quarta-feira, dezembro 26, 2007

Quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Interessado em conhecer (mais sobre) a música africana?
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No dial tradicional, o programa vai ao ar pela Educadora FM, emissora pública ligada ao Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia. Toda a programação é produzida por uma equipe interdisciplinar formada por pedagogos, músicos, professores, jornalistas e outros técnicos. Para curiosos, para quem não gosta da mesmice das "mais pedidas", também vale o acesso. Aproveite e...
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domingo, dezembro 23, 2007

Domingo, 23 de dezembro de 2007

Feijoada Búlgara
Ska, samba, salsa, funk, rock e…ritmos do leste europeu. É até difícil classificar que apito tocam os brasilienses da Móveis Coloniais de Acaju.

Para o ex-Karnak, André Abujamra, “Essa banda é uma mistura de Kusturica com Hermeto, um pouco de Cuba com macarrão. Um pouco de Paulista sendo de Brasília, um pouco de Brasília sendo do Brasil, um pouco do mundo sendo da Terra e, por que não, um pouco de Karnak com Los Hermanos”. Não entendeu? Pois o músico não se dá por vencido e segue explicando. “Gorbachev com Copacabana. Samba de russo, pagode de cego com Tom Waits. Se fosse teatro seria Tadeus Kantor, se fosse foto seria do Rodchenko, se fosse esquilo não sambaria”. Ah, então tá, né.

Explicações à parte, o fato é que, capitaneada pelo carismático e elétrico vocalista André Gonzales, a banda, em 2007, foi destaque em vários festivais de música independente Brasil afora. Como, aliás, já acontecera em 2006.

O convite para tocar - ao lado de Lobão e da festejada Vanguart - em um programa global em homenagem ao maluco-beleza Raul Seixas e o fato de ter sido selecionado para compor o Projeto Rumos, do Itaú Cultural, só reiteraram o ótimo ano do grupo. E confirmaram o reconhecimento dos fãs que lotam cada disputado show em Brasília.

(Segundo a própria banda, na capital federal, seu cd de estréia, Idem, vendeu duas mil cópias em apenas dez dias. Muito embora, para mim, o disco não faça jus aos méritos do grupo, já que “limpa” excessivamente a massa sonora produzida pelos dez músicos. Sim, dez).

Outro detalhe importante é que, fiel à máxima punk “faça você mesmo”, a banda não se acomoda sob os holofotes que vão gradativamente se acendendo e segue tocando como se não tivesse quase dez anos de estrada, divulgação no site da gravadora Trama, e viesse recebendo críticas elogiosas e, mais importante, amealhando cada vez mais fãs. Cientes da relatividade do sucesso, os músicos organizam na capital federal o projeto Móveis Convida. Dessa forma, já tocaram ao lado de novos nomes que vem se destacando, como Orquestra Imperial, Teatro Mágico, Canastra, Ludov.

Para os detratores não dizerem que só falei de flores, segue trecho de reportagem publicada pela revista Veja: “Essas bandas são a trilha sonora do momento daqueles que Reinaldo Azevedo, colunista de VEJA, batizou de "remelentos e mafaldinhas" – os universitários de classe média que adoram embarcar em presepadas esquerdóides, como a recente invasão da reitoria da Universidade de São Paulo (USP). Tanto o Mombojó quanto o Móveis Coloniais de Acaju foram forjados por estudantes de universidades federais”.

É bem verdade que a banda, assim como Los Hermanos, faz parte daquela cena “universitário cabeça", mas se sua música é boa e seus shows empolgam e fazem dançar, que importa que faça trocadilhos kafkanianos como na música Metamorfose: “Quando acordou, Gregório Samsoniti / Tinha se tornado um horrível sanduíche / De frango compactado / De frango com aliche”. Além do mais, são a Veja e o Azevedo quem estão dizendo.

Para quem quiser saber mais sobre a banda, optei por postar abaixo o primeiro vídeo-clip feito pelo Móveis, mas recomendo outros vídeos do youtube que, gravados ao vivo por fãs do grupo, pecam na qualidade do som, mas dão uma mostra fidedigna da energia dos caras no palco. Além disso, dá para ouvir boa parte das músicas do disco Idem em http://www.moveiscoloniaisdeacaju.com.br/produtos/cd_idem/index.php

Seria o Rolex? - Móveis Coloniais de Acaju

sábado, dezembro 22, 2007

Sábado, 22 de dezembro de 2007

Você sabe o que é resiliência?

"Até bem pouco tempo atrás, eu nem desconfiava. Palavra que migrou da física para as ciências sociais e- principalmente - para o mundo das empresas (onde certas palavras entram e saem de moda como modelo de gravata), resiliência signigica capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças, segundo o Houaiss. Isso no sentido figurado, claro - que é o que nos interessa nesse momento. É, talvez, a palavra que melhor sintetize o espírito desse nosso tempeo em que estamos expostos a toda a sorte de eventos e situações que nos colocam à prova todo santo dia. Como mostra com elegância o repórter Rafael Tonon na matéria de capa desta edição, ter resiliência é, enfim, saber levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Ser resiliente, hoje, é conseguir conciliar uma vida profissional ativa e exitosa com uma vida pessoal plena. É levar um tombo feio na vida e recobrar a confiança. Nossos desafios sáo cotidianos e por ele somos cada vez mais exigidos, em todos os aspectos da vida. Por isso a necessidade de ser resiliente, ou, em outras palavras, ter vitalidade e otimismo".
Leandro Sarmatz, redator-chefe da revista Vida Simples
A reportagem O Caminho da Superação, da edição que está nas bancas este mês, pode ser lida no site da revista. Clique aqui.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O Amor Pretérito

Uma boa chance para quem está (ou vai a) em São Paulo conhecer, de graça, o trabalho do premiado Grupo XIX de Teatro.
Entre os dias 1º e 16 de dezembro, em caráter de pré-estréia, o grupo de São Paulo realiza apresentações públicas e gratuitas de sua terceira e mais recente peça.
Após retratar a condição feminina por meio de personagens internadas em um hospício (Hysteria - 11/2001) e do processo de erradicação dos cortiços no século XIX (Hygiene), o grupo se volta para o amor. Arrufos, me diz o Google, é o nome de um quadro pintado em 1817 por Belmiro de Almeida (1858-1935). Imagem que ilustra o panfleto da peça.
As apresentações acontecem aos sábados, às 21h, e domingos, às 20h. O local, a mesma Vila Maria Zélia, no Belenzinho, local em que o grupo fincou bandeiras desde os ensaios da segunda peça. E que por si só já vale a visita.
Reservas e informações no telefone (11) 8283-6269
Para saber detalhes de como chegar à Vila clique em http://www.grupoxixdeteatro.ato.br/hygiene/comochegar.html.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

Umas últimas palavras sobre Caracas
Ao chegarmos a Venezuela, voltamos duas horas no tempo. Fomos para tentar descobrir se, afinal, aquilo é ou não uma democracia. Em meio à busca da resposta, encontramos um povo solícito com os estrangeiros. Uma gente atenciosa e consciente do momento político que, para o bem, para o mal, alçou o país ao proscênio geopolítico.

Descobrimos também que o venezuelano é orgulhoso. Somando-se a isso a histórica opressão a que foi submetido e a falta de autonomia, fica fácil entender os arroubos verbais de Hugo Chávez.

Como nos contou um taxista, Chávez já foi bem mais moderado com as palavras, mas parte da população, sobretudo as camadas mais pobres, justamente a que lhe dá sustentação política, achava que daquela forma o presidente não conseguiria se impor. Vai daí, talvez, o jogo para a platéia. O fato é que o presidente roubou a cena e assumiu papel de destaque entre os líderes latino-americanos.

Mas nestas últimas considerações, o que quero é registrar algumas informações e impressões sobre a capital, Caracas, onde passei todo o tempo.

A moeda local é o Bolívar, por nós apelidada de biro-biro. No câmbio oficial, um dólar equivale a pouco mais de dois mil bolivares. Já nas ruas, no câmbio negro, é fácil encontrar quem pague até cinco mil biro-biros.

Para situarmo-nos financeiramente. O metrô custa 500 bolivares (US$ 0,10 no câmbio negro). Uma garrafa d’água mineral, 1.500 bolivares, mesmo preço do jornal El Nacional. Um bom almoço ou jantar fica entre 19 mil e 30 mil biro-biros, ou seja, no máximo, R$ 12.

Um alimento típico é o arepa, espécie de pão de milho. Há casas especializadas que o vendem recheado com tudo o que houver disponível no país. O raciocínio parece ser, se é de comer, então e possível rechear um arepa. Eu, particularmente, só o comi puro, no máximo com manteiga, e não gostei.

O país, um dos maiores exportadores mundiais de petróleo, é rico, embora sofra do mal que atinge todas as ex-colônias ibero-americanas: a concentração de riqueza na mão de poucos.

Sendo produtor de petróleo, a gasolina, lógico, é extremamente barata. O que explica a quantidade de carros, sobretudo de carros antigos. Disseram-nos que com o preço de uma garrafa d’água grande é possível encher o tanque de um carro.

É justamente com o dinheiro da exportação de petróleo venezuelano – cujo principal comprador, vale dizer, são justamente os Estados Unidos – que o governo tem bancado os programas sociais de redistribuição de renda. Muitos acusam Chávez de ser populista, mas o fato é que o país sempre ganhou muito dinheiro com a venda do óleo e permitiu que poucos se beneficiassem desta riqueza.

Chávez, sem dúvida alguma, contrariou muitos interesses desde que chegou ao poder, em 1992, através do voto. Seja atuando junto a Opep de forma a elevar os preços do barril de petróleo, seja se aproximando de regimes classificados pelo governo norte-americano como ditatoriais ou que apóiam o terrorismo.

Se alguém estiver indo a Caracas, recomendo o Hotel Savoy, na Av. Francisco Solano com Las Delícias, no bairro Sabana. Simples, mas barato e bem localizado, além de ter um ótimo restaurante no térreo. Fica a poucas quadras do comércio.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Segunda-feira, 03 de dezembro de 2007




A primeira impressão de um turista acidental ao circular por Caracas, Venezuela, é a de que, a qualquer instante, todo o trânsito de automóveis vai empacar, engarrafado. A segunda, um pouco por reflexo da primeira, é a de ter chegado à cidade em meio a um feriado nacional. A terceira... bem, é melhor não entrar em detalhes sobre esse aspecto, mas basta dizer que a cidade parece fazer jus à fama de ser celeiro de misses universos.

Outra coisa impossível de deixar de notar: a onipresença de Hugo Chávez. Ainda mais nestes tempos de referendo popular sobre a reforma constitucional venezuelana. Chávez, autor do projeto, representa o sim à proposta. Um estudante, Yon Goicochea, e o ex-ministro da Defesa do governo Chávez simbolizam o não.

Contudo, quem estiver atento aos símbolos logo perceberá que a influência de Chávez vai além. Basta se deparar com, por exemplo, as pequenas constituições que são vendidas em bancas de camelôs. Ou o livrinho com a cópia dos 69 artigos constitucionais que Chávez e a Assembléia Nacional pretendem alterar, a partir deste domingo, com a concordância dos cidadãos.

A reforma constitucional, como a esta altura todos já sabem, voltou a evidenciar a divisão da sociedade venezuelana, acirrando os ânimos. Na semana passada, antes do pleito final, ocorrido no último domingo 92), um funcionário público foi assassinado durante uma manifestação dos que eram contrários ao projeto de reformas. Chávez e parte dos seus se apressaram a alçá-lo à condição de mártir. Ao mesmo tempo em que perdiam o apoio de nomes importantes entre os até então governistas e que foram empurrados para a oposição pelo que entendem ser um golpe velado nas instituições para que Chávez se perpetue no poder.

Na última sexta-feira, quando cheguei a Caracas, ocorria o encerramento da campanha a favor do sim. O próprio presidente Chávez foi à Avenida Bolívar, uma das principais de Caracas, e discursou para dezenas de milhares de simpatizantes vindos de todo o país. Não sei se estranhei mais ver as fotos de Chávez em todos as publicações institucionais, incluindo um cartaz enorme no prédio do Ministério de Minas e Energia, ou se vê-lo discursando como um candidato.

Diferentemente de mim, alguns venezuelanos com quem conversei não estranham este fato. E, pelo que me disseram, nem chegam a dar tanta importância aos arroubos de Chávez, que voltou a ameaçar a tudo e a todos: George W. Bush, os oligarcas venezuelanos, os jornalistas, os bancos espanhóis e o presidente da Colômbia, por ele tratado como “um peão dos interesses norte-americanos”. Em uma de suas frases de maior efeito, prometeu embargar a venda de petróleo venezuelano para os norte-americanos. “Não haverá sequer uma gota se houver distúrbios após a realização do referendo”.

Ainda assim – ou, até por isso – Chávez é popular e querido por muitos. Na mesma medida em que é odiado por muitos outros. De forma que é difícil alguém de fora, em pouco tempo, tecer considerações conclusivas sobre o processo sócio-político venezuelano. Ainda no aeroporto, uma senhora cubana que vive há muitas décadas no país disse estar o deixando por não querer assistir ao “mesmo filme” que já vira em sua ilha natal. Tudo bem que ela disse que não há terra como os Estados Unidos, mas opinião é como cú, todos têm, e cada um deve respeito.

Da mesma forma que ao taxista que me disse que Chávez realiza o melhor governo de todo o mundo (vai saber quantos países ele já visitou rodando em seu carro com a gasolina barata do jeito que é no país?). Para ele, está fora de cogitação argumentar que Chávez não é um ditador. “Como podem dizer isso se o sujeito governa um país onde é possível tomar o seu mandato por meio de um referendo popular”.

As coisas não são tão simples, o sabemos, mas ambos os lados parecem não ter muitos pudores em relação ao reducionismo
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