..."Se você não é bonito feito o Fabio Assunção, não tem o dinheiro do copeiro do Eike Batista, nem a espirituosidade do Jô Soares ou o tórax do Malvino Salvador, então apenas leia, meu rapaz. Leia os clássicos, leia os chatos, leia os rápidos, leia os com baleias ou bruxos no meio. Ou Philip Roth, Hermann Hesse, JD Salinger, John Fante, Ernest Hemingway, Nick Hornby, em último caso, a biografia do Justin Bieber (mentira, jamais faça isso).
Mas faça perguntas, muitas. Não tente parecer enigmático ou canalha ou popular. Faça perguntas. Queira saber, se importe, ouça, pense em trocar ideias aquém dos fluidos corporais. A garota bonita não verá a hora de pegar o celular e "ai, amiga, nem sabe, conheci um cara im-pres-sio-nan-te" - "lindo?" - "não, im-pres-sio-nan-te" - "e lindo?" - "não, sua burra, eu disse impressionante, tá cortando a ligação, hein?". Porque tem coisas que só o renascimento e o Grecin 2000 fazem por você."
Gabito Nunes
Não. Não cedi à publicidade sobre a eficácia de manuais contendo dicas infalíveis para se dar bem com o sexo oposto e conquistar a (o, quando for o caso) companheira (o) de toda a vida.
A citação acima veio a calhar porque, já há alguns dias, estava querendo comentar algo sobre dois escritores que sabem explorar muito bem as possibilidades da internet como suporte literário: Gabito Nunes e Fabrício Carpinejar.
Além de gaúchos e filiados à tradição do texto leve, conciso e divertido, ambos compartilham uma curiosa característica: seus textos fazem um enorme sucesso entre as mulheres, principalmente. Cada novo texto publicado em seus blogs recebem dezenas de comentários femininos contendo declarações de admiração e amor à sensibilidade destes dois lapidares exemplos de "novo homem", este ser sensível e perdido em meio ao "ocaso do macho".
Convenhamos. Para quem "não é bonito como o Fábio Assunção ou não tem o tórax do Malvino Salvador", descobrir que alguém faz sucesso entre as mulheres por escrever bem é um sinal de alento que contraria o senso-comum. Ou, talvez, a pá de terra final sobre a auto-estima de quem, além de nunca ter cultivado o físico e não ter ganho dinheiro na Bolsa, sempre achou livros objetos brochantes.
Publicitário, Gabito Nunes não teme associar seu talento ao gosto das massas. Tanto que seu blog, Caras Como Eu, apesar de literário, virou referência quando o assunto é relacionamentos amorosos. E, como escrevi aqui há cinco meses, originou um livro de capa horrível, mas que você lê como se estivesse batendo papo com um velho amigo. O tema, universal e de identificação imediata por todos que não os intelectuais restritivos, soa óbvio. Já o estilo do autor, não. O que resulta numa leitura leve, divertida e numa manifesta admiração pela capacidade que Gabito tem de fazer parecer que escrever é algo fácil.
Já o jornalista, poeta e autor de 17 livros já publicados, Fabrício Carpinejar, é um exímio frasista. Tanto que é uma das únicas pessoas que conheço a de alguma forma justificar a invenção do twitter, microblog em que escreve verdadeiros hai-kais seguidos de perto por outros quase 116 mil usuários. "Ressentimento: quem deixa para falar depois e perde o contexto"; "Só encontramos a serenidade quando o que desejamos não nos interessa mais".
Lógico que, pelos trechos de ambos os autores citados acima, seria válido ampliar a análise e discutir se e quando a literatura é receita e se, apesar do conteúdo temático óbvio, a preocupação com a linguagem e os resultados atingidos bastam para indicar o mérito literário dos dois. Eu, no entanto, não entendo disso. Posso, portanto, apenas desfrutar da leitura e, quem sabe, tirar alguma lição proveitosa das observações cotidianas dos dois escritores.
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