? Foi por ter apelado para os "instintos mais primitivos" da parcela do público que, conforme alguns, é mesmo amoral e quer mais é levar a melhor em tudo....alguém ainda vai dar uma resposta que se aproxime do que permitiu este fenômeno. E também porque tantos homens, sobretudo não-noveleiros, sentiram-se à vontade para comentar o capítulo de ontem. 

domingo, outubro 14, 2012

ÚltimoTango em Vila Parisi e Santos Football Music (Gilberto Mendes - Mais, no post abaixo)



No aniversário de Gilberto Mendes, um presente para os interessados em música, cultura e na história santista

                                      
                 "Santos é uma cidade muito Conrad, muito Somerset Maugham"

Sem Lei Rouanet, sem patrocínio, sem inserções publicitárias, o cineasta santista Carlos Mendes decidiu usar a internet, mais especificamente o youtube, para compartilhar um de seus mais recentes trabalhos, o documentário `90 anos, 90 vezes Gilberto Mendes´, com o qual homenageia seu pai, o compositor erudito Gilberto Mendes. Um dos mais importantes autores eruditos brasileiros da segunda metade do século passado para cá, Gilberto completou, ontem (13), 90 anos de idade (leia a notícia do G1).

Como o próprio título do projeto sugere, são 90 filmetes em que Gilberto Mendes fala livremente, sem seguir um roteiro e aparentemente sem muita edição posterior, sobre o que lhe vem à mente, sobretudo sobre música (óbvio) e cinema (uma de suas maiores influências, segundo o próprio compositor reconhece). No 10º episódio, por exemplo, Gilberto explica sua recusa em se candidatar a uma cadeira na Academia Brasileira de Música, na qual só ingressou na condição de sócio-honorário, para o que não teve que pedir votos. Outro depoimento interessante está no episódio 31,quando Gilberto fala de sua (curta) militância política, o temor durante as ditaduras Vargas e militar e a hermética atuação dos músicos eruditos durante esses dois períodos. 

Somados todos os episódios, a conversa ultrapassa 12 horas de gravações. Até porque, a pouca edição que preserva a espontaneidade, acaba por tornar alguns trechos repetitivos. Ainda assim, mesmo que não vá se tornar um recordista de acessos, a iniciativa resultou em um documento valiosíssimo para os que conhecem (ou querem conhecer) a importância e o prestígio de Mendes e de sua obra no exterior. Eu mesmo, que estou aqui teclando isso e que já assisti a alguns dos episódios, não sou um `entendedor´ ou mesmo apreciador do gênero, mas não sou ignorante para não perceber a beleza do gesto de Carlos e o real significado de seu gesto. Além do mais, assim como o maestro, tive o privilégio de também ter nascido em Santos, onde pude conhecer a obra de Mendes e, apesar do estranhamento, desfrutar de uma coisa ou outra.

sábado, outubro 13, 2012

Feliz Dias das Crianças, estas adoráveis e fofas criaturas que fazem girar a engrenagem do capitalismo

_ (entrevistadora) O que você prefere? Ir ao shopping ou à praia?
 _ (criança) ao shopping. 

                                         _ (criança de aparentes 14 anos) Este aqui foi meu primeiro celular. Eu ganhei quando tinha sete anos. Fui o xodó da família porque eu era a única criança que tinha celular. Era a coisa que eu mais queria. Este aqui foi o quarto. Estava  custando R$ 1.8 mil e conseguimos numa promoção por R$ 400.

_ (funcionária de um colégio)  Estamos proibindo as crianças de irem à escola com saltos, como elas querem, porque elas não conseguem correr, brincar e se  divertir nos intervalos. 


A criança se tornou a alma do negócio publicitário. É esta a conclusão a que chegou a diretora Estela Renner ao filmar o documentário Criança - A Alma do Negócio (49 min), no qual especialistas demonstram como a indústria descobriu que é mais fácil convencer uma criança do que um adulto dos supostos benefícios de uma marca e, a partir daí, passou a bombardear crianças e adolescentes com propagandas que estimulam o consumo. O resultado pode ser devastador para a formação de nossos valores: em um jogo desigual e desumano, os anunciantes ficam com o lucro enquanto as crianças arcam com o prejuízo de sua infância encurtada.
 

sexta-feira, outubro 12, 2012

Equívocos da Co...a

Conhecida por suas bem-acabadas e milionárias campanhas de publicidade, a Coca-Cola conseguiu, com uma estratégia que pode vir a se revelar equivocada, o que nem a antipatia contra a Fifa e contra os grupos de mídia mais poderosos do país havia conseguido até agora: catalizar a indignação de um segmento da sociedade contra a forma como vem sendo conduzida a organização da Copa do Mundo de 2014. 

Semanas após a Fifa apresentar ao mundo a mascote oficial do mega-evento esportivo, a marca de refrigerantes espalhou por dez das 12 cidades-sede dos jogos (só ficaram de fora Manaus e Natal) réplicas do simpático tatu-bola cujo nome ainda está sendo escolhido. Cada uma das cópias foi oportunamente instalada em locais de grande movimento, inclusive em pontos turísticos tombados como patrimônio histórico-cultural, caso da Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF) (veja dois posts abaixo) e diante do Farol da Barra, em Salvador (BA). 

Muitos não viram problema algum na associação da empresa privada, patrocinadora oficial da Copa, com a "mascote" de um evento que está recebendo vultosas somas de recursos públicos na forma de reconstrução de estádios e obras de infra-estrutura que, embora bem-vindas e necessárias, estão sendo planejadas em virtude das necessidades e prioridades da organizadora do torneio, ou seja, a Fifa, e não da população. Muitos outros, contudo, ficaram indignados ao ver o espaço público loteado à iniciativa privada e, diante do boneco `vestindo´uma camiseta vermelha com a logomarca Coca-Cola, não demoraram a acusar a "privatização do espaço público".

O episódio mais violento até o momento ocorreu na semana passada, em Porto Alegre (RS), onde policiais militares chegaram a disparar balas de borracha contra centenas de manifestantes que tentavam `liberar´ uma praça.

A manifestação gaúcha parece ter sido o sinal para a abertura da temporada de caça ao tatu promocional. Passados dois dias, dois homens furaram a réplica instalada na Esplanada dos Ministérios (veja o vídeo no post abaixo). Conforme a Agência Brasil noticiou ontem (veja dois posts abaixo), o Iphan não tinha autorizado a instalação do boneco no local, que é tombado e reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade. O governo do Distrito Federal (GDF) sim autorizou, ainda que a legislação local proíba ou imponha uma série de condicionantes à exibição de publicidade em toda a área tombada. Cabe, neste caso, discutir quem infringiu a lei antes?

Após as ocorrências, que classificou como atos de mero vandalismo, a Coca-Cola diz estar estudando a reinstalação dos bonecos em Porto Alegre e em Brasília. Pasmem. A prefeitura gaúcha, segundo notícias de veículos locais, chegou a se oferecer para bancar o conserto do boneco (que, soube-se ontem, não foi estragado durante o tumulto, mas apenas esvaziado). 

Não sou especialista, mas creio que se eu fosse responsável pelo departamento de marketing da Coca, abortaria a ação promocional e deixaria o tatu-bola descansando em paz em algum galpão. Passada a Copa, quem sabe eles ainda não lustram a imagem chamando a mídia para registrar a doação das nove réplicas sobreviventes a instituições de abrigo de crianças e adolescentes como uma baita ação de responsabilidade social.

Para fundamentar meu conselho de leigo, vale verificar a `temperatura´ das redes sociais e reproduzir o comentário da internauta gaúcha Caroline Silveira Bauer, compartilhado por outras 1.025 pessoas no facebook e aprovado por 1.066 dos seus leitores. Boa reflexão.


Então, um espaço público e histórico de mobilizações sociais, batizado em homenagem a um opositor da ditadura civil-militar, companheiro de uma das mulheres mais combatentes pelo movimento feminino pela Anistia, é dominado, nos últimos tempos, por uma empresa privada, com o argumento da "revitalização do centro de Porto Alegre" - leia-se higienização, especulação imobiliária, etc. Ok.
Então, alertados pelo que havia acontecido na noite anterior, em relação ao Teatro da Opus e da Coca-cola - quer dizer, Araújo Viana - nada mais, nada menos do que QUINZE viaturas policiais, e o Grupo de Operações Especiais reúnem-se no largo, PARA PROTEGER UM BONECO INFLÁVEL. É importante esclarecer que este boneco inflável é um ser inanimado, bonitinho até, e se trata de uma propriedade privada. Ok, a polícia militar estava ali para proteger a propriedade privada - e a ordem política e social, por que não?
Então, um grupo de manifestantes, exercendo um dos seus principais direitos democráticos - o de protesto - e uma das principais virtudes contra governos autoritários - a desobediência civil - resolve retomar o largo, tornando-o, novamente, público. São atacados com a mais brutal violência, novamente equiparando-se a violência civil (plenamente legítima), com a violência do Estado, sua máquina, sua prática, seu terrorismo. Ok.
Vejo as mensagens e postagens de amigos que estavam lá, e que dizem que há feridos. Vejo fotos como esta e penso: a) existia policiamento, neste momento, na Redenção, local onde uma médica sofreu uma tentativa de latrocínio há dois dias? b) existiam rondas noturnas para assegurar a volta para casa de estudantes e trabalhadores para os quais o dia só termina as 23h?
Concluo que é necessário o fim das polícias militares, de governos que engulam suas revitalizações higienistas e especulatórias, e que os viúvos e as viúvas do relógio dos 500 anos aprendam, de uma vez por todas, que A PRAÇA É DO POVO, e que A BELEZA E O PROTESTO ESTÃO NA RUA.


quinta-feira, outubro 11, 2012

Exclusivo: Destruição de boneco da Copa foi filmada



O grupo que destruiu o boneco promocional da Coca-Cola que estava instalado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF), filmou parte da ação e disponibilizou o vídeo na internet. O registro mostra o momento em que dois homens com a cabeça coberta com camisetas se aproximam da cerca de proteção. Um deles salta a grade e atinge o boneco com um objeto perfurante.

Assinado com o codinome TatuMorto, o vídeo-manifesto explica que o ataque ao boneco inflável não foi um ato de vandalismo, nem um protesto contra a marca de refrigerantes que, na condição de patrocinadora oficial do mega-evento esportivo, associou sua logomarca à mascote oficial da Copa do Mundo 2014 - quando apresentado à nação, há poucas semanas, o boneco `vestia´ uma camiseta com as cores da bandeira brasileira e a logomarca da Copa, e não uma blusa vermelha com a inscrição Coca-Cola.

"O ato, na verdade, foi uma expressão de repúdio aos grandes opressores e oportunistas que estão por trás do evento da Copa do Mundo no Brasil", diz o texto que acompanha o vídeo. "Nós queremos futebol, mas queremos que o esporte seja a afirmação das nossas riquezas, a alegria do POVO, e não meio de enriquecimento ilícito de poucos e arma alienação em massa".

Assista o vídeo clicando sobre o link abaixo:

http://vimeo.com/51188937

Mascote destruído estava instalado na Esplanada dos Ministérios sem autorização do Iphan



Antes mesmo de ser destruído por desconhecidos na madrugada da última terça-feira (9), o boneco que ficou conhecido como mascote da Copa do Mundo de 2014 já corria o risco de ser removido da Esplanada dos Ministérios, na região central de Brasília.
Como a capital federal é tombada e considerada Patrimônio Cultural da Humanidade, tanto a legislação nacional quanto a do Distrito Federal proíbem ou impõem condicionantes para a divulgação de publicidade ao longo da Esplanada dos Ministérios.
De acordo com a assessoria do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – entidade responsável por zelar e proteger os monumentos históricos e artísticos brasileiros, entre eles, o acervo arquitetônico e urbanístico –, o boneco foi instalado na Esplanada dos Ministérios sem autorização prévia do órgão, desrespeitando a legislação federal. Ainda de acordo com o Iphan, os técnicos já estudavam as medidas cabíveis.
Diferentemente do mascote apresentado pelo Comitê Gestor da Copa, que usava uniforme branco com os dizeres “Brasil 2014”, o boneco inflável instalado na Esplanada dos Ministérios usava uma blusa vermelha com a logomarca da Coca Cola, patrocinador oficial do evento esportivo. O boneco permaneceu no local por 15 dias.
A Brasal (fabricante da Coca-Cola no Distrito Federal e responsável pela execução da ação de marketing promocional) alega que recebeu autorização do governo do Distrito Federal para instalar o boneco. Apesar disso, o Iphan podia determinar que o boneco fosse retirado ou multar a empresa.  
Centro de decisão do poder político, onde estão instalados o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e os mais importantes prédios da administração pública federal, a Esplanada dos Ministérios concentra, além dos turistas que visitam a capital federal, um grande número de trabalhadores com alto poder aquisitivo.
Na semana passada, um boneco semelhante já havia sido alvo de protestos. Em Porto Alegre, centenas de manifestantes destruíram uma réplica do mascote durante um protesto contra a “privatização de locais públicos”. Acionados para proteger o boneco, soldados do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar entraram em confronto com os manifestantes, utilizando cassetetes, bombas de efeito moral e balas de borracha. Várias pessoas, inclusive policiais, ficaram feridas durante o conflito.
Além de Brasília e Porto Alegre, cópias dos bonecos foram instaladas em mais oito cidades-sede dos jogos da Copa. Em Curitiba (PR), ele pode ser visto na movimentada Rua XV de Novembro, no Centro. Já em Salvador (BA), o boneco inflável está exposto diante de um dos principais cartões-postais da cidade, o Farol da Barra. Entre as 12 cidades que sediarão partidas do megaevento, apenas Manaus (AM) e Natal (RN) deixaram de receber os bonecos. Segundo a assessoria da Coca-Cola, por falta de acordo entre as fábricas e as autoridades locais.
Em Brasília, o boneco deveria permanecer na Esplanada até o próximo dia 14, quando seria transferido para uma via de acesso ao aeroporto, onde, se exposto, ficará por 21 dias. Em seguida, será instalado pelo mesmo período na Granja do Torto e, por último, na entrada da cidade de Taguatinga.  
O governo do Distrito Federal informou que a Administração Regional de Brasília autorizou a exposição do boneco por considerar a relevância da matéria para o Brasil e para a capital federal. Lembrando que a ação de divulgação ocorre, simultaneamente, em outras capitais que sediarão os jogos, o GDF defendeu que a iniciativa visa a engajar a participação da população brasiliense na realização do evento, que divulgará a cidade como destino turístico.
A Coca-Cola classificou a destruição dos bonecos como atos de vandalismo e garantiu ter cumprido todos os procedimentos indicados pelo GDF, a quem classificou de "parceiro" na instalação do boneco. A empresa adiantou que está avaliando o novo local e o momento em que voltará a instalar, na cidade, o boneco, "um símbolo de alegria e do espírito festivo do maior evento esportivo mundial".  

terça-feira, outubro 09, 2012

A Saudável Vida no Campo

Costa Rica de novo no blog?



Pois é, meu caro amigo Carlos Leite, tá pensando que é só você que pode ir a Costa Rica surfar e conhecer os destinos turísticos da capital, San Jose?

Eu, se não tenho milhas suficientes para viajar à América Central, vou como dá conhecer a Costa Rica sul-matogrossense, cujo antigo distrito, Paraíso das Águas, elevado à condição de município em 2003, só neste domingo realizou sua primeira eleição municipal.

Não deixa de ser Costa Rica. Ou melhor, não deixava de ser. Ainda que, em termos `urbanos´ tudo se resuma à avenida principal, de cerca de 300 metros de extensão. Um universo agrícola com cerca de 5 mil pessoas e entre 150 mil e 200 mil cabeças de gado. Onde não há internet, celular, hospital, cartório, agência bancária, delegacia, banca de jornal....Só que, em compensação, tem um povo hospitaleiro, divertido e educado.

sexta-feira, outubro 05, 2012

Os "substitutos da Vuvuzela" e os direitos intelectuais dos povos tradicionais



Eu já ouvi alguém dizendo que para conquistar a simpatia de um jornalista e, assim, conseguir uma reportagem mais favorável aos seus interesses basta ou criar um prêmio para dar as "melhores" matérias sobre o assunto de interesse ou então marcar uma coletiva para o horário do almoço e oferecer um farto buffet. Outra pessoa já me disse que um bloco de anotações e uma caneta são suficientes. Ninguém nunca tinha sugerido, no entanto, que um chocalho tocado por uma celebridade teria efeito semelhante sobre o "espírito crítico" de alguns destes profissionais. 

Depois de noticiarem acriticamente a instalação, em plena Esplanada dos Ministérios, do boneco do tatu-bola com a logomarca de um famoso refrigerante estampada no peito como "a chegada do boneco da Copa 2014 a Brasília" (veja alguns posts abaixo), os comunicadores voltaram a baixar a guarda ao serem apresentados aos "inspirados" futuros instrumentos musicais da Copa, a caxirola e o pedhuá. 

Nem com os próprios apresentadores dos dois objetos de plástico reconhecendo terem se inspirado no caxixi - instrumento de origem africana e, hoje, aparentemente considerado de domínio público - ou no pedhuá  - apito indígena usado para atrair aves e até hoje encontrado em feiras populares -, nem assim alguém ousou questionar se ambas iniciativas não se tratavam de uma mera cópia. Nenhum jornalista lembrou de verificar se isso não feria a lei de propriedade intelectual ou se os dois objetos, de fato, já estão patenteados. Ninguém questionou ao Ministério do Esporte se não seria mais razoável pensar numa forma de beneficiar artesãos e comunidades tradicionais ao invés de "empresas" que só há poucos meses demonstraram interesse pelo assunto. Aspectos que não passaram desapercebidos pelos internautas, que logo começaram a postar comentários deste tipo nas redes sociais e nos sites de notícias que divulgaram o assunto festivamente. A maioria dos dos internautas classificou os projetos como cópias ou oportunistas. Nem assim a imprensa bancou a discussão. Algo preocupante se pensarmos nos reflexos muito mais sérios que o evento esportivo pode criar, vide as denúncias de que moradores de áreas carentes estariam sendo removidos de suas casas para ceder lugar às obras da Copa. 

Oportunamente, foi a agência pública de notícias, a Agência Brasil, que é vinculada ao governo federal (mas é PÚBLICA) quem primeiro decidiu aprofundar a discussão em torno da aprovação do Ministério do Esporte a caxirola e ao pedhuá como instrumentos capazes de divulgar o Brasil para brasileiros e, principalmente, estrangeiros e o conflito com os direitos tradicionais e as formas de compensar as comunidades pelo uso de seus bens e manifestações. Saiu ontem. Até agora, pelo visto, a maior parte da imprensa considerou a discussão desnecessária. Para quem pensar diferente, vale a visita ao site da Agência Brasil:

Especialistas criticam reconhecimento do governo a instrumentos musicais para a Copa

O governo federal perdeu uma grande oportunidade de reforçar a importância do legado afroindígena para o país, analisam especialistas ligados à preservação e à promoção das culturas tradicionais e ao direito intelectual. Na semana passada, o Grupo Executivo da Copa do Mundo de Futebol de 2014 (Gecopa) incluiu a caxirola (uma espécie de chocalho) e o pedhuá (tipo de apito), instrumentos musicais inspirados em objetos centenários indígenas e africanos, entre os projetos privados que visam a promover o Brasil em função do evento. A decisão surpreendeu especialistas da área cultural.



Autores de projetos dizem que instrumentos musicais são inovadores e contribuem para o meio ambiente

Os responsáveis pelos projetos da caxirola e do pedhuá – os dois instrumentos musicais escolhidos pelo Grupo Executivo da Copa do Mundo de Futebol de 2014 (Gecopa) para representar e promover a imagem do Brasil por ocasião do evento esportivo – destacaram a importância do reconhecimento governamental a suas iniciativas e rebateram as críticas de que tentam se apropriar de objetos tradicionais africanos e indígenas de domínio público para faturar.

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-10-04/para-autores-de-projetos-instrumentos-musicais-sao-inovadores-e-contribuem-para-meio-ambiente


terça-feira, outubro 02, 2012

Cláudio Willer e a "geração beat" no Sebinho


Sebinho. O inapropriado diminutivo não dá conta do tamanho do lojão que ocupa todo o térreo e o subsolo do bloco C da 406 Norte, em Brasília. Muito menos do tamanho do acervo de livros, revistas em quadrinhos, cds, lps, dvd, vhs, camisetas, entre outros objetos culturais acumulados ao longo de 26 anos, tudo disposto em infinitas prateleiras. Pra arrematar, há ainda um café-restaurante bem sortido (embora não muito barato) que costuma ficar cheio do meio da tarde até o a noite e um auditório de tamanho razoável.

Hoje (2), o Sebinho recebeu o poeta, ensaísta e tradutor Cláudio Willer, autor do livro A Geração Beat (LP&M) e tradutor de importantes obras, como a coletânea Escritos de Antonin Artaud (ei! peraí! onde foi parar o meu exemplar? quem está com ele?)

Willer veio a capital federal falar sobre a poesia e a rebelião na geração beat (ah, vá! Eu já falei bastante aqui neste blog sobre o grupo de escritores que, a partir de 1950, romperam com o cânone literário, anteciparam em dez anos movimentos culturais como o hippie e do qual a obra mais popular é o livro On The Road, de Jack Kerouac, que inspirou o filme Na Estrada, de Walter Salles). 

E como ficou claro ao fim de duas horas, quando se trata de geração beat, o problema de Willer não é a falta de assunto, mas sim o contrário. Falta é mais tempo para ele apresentar todos seus argumentos necessários a convencer aqueles que ainda não estão certos do valor literário não apenas da obra de Kerouac, mas de outros beats, como o grande poeta Allen Ginsberg, autor de Uivo ("vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura / morrendo de fome, histéricos, nus / arrastando-se pelas ruas do bairro negro...")

"Kerouac é um autor colossal que até hoje paga uma enorme preço por ter escrito a obra máxima [da ficção] segunda metade do século XX. Obra que inspirou rebeliões e que, por isso mesmo, é atacada até hoje por críticos que não aceitam a confusão entre a vida e a poesia. Ele tinha uma enorme sensibilidade auditiva e sua escrita, bem como trechos de outros autores beat, são exemplos de uma escrita caracteristicamente polifônica, em que os autores buscam uma linguagem que extrapole a lógica do discurso aristotélico", disse ao falar do autor de On The Road. 

Sobre Ginsberg: "Ginsberg conseguiu ser expulso da Tchecoslováquia e de Cuba, ao mesmo tempo em que era vigiado e considerado suspeito pelo FBI e por Hoover. Não fossem a cirrose e o conseqüente câncer que o matou, teria, hoje, 85 anos. Estaria no front, participando dos debates políticos deste milênio. Estaria marchando em Wall Street, junto com o Occupy"

Como não poderia deixar de ser, tão logo o microfone foi aberto para que a plateia fizesse perguntas, veio a inevitável questão sobre o que Willer achou do filme Na Estrada, de Salles. "Um filme baseado em qualquer obra literária sempre é algo arriscado porque o filme estará sujeito a duplo julgamento: do filme por si próprio e da comparação com o livro. Há cenas belíssimas, bons atores - embora o ator principal, que interpreta Kerouac, tenha sido mal escolhido - e o roteiro tenha conseguido resolver certas coisas de maneira muito eficiente. Mesmo assim, achei que ficou faltando algo".  

segunda-feira, outubro 01, 2012

Cosmópolis - Pattinson definitivamente não é De Niro


Alguém aí pode me explicar sobre o que, afinal de contas, trata Cosmópolis, filme de David Cronenberg atualmente em cartaz e estrelado pelo `vampiro´ de quem Kristen Stewart tirou o sangue , Robert Pattinson. Não entendi lhufas. (talvez por puro desinteresse, fastio com este tipo de filme cabeça pretensioso. E olha que eu gosto muito do trabalho do Paul Giamatti e da Juliette Binoche). De qualquer forma, acho que não fui o único a não compreender o filme.
"Jovem bilionário passeia pelas ruas de Manhattan, de limusine. No caminho, depara-se com uma galeria de personagens e situações bizarras" - sinopse do Correio Braziliense

"A odisseia de 24 horas de um jovem investidor multimilionário que decide cortar o cabelo do outro lado de Manhattan, num dia em que raivosas manifestações anticapitalistas tomam as ruas" - sinopse do Estado de S. Paulo

Embora não falte quem o considere genial, eu fico com sua aparente fonte de inspiração: Taxi Driver, com Robert De Niro no papel principal.