sexta-feira, junho 28, 2013

Um poeta bem ao gosto das manifestações


se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
                    diga ao povo
que o buraco é mais embaixo

se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação 
diga ao povo 
que salve-se quem puder

se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
                  diga ao povo
que o almoço tá na mesa

se é para o bem de todos 
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que mande o rei
à pátria que o pariu

ainda bem 
que ninguém nunca disse 
nada de novo
- posso (se quiser)
dizer tudo outra vez


tô de saco cheio desse vazio


Tem literatura brasiliense na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste manifestabundo ano corrente. Ano em que a onda de protestos inspirou os organizadores do evento a promoverem, de última hora, três mesas onde intelectuais debatam o sentido do clamor popular. 

Nascido em Cuiabá, mas brasiliense desde seus 16 anos, o poeta Nicolas Behr é um sobrevivente da "geração mimeógrafo"  - que reunia novos autores que, lá pelo fim da década de 70 do século passado, vendiam não de porta em porta, mas sim de mesa em mesa, noite etílica a dentro os textinhos que cada um reunia em livrinhos que eles mesmos mimeografavam e grampeavam. Reza a lenda que, Behr, por exemplo, vendeu ao menos oito mil exemplares de seu "best seller" Iogurte Com Farinha.

Não porque tenha sido preso e processado pelo Dops por portar "material pornográfico", mas Behr é um poeta cujos versos mereceriam estampar alguns cartazes das atuais manifestações, emprestando, a exemplo de Maio de 68, um colorido poético às reivindicações.

"Os três poderes são um só: o deles". "eixos [rodoviários] que se cruzam / pessoas que não se encontram". "burocratas de verdade só fazem amor em almofadas de carimbo". "era preciso saber quanto cimento será gasto numa ponte por onde ninguém passará de mãos dadas". "estou começando a perder o medo que tenho das pessoas"

Por fim, a Flip, com o que chama a atenção da imprensa nacional, há de demonstrar que Behr é um escritor anônimo conhecido quase que nacionalmente por jovens que ainda hoje conhecem os cândidos versinhos de Nossa Senhora do Cerrado. 

Nossa senhora do cerrado
protetora dos pedestres
que atravessam o eixão
às seis horas da tarde
fazei com que eu chegue
são e salvo na casa da noélia

Não conhece? Pois então pergunte (ou ouça clicando aqui) a um fã da Legião Urbana, cujo letrista, Renato Russo, homenageou citando não só ao poeta, mas também à banda Liga Tripa, grupo que tem o inexistente sotaque de Brasília e que primeiro cantou a ansiedade dos pedestres obrigados a atravessar o Eixão. 


quarta-feira, junho 26, 2013

O Preço da Copa


Série exibida ao longo desta semana pelo Jornal da Record dá uma pista de porque os R$ 0,20 podem ter sido a gota d´àgua que arrebentou o dique que represava a perplexidade e a indignação popular há tanto tempo acumuladas.

Assistindo às reportagens, duas coisas veem à mente. Primeiro que muitos políticos assumiram um risco alto e, possivelmente, pagarão nas urnas pelo equívoco de imaginar que sediar as duas copas de futebol seria uma grande festa. O resultado político de tal aposta agora depende do desempenho da seleção da Nike. 

Em segundo lugar, é bom que haja duas emissoras com condições financeiras e disposição para investir tempo e recursos em matérias de fôlego. Neste caso específico, por exemplo, a que não detém os direitos de transmissão dos jogos e, portanto, fica em desvantagem ao disputar as polpudas verbas publicitárias, cuida de detonar o que a concorrente, que transmite os jogos, defende com todo afinco.




segunda-feira, junho 24, 2013

O Assombro



              
          "o remédio para os malefícios da extrema esquerda não será o nascimento de uma direita reacionária"
           do primeiro presidente militar pós-abril de 1964, General Castello Branco


Helicópteros sobrevoam meu prédio. Ao longe, sirenes passam apressadas. Hoje, em Brasília, é a vez de motoristas e cobradores de ônibus protestarem bloqueando vias ao redor da Rodoviária do Plano Piloto em pleno horário de pico. Em outro canto da capital federal, manifestantes marcham rumo à casa do governador. Mais cedo, duas mulheres morreram atropeladas por um motorista em fúria durante um protesto de moradores da periferia da "ilha da fantasia". Em Porto Alegre, milhares se concentram debaixo de chuva. Cenas semelhantes acontecem no Rio de Janeiro, Campinas, São Luis,  Goiânia, Cubatão e em outras localidades.

De nada adiantaram os dois pronunciamentos feitos tardiamente pela presidenta Dilma Rousseff. Os protestos continuam e oficiais das PMs falam em "estado de comoção social". A única mudança veio dos jornalistas. Desde que viram seus pares feridos durante as manifestações, eles assumiram um outro tom, destacando o aspecto democrático das reivindicações e se esforçando para atribuir o quebra-quebra a vândalos que ninguém até agora conseguiu mostrar muito bem que são. Mesmo assim, cresce entre a população o sentimento de que a coisa está fugindo ao controle (se já não fugiu) e cada vez mais pessoas admitem querer mudanças, mas - contraditoriamente - não às custas da falsa ordem em que temos sobrevivido há séculos. 

Diante da feição indistinta que as manifestações vem ganhando nos últimos dias, o Movimento Passe Livre de Santos ajuizadamente decidiu que "devido à conjuntura nacional de instabilidade política", não vai organizar novas manifestações. Entre políticos receosos e especialistas perplexos, o MPL santista parece ter dado ouvidos ao apresentador Silvio Santos: quem protesta contra tudo protesta contra nada. Fato que comporta também o contrário. Ou seja, quem não tem clareza sobre sua(s) bandeira(s) pode acabar empunhando qualquer outra que lhe puserem nas mãos. Daí a importância de cada um saber pelo que está lutando e se o seu objetivo não é contraditório com o de quem está ao seu lado. Dá para respeitar as diferenças, mas não é possível pedir a destituição do pastor Marcos Feliciano da Comissão de Direitos Humanos e ao mesmo tempo xingar a presidenta de sapatão esquerdopata. 

É preciso estar alerta para isso. Afinal, a História não é um contínuo fluxo progressista de melhorias em que os erros do passado não mais se repetem. Os que fazem eco ao coro "Fora Dilma!", por exemplo, estão no seu direito. Mas como alertou o diretor teatral Luis Fernando Marques, devem estar cientes de que, mantida a lei e a ordem constitucional (que, até prova em contrário, é o que todos querem), o "Fora, Dilma!" significa o mesmo que "Viva, Michel Temer".  Isso é só um exemplo da complexidade do que está em jogo nas ruas. 

Daqui a oito meses vamos relembrar os 50 anos de nosso último golpe militar, deflagrado com vários objetivos ou bandeiras e apoio massivo da imprensa e de setores conservadores da sociedade. A mais cândida das metas militares era moralizar o país, combatendo a corrupção e a subversão.  O golpe começou muito antes de 31 de março (ou 1º de abril) de 1964 e um de seus principais arquitetos foi o coronel Golbery do Couto e Silva. Entre as estratégias do então coordenador do Serviço Federal de Informações e Contra-Informações (órgão que deu origem ao famigerado Serviço Nacional de Informação (SNI), hoje Abin) para desestabilizar o governo de Jango estava a guerra psicológica. Os homens de Golbery distribuíam nos quartéis uma circular apócrifa incitando os militares contra o presidente *

Consumado o golpe, o general Humberto Castello Branco, o Quasímodo, tomou posse alertando de que a Gloriosa levaria o país à frente "com a segurança de que o remédio para os malefícios da extrema esquerda não será o nascimento de uma direita reacionária, mas sim o das reformas que se fizerem necessárias".

A ditadura vigorou por 25 anos. Durante esse tempo, os milicos centraram todas suas forças no combate aos que classificavam como subversivos: estudantes, políticos de oposição, trabalhadores politizados, jornalistas imparciais, etc  Os corruptos? Bem, esses rapidamente se aliaram ao novo regime, como sempre fizeram desde que o mundo é mundo. (Não preciso lembrar o lamentável fato de que alguns dos civis que apoiaram os militares de 64 estão entre os que hoje apóiam o governo formado por pessoas perseguidas durante a ditadura). Entre os perseguidos, Dilma Rousseff.

"Declaro que é de minha vontade a intervenção das forças armadas na atual crise nacional com fins de restaurar a ordem". "Eu quero um presidente militar e vc?". "O que está se delineando na realidade, é um golpe de esquerda, para transformar nosso país em uma nova Cuba!, e, o primeiro passo para isto foi a campanha do desarmamento [...] mas a real intenção deste plano era desarmar a população , para que em um momento como este que está acontecendo, não poder reagir ao golpe que se anuncia". "A punição é fechar o congresso, senado, prender todos os políticos, todos são ladroes e corruptos, e juizes corruptos, e fazerem devolver o dinheiro desviado dos cofres públicos". 

Essas são apenas algumas das várias manifestações anti-democráticas com que me deparei nas redes sociais. Há muitas outras. Inclusive de palpiteiros que não tendo aprendido nada com o resultado do apoio da imprensa ao golpe de 64, seguem dando opiniões irrefletidas. "Paralisado com os protestos e aparentemente sem comando [...] Quem está tomando conta da loja?”, questiona o ex-assessor de imprensa do presidente Collor, Cláudio Humberto, que, já em 29 de maio passado, informava seus leitores de que circulava na internet um abaixo-assinado então com 800 assinaturas de pessoas que pedem a volta dos militares ao poder. A iniciativa "tem como objetivo acordar os nossos militares, os nossos generais a dar um golpe de estado imediatamente, antes que seja tarde demais”, diz o abaixo-assinado, que deve ter encorpado bastante nos últimos dias.

É preciso ter cuidado. Nunca se sabe que fantasmas nos espreitam. 


* Figueiredo, Lucas - Ministério do Silêncio (A História do serviço secreto brasileiro) 

sábado, junho 22, 2013

Amarra e entrega nas mãos do Senhor

Se há uma subcelebridade sem medo de ser ridícula em nome do sucesso é o auto-intitulado cantor e dançarino ..... Após ter seu canal no youtube temporariamente retirado do ar por plágio, o sujeito dá mais uma demonstração de oportunismo e, com o argumento de homenagear os manifestantes brasileiros, relança uma coisa de 2011 que, compreensivelmente, passou completamente desapercebida à época. 

Irônico que o indivíduo queria colar sua peça radiofônica às manifestações por mais investimentos em Educação. Só vai ser difícil convencer os manifestantes de que os versos pobres vomitados para festejar a escolha do Brasil como sede de grandes eventos esportivos agora sirvam para homenageá-los justamente por se oporem aos gastos públicos nesses mesmos eventos. É o máximo da falta de noção. 

A julgar pela minha primeira e única audição deste lixo, eu diria que não há a mínima chance disso fazer sucesso nem hoje, nem nunca. O que significa dizer que meus três leitores estão sujeitos a, em breve, terem o cérebro lobotomizado pela execução repetitiva em emissoras de tvs, rádios e carros aparelhados de muito bom gosto. Até porque, só eu, para confirmar se isso era verdade e depois escrever este post, já acrescentei mais dois acessos ao vídeo. Fato que os assessores do sujeito saberão usar para convencer os programadores de que ele é muito popular. Como diz a máxima do show business: ninguém nunca ficou pobre subestimando a inteligência do público.

 

Fala que eu te escuto


O pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff, ontem (21) a noite, foi uma mera formalidade. Nem o mais jovem e radical dos manifestantes que tomaram as ruas do país esperava que a presidenta viesse a público e, de sopetão, como em um passe de mágica, anunciasse o atendimento à ampla e indistinta pauta de reivindicações apresentadas ou esboçadas. Ainda assim, aguardava-se, ou melhor, exigia-se que Dilma se pronunciasse tanto sobre o espetáculo democrático, quanto sobre os atos de barbárie.

Ao fazê-lo, Dilma acertou no tom com que criticou a violência, a depredação e os saques. E com que legitimou a ação das forças de segurança do Estado para coibir, "dentro dos limites da lei", o "vandalismo". Senso comum.

Já no aspecto mais importante, a interpretação política dos sinais vindos das ruas e a resposta às aspirações populares, ficou claro que nada mudou desde que o ministro Gilberto Carvalho, em um ato de honestidade intelectual, admitiu estar difícil de entender o que se passa nas ruas. A presidenta deixou transparecer estar lendo um texto burocrático e vazio de propostas escrito com a ajuda do marketeiro João Santana. Informação desabonadora vazada à imprensa, já que, uma das constantes críticas à classe política é o fato de ter substituído as propostas políticas pelas estratégias do marketing eleitoral.

Mesmo recorrendo ao publicitário do PT, a presidenta aparentemente não soube falar com os protagonistas dos protestos. Daí ter se comprometido a receber as "lideranças" do movimento, quando todos os militantes, analistas e cientistas políticos destacam que a "horizontalidade" é uma das principais características das manifestações populares que ocorrem não só no Brasil, mas em quase todo o mundo. Como Dilma disse que também irá receber os representantes de entidades sindicais, associações populares e de organizações populares, resta saber se não acabará sentada à mesa com os mesmos interlocutores dos últimos anos, alguns deles hostilizados ao tentar participar das últimas manifestações.

O Palácio do Planalto deve mesmo estar acompanhando "com muita atenção" às manifestações, mas parece tão perplexo que o máximo que conseguiu foi reapresentar a proposta de destinar os royalties do petróleo para a Educação e a polêmica ideia de trazer "milhares" de médicos estrangeiros para trabalhar no país e, assim, ampliar a capacidade de atendimento do SUS. De concreto mesmo, só o reconhecimento de que "não é fácil chegar aonde querem muitos dos que foram às ruas".

Em resposta à principal pauta dos manifestantes, a melhoria dos serviços públicos, a presidenta garantiu que agora sim, agora o tema ganhou "prioridade nacional". Por isso, vem aí um "grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos", com a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana. Só que, para isso sair do campo das boas intenções, será preciso sentar-se à mesa com governadores e prefeitos. Em ano pré-eleições. 

O ponto mais sensível do discurso, contudo, diz respeito à organização dos grandes eventos esportivos que o país vai sediar. Como escrevi no começo, esperava-se já há alguns dias que a presidenta se manifestasse publicamente. Por mero acaso ou por necessidade, o pronunciamento acabou indo ao ar no dia em que a imprensa noticiou que a Fifa considera a hipótese de continuar a Copa das Confederações em outro país e que a seleção italiana ameaçou deixar o Brasil caso sua segurança não fosse reforçada.

Com milhares de pessoas nas ruas questionando o empenho do governo brasileiro em construir mega-estádios que correm o risco de subutilização, a presidenta se sai com a pérola maior ao abordar o futebol como algo "que tem a ver com nossa alma e nosso jeito de ser", dando novos argumentos aos manifestantes e à oposição. Apelar para o sentimento de hospitalidade intrínseco ao brasileiro nada tem a ver com a questão e não acredito que desmobilize os críticos à iniciativa.

Aparentemente, Dilma poderia ter terminado sem tocar neste assunto, mas deve ter falado mais alto a preocupação com a suspensão da Copa das Confederações. Afinal, o governo assumiu de forma irresponsável o risco de indenizar a Fifa e as empresas envolvidas com o evento por quaisquer prejuízos às instalações e à realização e transmissão dos jogos. Isso é algo que pouco está sendo dito e que os manifestantes tem que levar em consideração: a conta que já está alta pode ficar ainda maior. E se por um lado a presidenta garanta que nada está saindo dos cofres públicos, é necessário maior clareza e transparência na divulgação de quanto de fato tudo isso custará aos brasileiros.

Mecanismos e instituições que permitam às pessoas não só se informarem sobre gastos, mas principalmente a interferirem ems decisões governamentais como a de sediar a Copa do Mundo poderiam minimizar potenciais conflitos de interesses. Eis aí outro grande nó imposto pelas manifestações: a repulsa da população aos mecanismos partidários e, consequentemente, à política partidária e seu fisiologismo. Embora tenha defendido que nenhuma democracia pode prescindir dos partidos políticos, a própria presidenta reconhece nossa necessidade de "oxigenar o sistema político e encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes e mais permeáveis à influência da sociedade".

quarta-feira, junho 19, 2013

Arnaldo Jabor contra Manifestações Populares: para não esquecermos


Mesmo contra sua vontade, Arnaldo Jabor acertou em um ponto. "Não pode ser por vinte centavos". Quase acertou em outro, mas errou ao generalizar: não é o país "que está paralisado por uma disputa eleitoral para daqui a um ano e meio", mas sim os setores de sempre (políticos, partidos, sindicatos, imprensa), que, por sinal, são os alvos do que a mídia internacional vem classificando como o despertar da Nação brasileira e não como paralisia. 

De resto, Jabor dá claros sinais de que, até as vésperas da fatídica quinta-feira em que dois jornalistas (os olhos da população, não é mesmo?) quase ficaram cegos ao serem atingidos por balas de borrachas policiais o que levou toda a mídia a mudar o tom da cobertura, até então ele vinha se informando pelo noticiário da Globo, não tendo, portanto, visto os cartazes contra a PEC 37, além de muitos outros, que desde o início estão lá, em meio aos protestos. 

E ainda tem gente que diz não entender o porque da animosidade dos manifestantes contra a imprensa. 



Em resposta aos argumentos de Jabor, duas versões de um mesmo vídeo postado no youtube e atribuídas ao grupo Anonymous Brasil  já registraram quase um milhão de visualizações. "E boa sorte para vocês, velhos reacionários. Sua hora vai chegar". 

É o momento do movimento LGBT, organizadamente, se somar às manifestações



Agora, falta o movimento LGBT se somar às manifestações populares e exigir que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados barre este absurdo projeto de decreto legislativo que autoriza o tratamento psicológico para alterar a orientação sexual de homossexuais, iniciativa chamada de "cura gay".

Além de levar "cores" aos protestos populares, seria uma aula de democracia e tolerância ver punks e skinheads marchando lado a lado com gays, lésbicas e travestis. Também seria mais uma prova de que as primeiras manifestações contra o aumento das passagens de ônibus apenas catalizaram  o descontentamento da população com o pouco caso, o corporativismo e a alienação da classe política e demais detentores de cargos públicos. E que toda a sociedade decidiu cobrar, nas ruas, seu direito a um país mais justo, humano e igualitário.

Até a Fátima Bernardes declarou, hoje (19), em seu programa - mais ou menos com essas palavras -, que o anteprojeto de lei aprovado ontem (18) pela risível Comissão de Direitos Humanos presidida pelo deputado cujo nome já não merece mais ser mencionado demonstra "a mais completa falta de sintonia com o momento que o país atravessa. Enquanto uma multidão marcha nas ruas clamando por algo que diz respeito à vida pública, grupos demonstram uma preocupação injustificada com assuntos privados, que dizem respeito à individualidade".


Grupo XIX de Teatro (SP) e Espanca! (MG) em Brasília



Recém-chegado de mais uma turnê por Portugal, o Grupo XIX de Teatro, de São Paulo, desembarca este fim de semana em Brasília para apresentar o espetáculo Marcha para Zenturo, desenvolvido em conjunto com a companhia Espanca!, de Belo Horizonte (MG).

Marcha... é a única peça do Grupo XIX a que ainda não assisti, mas a julgar pelos outros três (Hysteria, Hygiene e Arrufos), espero mais um bom espetáculo.


Release:

"Uma turma de amigos se reencontra para celebrar o Ano-Novo. O reencontro detona lembranças e reflexões sobre como o tempo transcorreu em suas vidas: como eram, o que desejavam ser, o que se tornaram, e o que ainda se tornarão. A peça é também uma reflexão sobre o nosso tempo: tempo em que o presente é algo que continua sonhando estar vivo; tempo em que o passado é uma realidade que não adivinha o futuro; tempo que o futuro já chegou".

Texto: Grace Passô (Espanca!)
direção: Luiz Fernando Marques (Grupo XIX)

Duração: 90 minutos
Preço: CINCO, sim R$ 5, segundo o site Brasília De Boa. Você nem precisa de Vale Cultura ou de carteirinha de estudante para ver um bom espetáculo a um preço desse.

segunda-feira, junho 17, 2013

Vão das Almas, da Copa e da publicidade


Clique aqui, assista o vídeo e me diga...dá? não dá, né?




(Espaço reservado à reflexão. Proibido colar cartazes)



Assistiu? Não. Então vá lá. É rapidinho.



(Mais espaço destinado à digestão. Não tome banho de barriga cheia)


Assistiu? Ah, que bom. Então, agora me diga:


Será que os calungas que vivem ali, "tão perto" de Brasília, isolados "da realidade" dos grandes eventos esportivos sabem que é a presidenta da República? O presidente do Incra? O governador de Goiás? O ministro de Minas e Energia? Será que os calungas esperam pela chegada da energia elétrica para terem uma geladeira ou eles de fato anseiam pela luz elétrica apenas para, assim, poderem participar, à distância, da "festa" que é torcer por uma das seleções da Nike? Será que os calungas sabem o que é um cardiologista? Será que eles sabem o que é uma educação de qualidade? O que estariam fazendo eles, que integram o grupo de "malandros que não querem saber de trabalhar e que querem terras de graça"... o que estariam fazendo eles as 16 horas desse sábado, enquanto o "país todo" parava para torcer e eu assistia à reprise de Todo Mundo Odeia o Cris, na emissora concorrente?

Não sou amargo como alguns textos deste blog podem indicar (prova que prefiro assistir à reprise de Todo Mundo Odeia o Cris). É que há certas coisas tão, mas tão indigestas, que basta um mínimo de senso crítico para se dar conta de que há algo errado com uma sociedade que, dita da Informação, usa os veículos de comunicação de massa como mero alto-falantes para anunciar mercadorias. 

Pior é imaginar que, no caso do vídeo em questão, o repórter pode ter agido com a maior das boas-intenções. Talvez ele mesmo tenha proposto a pauta e deixado de assistir ao jogo para comer poeira na estrada, convicto de que esta seria a única forma e ocasião de convencer seus chefes a ceder alguns minutos para mostrar aos telespectadores que há um "grupo de ferrados" que vivem alijados do sucesso da economia brasileira; da superação da extrema pobreza; da situação de quase pleno emprego e, pior, do grandiosíssimo futuro nacional que seria proporcionado primeiro pela "revolução do biodiesel", depois pela descoberta do pré-Sal e, agora, pela era dos "grandes eventos esportivos". Gente que só costuma aparecer na tela quando alaga, desbarranca, incendeia ou explode de indignação.

Triste o país tropical de dimensões continentais e mais de 8 mil quilômetros de praias que acredita precisar da Fifa para atrair turistas. Ou para ter direito a um "legado". Triste mídia que ao olhar para uma comunidade que não tem luz elétrica, posto de saúde, documentos, dignidade, se espanta pelos moradores desse lugar não conhecerem a "camisa do seu país". Definitivamente, "não me representa". 

Falta de legislação internacional e dependência da infraestrutura norte-americana subordinam internautas de todo o mundo às leis dos EUA


No universo da internet, estamos todos sujeitos às leis dos Estados Unidos. Essa é a conclusão do perito forense e advogado especializado em tecnologia da informação José Antônio Milagre sobre as denúncias de que órgãos de segurança norte-americanos têm acesso aos servidores de empresas de telefonia e de internet sediadas no país. Para o especialista, se as denúncias forem confirmadas, a quebra da privacidade dos internautas pode configurar “uma absurda agressão a um direito humano internacionalmente reconhecido”.

A extensão dos grampos ainda é desconhecida. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já admitiu que o Congresso autorizou a execução do programa de vigilância das comunicações chamado Prism (em português, Métodos Sustentáveis de Integração de Projetos), mas alegou que “ninguém ouve” as chamadas telefônicas dos cidadãos norte-americanos.

“Sempre imaginamos a internet como um patrimônio mundial. Só que ela necessita de servidores que armazenem e suportem os serviços e as interações proporcionadas pela rede mundial de computadores. E basta mapearmos a estrutura física [da web] para constatarmos a grande dependência da infraestrutura norte-americana”, disse o advogado à Agência Brasil.

Na quarta-feira (12), ao revelar que o governo está preocupado com o tema, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, defendeu a necessidade de mudanças na legislação brasileira e a construção de centros de processamentos de dados (data centers) no país. Para o ministro, isso permitiria que as informações dos internautas brasileiros fossem armazenadas no país e ficassem submetidas também à legislação brasileira.

“Os principais serviços, como as redes sociais, são oferecidos por empresas sediadas em solo norte-americano. Além de estarem, portanto, sujeitas às leis dos Estados Unidos, elas nos impõem termos de uso em consonância com a legislação norte-americana”, comentou o advogado, destacando a “pouca maturidade” da maioria dos brasileiros com o tema da privacidade na rede mundial de computadores.

“Até porque, não há escolha. Ou a pessoa aceita os termos de uso, ou se desliga da internet. Por isso elas aceitam ceder parcelas de sua privacidade. A questão é que, até hoje, a maioria dos usuários acreditava que suas informações pessoais estariam seguras e não seriam intercambiadas. Esse episódio apenas reforça [a tese de] que a proteção aos dados de estrangeiros não é tão robusta quanto muitos imaginavam”, ponderou o especialista.

José Antônio Milagre aponta que as matérias dos jornais The Guardian (britânico) e The Washington Post(norte-americano), escritas a partir das revelações feitas por Edward Snowden, ex-agente da CIA, a agência de inteligência norte-americana, indicam que os dados de internautas de todo o mundo eram coletados pelas empresas e compartilhados com o governo norte-americano sem qualquer autorização, com a justificativa de proteger os cidadãos norte-americanos e os Estados Unidos.

“Na medida em que as autoridades coletam essas informações sem o conhecimento dos usuários ou de uma autorização judicial, há, evidentemente, uma violação de tratados, garantias e direitos reconhecidos internacionalmente”, disse o especialista, defendendo a necessidade de novos mecanismos para evitar a violação de dados, salvo em casos excepcionais, com ordem judicial.

“Esse episódio vai contribuir para uma reflexão sobre a necessidade de diretrizes ou normativas internacionais a respeito da preservação da privacidade das informações pessoais. Ainda tratamos a privacidade com o olhar de 40 anos atrás”, acrescentou.

O advogado lembrou que vários países já adotam ou discutem mecanismos jurídicos semelhantes ao Patriot Act, lei criada após os ataques do 11 de Setembro de 2001, com a justificativa de combater o terrorismo. De acordo com José Antônio Milagre, o próprio Brasil também tem um acordo com os Estados Unidos, o Tratado de Assistência Legal Mútua, “uma ferramenta importante para o enfrentamento dos crimes eletrônicos em casos em que as autoridades necessitam de dados que não estão armazenados no país de origem da investigação”.

(Adendo: Hoje (17), representantes do governo chinês exigiram que Washington se explique perante à comunidade internacional. E para entender as implicações do tema para todo o mundo, vale ler a matéria da revista Galileu, Por que Nós Deveríamos Nos Preocupar) 

domingo, junho 16, 2013

Julho é tempo de


... pular fogueira e formar "quadrilha". Em Brasília, em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Natal e por aí vai. Quer dizer, vai se a PM deixar.


Dançando ao som da marchinha "A ponte caiu. Volta que é verdade. A inflação tá sob controle. É mentira"

********************

Fica aqui a sugestão: que a exemplo do que fez com os camelôs, com os instrumentos sonoros e com os xingamentos às mães dos árbitros, a Fifa proíba, já na Copa do Mundo de 2014, o público de vaiar as autoridades políticas presentes nos estádios. É preciso manter o respeito e o fairplay (veja vídeo abaixo). 

Brincadeiras à parte, o que me causou estranheza não foi exatamente a vaia ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, ou à presidenta da República Dilma Rousseff, mas sim:

a) Blatter dar as boas-vindas à presidenta, e não o contrário. "É um grande prazer, em nome da Fifa, dar as boas-vindas e a gratidão às autoridades brasileiras, lideradas pela presidenta". Nos meus tempos de guri, a Fifa era meramente uma entidade esportiva. Não um Estado membro da ONU, apto a firmar com os Estados-nação contratos que lhe concede tratamento fiscal e alfandegário diferenciado e o controle sobre parte do território brasileiro (um perímetro em torno dos estádios, bem como as principais vias de acesso a estes)

b) Dilma, na qualidade de chefe do governo, ser criticada por quem critica os gastos públicos com a organização dos grandes eventos esportivos que o país vai sediar e, simultaneamente, ser vaiada por quem se dispôs a pagar e a passar um tempo na fila para garantir o ingresso para a "grande festa do torcedor brasileiro". Não é fácil presidir esta banca. Estariam os torcedores protestando contra o uso indevido de dinheiro público em estádios enquanto nossos hospitais e escolas.....?


Cru e bem-sucedido teatro brasiliense


"Grande aposta na força do trabalho do elenco e na química que os três atores têm em cena"

"Peça deixou os recifenses atônitos"



O público brasiliense tem uma nova chance de conhecer ou rever um dos mais bem-sucedidos espetáculos teatrais criados na capital federal. O espetáculo Cru, da Cia. Plágio de Teatro, voltou a entrar em cartaz no insuspeito Espaço Cena (205 Norte, bloco C), onde permanece até o próximo domingo (23), com sessões de quinta à sábado (21h) e aos domingos, as 20h (R$ 30, inteira).

Desde que estreou, em 2009, o espetáculo vem conquistando importantes prêmios como o Festival de Teatro do Rio de Janeiro. Além do aval do público das mais de 50 cidades onde já foi encenada, a produção minimalista e visceral foi transposta para as telas de cinema pelo diretor Jimi Figueiredo, com dois dos três atores da peça interpretando os mesmos papéis.

O sucesso de público e crítica alcançado pela companhia a partir do texto do dramaturgo brasiliense Alexandre Ribondi é uma excessão na capital federal, onde parecem só sobreviver as companhias locais que se dedicam às comédias de gosto duvidoso. Texto seco com ecos do Plínio Marcos de Querô e de Dois Perdidos Numa Noite Suja que permite a Sérgio Sartório (que dirige a peça junto com Ribondi) brilhar no papel do matador de aluguel Cunha e a Chico Sant´Anna (Zé) e Vinicius Ferreira (Frutinha) provarem que a capital federal é capaz de reter alguns excelentes atores dramáticos.

A trama se passa num açougue de um vilarejo remoto, administrado pelo desconfiado, ressentido e irônico travesti Frutinha. É ali que o forasteiro "Seu" Zé marca um encontro com Cunha (Sartório), pistoleiro sem escrúpulos que, à exceção de ambientalistas e freiras, diz "derrubar" qualquer serviço. Implícitas, referências à procedência do autor e da companhia produzem risos em meio ao clima tenso em que transcorre o encontro das três personagens. Como no impagável diálogo em que o matador, ao saber que Seu Zé, vivendo na capital federal, nunca "apertou a mão" do presidente da República, insiste em saber o que ele tem contra "o homem" em que ele, que vive tão longe, votou duas vezes.

Leia Também:
Estudos Sobre a Violência - Vialenta, humor sutil e inteligente

segunda-feira, junho 10, 2013

Vídeos para ler


Você não conhece jovens que leem e, por extensão, conclui apressadamente que toda uma geração não gosta de ler? Pois saiba que há jovens devorando livros e que muitos tem um paladar requintado e, ao mesmo tempo, onívoro. 

Forçoso reconhecer que como os que leem de tudo ainda são minoria, o resultado não é assim tão vasto se computarmos a média nacional. Mesmo assim, há motivos para surpresa e regozijo, conforme provam alguns vlogs brasileiros dedicados à literatura. 

Vlogs são blogs feitos com o uso de recursos audiovisuais - basicamente, vídeos caseiros. Entre os principais criadores destes espaços quase sempre hospedados na página do YouTube, não há contradição alguma em se recorrer à linguagem visual para falar de literatura. 

Usando vídeos e linguagem coloquial para compartilhar não apenas o gosto e a opinião pessoal pelos livros, mas também para estimular outras pessoas a ler, os criativos e entusiasmados autores de espaços como o Ratos Letrados, do farmacêutico brasiliense Murilo Videl (26 anos), ou o VevsValadares, da também brasiliense estudante de letras Verônica Valadares (21 anos), atingem a um público que, de outra forma, talvez não prestasse atenção à proposta de que a literatura é um barato. 

"O [deus] Baco cisma que queria dá uma de lóki e trolar a viagem de Vasco da Gama, mas a Afrodite diz "Que absurdo! Não faça isso, Baco!", brinca Verônica Valadares no vídeo em que recomenda a leitura de nada mais, nada menos que Os Lusíadas, de Camões (assista logo abaixo). Livro por ela classificado como "uma espécie de road movie épico do século XVI".

O barato é que boa parte dessa geração de leitores tende a fugir do pedantismo, lendo, por prazer, dos "clássicos" às histórias do bruxinho Harry Potter, de Tolkien a Machado de Assis, passando pelo best-seller juvenil brasileiro André Vianco (de quem poucos dos que afirmam que os jovens não leem já ouviram falar), Bukowski, etc A própria Verônica, embora seja assumidamente mais chegada a um "clássico", recomenda, em outro vídeo, a leitura de A Vida de Pi. 

Provavelmente turbinado pela pesquisa dos internautas sobre a adaptação cinematográfica para a obra Os Miseráveis, de Victor Hugo, o vídeo em que ela comenta o livro foi visto 8.710 vezes ao longo de dez meses. Já seu comentário sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis, contabilizou 2.720 views em nove meses. 


É pouco se comparado com o mais de 1,7 milhão de acessos ao vídeo da funkeira Valesca Popozuda cantando Quero Te Dar para o apresentador Sílvio Santos. Mesmo assim, em se tratando de literatura, não é um resultado que se ignore. Tanto que até mesmo algumas editoras já identificaram o fenômeno e passaram a trabalhar com os vlogs como meio de divulgação ou ao menos a ficar atento ao que está sendo dito. 

Juntos, Verônica e Videl contabilizam sete mil seguidores de seus vlogs literários.

domingo, junho 09, 2013

E PUR SI MUOVE!


"Estamos vivendo / E, o que disserem, os nossos dias serão para sempre"

Ao menos um dos meus três leitores há de ter experimentado a sensação de que existem dias em que uma leve melancolia nos cai bem.

Não falo de solidão. Nem tampouco de tristeza, mas sim dos raros e preciosos momentos em que, estando a sós, uma determinada luz, sabor, cheiro ou lembrança nos remete para um lugar fora deste circo social decorativo. 

Pois é. "Hoje à tarde foi um dia bom". Fui tocado pela graça de uma melancolia que nada tem a ver com "a busca do tempo perdido" proustiana. Muito menos com o álibi para indústria farmacêutica entupir a todos com suas drogas - inclusive as crianças supostamente deficitárias de atenção (delas para com o mundo ou dos outros para com elas?). 

Alguém poderá dizer que melancolia não é a palavra exata, argumentando que este é um sentimento que imobiliza, quando estou justamente dizendo o contrário: foi um dia bom porque estou seguro de que tudo "si muove", principalmente eu em cima da bike que me possibilita ver a capital federal com olhos atentos de ... melancolia. 

Ocorre que, por oposição ao axé, à aeróbica do senhor, ao sertanejo universitário, ao arrocha em que alguns setores tentam transformar nossas vidas, penso que não só é o termo exato e provocativo, como que a melancolia em si é uma necessidade. Desde que leve, claro. Para deixarmos de sermos mimados. Para aprendermos a lidar com o "lado que pesa" e não apenas com aquele que "flutua".  

Sossego talvez fosse uma boa opção. "[Em Brasília] O sossego das nossas casas é muito libertador", declarou a cineasta Maria Coeli, 70 anos, ao Correio Braziliense, na semana passada. A frase, simplória, deve ter passado em branco para muita gente. Para mim, no entanto, no contexto mais amplo da entrevista ao jornal, calou fundo. Ajudou-me a entender porque gosto tanto da cidade-silêncio com suas distâncias ermas, madrugadas vazias, placas de "cuidado! queda de frutas" e maior familiaridade com o céu. "Esse ambiente não acontece no Rio ou em São Paulo, com toda a pressa". É isso. Brasília me emprestou a introspecção de que eu precisava. 

Introspecção então é a palavra? Sim, pode ser, se você preferir assim. Eu, no entanto, não tenho medo da palavra melancolia. Bato na madeira três vezes, visto uma camisa branca, pego minha bike e vou passear no Parque da Cidade*. Lá, tenho um momento de paz. E lembro que meu pai, minha mãe, meus verdadeiros amigos sempre esperam por mim. E vou...





* PARQUE DA CIDADE - Com 4,2 quilômetros quadrados de puro verde (e cinza do asfalto da pista de cooper e ciclovia que circunda toda sua extensão) em pleno coração da capital federal, o Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek é, segundo o jornal Correio Braziliense, o maior parque urbano do mundo. Não sei se é verdade, mas, para efeito de comparação, o Central Park tem 3,4 quilômetros quadrados.










Antanas Sutkus - Um Olhar Livre


Dois dos meus três leitores que afortunadamente vivem em Brasília não podem deixar de visitar a exposição Um Olhar Livre, em cartaz na Caixa Cultural até o dia 30 de junho. A mostra permite ao visitante admirar mais de uma centena das milhares de fotos feitas entre 1950 e 1990 pelo lituano Antanas Sutkus (1939).

Embora vivendo e trabalhando sob o antigo regime totalitarista soviético, Sutkus conseguiu transcender os limites da estética utilitarista e da ideologia visual então predominante na antiga União Soviética, contornando inclusive a censura. (Importante lembrar que a referida ideologia visual forjou-se, em parte, a partir de obras de inquestionável valor artístico)

Impressionante é que Sutkus tenha construído uma obra que, temática e tecnicamente, dialoga com a de outros grandes fotógrafos como Cartier-Bresson e Robert Doisneau. Isso apesar das dificuldades impostas ao livre trânsito de informações de lado a lado da "cortina de ferro". 

"É necessário lembrar que todas essas referências chegaram ao conhecimento de Sutkus nos anos noventa, com a queda da União Soviética, em um período em que ele já não fotografava e que a sua personalidade artística já havia atingido a maturidade. É muito interessante, por meio de sua obra, ver que olhares similares podem nascer ao mesmo tempo em diversas partes do globo", aponta o curador da mostra, Luiz Gustavo Carvalho.

Em uma entrevista parcialmente reproduzida no catálogo da exposição, o próprio Sutkus revela que o homem, sobretudo o povo lituano, sempre foi o centro de suas fotos. "Desde o primeiro dia eu percebi que isso era o mais importante para mim. Eu não tentava obrigar ninguém, só queria expressar minha relação com o objeto que estava fotografando", diz Sutkus a respeito das fotos que, em conjunto, falam sobre a vida cotidiana, sobre o povo, de maneira justa, carinhosa e não anedótica, conforme destaca o curador da exposição. Algo de que o próprio Sutkus se orgulha.

"Infelizmente, o fotojornalismo profissional ficava sob forte influência da ideologia vigente na época. Meus colegas trabalhavam de acordo com os requisitos da propaganda stalinista. Eu nunca os segui. Eu aprendia sozinho, trabalhava de maneira muito intuitiva e, nessa época, era o único que tirava fotos informais, não tradicionais", conclui o fotógrafo. 

filmado com Nokia E72

sábado, junho 08, 2013

NOME AOS BOIS


malafaia, bolsonaro, kátia abreu
reinaldo azevedo

datena, feliciano,
marcelo rezennnnnde

Google, Facebook, Yahoo
adrian Lamo, perillo, puccinelli

Adeptos da "cura gay"
"psicólogos cristãos"

Quem pensa estar marchando familiarmente
Com Deus e pela Liberdade
só pra ouvir Aline Barros e Thalles Roberto cantar de graça

luciana gimenez, joão kleber, ana maria braga
Wagner Montes
Fifa, CBF, COI

"O inferno são os outros"


sábado, junho 01, 2013

Um outro lado


(para entender este post, leia antes o anterior, O Lixo Humano, logo abaixo deste)



"A fazenda pertence a um ex-deputado. Agora sim. Está tudo explicado"

"Não é porque o dono da fazenda é um ex-deputado pelo PSDB que eu vou torcer contra ele. A justiça tem que dizer quem é o dono das terras e dar a posse definitiva"

Pergunta que não quer calar: COMO O RICO DEPUTADO CONSEGUIU ESTA FAZENDA?"

A Funai deveria ter retirado os índios antes da polícia chegar porque todos sabiam que o Judiciário iria mandá-los sair. Mas a Funai é uma das incentivadoras desse tipo de invasão e preferiu deixar haver o confronto. A Funai deveria estar presente o tempo todo para evitar que índios portassem armas de fogo, mas nada fez.




Isso, e um pouco mais, pode ser lido aqui. Por acaso, ou esforço, não sei, são comentários produzidos a partir da leitura de uma matéria veiculada pela Agência Brasil, uma agência PÚBLICA de notícias, veiculada ao governo federal, e na qual trabalham, na grande maioria dos casos, SERVIDORES PÚBLICOS. A resposta dos leitores à matéria (que reproduzo abaixo) indica, felizmente, que houve um pouco mais de reflexão que no caso citado no post anterior, O Lixo Humano: concordem ou não com a ocupação da fazenda, os leitores dão sinais de terem percebido, mesmo que superficialmente, que os confrontos entre índios e fazendeiros têm origens complexas e, em última análise, representam uma luta de classes, com consequências econômicas. Ao contrário do caso anteriormente analisado, ninguém sai defendendo a morte de índios ou de fazendeiros. 

Segue a íntegra da matéria, publicada ontem (31).


Polícia Federal não informou Funai e MPF de reintegração que resultou na morte de índio

O Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) só foram informados de que a Polícia Federal (PF) iria cumprir um mandado judicial confirmado poucas horas antes pela Justiça Federal e retirar os índios terenas da Fazenda Buriti, em Sidrolândia (MS), quando a operação policial dessa quinta-feira (30) já estava em curso. Um índio terena, Osiel Gabriel, de 35 anos, foi morto durante a ação da PF, que teve apoio de policiais militares sul-mato-grossenses. Ao menos mais três índios foram atendidos no Hospital Beneficente Elmíria Silvério Barbosa com ferimentos leves. A PM garante que policiais também foram feridos, inclusive por tiros.

Por meio da assessoria do MPF, o procurador da República, Emerson Kalif Siqueira, garantiu à Agência Brasil que só foi informado por volta das 6 h de ontem de que a PF iria cumprir o mandado de desocupação. A essa altura, segundo ele, os policiais já se encontravam no portão de acesso à Fazenda Buriti, que pertence ao ex-deputado estadual Ricardo Bacha. Como estava em Campo Grande, a cerca de 60 quilômetros de Sidrolândia, quando o procurador chegou ao local o confronto entre policiais e índios tinha acontecido e Gabriel já tinha sido baleado.

O procurador explicou que a PF não é obrigada a informar ao MPF que irá cumprir uma decisão judicial de reintegração de posse, mas, segundo ele, “a comunicação prévia aos órgãos de assistência aos índios poderia proporcionar melhor condução da negociação, o que atenderia à recomendação feita pelo juiz de preservar a integridade dos envolvidos na desocupação”.

Na noite anterior, após uma tentativa de costurar um acordo entre índios e o dono da fazenda, o juiz federal Ronaldo José da Silva determinou que a PF desocupasse a Fazenda Buriti, mas tomando “as cautelas devidas, resguardando-se na medida do possível e sempre preservando a integridade física e psíquica de todas as partes envolvidas”.

O juiz também destacou que a Fundação Nacional do Índio (Funai) é responsável pela comunicação e orientação das comunidades indígenas sobre a obrigatoriedade de cumprir as decisões judiciais, devendo tomar todas as medidas necessárias no intuito de respeitar a integridade das comunidades indígenas. Os índios, contudo, afirmam que não foram previamente informados de que o mandado judicial seria cumprido, tendo sido pegos de surpresa pela chegada dos policiais. Procurada, a Funai disse que vai se manifestar sobre o assunto em nota que será divulgar ainda esta tarde.

A Superintendência da PF confirmou que só conseguiu entrar em contato com o procurador da República nas primeiras horas de ontem. Os policiais também não conseguiram avisar previamente  o servidor da Funai, mas este chegou a tempo de acompanhar o início da operação. Ainda de acordo com a assessoria da PF, desde quarta-feira os índios afirmavam que não respeitariam a decisão judicial para que deixassem a área voluntariamente.

Um inquérito foi instaurado para apurar se houve abuso dos policiais. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, prometeu rigor na apuração