segunda-feira, maio 30, 2011

Céu de Maio










"Quem quer a eternidade olha o céu.
Quem quer o momento olha a nuvem"


Do autor moçambicano Mia Couto, dublê de Chuck Norris, em Antes do Nascer do Mundo (que não li) 


Tudo bem. Tive que me contentar com assistir pela tv às duas últimas grandes ressacas que atingiram o litoral brasileiro. Não pego onda desde que voltei de São Paulo, há quase cinco meses. Nem tudo saiu como eu imaginava e ainda tenho que ouvir um prego brasiliense (veja post abaixo para conhecê-lo) repetindo pela vigésima vez como encarou sozinho um mar enorme na sua última viagem enquanto eu trabalhava. Ainda assim, enquanto me espreguiço durante uma sessão de helioterapia, usando apenas bermuda e chinelo, penso no frio e na chuva paulista, nos congestionamentos, no vento onshore que deixa o mar mexido e vejo que fiz a coisa certa. E então, sigo olhando para o céu, pedindo para que a seca este ano não seja tão severa.

quarta-feira, maio 25, 2011

Ondas Sonoras



De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto: Surf Music
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
25 de mai 2011 08:45

Hey, semifosco. From the ocean, directly `To The Sea´, to the Jack Johnson´s show in Brasília.
Tô na área, maluco!  Acabo de chegar ao "quadradinho", vindo do litoral sul. De cabeça feita de tanto surfar. Antecipei minha volta para hoje só para irmos ao show do havaiano boa-praça e do G-Love. Velho! Tô no clima surf music.

(Que parada nervosa esta aí do funk [post abaixo], hein? kkkkkkk Vou te mandar um link muito mais apropriado para vc ir se preparando. Ouça! De novo.)


 

segunda-feira, maio 23, 2011

Longa Jornada musical fim de semana adentro

Misture uma boa quantidade de vinho à fartas doses de tequila e você então irá descobrir o quanto o seu “bom gosto” (musical, hein! Musical) é elástico. Do funk carioca ao jazz-tango argentino, vale tudo quando a alma não é pequena, nem a sede pouca.

****

Uma noite regada a essa mistura explosiva pode começar com seu lado “mudérno” e “curioso” te conduzindo a um show da banda gaúcha Plato Divorak.
Que só não se consuma porque quando o som começa a rolar, você saca, ainda do lado de fora, que já não tem mais paciência para lugares sem a mínima qualidade acústica. Até este momento, “turning point” da sua noite, seus inocentes planos não iam além de ouvir um som e conhecer uma banda nova. (O vídeo, obviamente, não é meu já que não há a mínima condição de gravar nada no porãozinho do Balaio. Por isso escolhi um que se aproximasse de como soa a música ao vivo ali)

Frustrado em suas pretensões, você então decide chutar o balde de maneira rock´n´roll. E é aí que o trem descarrilha. E quando você consegue fazer o balanço da noite, está a poucos metros da funqueira Deize Tigrona embalando com seus elaborados versos os amassos de duas loirinhas lindas (uma delas, no “papel de homem” da relação, ou seja, possessiva, tentando manter a namorada distante de sua nefasta presença heterossexual).

No fim da noite, ainda um pouco anuviado, você volta para casa preocupado com o que seus amigos diriam se soubessem que você curtiu seu primeiro show de funk e concluiu que, apesar de incomodado com as letras, é preciso admitir que a ex-empregada doméstica manda muito bem em cima do palco. Deize é simpática, animada e tem uma malandra presença de palco que lembra muito as também cariocas Mart'nália e Sandra de Sá.

Como dá para ver no vídeo acima, ela colocou todo o público (com quem interage o tempo inteiro) para cantar seus versos safados. Tudo bem que memorizá-los e repetí-los não exige grande esforço. Não há sequer duplo sentido. É tudo na lata e, dependendo do ponto de vista, você pode classificá-los como apologia ao sexo e às drogas.

Agora, o mais esquizofrênico é, no dia seguinte, você ir curar a ressaca etílica e estética em um show de jazz com acento de tango dos argentinos da Escalandrum, banda que rende homenagens a um dos maiores artistas da Argentina, Astor Piazzolla, de quem o líder e baterista da banda, Daniel “Pipi” Piazzolla, é neto.

sábado, maio 21, 2011

Filmes contam a saga de João de Santo Cristo, Renato Russo e das bandas brasilienses de rock dos anos 80

Renato Russo durante uma conversa com o documentarista Vladimir Carvalho, diretor de Rock Brasília

Em breve, uma Brasília diferente da exibida diariamente nos telejornais ganhará as telas dos cinemas brasileiros. Dois longas-metragens baseados na obra da banda Legião Urbana e na vida de seu vocalista, Renato Russo, além de um documentário sobre o rock brasiliense na década de 1980 prometem jogar luzes sobre um dos momentos mais instigantes da música popular brasileira e atrair um olhar diferenciado para a capital do país.

Dirigido pelo cineasta brasiliense René Sampaio, o longa-metragem Faroeste Caboclo se inspira na famosa canção sobre a saga do “aprendiz de carpinteiro” João de Santo Cristo no Distrito Federal (DF), onde ele se torna “bandido destemido e temido” antes de conhecer Maria Lúcia, “uma menina linda”, a quem ele promete seu amor. As principais cenas estão sendo filmadas na Cidade Ocidental (GO), a cerca de 40 quilômetros do centro de Brasília. As ruas do município goiano retomam as de Ceilândia no final da década de 1970 – cidade do DF onde, na letra da música, ocorre o duelo mais conhecido do rock nacional. A expectativa é que o filme seja lançado ainda este ano.

Com Fabrício Boliveira e Isis Valverde nos papéis de Santo Cristo e Maria Lúcia, o elenco conta ainda com Felipe Abib, Antonio Calloni e um grande número de figurantes. Segundo o produtor Marcello Maia, além de quatro estudantes de cinema de uma universidade local, a produção empregou mais de uma centena de profissionais brasilienses, gerando empregos diretos e indiretos. E irá surpreender quem acha que Brasília se limita aos cartões-postais do Plano Piloto.

“Santo Cristo representa um grupo de pessoas que vieram para Brasília tentar a sorte de um destino diferente, mas a quem as desigualdades sociais acabam impondo um outro caminho. A Ceilândia onde ele vive é um contraponto a Brasília do Plano Piloto de Maria Lúcia. E, nas filmagens no Plano Piloto, buscamos mostrar um tipo de vivência que as pessoas não estão acostumadas a ver”, afirmou Maia à Agência Brasil, ao explicar que o trecho da infância de Santo Cristo será filmado na cidade de Paulínia (SP).

Outra produção a se apropriar de uma canção da Legião Urbana, Somos Tão Jovens é dirigida por Antonio Carlos da Fontoura. O filme trata da adolescência de Renato Russo, fase em que, devido a uma doença óssea rara, o futuro ídolo tinha de permanecer em casa, lendo e sonhando com o sucesso. Muitas das suas canções que mais tarde se tornariam conhecidas começaram a ser compostas neste período.

Já o cineasta Vladimir Carvalho optou por garimpar em seu arquivo pessoal as imagens que utilizará no documentário Rock Brasília – Era de Ouro. Entre as muitas cenas históricas captadas pelo próprio documentarista há imagens como as do último show da Legião Urbana em Brasília, realizado em 18 de junho de 1988, no estádio Mané Garrincha, ocasião em que um quebra-quebra deixou centenas de feridos.

“O documentário conta a jornada épica de bandas surgidas em Brasília, nos anos 1980, como Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, e que se projetaram para o país todo, ajudando a transformar a música nacional. Outra importante contribuição do documentário será mostrar uma Brasília viva, contestadora e corajosa, expondo a dinâmica das pessoas que vivem aqui e que tem uma ligação com a cidade”, explica o produtor Marcus Ligocki, que vive na capital desde 1974 e para quem o fato de as três histórias estarem sendo produzidas simultaneamente é uma “feliz coincidência”. “Esse é um tema inquestionável e que ainda não havia sido abordado nos cinemas. Em algum momento, esses filmes seriam feitos”, conclui Ligocki.

De acordo com o diretor de Cinema e Vídeo da Secretaria de Cultura do Distrito, Sérgio Fidalgo, além de movimentar a economia local por meio da contratação de mão de obra técnica e artística, um filme de qualidade exibido para um grande público funciona como um fator de atração turística, despertando nas pessoas o interesse de conhecer a cidade onde as cenas foram rodadas.

“As pessoas vão ao cinema, se apaixonam pela locação e passam a querer conhecer o lugar onde a história foi filmada. Ou seja, o filme atrai turistas”, diz Fidalgo. Segundo ele, o governo da capital há tempos discute formas de estimular produtores de todo o país a ambientarem suas histórias no Distrito Federal, seguindo o exemplo de Paulínia (SP) que, em troca de financiamento público, exige que parte da produção seja rodada no município. Atualmente, o único instrumento de financiamento do audiovisual em Brasília é o Fundo de Apoio à Cultura (FAC), concedido apenas a produtores que vivem no Distrito Federal e graças ao qual o Rock Brasília pode ser gravado.

Ah, a juventude é uma banda (feliz?) numa propaganda



778.647 mil.

Eis o número de vezes que o vídeo "fofo" do grupo curitibano A Banda Mais Bonita da Cidade, A Oração, foi "visto" no youtube em apenas três dias. 

Com quase dois anos de existência, a banda vem conquistando público país afora por meio das redes sociais (facebook, orkut, twitter), onde os usuários se encarregaram de reproduzír vídeos e elogiar a simplicidade das letras e arranjos do grupo formado por Uyara Torrente (que também é atriz), Rodrigo Lemos, Vinicius Nisi,  Diego Plaça e Luis Bourscheid.  

O clima festivo do clip filmado em plano-sequência (sem cortes) é, de fato, contagiante. Confesso ter ouvido três vezes seguidas após ter recebido o link. E voltei a acessar outras duas vezes até decidir compartilhá-lo com os três leitores do blog. Além disso, uma outra canção disponível no youtube, Boa Pessoa, deixa claro o quanto a voz de Uyara é gostosa de ouvir. Simples, macio, mas nem por isso pueril. Como é bela a juventude.

sexta-feira, maio 20, 2011

Um brasileiro no topo do surf mundial



Pela primeira vez na história o Brasil alcançou (ainda que temporariamente) o topo do surfe mundial profissional. Apontado há anos como a maior promessa do surf brasileiro, o guarujaense Adriano Souza,   Mineirinho, de 24 anos, faturou hoje (20) o título da terceira etapa do World Tour Masculino (WTC) ao vencer o australiano Taj Burrow, terceiro melhor do mundo. Com o resultado, o atleta assume o primeiro lugar no ranking mundial do surfe.

Com o apoio da torcida que encheu as areias da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, Mineirinho dominou as ondas de um metro, exibindo todo seu repertório de manobras. O brasileiro será o líder do campeonato mundial até a próxima etapa, que será realizada em Jeffrey's Bay, na África do Sul.

quinta-feira, maio 19, 2011

Enquanto isso, no país dos cartolas...


Onde está o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nestas horas? As entidades que lutam pela democratização da comunicação?

Um único time brasileiro, o Santos, segue disputando a Copa Libertadores da América. O mesmo time que no domingo passado faturou o Campeonato Paulista, o mais disputado torneio estadual do país. E que tem em seu elenco alguns dos melhores e mais festejados jogadores da atualidade.

Nada disso no entanto parece contar para as duas únicas emissoras de tv abertas a transmitir futebol. Ao menos em Brasília, Globo e Band só tem olhos para os times cariocas. Ontem (18), as duas exibiam o mesmo jogo: Vasco x Avaí (de Santa Catarina) enquanto o Santos se classificava para a semifinal da Libertadores. E quem quiser que instale tv a cabo em casa. 

Pior que a falta de concorrência foi aguentar o Cléber Machado e o Casagrande, que acabavam de acompanhar o jogo da Copa do Brasil, no Rio de Janeiro, comentando o desempenho do Santos após ver (presumivelmente, por aparelhos de tv) apenas os quatro minutos finais da partida entre Santos e o colombiano Once Caldas. 

_ Foi um jogo bem disputado e o Santos mereceu a vaga na semifinal, não Casa?
_ Sem dúvida, Cléber. Mereceu. O Santos foi muito melhor em campo.
_ Sim. E dominou o primeiro tempo.

....?!?!? Como eles sabem?

quarta-feira, maio 18, 2011

Veículo Ecológico



Oito minutos de casa até o Shopping Liberty. Sem gasolina ou álcool. Sem emissão de CO2. Sem stress para estacionar. 

Isto não é uma campanha.

Não estou sugerindo para ninguém passar a se deslocar por aí equilibrando-se sobre skates, bicicletas ou patinetes (até porque, sei que se o percurso fosse ladeira acima eu provavelmente demoraria 80 e não oito minutos para chegar). Apenas peço que não me digam que é impossível viver sem um automóvel em Brasília, São Paulo ou em qualquer lugar. E que, se forem meus amigos, me deem uma carona quando me encontrarem atrasado subindo a ladeira e não houver ônibus.

terça-feira, maio 17, 2011

Coisa Fina

"i'm not feeling so well lately, lying to myself just wait and see.
time of the months will go and blame it all on that.
But wont we glitter, surprise surprise.
nothing to detect here in my eyes, no reason why i feel so damn depressed"
- Explanations -
 
Se chama Selah Sue, é belga, tem pouco mais de 20 anos, o tom certo para o mix de soul music e reggae com que canta letras inspiradas que em determinados momentos lembram um gospel sofrido. Segundo me informaram, poucos meses após lançar seu primeiro cd já está fazendo um enorme sucesso na Europa, sobretudo na França. Fácil entender porque. Difícil não apostar as fichas em que vai estourar. Acho que todas as canções do cd estão disponíveis no youtube e não há uma que eu tenha ouvido que não seja muito boa.


segunda-feira, maio 16, 2011

Romance Nada Fácil (um filme, dois títulos)

 
Eu estou muito bem com meu aparelhinho de DVD de R$ 299 e minha tv de quase uma década, obrigado. Só que o dono da locadora decidiu que Blue-Ray é bacana e que, portanto, todos seus clientes devem aderir à próxima tecnologia a ser ultrapassada. O sujeito está se desfazendo de todo seu acervo de dvds e isso está me deixando sem muitas opções.

E porque estou contando isso? Para me justificar. Sim, porque não fosse por isso eu provavelmente não teria pego este As Coisas Impossíveis do Amor. Ainda que a protagonista seja a linda e talentosa Natalie Portman (Cisne Negro), de quem sou fã. Um filme com este título nada oportuno não parece mesmo muito promissor. Mas quer saber. Foi bom.

Ao contrário do que sugere o título em português, o filme é uma comédia dramática (levinha) e não uma comédia romântica açucarada. Tanto que, nos Estados Unidos, onde já havia sido lançado em 2009 com o título do livro em que é baseado (Love and Other Impossible Pursuits, de Ayelet Waldman), o filme foi relançado no início deste ano com o título The Other Woman (A Outra). Relançamento que ocorreu em vários países a fim de faturar algum em cima do Oscar de melhor atriz dado a Natalie. No Brasil,  o filme foi direto pro dvd.

A Outra é um título que tem muito mais a ver com a história. A jovem advogada Emilia (Natalie) e seu chefe se envolvem após se conhecerem no escritório. Ele então deixa a esposa (Lisa Kudrow) bem-sucedida, histérica e que cria um filho hipocondríaco de oito anos(Willian, interpretado pelo garoto Charlie Tahan). Da união entre Emilia e Jack nasce uma filha que morre ainda bebê, o que torna ainda mais difícil a convivência de Emilia com o solitário Williane e com a ex-esposa de Jack. A tensão vai crescendo (embora o diretor Don Roos não consiga transmitir isso adequadamente) e acaba por opor Emilia a seus pais recém-separados, a antigos amigos e até mesmo a Jack. Nestas circunstâncias adversas, não demoram a surgir "as impossibilidades do amor", ou seja, as dificuldades dos relacionamentos.

Com diálogos inteligentes e um elenco afinado, o destaque são as cenas de Natalie com Charlie Tahan, em particular a conversa em que o garoto sugere à madrasta vender as coisas do bebê morto em um site. Aí você já percebe que a história não se desenrolará em águas tranquilas e que o filme tentará comprovar a tese de que a perfeição é  um ideal inatingível e que nem sempre há responsáveis ou razões para as coisas fugirem ao nosso controle.  

Museu Virtual divulga história e atrativos de Brasília na internet

Única cidade moderna reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Brasília ganha hoje (16) mais uma ferramenta de divulgação de seus atrativos arquitetônicos, naturais e históricos na internet.

Segundo os criadores do Museu Virtual de Brasília, a novidade do website em relação a outros sites é o emprego de conceitos da museologia e do turismo que contribuam com a educação patrimonial ao mesmo tempo em que promovam a cidade, estimulando entre os que não conhecem a capital federal o desejo de visitá-la. Entre os vários documentos históricos reproduzidos, há, por exemplo, a defesa que Lúcio Costa fez do seu projeto à comissão responsável por julgar os 26 trabalhos que, em 1957, participavam do concurso feito para selecionar o projeto da futura capital do Brasil.

Apresentando Brasília como uma galeria a céu aberto por conta do projeto urbanístico de Lúcio Costa, das construções projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer, da proposta paisagística de Burle Marx e da proximidade com o poder político, o museu virtual registra um pouco dos 51 anos de história do Distrito Federal.

Além de informações sobre a cidade, arte, cultura e turismo, é possível assistir a vídeos com os depoimentos de alguns dos chamados “candangos”, os primeiros migrantes a se mudar para o Planalto Central e a ajudar a construir a cidade. Através de uma série de fotos em 360ª também é possível fazer um tour virtual por conhecidos pontos turísticos da capital, como o Congresso Nacional, a Catedral e o Lago Paranoá visto a partir da Ponte JK

O site já está disponível e pode ser acessado no endereço http://www.museuvirtualbrasilia.org.br/, mas seus criadores deixam claro que o projeto ainda está em construção. Além disso, as páginas, pesadas, demoram muito a carregar sem uma boa conexão. O lançamento é parte das comemorações da 9ª Semana Nacional de Museus, que teve início hoje e segue até o próximo dia 22, com uma extensa programação em todo o país.

O projeto foi desenvolvido pela equipe do Instituto Viva Capital, em parceria com a Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília (UnB) e com o Arquivo Público do Distrito Federal, que cedeu grande parte do material magnético. Além disso, contou com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC).

sábado, maio 14, 2011

Pelo Sim, Pelo Não...



_ A gente podia ir para o shopping, né, bem?

_ Mas nem....Nesta época, aquilo deve estar um formigueiro. Depois a gente tem que ficar rodando para encontrar lugar para estacionar, pegar fila pra comer...

_ Mas quem falou em comer? Eu lá sou mulher de comer em praça de alimentação de shopping. Eu só queria dar uma volta, ver gente, olhar as vitrines...

_ E gastar, né? Gastar. Melhor a gente ficar por aqui mesmo. Depois, quando já não estiver tão abafado a gente desce para tomar um sorvete.

_ Ai! Lá vem você de novo com essa história de sorvete. É sempre sorvete, pizza, cappucino...

_ E você quer o que com esse raio de calor? Que eu te leve para comer um foundue?

_ Eu quero é que você me dê o reconhecimento que eu mereço?

_ Ah, tá. Só faltava essa agora. Então eu não reconheço seus méritos?

_ Se reconhece, não se esforça para demonstrar. Você já nem se importa mais em me conquistar.

_ Mas do que você está falando, mulher? Então eu não faço tudo que você me pede? A gente não costuma fazer tudo combinadinho.

_ Você nem me ouve mais. Caso contrário nós não estaríamos aqui, neste calor.

_ Ah, tá. Lá vem você de novo. Entendi onde você quer chegar.

_ Entendeu? Entedeu nada. Você não me entende. Você só se preocupa contigo e com o teu trabalho.

_ Amor, eu te prometo que ano que vem a gente viaja para onde você quiser. Prometo. É que esse ano a situação não está muito clara.

_ Aiiiiiiiiii, eu não aguento essa sua conversa, esses seus argumentos. Situação nenhuma nunca esteve clara para você. E, consequentemente, para mim também não.Só que eu estou cansada dessa vidinha besta que estou levando.

_ Peraí...Vidinha besta?!?! Ouça bem o que você está dizendo. Compare a vida que você leva com a das suas amigas, das suas irmãs, e pensa bem no que você está dizendo.

_ Eu não sou minhas irmãs. Não sou minhas amigas. Elas são mulheres de homens de uma mulher só.

_ Pois é. Talvez porque escolheram isso elas não tenham metade do que você tem. Quantas delas já estiveram em Búzios? Já passaram o final de semana em Paraty? Duvido que alguma delas sequer saiba onde fica o Costão do Santinho.

_ Búzios. Grande merda. A Gina foi para Bariloche com o marido. Com o marido, ouviu!

_ Pois é. Talvez você queira um marido que a leve ao shopping aos domingos. Um marido para você torrar a paciência.

_ O que eu preciso é de um homem que ame só a mim. Que satisfaça minhas vontades. E que me leve para conhecer o mundo: Paris, Nova Iorque, Milão. Até Buenos Aires é melhor do que ficar aqui tomando sorvete contigo.

quarta-feira, maio 11, 2011

(Ainda) Tirando o Atraso

Tornar-se uma grife é um risco: a assinatura em qualquer obra ou produto passa a gerar expectativas e leva as pessoas a confrontarem novas realizações de um célebre a badalado autor aos seus trabalhos anteriores. Talvez seja este o caso do cineasta polonês Roman Polanski e seu último filme lançado no Brasil - O Escritor Fantasma. Eu...detestei.

Argumento simplório, desenvolvimento óbvio e um final previsível. Nem o versátil Ewan McGregor se sai bem deste filme. Não duvido que Polanski esteja, hoje, assombrado pelo fantasma de si mesmo quando dirigia obras-primas como Dança dos Vampiros e Bebê de Rosemary. 

Que preguiça me dão estes filmes em que o diretor parece acreditar que uma cena com um ator observando compenetrado uma cena trivial como alguém preparando um suco de laranja é importante para o público compreender a “profundidade” , a "psiquê" da personagem. Melhor assistir  Identidade Bourne.

terça-feira, maio 10, 2011

Baiano cumprido(r)


Tom Zé é um baiano de palavra. No último final de semana, prometeu dar um show que estimulasse o "cognitivo" e mexesse com o "lúdico" da platéia brasiliense. Cumpriu. E, assim, pôs ao menos um terço do enorme Teatro Nacional para dançar e a totalidade do público em estado de graça com seu "Pirulito da Ciência".

Ciência esta incapaz de descobrir a receita que permitiu ao gênio tropicalista chegar aos 74 anos com tanta disposição e inventividade. Ver Tom Zé no palco é confirmar a frase de Arnaldo Antunes (outro que se apresentou na capital esta semana. Veja post abaixo): a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer.



Tom Zé é, sem dúvida, dos mais inventivos, importantes e acessíveis músicos brasileiro. (O norteamericano David Byrne (ex-Talking Heads) diria, "do mundo"). E anarquista, graças a Deus. Do tipo que, antes disso ser prática corrente, já desrespeitava a hierarquia entre erudito e popular e misturava rock ao maxixe e ao forró. Se divertindo e, acima de tudo, divertindo sem deixar de instruir. 

domingo, maio 08, 2011

Será este o legado da Copa?

ouça


Ministério das Cidades promete apurar denúncias de despejos e remoções de famílias devido às obras da Copa

Denúncias de que comunidades estariam sendo desalojadas em função das obras de infraestrutura necessárias à realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 já vinham sendo feitas há tempos por integrantes de movimentos sociais, mas ganharam força no último dia 26, quando a relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik, divulgou um comunicado apontando exemplos de "violações aos direitos humanos" (Clique sobre o triângulo da figura abaixo do título inicial para ouvir o áudio da matéria)

sábado, maio 07, 2011

Sobre skate, criatividade e turismo

Legítimos exploradores urbanos, os skatistas são, por natureza, admiradores dependentes da arquitetura, da qual usufruem de forma jamais imaginada por arquitetos, engenheiros, urbanistas e pedreiros. Sobretudo os chamados "streeteiros", ou seja, aqueles que aplicam nas ruas seus estilo de vida. Para eles, um vão na obra ou buraco no chão é desafio. Um banco ou escadaria, obstáculo a ser transposto manobrando seus carrinhos. Qualquer transição se torna playground onde eles enxergam possibilidades de diversão inacessíveis ao restante dos mortais. Deslocando-se mais rapidamente que um pedestre e mais livre e atento que alguém motorizado, o skatista, mesmo que inconscientemente, se apropria da cidade de uma forma única. Para ele, qualquer espaço público ou privado erguido em seu trajeto tem que cumprir uma função social: a de proporcionar que ele se ponha a prova e se divirta, sozinho ou em bandos. Pela inesgotável possibilidades de combinações de manobras, o skate também pode ser uma ferramenta muito poderosa para o desenvolvimento da criatividade e autonomia. O skatista que se depara com uma escadaria primeiro aceita o desafio de pulá-la com um ollie. Da primeira vez ele erra. Da segunda, cai. A partir daí, ele acerta a manobra tantas vezes que só lhe basta tentar um ollie flip. E então um ollie-flip-180º e um ollie-flip-180º-switchstance antes de seguir à procura de outro obstáculo mais desafiador. (Confesso que, mesmo careta, esta é uma característica tão enraizada em mim que, até hoje, tenho dificuldades para me adaptar à estruturas burocráticas).

Considerando-se isso, não é de estranhar que uma produtora de Brasília, a Ozi (que também funciona como uma escola de audiovisual, com resultados muito interessantes), tenha decidido usar jovens andando de skate em um vídeo que apresenta um outro olhar sobre os pontos turísticos da capital modernista, símbolo do arquitetura e do urbanismo brasileiro. O resultado é belíssimo, principalmente pelos primeiros minutos, durante os quais  a "cidade de concreto", conhecida pelo clima seco, é apresentada como um jogo de reflexos. O vídeo foi produzido em 2010, a pedido da Secretaria de Cultura do Distrito Federal e disponibilizado no site http://www.venhaparabrasilia.com.br/. Uma pena que não tenha sido exibido durante a festa dos 51 anos da cidade, há poucas semanas.  Vídeos como este minimizariam os frequentes comentários do tipo "não imaginava que Brasília era assim" feitos por quem visita a cidade pela primeira vez. Agradeço ao amigo Guilherme Strozzi pela indicação.

E para reforçar o que escrevi sobre a capacidade criativa dos skatistas, eis um vídeo de um dos maiores atletas de free-style de todos os tempos, o norte-americano Rodney Mullen, aplicando à modalidade street a base que o estilo livre lhe deu.


E para quem quiser outras provas do quanto o skate (e os chamados esportes radicais em geral) pode ser  libertador (às vezes, até exageradamente), vale acessar o antigo post do Semifosco sobre Skatopia, "uma tentativa de erguer um lugar regido por regras próprias, ainda que seja a mais completa falta de regras" ou assistir ao excelente documentário Dogtown And Z-Boys (A revista Trip, em matéria de capa, anunciava o que os diretores brasileiros teriam a aprender assistindo ao filme dirigido pelo ex-campeão do esporte, Stacy Peralta, e narrado por ninguém mais, ninguém menos, que o oscarizado Sean Penn).

quinta-feira, maio 05, 2011

A Jovem Guarda de um Cinquentão


Acompanhado por uma excelente banda capitaneada pelo guitarrista Edgar Scandurra (ex-IRA), Arnaldo Antunes gravou, em 2009, um disco em que exercitou seu lado mais pop  para revitalizar o iê iê iê sessentista tão bem representado pelos arranjos para o teclado de Marcelo Jeneci. É ao vivo, contudo, que se confirma que o trabalho nada tem de saudosista. E que Arnaldo, aos cinquenta anos, continua olhando adiante. 

Não à toa, o disco Iê Iê Iê foi produzido por Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e os instrumentistas que acompanham o ex-Titão são jovens que vem se destacando no cenário musical (Curumim (bateria), Chico Salem (violão e guitarra), Betão Aguiar (baixo)).

Outro destaque do show apresentado ontem (4) a noite, em Brasília, é a iluminação.  Os vídeos abaixo confirmam o capricho com as luzes.


quarta-feira, maio 04, 2011

Navarro apresenta documentário em acampamento indígena na Esplanada


Depoimentos sobre os conflitos e as consequências do avanço do agronegócio no Mato Grosso do Sul para a vida dos mais de 40 mil índios Guarani Kaiowá que vivem na região sul do estado à espera do reconhecimento do direito que o grupo tem às terras que reivindicam como parte de seu território original são o fio condutor do documentário `A Sombra de um Delírio´.

Exibido em março deste ano no Festival Cine Latino da cidade francesa de Toulouse, o curta-metragem de 29 minutos estreia no Brasil esta noite (4), no Acampamento Terra Livre, principal mobilização do movimento indígena e que desde o início da semana ocupa parte do gramado da Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF).

Segundo um de seus diretores, o jornalista Cristiano Navarro, a proposta é tentar sensibilizar quem assistir à obra para a difícil situação dos Guarani Kaiowá e chamar a atenção para a luta silenciosa que eles travam contra interesses políticos e econômicos que ameaçam sua cultura e sua sobrevivência.

Quem vive na cidade não tem a dimensão exata de que, no campo, terra é a base não apenas do poder econômico e político, mas também do poder cultural. E que é por isso mesmo que, ainda hoje, há quem compre o discurso de que os índios que morrem trabalhando como escravos em canaviais de grandes produtores ou empresas multinacionais são vagabundos ou que são todos uns aculturados que só querem terras para deixar o mato crescer”, declarou Navarro ao Semifosco.

Editor do jornal e do site Brasil de Fato, Navarro foi o responsável por publicar o jornal Porantin entre os anos de 2002 e 2006, período em que visitava aldeias guaranis kaiowás com frequência. Em função do conhecimento adquirido à frente da publicação mantida pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Navarro recebeu, em 2008, o convite para se juntar à jornalista belga An Baccart e ao cinegrafista argentino Nico Muñoz na produção do documentário. Os dois haviam tomado conhecimento do problema indígena ao acompanhar uma delegação da FIAN (do inglês Rede de Informação e Ação pelo Direito a se Alimentar, entidade humanitária creditada pela Organização das Nações Unidas (ONU)), que visitou o Brasil para preparar um relatório sobre o direito alimentar e sobre a desnutrição entre a etnia, sobretudo das crianças.

Os guarani kaiowá são, talvez, hoje, o povo indígena em pior situação no Brasil. Segundo denúncias de organismos internacionais, o que há é um processo de etnocídio. Enquanto isso, o outro lado se opõe a qualquer tipo de demarcação de uma reserva, uma reação nada sensível”, afirma o jornalista, criticando a passividade do Estado brasileiro.

Os produtores, as empresas multinacionais, vão plantar onde houver espaço. Como diz uma representante do setor no filme, para eles, o céu é o limite à expansão da cana-de-açúcar, por exemplo. E o pior é que o principal financiador disso é o governo, o BNDES, não só por meio de estímulos financeiros ou de investimentos na infraestrutura necessária à produção, mas também por não demonstrar qualquer interesse em demarcar e homologar novas reservas indígenas”, acrescenta o jornalista.

Filmado entre 2008 e o início de 2010, a produção demorou a ser concluída porque, de acordo com Navarro, os três jornalistas jamais tentaram captar recursos públicos ou privados para realizar um filme que critica governos, empresas e grandes produtores rurais, tendo que custear eles mesmos os cerca de R$ 30 mil gastos na produção.

Para Navarro, um dos grandes méritos do filme é não apresentar os índios como vítimas incapazes, mas sim como personagens politicamente ativos, embora fragilizados. E também a apuração. Embora admita ser um filme que toma partido, Navarro garante que todas as informações tem por base autuações do Ministério Público do Trabalho, relatórios de violência elaborados anualmente pelo Cimi, notícias divulgadas pela imprensa e confrontadas com outras fontes, trabalhos acadêmicos, entrevistas com representantes dos produtores rurais e, óbvio, relatos dos próprios índios. 

“A facilidade [tecnológica] de fazer um documentário dá a falsa impressão de que se pode contar uma história sem apurá-la muito bem. E uma das qualidades do nosso filme está baseado em muita pesquisa e na minha experiência de quase nove anos trabalhando com os guaranis”, concluiu Navarro.
 

terça-feira, maio 03, 2011

Uma dentre tantas boas fotos dos últimos anos fez com que eu me lembrasse de um poema chamado Sou de Santos, de meu conterrâneo já falecido, Cassiano Nunes, do qual suprimo alguns trechos para, assim, apropriar-me de seu sentido. Diz o seguinte...

Nasci perto do mar / Apitos roucos de navios / me atraíam para outras terras: / propostas sedutoras /  Corri mundo / Vim parar no Planalto Central / onde, solitário entre livros / contemplo os anos / Às vezes, à noite / me encaminho para o lado do Eixo / e me detenho ante os terrenos baldios / (amplidão) da Asa Sul / Ao longe, / os guindastes das construções / sugerem um cenário de cais... / E o vento me traz, com o cheiro de sal, / o inútil apelo do mar

E, então, no mesmo livro (Poesia - I, de 1997), encontro um outro poema do mesmo Nunes, menos óbvio,  inspirado no Cais do Paquetá...

Alegria do cais / substitutiva / de límpida alegria / que não existe mais / (mas a alma ainda está viva!) / Sim, a alma ainda está viva / e com a aguda fome / de estrelas e de mitos / que faz a glória do Homem / Ácidas blasfêmias /  não mudam a erva tenra / em saibro do deserto: / Pode estar a vida errada / que o coração está certo!

Vida errada, coração certo e a alma ainda viva!

Kct! Cassiano Nunes era resiliente. Conclusão aliás que me levou a outro poema seu (Canção do Amor Tranquilo) que me leva de volta à boa foto dentre tantas outras dos últimos anos.

"Repouso o meu rosto / no teu ombro moreno / Imensa é a solidão, mas o mundo / pequeno [...] / Aceito meu destino sem queixa / Estou sereno / e encosto o meu rosto no teu ombro moreno"  

segunda-feira, maio 02, 2011

Muitas Ellen Oléria

Festa: reunião de pessoas com fins recreativos, geralmente acompanhada de música, dança, bebidas e comidas. Afago, carícias. 

A isso se resumiu o 1º de Maio em que a explosão de uma bomba no colo de militares que planejavam explodí-la em meio ao público que lotava o RioCentro completou 30 anos. Ontem (1º), o que se viu nas principais capitais foi centrais sindicais e entidades representativas optando por atrair o público com shows de duplas sertanejas apolíticas. Como diria Cazuza, "ideologia, eu quero uma para viver". 

Em Brasília, onde a isca utilizada pela CUT foi o show de Zezé de Camargo e Luciano, só se salvou mesmo o show da cantora Ellen Oléria, negra, lésbica e moradora da periferia da capital. (ouça suas músicas no http://www.myspace.com/ellenoleria)





Brasiliense da safra de 1982 (portanto, de quando a cidade já havia se consolidado no imaginário pop nacional como a Capital do Rock), a cantora, compositora e instrumentista Ellen Oleria é porta-estandarte da nova música popular brasiliense - algo tão diverso e rico quanto a mistura de gentes que habitam este desvario modernista em pleno Cerrado.

Com uma voz potente e afinada, a cantora já abriu shows para Lenine, Maria Rita, Paulinho Moska, Chico César, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, entre outros. Ao ouvir seus arranjos cheios de swing, fica impossível não associá-la à corrente da MPB que mistura samba ao funk (o original, norte-americano, embora ela também beba na fonte do Rap e do Hip-Hop) tipo Sandra de Sá, Cláudio Zoli, etc

Em suas letras, Ellen não ignora  peso da desigualdade social e do preconceito. Neste sentido, vale ler a entrevista que ela concedeu ao site Palco Alternativo, na qual, entre outras coisas, fala sobre sua sexualidade.

“Quando ouço a palavra “assumir” sempre penso em criança levando bronca de mãe depois de mentir sobre uma travessura: “Assume! Foi você que quebrou!”. Não assumi ser lésbica nesse sentido de tomar a carga. Só sou lésbica. Eu existo de muitas formas. Mulher, negra, escorpiana, cantora… lésbica é uma das muitas formas que me identificam”.





domingo, maio 01, 2011

Ernesto Sabato


"Há uma maneira de contribuir para a proteção da humanidade que é não se resignando"



Não há melhor forma de homenagear um grande homem que conhecendo, revisitando e discutindo sua obra e seus feitos. Por isso, saquei do compartimento secreto do "banheirão" os livros do argentino Ernesto Sabato, falecido neste sábado (30), quando estava prestes a completar cem anos.

Folheando a obra de memórias Antes Del Fin, de 1988, me deparei com um trecho sublinhado por mim mesmo. Diz respeito à experiência do mais importante escritor argentino enquanto presidente da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), instituída em 1983, para investigar os crimes cometidos por agentes do Estado durante os anos de Terror do violento regime militar no país.

"O horror que dia após dia íamos descobrindo deixou em todos os que integravam a Conadep a obscura sensação de que nenhum de nós voltaria a ser o mesmo, como costuma ocorrer quando se desce aos infernos", conta Sabato. "Nossos informes eram transcritos por datilógrafas que tinham que ser substituídas quando, em prantos, diziam que não lhes era mais possível continuar com o trabalho. Em mais de 50 mil páginas ficaram registradas as desaparições, torturas e sequestros de milhares de seres humanos, em geral jovens idealistas".

Grosso modo, a Conadep de quase 30 anos atrás - a exemplo de comissões semelhantes instituídas por vários países, como a África do Sul pós-regime do apartheid - é idêntica a tão criticada Comissão da Verdade que setores do governo brasileiro e militantes dos Direitos Humanos defendem que seja criada no Brasil para apurar os "excessos" de nossa Ditadura.

Já os trechos sublinhados do meu exemplar da novela El Túnel, escrita em 1948, não fui eu que destaquei, "en todo caso, habia un solo túnel, oscuro e solitario". Vai-se um grande. Oxalá, com tantos admiradores, que já não se sentisse só.