Umas últimas palavras sobre Caracas
Ao chegarmos a Venezuela, voltamos duas horas no tempo. Fomos para tentar descobrir se, afinal, aquilo é ou não uma democracia. Em meio à busca da resposta, encontramos um povo solícito com os estrangeiros. Uma gente atenciosa e consciente do momento político que, para o bem, para o mal, alçou o país ao proscênio geopolítico.
Descobrimos também que o venezuelano é orgulhoso. Somando-se a isso a histórica opressão a que foi submetido e a falta de autonomia, fica fácil entender os arroubos verbais de Hugo Chávez.
Como nos contou um taxista, Chávez já foi bem mais moderado com as palavras, mas parte da população, sobretudo as camadas mais pobres, justamente a que lhe dá sustentação política, achava que daquela forma o presidente não conseguiria se impor. Vai daí, talvez, o jogo para a platéia. O fato é que o presidente roubou a cena e assumiu papel de destaque entre os líderes latino-americanos.
Mas nestas últimas considerações, o que quero é registrar algumas informações e impressões sobre a capital, Caracas, onde passei todo o tempo.
A moeda local é o Bolívar, por nós apelidada de biro-biro. No câmbio oficial, um dólar equivale a pouco mais de dois mil bolivares. Já nas ruas, no câmbio negro, é fácil encontrar quem pague até cinco mil biro-biros.
Para situarmo-nos financeiramente. O metrô custa 500 bolivares (US$ 0,10 no câmbio negro). Uma garrafa d’água mineral, 1.500 bolivares, mesmo preço do jornal El Nacional. Um bom almoço ou jantar fica entre 19 mil e 30 mil biro-biros, ou seja, no máximo, R$ 12.
Um alimento típico é o arepa, espécie de pão de milho. Há casas especializadas que o vendem recheado com tudo o que houver disponível no país. O raciocínio parece ser, se é de comer, então e possível rechear um arepa. Eu, particularmente, só o comi puro, no máximo com manteiga, e não gostei.
O país, um dos maiores exportadores mundiais de petróleo, é rico, embora sofra do mal que atinge todas as ex-colônias ibero-americanas: a concentração de riqueza na mão de poucos.
Sendo produtor de petróleo, a gasolina, lógico, é extremamente barata. O que explica a quantidade de carros, sobretudo de carros antigos. Disseram-nos que com o preço de uma garrafa d’água grande é possível encher o tanque de um carro.
É justamente com o dinheiro da exportação de petróleo venezuelano – cujo principal comprador, vale dizer, são justamente os Estados Unidos – que o governo tem bancado os programas sociais de redistribuição de renda. Muitos acusam Chávez de ser populista, mas o fato é que o país sempre ganhou muito dinheiro com a venda do óleo e permitiu que poucos se beneficiassem desta riqueza.
Chávez, sem dúvida alguma, contrariou muitos interesses desde que chegou ao poder, em 1992, através do voto. Seja atuando junto a Opep de forma a elevar os preços do barril de petróleo, seja se aproximando de regimes classificados pelo governo norte-americano como ditatoriais ou que apóiam o terrorismo.
Se alguém estiver indo a Caracas, recomendo o Hotel Savoy, na Av. Francisco Solano com Las Delícias, no bairro Sabana. Simples, mas barato e bem localizado, além de ter um ótimo restaurante no térreo. Fica a poucas quadras do comércio.