terça-feira, fevereiro 12, 2013

CarnaRock e outras mumunhas


Felizmente, o mundo não acabou no Calaf.

(Veja post anterior).

A bem da verdade, não dá nem mesmo pra dizer que EU tenha me acabado no Calaf. Por mais que o power-trio brasiliense Passo Largo (vídeo abaixo) tenha se empenhado para nos dar oportunidade para isso.

A única coisa que acabou ontem a noite foi o estoque de freiras, diabinhas, policiais, Minnies e outras fetichistas lindas, leves, suadas e mais ou menos desimpedidas à solta no salão. Por sinal, acabou bem rápido. Resultado natural de festa cujo esquenta começa sete horas antes, com o bloco na rua, bêbados e equilibristas sob a sombra das raparigas em flor.

Tudo bem. Antes das fantasias, adereços e históricos de bons antecedentes virarem cinzas (vixi! desculpem o inoportuno mau-gosto da frase), vem a terça-feira gorda. O risco de pegar um resfriado e o suplício das últimas horas - e só - a me aproximar da personagem do conto em que Caio Fernando Abreu explica o sentido ritualístico da data.

Desperto com "a boca gosmenta de tanta cerveja morna" e me lembro que nem o Papa segurou a onda durante a festa pagã.

É como prescreve Xico Sá: "a vida não tem alvará, baby".

Vou indo, comer meus cereais. Porque, nos dias de hoje, é vital manter alguma regularidade. Nem que seja intestinal. (O que me faz lembrar de uma última citação, pra encerrar: "de dentro vem o que por fora se revela", preconizou o sábio Lao-Tsé há cerca de 2,6 mil anos, no belíssimo Tao Te King).

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Deixa eu brincar



Verão. Flat em todo o Brasil. 

Carlos Leite (foto do arquivo pessoal), meu bom e prezado amigo, surfista prego brasiliense, anda solto por aí, percorrendo o litoral em busca de ondas que lhe permitam deslizar sobre as águas salgadas e poluídas.

No último e-mail que me escreveu, deu seu breve recado: "Sem mais o que fazer, emagreci três quilos, mas, em compensação, inchei algumas dezenas de litros e umas gramas". Como sugere o Fred D´Orey, não há nada que um surfista de verdade tema mais que a ideia de um verão sem fim (endless surf?!?!)

Já eu optei por ficar catando cavaco em Brasília mesmo. Ouvindo o mais melancólico disco de Bjork, torcendo para que Django conseguisse resgatar sua amada e encrenqueira Broomhilda, flagrando Barata no Aparelhinho e torcendo para que o mundo não acabe no Calaf. 

Afinal, mesmo que todo carnaval tenha seu fim, eu também quero  "brincar de ser feliz". (mesmo sendo adepto da antipática tese de que uma das maiores tristezas é a alegria imposta) 

sábado, fevereiro 09, 2013

Uma chacina ofuscada pela sanha novelesca da mídia brasileira


... então me deixa ver se eu entendi. 

1) O empresário Marcos Matsunaga foi morto por sua companheira, Elize Matsunaga, em maio de 2012, ou seja, há pouco mais de oito meses. A expectativa, agora, é de que, até março, a justiça paulista anuncie a data do início do julgamento de Elize, presa desde junho passado.

A imprensa nacional cobriu o fato em seus mínimos detalhes, destacando até mesmo aqueles mais irrelevantes para a vida prática, cotidiana, de seus telespectadores, ouvintes ou leitores. Houve até mesmo quem destacasse o "trágico fim" do que parecia um conto de fadas, lembrando sempre que Marcos era um homem riquíssimo e a assassina uma ex-prostituta tirada das ruas pelo próprio empresário. 

2) O ex-goleiro Bruno é acusado de, junto com mais quatro pessoas, entre elas seu amigo e secretário pessoal, Macarrão, ter matado Eliza Samudio, desaparecida desde 2010. Bruno, sua ex-mulher, Dayanne Souza, e outro réu, o policial Bola, vão ser julgados a partir do próximo dia 4, mas Macarrão e uma ex-namorada de Bruno, Fernanda Gomes de Castro, já foram julgados e condenados a, respectivamente, 15 e cinco anos de prisão (ela, em regime semi-aberto). 

A imprensa nacional cobriu o fato em seus mínimos detalhes, destacando até mesmo aqueles mais irrelevantes para a vida prática, cotidiana, de seus telespectadores, ouvintes ou leitores. Houve até quem destacasse que o garoto pobre que subiu na vida graças ao futebol sempre dera demonstrações de descontrole emocional, sugerindo ser evidente tratar-se de um criminoso. 

Sem entrar no mérito, meus parabéns às justiças paulista e mineira por apreciarem os casos com razoável celeridade. Enquanto isso...

3) O assassinato de quatro servidores públicos do Ministério do Trabalho - três auditores fiscais e um motorista - completou nove anos em 18 de janeiro passado sem que nenhum dos nove indiciados pela Polícia Federal tenha sido julgado. Pior. Às vésperas da chamada "Chacina de Unaí" (MG) completar nove anos, a juíza federal de Belo Horizonte que há quase dois anos responde pelo processo frustrou a expectativa de todos que esperavam que ela anunciasse a data do início do julgamento ao declinar da competência de julgar os acusados e determinar que os autos sejam remetidos para a subseção da Justiça Federal em Unaí.

Em virtude dessa decisão, só Deus sabe quando o tribunal do júri vai acontecer, já que o Ministério Público Federal, entidades de classe e organizações de defesa dos direitos humanos prometem recorrer da decisão da juíza, alegando que, em Unaí, não há como garantir a imparcialidade do júri, já que os principais réus desfrutam de prestígio político e econômico na cidade. A exemplo de Antério Mânica, acusado de ser um dos mandantes do crime. Um dos maiores produtores de feijão do país, ele foi eleito prefeito de Unaí poucos meses após a PF pedir seu indiciamento por envolvimento na chacina. E reeleito em 2008. 

Chama a atenção que Antério e outros dois réus acusados de serem os mandantes dos crimes e que possuem dinheiro estão em liberdade, graças a habeas corpus que obtiveram da justiça. Já os três suspeitos de terem executado os servidores estão presos há nove anos, mesmo não tendo sido julgados. A legislação brasileira não estabelece um tempo máximo para a prisão preventiva, mas poucas vezes se ouviu falar que alguém ainda não condenado tenha passado tanto tempo encarcerado à espera de ser julgado. Já há quem classifique a medida como um "cumprimento antecipado da pena".

Bom. Aí, enfim, eu chego ao ponto que acho que não entendi direito. Porque apesar de se tratar de um crime hediondo praticado contra servidores públicos no cumprimento de sua missão; de um ataque ao Estado de direito planejado por pessoas poderosas contra pessoas encarregadas de combater a vergonha nacional que é o trabalho escravo ou análogo à escravidão... apesar de tudo isso, este caso a imprensa não está cobrindo nos mínimos detalhes. Para ser franco, passados nove anos, a impressão que se tem é que, salvo raras exceções, a mídia parece ter se esquecido do caso que chegou a repercutir internacionalmente. E nossos colegas parecem só se recordar dele a cada novo dia 18 de janeiro, quando a Chacina de Unaí completa anos sem que os responsáveis tenham sido julgados e punidos.  

"E o Brasil lá tem trabalho escravo!?!", parece gritar o pouco caso da imprensa com a demora da Justiça Federal.   

terça-feira, fevereiro 05, 2013

TRIP NA TV



Após 26 anos à venda nas bancas brasileiras, a revista Trip enfim chegou à TV. Estreou, há alguns meses, na Mix TV, o programa Trip TV, que também pode ser assistido no youtube.

É a fórmula bem-sucedida da revista, agora adaptada para as telinhas: lindas mulheres seminuas fazendo a linha "sou despojada, mas cool e interessante", enquanto mulheres com um pouco mais de "estrada" contam sobre o dia em que envelheceram (com 31 anos?!?!?).

A versão televisiva também conta com entrevistas de atletas como o capitão da seleção brasileira de vôlei, Murilo Endres, ou o mito do skate norte-americano Lance Montain dando seu depoimento sobre a necessidade de o skate ser mais abrangente que necessariamente grande e preservar a criatividade dos praticantes. E de artistas como as atrizes Maria Fernanda Cândido ou Isabel Filiardis estimulando a participação social ao falar de seu trabalho à frente das ongs Doe Seu Lixo e Força do Bem.

A exemplo das Páginas Negras, como são chamadas as grandes entrevistas da edição impressa, na revista eletrônica os bate-papos conduzidos pelo editor e criador da Trip, Paulo Lima, também sempre rendem um caldo no mínimo interessante, como o jornalista e escritor Xico Sá revelando que compõe seu peculiar figurino trocando camisas com parentes que ainda moram no Cariri. Ou a grande estrela da música brasileira em 2012, o rapper Criolo explicando o resultado de seus "23 anos de caminhada":

_ O que contribuiu muito para mim foi ser filho de nordestinos e morar num bairro chamado Grajaú [extremos sul de São Paulo]. Não é que eu seja triste ou melancólico. É que eu enxergo o que está acontecendo ao meu redor.

No meio da mesmice das tv abertas, os doze minutos de duração do programa são um breve, porém revigorante, alento.