Remei com força. Com as mãos em forma de concha, estendia ao máximo as braçadas procurando deslocar o maior volume de água possível e, assim, ganhar impulsão. Até que me senti sendo suspenso e carregado pela massa d´água que se erguia. Flexionei os braços. Apoiei as mãos sobre a superfície e me coloquei de pé com um único impulso. Dobrei um pouco os joelhos e projetei o corpo quase que imperceptivelmente para a esquerda. Deu para ver a decepção no olhar do garoto quando ele desistiu de remar, aceitando que, a partir dali, a onda era minha por direito. Uma onda não muito grande, um metro se tanto, mas cavada, forte e quebrando próximo às pedras. Além disso, bancos de areia tornavam real a possibilidade de quebrar uma prancha. A margem para erros, portanto, era pequena. Fiz com que a prancha ganhasse velocidade e consegui fugir à espuma da primeira sessão. Pensei numa manobra, mas o corpo não obedeceu. A prancha apenas deslizou próximo à crista antes que eu voltasse a direcioná-la para a base. Alisei a onda mais um pouco sentindo a pressão gerada pela água sendo cortada pelas quilhas e, então, vi que a espuma vinda do sentido contrário se aproximava de encontro a mim. Não havia muito o que fazer. Virei o bico, voltei a subir a parede da onda e escapei por cima de seu lip, deixando-a seguir sozinha para quebrar com força sobre a rasa bancada de areia logo à frente. Ainda permaneci de pé sobre a prancha por um ou dois segundos a medida que, sem a propulsão da massa d´água, ela começasse a afundar. Foi quando vi Carlos Leite, meu amigo brasiliense (veja post anterior) voltando remando em direção ao fundo.
_ Aí, hein! Segunda e ainda não vacou (tradução: caiu). Vai se criar neste marzinho.
Com menos de quatro anos de surf e ainda oficialmente vivendo em Brasília - embora passe a maior parte do ano viajando em busca de ondas - Leite surfa ainda menos que eu, que já quando morava na praia não era lá muito talentoso, imaginem agora, vivendo há quase seis anos no Planalto Central. Ainda assim, meu amigo é o tipo de cara certo para uma surf trip. Graça à paixão pelo esporte e pelo mar, seu bom-humor e disposição superam qualquer perrengue, às vezes ignorando a realidade: nossas habilidades estavam muito aquém daquelas ondas sobre as quais a garotada voava alto.
Eu olhava a minha volta maravilhado com a paisagem, mas menos eufórico que Leite. Pensava: as ondas são curtas, fecham muito rapidamente, a maré tá secando cada vez mais, o crowd é quase insuportável para uma faixa de areia tão pequena encravada entre duas pontas de pedra e ouriços. Pensava, mas nem saía do mar, nem dizia nada disso a Leite. Afinal, após seis meses sem tirar a prancha da capa e sem salgar o corpo, eu já havia dropado duas sem cair. De forma que deixei que o ânimo de meu amigo me contagiasse e, mesmo não dando aéreos, batidões, cutbacks ou entubando, me diverti a meu modo. E o melhor, nem caí, nem quebrei minha prancha. Acho que foi uma boa estreia em Itacaré (BA).
Eu olhava a minha volta maravilhado com a paisagem, mas menos eufórico que Leite. Pensava: as ondas são curtas, fecham muito rapidamente, a maré tá secando cada vez mais, o crowd é quase insuportável para uma faixa de areia tão pequena encravada entre duas pontas de pedra e ouriços. Pensava, mas nem saía do mar, nem dizia nada disso a Leite. Afinal, após seis meses sem tirar a prancha da capa e sem salgar o corpo, eu já havia dropado duas sem cair. De forma que deixei que o ânimo de meu amigo me contagiasse e, mesmo não dando aéreos, batidões, cutbacks ou entubando, me diverti a meu modo. E o melhor, nem caí, nem quebrei minha prancha. Acho que foi uma boa estreia em Itacaré (BA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário