sábado, julho 30, 2011

Sobre Meninos e Lobos

Deu pra sentir o desconforto de parte do público que não deixou o Teatro da Caixa durante a representação de Anatomia Frozen, da companhia paulista Razões Inversas, ontem (29) a noite. Reação que, imagino, os atores Joca Andreazza e Paulo Marcello e o diretor Márcio Aurélio já deviam estar esperando. Afinal, devem ter previsto isso ao decidir encenar o texto da dramaturga inglesa Bryony Lavery. Uma peça, diga-se, indigesta para quem estiver apenas à procura de diversão e amenidades.  

No texto original, Fronzen, Lavery se debruça sobre o encontro da mãe de uma menina cujo corpo é encontrado 20 anos após ela ter sido vista pela última vez com o assassino da garota, um pedófilo e assassino em série preso e condenado à prisão perpétua. O ressentimento, a dor da perda, o desejo de vingança e a frieza do criminoso são pontuadas pelas intervenções de uma psiquiatra que se dedica a compreender a mente e o método dos sociopatas, personagem responsável por, em alguns momentos, levar a atenção do público a se dispersar.

Ao transpor a ação para os palcos, a trupe decidiu inverter a ordem temporal do texto original, mas, assim como a dramaturga inglesa, também apostou na ousadia de contrapor os pontos-de-vista clínico, criminoso e de uma vítima da violência. Com isso, penetraram em um desagradável e controverso terreno. Principalmente porque, ao contrário da médica e da mãe da garota morta, multifacetadas, retratam o assassino quase que como uma vítima de sua condição, incapaz de distinguir o certo do errado - como que endossando a tese defendida pela personagem psiquiatra. E se o tema pedifilia já é em si um grande tabu, que dirá ousar apresentar qualquer justificativa para quem o pratica.

Encenada já a dois anos, Anatomia Frozen deu à companhia teatral os prêmios Funarte - Myriam Muniz e da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), dentre outros. E, de fato, os atores Paulo Marcello (nos papéis de psiquiatra e, principalmente da mãe da vítima) e Joca Andreazza (o assassino preso) estão muito bem e a direção é eficaz. Contudo, esta não é, definitivamente, o tipo de peça a que você levaria alguém com quem estivesse saindo pela primeira vez ou indicaria para alguém não muito chegado a teatro porque corre o risco deles se aborrecerem. Ou não, se acharem oportuna a discussão proposta pelo grupo.

A companhia volta a apresentar a peça esta noite, as 20 horas, no Teatro da Caixa, em Brasília (preço, R$ 10 a meia-entrada). E amanhã, as 19 horas, encena um de seus mais premiados trabalho, Agreste, uma fábula sobre o amor entre dois lavradores que fogem da seca que castiga o sertão.

sexta-feira, julho 29, 2011

Devil Got My Woman

Caraco! Jon Spencer Blues Explosion de graça em Brasília. Isso é que é fechar as férias com chave de ouro. Eu já nem me lembrava mais do antigo desejo de ver o trio de rock alternativo norte-americano tocando ao vivo. Dei sorte. Sem saber, acabei retornando da Bahia justamente na véspera do show que a banda fará durante a 14ª edição do festival Porão do Rock, que começa hoje (29).


E olha que a mistura de rockabilly, punk, blues e rock indie nem é a única boa razão para prestigiar o evento. Ao todo, serão 43 atrações (20 delas brasilienses). Música na faixa para gostos variados, embora o rock seja a tônica. Entre as demais atrações, destaque para Cidadão Instigado, Dead Fish, Ratos de Porão, Wander Wildner, Raimundos, Garotas Suecas e a volta do DeFalla.  

Agora é descansar mais um pouco e preparar o espírito (e os joelhos) para pagar mico na madrugada de domingo, quando a Jon Spencer encerrará o festival, em horário ainda não determinado pela organização.

A programação completa do festival está disponível na página do Porão do Rock, que existe, mas desde cedo está indisponível. Certamente derrubada pelo número de acessos.

O Tempo Passa Voando

Não há tempo consumido
Nem tempo a economizar

Carlos Drummond de Andrade
in O Tempo Passa? Não Passa

Bom Dia

Pousada Brisa do Mar, Ilhéus (BA), 7h55


Até Logo
Vista aérea de Ilhéus, 11h30


Boa Tarde
Vista aérea da Restinga da Marambaia (RJ), 12h40


Bem-Vindo ao Caos
Vista aérea de...do Caos (SP), 13h20


Boa Noite
Brasília, 19h15


Boas-Vindas à casa
Sem comentários


(Poucas coisas são capazes de fazer eu me sentir tão ridículo ou deslocado quanto descer no aeroporto de Brasília carregando uma prancha embaixo dos braços. E a cara do taxista ao atender meu chamado? Ainda assim, desde que, em 2010, passei um tempo em São Paulo, sinto-me cada vez mais em casa no Planalto Central)  

quinta-feira, julho 28, 2011

Morreu na praia. Pior, em casa

Ah, esse Santos.

Nós, torcedores, já sabiamos que não podemos contar vantagem antes dos 89 minutos e quarenta segundos de qualquer jogo. E somente quando, a esta altura, o time esteja vencendo por no mínimo dois gols de diferença e a bola esteja na zaga adversária. Isso porque os meninos gostam de nos pregar peças nada divertidas e, às vezes, confundem jogar bonito com deixar a outra equipe à vontade. Ainda assim, ontem (27), quem ia segurar a onda após ver o alvinegro praiano abrir três gols de vantagem em apenas 25 minutos de jogo? 

Parecia que um massacre se desenhava ao sabor dos dribles desconcertantes de Neymar. Porém, ah, porém... Muricy Ramalho vacilou. Não desmerecendo o Flamengo - beneficiado por ter Ronaldinho em noite inspirada -, o técnico santista demorou a perceber que a zaga santista nesta noite não estava à altura da ala ofensiva de seu time.  

Considerando que o lance que resultou no inacreditável gol perdido pelo flamenguista Deivid teve início em um cruzamento feito da direita por Luiz Antônio, assim que o mesmo Luiz Antônio voltou a acertar um novo cruzamento e colocou Ronaldinho na cara do gol  ficou claro que a zaga santista estava perdida em campo. Muricy não achou. E aí veio o segundo gol dos visitantes. Novamente a partir de uma bola cruzada pela direita. E a imagem era dos zagueiros andando desconsolados, como que atribuindo aquilo ao acaso. Quem joga bola sabe o que é aquela reação: ela surge espontânea quando você crê que está dando seu melhor, mas que as coisas não estão dando certo. Aí é hora de mexer, de dar uma chacoalhada na turma.
Mesmo com a vitória flamenguista de virada, a atuação de Neymar acabou sendo destaque em todo o mundo. Graças principalmente ao seu segundo gol, o terceiro do Santos na partida. Jornais da Espanha, Inglaterra, Chile entre outros classificaram a jogada do atacante santista como a mais bonita deste ano até agora. Isso, mais o suposto embate entre a "experiência" de Ronaldo e o "talento" de Neymar e o pênalti perdido por Elano acabaram ofuscando as deficiências de ambos os times. Para mim, no entanto, restou além da certeza de que, independente do resultado, este foi um jogo histórico, a lembrança da angústia de não ver nada ser feito para tentar reforçar a zaga santista, desarmar o Flamengo e garantir um resultado positivo construído em tão pouco tempo pelo talento do meio-campo e do ataque.   

E a coisa talvez fosse pior caso o goleiro Rafael não estivesse em ótima fase. Ele sim, que ainda há pouco transmitia uma enorme insegurança à torcida santista, evoluiu e, hoje, tem tido um bom desempenho. Já quanto à infeliz cobrança do Elano, não que ele tenha sido displicente, mas ficou provado que pênalti não é loteria.  

Cadê Gabriela?

Antes de retornarmos a Brasília, eu e Carlos Leite decidimos conhecer Ilhéus, para onde teriamos que voltar de qualquer forma para apanhar nosso voo. Entusiasmado com as ondas de Itacaré e ressabiado pelos alertas para que não fôssemos (pois nos arrependeriamos, diziam), Leite resistiu, mas acabou topando minha sugestão de passarmos dois dias na terra de Gabriela, Tonico Bastos, Nacib e de antigos cabarés como o Bataclan (hoje transformado em um café e restaurante familiar).


Leite nunca leu Jorge Amado. Não gosta de novelas. E os únicos filmes brasileiros a que assistiu foram Cidade de Deus e Tropa de Elite. Isso, lógico, explica sua indiferença. Para convencê-lo, tive que mostrar a previsão das ondas no site waves, vídeos no youtube e argumentar que seria uma boa pegar umas ondinhas que pareciam mais longas, embora menores que as de Itacaré. No fundo, no fundo, o que eu queria era aproveitar que já estava por ali para conhecer mais uma cidade.  Com tudo que lemos sobre Ilhéus pré-vassoura de bruxa, não podia acreditar no que nos diziam em Itacaré - que não havia nada o que fazer na cidade; que as únicas praias que valiam a pena visitar ficavam no distrito de Olivença, a cerca de 20 quilômetros de Ilhéus, e por aí vai.


Chegando, a primeira coisa que descobrimos é que há poucas pousadas próximas ao centro, onde fica o principal atrativo turístico local, o quarteirão Jorge Amado. E, pior, que as que existem são caras para o que oferecem. Com a ajuda de um taxista conseguimos arranjar um quarto embolorado numa pousada de frente para a Praia da Avenida, a cerca de setecentos metros do centro. Primeiro sinal de alerta: praia e pousada nos pareceram duas minas de ouro por explorar e não entendiamos o porque de estarem assim, abandonadas.


Caminhando você vê a imponência da neoclássica Catedral de São Sebastião, erguida em frente à Praia da Avenida; o Bar Vesúvio, onde, na primeira metade do século XX, os coronéis do cacau se reuniam; o que resta do luxo do Ilhéus Hotel, construído em 1930 para hospedar os muitos comerciantes e visitantes que desembarcavam no porto da cidade e o Bataclan e se anima com o movimento das ruas. E, principalmente, entente logo onde Jorge Amado encontrou inspiração para criar sua Gabriela.


Infelizmente, essa sensação dura pouco. Apenas o tempo em que as lojas permanecem abertas. Depois das 19 horas, restam, além do Vesúvio com seus poucos turistas estrangeiros (os brasileiros, na maioria, aparentemente só se aproximam para tirar fotos ao lado do boneco de Jorge Amado), outros três ou quatro no Centro e mais um de frente à praia, além de uma loja do Subway e um carrinho de cachorro-quente.  

Para nosso azar, choveu nos dois dias, nos impedindo de ir para outras prais mais distantes do centro (que, nos garantiram, são bem melhores, a exemplo Dos Milionários e De Olivença). E, pior, o vento forte constante deixou as ondas da Avenida ainda mais mexidas que as de Itacaré. Leite, lógico, me torrou a paciência por conta disso. E, com razão. Porque, mesmo um quarto com vista para a praia, qualque que seja a praia, sendo melhor que estar no trabalho, em Brasília, a Praia da Avenida realmente pede um projeto de urbanização urgente. Ô prainha sem graça. Estamos prontos pra voltar.

terça-feira, julho 26, 2011

Praias e mais praias...

Praia da Costa, a cerca de vinte minutos de caminhada da avenida principal de Itacaré, a Pituba. À procura de ondas menos mexidas que as da Tiririca em meio à ressaca do final de semana, surfei dois finais de tarde por ali mesmo. As ondas são bem menores e não chegam à praia tão mexidas já que a ondulação atinge o local lateralmente e entra afunilada por entre a pequena faixa de areia ladeada por pedras. Uma faixa tão curta na beira do mar que é possível atravessá-la de tirolesa. Algumas barracas de praia logo na entrada, com cadeiras e mesinhas,



Voltando da Costa para a Pituba, a questão de poucos metros, a Prainha é a próxima parada. Ondas fortes, por estes dias muito mexidas e fechando rápido demais (como a maioria dos picos) e, por isso mesmo, pouco procurada por banhistas. 


Das praias urbanas, próximas ao centro de Itacaré, a mais bonita, para mim, é a da Concha. Águas tranquilas, tomada por restaurantes pé na areia e pousadas, é a mais procurada por famílias e pela turma que quer descansar tomando uma cervejinha e assintindo ao pôr-do-sol de um local privilegiado: o mirante à esquerda da praia, onde o Rio das Contas separa a Concha da Praia do Pontal, onde dá para pegar umas ondinhas e até caminhar ou nadar pelado já que é pouco procurada. 


Como mostram as fotos, a Praia da Coroa não é própria para o banho, mas fica de frente para a rua de acesso ao centro (Pituba) e é dali que saem as canoas para a Praia do Pontal. Além do mais, o caminho que atravessa o morro à direita leva direto à Praia da Concha, com várias barracas de artesanato mais baratas que as da rua principal. A noite ela é ocupada por boleiros e por quem vai caminhar ou correr no calçadão. Além de restaurantes, bares e quiosques, há algumas pousadas simples e um albergue. 

  

domingo, julho 24, 2011

A procura de um secret spot para chamar de meu

Vendo a embarcação rústica capitaneada pelo Seu Heleno pode parecer difícil, mas não é. Não fosse pela correnteza eu teria tentado chegar à Praia do Pontal remando em minha prancha, mas achei mais seguro pagar R$ 5 para atravessar o Rio das Contas e ir e voltar a partir da Praia da Coroa de onde, na véspera, eu e Carlos  Leite haviamos visto ondas quebrando solitárias ao longo da faixa de areia do Pontal. (Desconfiados de que Itacaré é uma ilha cercada de ondas por todos os lados, passamos a semana andando pra cima e pra baixo tentando descobrir um local onde pudéssemos surfar mais tranquilamente que na lotada Praia do Tiririca).  

Nesta pouca confiável embarcação, a travessia não chega a durar dez minutos. Chegando do outro lado, o que encontramos foi simplesmente surpreendente: quilômetros de praia deserta. A surpresa se deve ao fato de que do lado de cá do rio fica uma das praias urbanas mais movimentadas de Itacaré, a Praia da Concha, com seus quiosques, restaurantes, pousadas e o mirante aonde o povo vai admirar o pôr do sol. E considerando que Resende, Tiririca, Costa  e Ribeira estavam crowdeadas, eu imaginava que devia haver algum problema, algum perigo que explicasse porque não havia nenhum outro surfista no mar.

Embora eu e Leite (foto acima) tenhamos dado o azar de chegar junto com o vento que deixou o mar muito mexido e as ondas irregulares, foram quase duas horas surfando e mais uma caminhando para conhecer o lugar sem ver sequer uma alma viva. Mesmo assim, a onda me pareceu muito promissora e se voltar a Itacaré vou voltar a investir no único pico em que já surfei sozinho ou apenas com alguém que me acompanhava.

sábado, julho 23, 2011

Engenhoca


Quem quiser chegar ao paraíso terá que amassar a lama, muita lama

suportar pisar os espinhos

e não ceder às tentações do caminho.

São cerca de vinte minutos de ônibus (R$3.10) desde Itacaré e mais quarenta minutos de caminhada por uma trilha que, em condições normais, não oferece maiores dificuldades (o que muda drasticamente após uma chuvinha qualquer). O esforço para chegar à Engenhoca, contudo, vale a pena tanto para surfistas, quanto para quem quer simplesmente conhecer uma bela praia. 

A onda da Engenhoca é uma das poucas que, ao menos nestes dias, tem aberto. Além disso, tem uma faixa de areia maior que as das Resende, Tiririca e Costa, por exemplo. Parece um detalhe, mas você não se sentiria mais confortável sabendo que, as suas costas, está a praia, e não um costão de pedras?

Logo na chegada, no canto direito, há um quiosque onde é possível tomar uma água de coco por um preço razoável (R$ 2.5) se você considerar a dificuldade de levar qualquer produto até ali. No mesmo canto da praia há um pequeno riacho que pode garantir um banho para tirar o sal e a areia do corpo.
   

Obscurantismo e ignorância

"Crônica de uma morte anunciada"

"Os bons morrem cedo"

"You Know I'm No Good" (Você Sabe Que Eu Não Presto)

blá-blá-blá

A morte da cantora inglesa Amy Winehouse aos 27 anos de idade e  dois discos de sucesso mundial é lamentável. Já ler no site do jornal Folha de S.Paulo comentários do tipo "que o Diabo carregue a alma desta infeliz criatura. Consumo de drogas é coisa do demônio", escrito por um tal de Emerson César, supostamente de São José dos Campos (SP), é revoltante.

Em poucas horas, dezenas de comentários criticando o estilo de vida desregrado de Amy foram publicados por pessoas sempre prontas a manifestar sua ignorância e medos, misturando alhos com bugalhos. Como José Viana e seu bizarro argumento. "O defensores da liberação das drogas, que é uma apologia ao crime (e que infelizmente nossas autoridades dão aval às passeatas para liberação das mesmas, respaldados na liberdade de expressão, que é democrática e boa, mas que deve ser usada com responsablidade), devem estar se sentido culpados".

No fundo, no fundo, esta continua sendo a mesma sociedade moralista de sempre. 

Registro aqui minha humilde homenagem a esta grande artista que, com sua voz e sua visão de mundo - visão que, agora, muitos aproveitam para criticar -, ajudou a tornar a rotina um pouco mais leve, bela, divertida, provocante ou seja lá qual qualidade milhões de pessoas ao redor do mundo tenham enxergado em suas músicas.

E lamento que Amy não tenha frustrado nossas necrófilas expectativas, desafinando principalmente ao coro dos hipócritas, estes que, mesmo que nada ainda tenha sido divulgado sobre a causa da morte, já tem a quem (ou ao que) imputar a culpa (?) por sua morte.

Digam o que disserem, Amy Winehouse teve o mérito de ser honesta. Na vida e na arte. Com isso, ajudou a oxigenar um cenário dominado por uns negões muito mais preocupados em ostentar jóias, carrões e dólares do que com a música e por cantoras pré-fabricadas com suas danças das mãos-à-altura-dos-peitões-siliconados-que-vão-pra-frente-e-pra-trás.

E se for verdade que, no fim, isso lhe custou caro, ninguém nunca poderá dizer se ela se arrependia ou não. Que esta dúvida se esclareça entre ela e a eternidade. Para nós, que fique a música. E, no máximo, o lamento egoísta por não sabermos se e o que ela ainda poderia produzir caso as coisas tivessem sido diferentes.

sexta-feira, julho 22, 2011

Urbanas e Surfáveis

Entrada da Praia do Resende, a menos de dez minutos de caminhada do fim da Pituba (R. Pedro Longo), rua onde se concentra o agito turístico em Itacaré, cidade do sul da Bahia a 390km de Salvador e 64km de Ilhéus.

Praia do Tiririca, logo ao lado da Resende. Na verdade, ambas as praias são como que uma só, divididas por uma faixa de pedras. Nenhuma das duas deve ter mais que 600 metros de faixa de areia. Acho que até menos. Além do fácil acesso a pé, as ondas fortes, rápidas e cavadas tornaram a Tiririca uma das praias de Itacaré mais procuradas pelos surfistas.

 O texto do post abaixo se refere a minha primeira sessão de surf na Tiririca, praia que, apesar do aspecto semi-selvagem, é dotada de alguma infraestrutura turística, com quiosques e até uma pequena pista de skate. Fora uma bica de água doce e gelada para tirar o sal do corpo. Dei azar, pois nos dois dias em que surfei por aqui, peguei um mar mexido, com ondas que não possibilitavam mais de uma ou duas manobras (a preferida da molecada, lógico, são os vários tipos de aéreos. Para isso, sem dúvida que a onda é boa)

quinta-feira, julho 21, 2011

Um esboço

Remei com força. Com as mãos em forma de concha, estendia ao máximo as braçadas procurando deslocar o maior volume de água possível e, assim, ganhar impulsão. Até que me senti sendo suspenso e carregado pela massa d´água que se erguia. Flexionei os braços. Apoiei as mãos sobre a superfície e me coloquei de pé com um único impulso. Dobrei um pouco os joelhos e projetei o corpo quase que imperceptivelmente para a esquerda. Deu para ver a decepção no olhar do garoto quando ele desistiu de remar, aceitando que, a partir dali, a onda era minha por direito. Uma onda não muito grande, um metro se tanto, mas cavada, forte e quebrando próximo às pedras. Além disso, bancos de areia tornavam real a possibilidade de quebrar uma prancha. A margem para erros, portanto, era pequena. Fiz com que a prancha ganhasse velocidade e consegui fugir à espuma da primeira sessão. Pensei numa manobra, mas o corpo não obedeceu. A prancha apenas deslizou próximo à crista antes que eu voltasse a direcioná-la para a base. Alisei a onda mais um pouco sentindo a  pressão gerada pela água sendo cortada pelas quilhas e, então, vi que a espuma vinda do sentido contrário se aproximava de encontro a mim. Não havia muito o que fazer. Virei o bico, voltei a subir a parede da onda e escapei por cima de seu lip, deixando-a seguir sozinha para quebrar com força sobre a rasa bancada de areia logo à frente. Ainda permaneci de pé sobre a prancha por um ou dois segundos a medida que, sem a propulsão da massa d´água, ela começasse a afundar. Foi quando vi Carlos Leite, meu amigo brasiliense (veja post anterior) voltando remando em direção ao fundo.

_ Aí, hein! Segunda e ainda não vacou (tradução: caiu). Vai se criar neste marzinho. 

Com menos de quatro anos de surf e ainda oficialmente vivendo em Brasília - embora passe a maior parte do ano viajando em busca de ondas - Leite surfa ainda menos que eu, que já quando morava na praia não era lá muito talentoso, imaginem agora, vivendo há quase seis anos no Planalto Central. Ainda assim, meu amigo é o tipo de cara certo para uma surf trip. Graça à paixão pelo esporte e pelo mar, seu bom-humor e disposição superam qualquer perrengue, às vezes ignorando a realidade: nossas habilidades estavam muito aquém daquelas ondas sobre as quais a garotada voava alto.

Eu olhava a minha volta maravilhado com a paisagem, mas menos eufórico que Leite. Pensava: as ondas são curtas, fecham muito rapidamente, a maré tá secando cada vez mais, o crowd é quase insuportável para uma faixa de areia tão pequena encravada entre duas pontas de pedra e ouriços. Pensava, mas nem saía do mar, nem dizia nada disso a Leite. Afinal, após seis meses sem tirar a prancha da capa e sem salgar o corpo, eu já havia dropado duas sem cair. De forma que deixei que o ânimo de meu amigo me contagiasse e, mesmo não dando aéreos, batidões, cutbacks ou entubando, me diverti a meu modo. E o melhor, nem caí, nem quebrei minha prancha. Acho que foi uma boa estreia em Itacaré (BA).

terça-feira, julho 19, 2011

A Mensagem

De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Para: semifosco semifosco@blogspot.com
Assunto: Tirando a prancha da capa
data: 18 de julho de 2011 20h50

 
 

E aí, semifosco? Passada essa frescura literária, que tal aproveitar o que te resta de férias para fazer aquilo a que realmente se propôs? Let´s go surf!!! Ou vc já não se lembra do que me disse: A pessoa é para o que nasce.

Estou te enviando uma fotinhas de viagens recentes para vc ir abrindo o apetite..

Abraço. Nos vemos amanhã [19] de manhã.

segunda-feira, julho 18, 2011

Tulipa Ruiz - Efêmera



Sutil. Não me ocorre outra palavra. Tulipa Ruiz.

Hoje é o tempo preu ficar devagarinho
com as coisas que eu gosto e
que eu sei que são efêmeras
e que passam perecíveis
e acabam, se despedem,
mas eu nunca me esqueço.

Vou ficar mais um pouquinho

Para ver se eu aprendo alguma coisa
nessa parte do caminho.
Martelo o tempo preu ficar mais pianinho
com as coisas que eu gosto e
que nunca são efêmeras
e que estão despetaladas, acabadas
Sempre pedem um tipo de recomeço.

Vou ficar mais um pouquinho, eu vou

domingo, julho 17, 2011

Lendo Vogue em Santos


Perdeu, playboy! - Quem é hight ou hot sabe. O trecho da Avenida Azevedo Sodré que corta a Vila Rica é a West End caiçara. Billabong e outras instalaram ali suas flagships. Malandro que é malandro também já sacou a novidade. Jovens "diferenciados" de bicicleta já migraram do canal 7 para lá.

Francesinho básico - Padaria? O hype agora são as boulangeries e empórios, como o recém-inaugurado at the corner Siqueira Campos e Conselheiro Ribas. Aliás, a "rua do canal 4" vem atraindo restaurantes, temakerias, pubs e até uma academia de yôga bacanérrimos. Os proprietários pedem maior atenção da prefeitura. Calçamento irregular e má-iluminação só combinam com sofisticação em Paraty.

Magrela - By the way... secretário é visto em Paraty, ouvindo David Byrne dizer que é chique andar de bicicleta por Nova Iorque e Paris. "Em Santos, chique é ser visto parado no congestionamento com um Audi", pensou .

Café fraco - A famosa rede Fran´s ficou pequena para a cidade. Emilia LeCoc conta que a antes bombada cafeteria da rede paulistana fechou. O santista, no entanto, não ficou órfão. Bons cafés gourmets tem surgido por toda a área nobre da cidade. Só no aconchegante Shopping Iporanga, por exemplo, já são quatro.

Música Nova - Demorou, mas o pagode enfim datou também por aqui. Os lambe-lambe nos muros dão conta: saem Inimigos da HP, Sensação, Revelação, Belo e genérico e vem the new-wave: Ritchie (na sexta), RPM (no sábado), Ana Carolina (23) e Fábio Júnior (6).

Marra - O Look Neymar continua em alta. Aliás, o time "alvinegro praiano" faturou alto em cima dos "meninos da Vila". Durante os últimos 18 meses, tempo em que faturou quatro novos títulos, o Santos conquistou 19 mil novos sócios e elevou em quatro vezes a receita com patrocínios: de R$ 7 milhões para mais de R$ 30 milhões.

Basfond - Nem bem estreou sozinha, a glamorosa T. já colocou de plantão os meninões. Solta na marola, ela diz não estar à procura de salva-vida. Os candidatos, no entanto, já se alvoroçam. Aos interessados: a it-girl pode ser encontrada na ferveção da Rua XV.

Honeymoon - Esplêndida a decoração do casório da alpinista social com o novo-rico. As paredes do château do canal 7 foram cobertas de papel crepom dourado. Copos americanos foram espalhados pelos jardins. Sofá, divãs e récamiers ganharam forro de pvc com fotos dos amigos mais chegados (tantos que não cabem em um único perfil). Os convivas entenderam o espírito da coisa e colocaram as jóias para passear. Recolhidos os presentes, o casal se apressou para embarcar no MSC Harmony, para três dias e quatro noites de lua-de-mel coletiva. À saída da privé party, surpresa: os jovens "diferenciados" de bicicleta tinham voltado.

Mirada - O skyscrap santista ficou mais charmoso no último sábado (16). Uma forte neblina cobriu os espigões da orla, assemelhando-se ao fog londrino. Com solzinho fraco, o povo bronzeado vestiu os agasalhos e bonés do último cruzeiro e foi ao footing.

Beach Culture - No lounge do shopping Praiamar, a exposição A Evolução do Biquíni.

Cozinhando o galo - À reboque da 17ª Santos ArquiDecor, pesquisa revela que o local da casa com o qual os santistas menos se incomodam de gastar é a...cozinha. "Nos apartamentos modernos, as cozinha gourmet passam por uma sofisticada sala de estar, palco para homens e mulheres, casados ou solteiros, que gostam de surpreender amigos com pratos requintados e loonnggooss períodos de degustação", aponta Clara Monforte, atenta ao que é chique e cool. Degustações que, em geral, terminam com os convivas dando um pit-stop na Beduíno (a mais gordurosa e saborosa esfiha local).

sexta-feira, julho 15, 2011

O CUBO

Nada a comentar. Eu só não podia deixar de registrar. Afinal, não é todo dia que você se depara com um disputado campeonato de... Cubo de Rubik.

É este o nome oficial do Cubo Mágico, o popular `brinquedo´ criado pelo arquiteto húngaro Erno Rubik (isso eu li no sensacional romance O Coração do Tártaro, da espanhola Rosa Montero).


Não faço ideia das regras. Imagino que se trate de uma questão de tempo, ou seja, ganha quem termina primeiro. Enfim, não sei. Sei apenas é que havia bastante gente no foyer do Sesc Santos acompanhando o evento.  


O sucesso deles entre as mulheres

..."Se você não é bonito feito o Fabio Assunção, não tem o dinheiro do copeiro do Eike Batista, nem a espirituosidade do Jô Soares ou o tórax do Malvino Salvador, então apenas leia, meu rapaz. Leia os clássicos, leia os chatos, leia os rápidos, leia os com baleias ou bruxos no meio. Ou Philip Roth, Hermann Hesse, JD Salinger, John Fante, Ernest Hemingway, Nick Hornby, em último caso, a biografia do Justin Bieber (mentira, jamais faça isso).

Mas faça perguntas, muitas. Não tente parecer enigmático ou canalha ou popular. Faça perguntas. Queira saber, se importe, ouça, pense em trocar ideias aquém dos fluidos corporais. A garota bonita não verá a hora de pegar o celular e "ai, amiga, nem sabe, conheci um cara im-pres-sio-nan-te" - "lindo?" - "não, im-pres-sio-nan-te" - "e lindo?" - "não, sua burra, eu disse impressionante, tá cortando a ligação, hein?". Porque tem coisas que só o renascimento e o Grecin 2000 fazem por você."
Gabito Nunes




Não. Não cedi à publicidade sobre a eficácia de manuais contendo dicas infalíveis para se dar bem com o sexo oposto e conquistar a (o, quando for o caso) companheira (o) de toda a vida.

A citação acima veio a calhar porque, já há alguns dias, estava querendo comentar algo sobre dois escritores que sabem explorar muito bem as possibilidades da internet como suporte literário: Gabito Nunes e Fabrício Carpinejar.

Além de gaúchos e filiados à tradição do texto leve, conciso e divertido, ambos compartilham uma curiosa característica: seus textos fazem um enorme sucesso entre as mulheres, principalmente. Cada novo texto publicado em seus blogs recebem dezenas de comentários femininos contendo declarações de admiração e amor à sensibilidade destes dois lapidares exemplos de "novo homem", este ser sensível e perdido em meio ao "ocaso do macho".

Convenhamos. Para quem "não é bonito como o Fábio Assunção ou não tem o tórax do Malvino Salvador", descobrir que alguém faz sucesso entre as mulheres por escrever bem é um sinal de alento que contraria o senso-comum. Ou, talvez, a pá de terra final sobre a auto-estima de quem, além de nunca ter cultivado o físico e não ter ganho dinheiro na Bolsa, sempre achou livros objetos brochantes.

Publicitário, Gabito Nunes não teme associar seu talento ao gosto das massas. Tanto que seu blog, Caras Como Eu, apesar de literário, virou referência quando o assunto é relacionamentos amorosos. E, como escrevi aqui há cinco meses, originou um livro de capa horrível, mas que você lê como se estivesse batendo papo com um velho amigo. O tema, universal e de identificação imediata por todos que não os intelectuais restritivos, soa óbvio. Já o estilo do autor, não. O que resulta numa leitura leve, divertida e numa manifesta admiração pela capacidade que Gabito tem de fazer parecer que escrever é algo fácil.
Já o jornalista, poeta e autor de 17 livros já publicados, Fabrício Carpinejar, é um exímio frasista. Tanto que é uma das únicas pessoas que conheço a de alguma forma justificar a invenção do twitter, microblog em que escreve verdadeiros hai-kais seguidos de perto por outros quase 116 mil usuários. "Ressentimento: quem deixa para falar depois e perde o contexto"; "Só encontramos a serenidade quando o que desejamos não nos interessa mais".

Lógico que, pelos trechos de ambos os autores citados acima, seria válido ampliar a análise e discutir se e quando a literatura é receita e se, apesar do conteúdo temático óbvio, a preocupação com a linguagem e os resultados atingidos bastam para indicar o mérito literário dos dois. Eu, no entanto, não entendo disso. Posso, portanto, apenas desfrutar da leitura e, quem sabe, tirar alguma lição proveitosa das observações cotidianas dos dois escritores.

quinta-feira, julho 14, 2011

Tranquila - Thalma de Freitas


Pense nos amigos de infância. Em teus pais. Na agradável sensação do corpo esparramado sobre a areia fofa e quente da praia após horas surfando.

Resgate a lembrança do primeiro grande show com a turma. Do Carnaval em Ilhabela. Do teu pai deixando o hospital. Da primeira viagem com a (s)  ex-namorada (s). Ligue pra ela (s) e encontre a forma certa de dizer oi.

Busque no armário aquela foto em que todos aparecem sorrindo na praia de São Pedro, no Guarujá. Refaça mentalmente teus passos pelos lugares de que mais gosta, como Paraty e Manoel Antonio e conte a tua mãe tudo o que viu lá.

Releia um livro que te emocionou, mesmo sendo um do Richard Bach. Se for um da coleção Vaga-Lume, melhor ainda. Depois, esqueça-o num banco qualquer. Jogue fora os ingressos de todas as peças de teatro que assistiu, menos o daquela de que mais gostou. Mas não faça concessões: escolha apenas um. Se livre da coleção de revistas antigas. Esvazie uma gaveta. Rasgue papéis.

 

Dê uma volta de ônibus. Visite tua primeira escola (lembra do que sentiu quando tua mãe soltou tua mão?) Vá ao cinema na primeira sessão de uma terça-feira. Dê uma volta pelo Centro. Tome um passe. Tire um cochilo após o almoço.  

Visite um primo da tua idade que você não vê há muito tempo. Leve um presente para tua melhor amiga. Alugue uma bicicleta. Aproveite para conhecer o filho de um colega com quem você perdeu o contato.

Coma um churros. Peça um PF. Pague um almoço para o teu pai. Ouça histórias. Conheça uma música nova. E se alimente com tudo de bom que a vida tem te proporcionado. As férias terminam logo.