segunda-feira, setembro 26, 2011

Gaymada

Uma efervescente cena musical, boa comida, paisagens fantásticas, mulheres bonitas, belas edificações,  uma sociedade apavorada diante da violência, calor e muita, muita gente pelas ruas. Dentre as várias surpresas com que me deparei ao longo de sete dias no Pará, algumas foram completamente inusitadas, como a da última quinta-feira a noite. 

Eu caminhava pela movimentada orla de Santarém quando uma aglomeração ao redor da praça ao lado do bar Mascotinho chamou minha atenção. Segui meu caminho e, ao me aproximar da praça, me surpreendi ao ver que as pessoas assistiam a uma animada partida de...queimada. A segunda coisa a chamar minha atenção enquanto caminhava foi que os times eram mistos, com homens e mulheres. Já ia passando direto quando reparei em algo mais: nem as mulheres eram própriamente mulheres, nem os homens eram assim, digamos, tão homens. 

Tratava-se da Gaymada. Toda terça e quinta-feira a noite, a comunidade LGBT de Santarém ocupa a quadra de esportes para a animada e acirrada disputa de queimada. Eu jamais poderia imaginar que houvesse tantos gays, transexuais, travestis e lésbicas em Santarém. Nesta noite específica havia ao menos três equipes formadas e tantos outros assistindo à brincadeira. Além de muitos simples curiosos. O que derrubava por terra outro preconceito arraigado: o de que as regiões Norte e Nordeste seriam muito mais machistas e, portanto, menos tolerantes com opções sexuais que fogem aos padrões convencionais.

"No dia em que tem gaymada é quando eu mais vendo", disse o ambulante com quem obtive as primeiras informações sobre o evento. "A coisa aqui é assim. Eles não se metem com a gente, a gente não se mete com eles. E a praça nestes dias fica mais animada. Antes só tinha futebol de salão e vôlei, mas aí eu acho que eles decidiram que também tinham direito a usar a quadra", me explicou o jovem que tomava uma cerveja conversando com o ambulante e se divertindo apreciando o movimento.

Pesquisando na internet, descobri que, no final de julho, a ong Grupo de Homossexuais de Santarém promoveu o 1º Torneio de Gaymada da cidade. Com o intuito de combater o preconceito e a homofobia, o evento contou com apoio da prefeitura e reuniu um público diversificado. Descobri também que um evento semelhante já acontece há tempos em...Brasília, normalmente no Parque da Cidade.


Como estava sem celular na hora em que me deparei com tal cena, não tenho sequer uma foto. As que publico aqui são, pela ordem, do blog Xinguara e do site Janela Amazônica

domingo, setembro 25, 2011

Calor e Surpresas Mocorongas


Durante o dia, Santarém, no Pará, só pode ser a boca do Hades. E o calor, o bafo do tinhoso vindo das profundezas. Impressionante. Localizada no coração da Amazônia, a chamada "Pérola do Tapajós" é uma fornalha erguida às margens do conhecido rio. Na última sexta-feira eu viajei meros 35 quilômetros de ônibus (R$ 2,50) desde Alter do Chão, onde já estava quente, e tive a impressão de cruzar a fronteira com outra dimensão.

Mesmo já estando acostumado ao calor e à secura do Planalto Central, não me aventurei a caminhar os poucos quarteirões que separam a praça onde fica a Igreja de Nossa Senhora da Conceição (construída e em permanente restauração desde 1761) do shopping (aonde mais eu iria buscar refúgio do calor?). Apanhei um moto-táxi e fui reparando que não havia quase ninguém caminhando pelas ruas. Havia sim eram ondas de calor subindo do asfalto e desfocando a paisagem. Ou seja, enquanto na tv os jornalistas comemoravam o fim do inverno e a chegada da primaver, mas anunciavam a continuidade das chuvas, na Região Norte as pessoas comentam a severidade do verão, atribuindo o calor excessivo e a falta de chuvas às mudanças climáticas.

Na volta, arrisquei dar uma volta pela chamada orla, às margens do Rio Tapajós. Do calçadão é possível avistar, ao longe, o encontro das águas marrom-barrentas do Rio Amazonas com as azuis do Tapajós. Os dois rios se encontram bem diante da cidade e, devido à diferenças como densidade e temperatura das águas, avançam paralelamente por quilômetros sem se misturar. No Terminal Fluvial Turístico, na orla, é possível encontrar barqueiros que oferecem passeios que variam de uma hora para ver de perto o fênomeno natural à R$ 20 ou mais o tour pelas praias fluviais próximas. O destaque, segundo me disseram, é Ponta de Pedras, mas ela fica a poucos quilômetros de Alter do Chão e não me entusiasmei de fazer o caminho de volta e encarar a longa estradinha de terra que leva da Rodovia Fernando Guilhon à praia.

Em dias quentes como estes últimos, nenhum outro passeio que não seja o de barco ou a ida às praias é recomendável. Periga você ter uma insolação ou desidratação. Se estiver hospedado no Centro, próximo à Igreja Matriz (recomendo o Hotel Rios (93-3522-5701), limite-se a dar uma volta pelas redondezas para ver um pouco do movimento das ruas, com suas lojas populares, tome um açaí à moda santarense, ou seja, não-congelado e acompanhado com farinha de mandioca e açúcar opcional, e, então, volte a se refugiar no hotel até o sol se pôr. Porque é a partir do final de tarde que Santarém realmente dá as caras. 

A noite, a orla da cidade se transfigura. Jovens, idosos, casais, solteiros, turistas e, ah, os morcegos - sim, morcegos -, enfim, muita gente e alguns insetos e animais saem pra caminhar, correr, voar, paquerar, namorar ou simplemente tomar uma cerveja na Avenida Tapajós, onde funcionam vários restaurantes e bares e diversos vendedores ambulantes se instalam. Metade dos bons restaurantes que os santarenos (ou mocorongos, como também são chamados os quem nasce em Santarém) te indicarão caso você peça sugestões ficam ali, a poucas quadras da Igreja Matriz, e se chama Mascote (Prç. do Pescador, 10). A outra metade, ou seja, a Peixaria Raiana, fica na Rua da Salvação, 126, no bairro Liberdade.

Há opções de boates e barzinhos com música ao vivo, mas como eu estava cansado e muito mais interessado em conhecer ao menos uma praia no dia seguinte, me limitei a ficar pelo Mascote mesmo, onde me dei conta de que, ao longo de todos estes seis primeiros dias de meu giro paraense, ouvi muita música boa, sobretudo em Belém. Aqui mesmo, no restaurante em Santarém, vejo na parede o pôster original de um show que Sebastião Tapajós fez na Alemanha em 1978. Enquanto isso, o cantor que se apresenta se reveza entre o rock brasileiro dos anos 1980, a MPB (com ênfase em Adriana Calcanhoto e Marisa Monte) e alguns clássicos do rock internacional. E na mesa ao lado da minha, uma loira na casa dos 30 e já com algumas cervejas na conta insiste em pedir `Como Nossos Pais´ enquanto desanca, com a ajuda do companheiro de mesa, o axé baiano e o sertanejo.  Ou seja, nem todo paraense pode ser responsabilizado pela péssima música que o estado tem exportado para outras regiões do país. Vide Sebastião Tapajós ou até mesmo ao popular Beto Paixão, cuja música Dança na Mata, eu só não vou compartilhar aqui porque, infelizmente, o único vídeo disponível no youtube não é oficial e kitsch de doer.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Um título que não é o título


O corpo dói sob o peso da mochila (que é mínimo). O suor brota de todos os poros. Empapuçada, a camisa se gruda à pele que coça devido às picadas de mosquitos. Ou de pulgas amazônicas, sei lá. Ondas de calor sobem do asfalto. O Tapajós é convidativo. A vontade é se sentar à sombra e esperar por um aguaceiro, um dilúvio que eleve de volta o nível dos rios, faça as águas fluviais romper cidade e floresta adentro, inundando o mundo, ilhando os malditos morcegos e carregando meu combalido corpo de volta ao conforto de minha casa. Ainda assim, basta levar a bolsa às costas para o desejo de seguir em frente falar mais alto. A curiosidade. A disposição que nos leva a encarar qualquer meio de transporte para ir um pouco mais longe.

Hoje pensei em minha mãe. Por sorte (minha e dela), ela não lê este blog. Ou ficaria nervosa ao ver o filho se deslocando em moto-táxis, catraias, jangadas, bimotores mal-ajambrados, vans policiais e qualquer outro meio (barato) disponível.

(continua)


Algumas considerações sobre Alter


Três dias em Alter do Chão, no Pará, é tempo suficiente para desfrutar, descansar e também para chegar a algumas conclusões. E uma delas, infelizmente, é que o balneário ainda não dispõe da necessária infraestrutura para receber bem aos turistas. O lugar, contudo, é tão extraordinário que não resta dúvida de que não tardará muito e as mudanças irão chegar. Resta torcer para que as autoridades locais saibam incluir a comunidade neste processo. Ao contrário de outros destinos turísticos já consolidados cujos legítimos donos acabaram por se tornar mera mão-de-obra barata.


Esta, aliás, é a primeira vez que visito um lugar como este - uma verdadeira mina de ouro já descoberta pelos gringos - onde tudo ainda está por fazer. A exemplo de semelhantes destinos turísticos (Pipa, Paraty, Maresias, etc), me parece inevitável que se os moradores de Alter não se prepararem e se anteciparem às oportunidades, empreendedores vindos de fora o farão. Sobretudo os paulistanos, uma gente que, talvez pela experiência direta com o caos e o stress, se tornou especialista em descobrir locais paradisíacos onde se fixar e, com muito trabalho, ganhar dinheiro.

E não estou falando de grandes empreendimentos hoteleiros, mas sim de serviços simples, porém, regulares. Conversei com jovens que reduziram sua estadia no balneário por, após três noites, não aguentar mais dar voltinhas na praça.  E eis o paradigma: se opções de lazer noturno dependem e surgirão espontâneamente com o aumento do afluxo de turistas, este depende, em parte, de que os que já visitam o local saiam satisfeitos com o que já existe. É isso que gera a propaganda boca a boca mais eficiente que qualquer campanha governamental. 

Dito isso, elenco alguns dos aspectos negativos que mais me chamaram a atenção. Começando pelo início, ou seja, pelo aeroporto de Santarém. Instalado a meros 35 quilômetros de Alter do Chão, é a forma mais fácil e rápida de chegar ao balneário. E se é perto e fácil, a lógica do turista é que seja barato. Errado. O aeroporto fica no meio do nada e as tarifas, tabeladas, custam mais caro que em aeroportos de grandes capitais. Há ônibus para o centro de Santarém, mas, segundo o funcionário do balcão de informações, ele só passa de duas em duas horas (não sei se esta informação está correta porque, na volta, o ônibus saia de Alter a cada uma hora, uma hora e dez minutos). No meu caso, quando cheguei, ele havia passado há cinco minutos.

Esperar por quase duas horas estando a meros 25 minutos da praia, estava fora de cogitação. Após muita negociação, consegui um taxista que me levou até o albergue, em Alter, por R$ 60, cinco reais a menos do que a frota licenciada cobraria para me levar até a rodoviária, em Santarém, onde eu ainda teria que apanhar um ônibus que levaria cerca de uma hora até meu destino final. Senti minha ideologia mochileira sendo ferida.

Já em Alter, graças à atenção da Samia e do Angel, donos do Albergue da Floresta, não tive dificuldades para encontrar onde almoçar. Os dois sabem o público com que estão lidando. É gente que se dispõe a conhecer novos lugares e abre mão do luxo para estar mais próximo da realidade local e fazer amizade com  pessoas vindas dos mais diversos países. Para isso, gastam, mas faz parte de sua ideologia não pagar além do que considerem justo. Tanto o albergue quanto o Restaurante Parada Obrigatória (onde um excelente PF sai a míseros R$ 10), portanto, não são alvo destas considerações. Apesar de eu achar que, já que outros não querem ou não fazem satisfatoriamente, Samia e Angel demoraram para oferecer a quem queira a oportunidade de ter um barzinho que sirva café da manhã no próprio albergue e que funcione a noite. Além de permitir que os hóspedes se reúnam, tornaria desnecessária a caminhada noturna até a pracinha apenas para se deparar com quase tudo fechado.

Outra coisa que me pareceu negativa é que os estabelecimentos que funcionam na vila, ou seja, em torno da praça central, não prezam pela regularidade. Num dia eu chegava e o lugar só abriria mais tarde ou havia fechado mais cedo. No outro, sequer funcionava (tudo bem que os funcionários do XBom tenham direito a uma folga, mas fechar numa quarta-feira sendo a única ou melhor lanchonete da cidade é uma boa forma de deixar de ganhar dinheiro. Por que não escalonar as folgas e, se necessário, contratar uma funcionária folguista? Na última quarta, só eu havia combinado de ir comer com outras três pessoas).

Falta também um posto de informações turísticas. E olha que isso é o mínimo, algo, digamos, passivo. Porque falta também alguém com a iniciativa de ir ao encontro do turista. Na quarta-feira, estava na praia quando aportou um destes grandes navios típicos da região. Um grupo de doze senhores e senhoras desceu disposto a esticar as pernas, conhecer a cidade e gastar. Nem a equipe do barco e muito menos alguém do balneário se dispôs a orientá-los. Caminharam um pouco pela areia e se sentaram em uma pracinha abandonada, a menos de cinco minutos do centro da vila. E se não fosse por mim, dali teriam voltado ao barco. Acompanhei-os até o mercadinho respondendo, do alto da minha experiência de três dias no lugar, às muitas perguntas sobre o Sairé, sobre as praias mais próximas, hotéis, etc, etc Sei que estava previsto que, no dia seguinte, o barco os levaria a uma "bela praia próxima", só não sei a qual e se isso traria algum benefício financeiro para os comerciantes de Alter. Agora, pense bem. Até na estrada postos de gasolina no meio do nada fazem acordos com as empresas de ônibus. 

Ao responder sobre o Sairé, me dei conta de quão importante seria um museu onde o turista pudesse conhecer a história da festa religiosa. Afinal, estamos falando de um evento que, segundo especialistas, tem 300 anos de tradição. Perguntei a respeito. Disseram-me que já houve, mas que está desativado. Vi uma única plaquinha escondida indicando o caminho, mas não o encontrei. E no mapa que apanhei, não havia qualquer menção a um museu do sairé.

Soube que Alter tem um administrador local, já que a prefeitura de Santarém está relativamente distante (não o bastante para justificar a falta de iniciativa para qualificar o receptivo turístico). Soube também que o Senac oferece cursos gratuitos à comunidade. Ainda assim, diante do forte apelo das praias fluviais em plena Amazônia e das recentes publicidades feitas pela Embratur, Alter do Chão ainda tem muito o que avançar.

terça-feira, setembro 20, 2011

Alterado

Repare bem na foto abaixo.


Praia de areia branca, água quente, vegetação praticamente intocada e, hoje, pouca gente.

Há, contudo, um detalhe em relação a este cenário paradisíaco capaz de dar nó nas ideias de quem está acostumado a tostar o couro sobre o claudicante sol litorâneo, tipo o caiçara semifosco aqui.

Este pequeno, porém significativo detalhe é que esta praia está a milhares de quilômetros da costa e, portanto, do oceano.

Ela é apenas uma das inúmeras praias fluviais, ou seja, de rio, que surgem por todo o país nesta época do ano. Em função da falta de chuvas, o nível dos rios baixa, trazendo à tona bancos de areia que proporcionam que as pessoas desfrutem como se estivessem numa legítima praia. Na Região Norte, isso equivale à temporada de verão, com milhares de pessoas fugindo do calor (obs: são quase 17 horas e eu escrevo enquanto espero o sol baixar um pouco para dar mais um mergulho)


Em se tratando de praia de rio, os conhecedores dizem que poucas se equiparam as do balneário paraense Alter do Chão, em Santarém (fotos). Visitar Alter é como viajar para uma praia tão bela quanto as mais bonitas do país (Litoral Norte de São Paulo, Sul do Rio de Janeiro, Pipa, Florianópolis) e, ao mesmo tempo, conhecer a Amazônia.

Eu hoje dei meu primeiro mergulho no rio. É diferente. Ao invés da usual areia, é preciso se acostumar a pisar sobre uma camada de folhas submersas. Ao menos próximo às margens. Em função deste fundo, a água se torna escura e a visibilidade é praticamente zero. Sem o sal oceânico é mais difícil boiar e até mesmo nadar. Em compensação, o efeito do sol impiedoso sobre a pele é menor. Ainda bem, porque a água, é quente. Mas a brisa e seu efeito nas árvores é agradável.   

Infelizmente, este é um daqueles cenários cuja beleza as fotos não dão conta de demonstrar. Visto do alto então, a paisagem é embasbacante. Só vindo conhecer Alter do Chão pessoalmente para entender minha surpresa por tão poucos brasileiros já terem ouvido falar neste paraíso terreno.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Parem as Máquinas! Tucuxi é bicampeã


Atenção, Guilherme. Atenção todos. Notícia em primeiríssima mão.

foto: Ronaldo Ferreira - www.guiacuca.com.br
O Boto Tucuxi voltou a conquistar o Sairé, um dos mais tradicionais eventos folclóricos do Pará, realizado neste último fim-de-semana. O resultado foi anunciado esta tarde e centenas de pessoas saíram às ruas de Alter do Chão, balneário de Santarém, no oeste paraense, para festejar a vitória.

Com o enredo "O Encanto do Sairé", com o qual contou a origem da própria festa e a lenda do boto que se transforma em um belo rapaz que seduz as mulheres ribeirinhas, o Tucuxi superou o Boto Cor-de-Rosa por 17 pontos. Ao votar, os jurados avaliam quesitos como figurino, música e encenação.

Segundo Rosane Volpatto, a tradicional festa religiosa acontece há mais de 300 anos e mantém intacto seu simbolismo e essência. Sua origem remonta às missões dos padres jesuítas para evangelizar os índios da Amazônia, empregando música e dança para isso. (Rosane Volpatto - Alter do Chão)

Realizada todos os anos no mês de setembro, a festa coincide com a época de estiagem na região, quando o nível dos rios baixam, trazendo à tona faixas de areia branca e fina que se assemelham como as das praias mais badaladas do país. Além dos paraenses, Santarém, em particular Alter do Chão, atrai milhares de turistas, incluindo muitos estrangeiros, atraídos pelo que muitos guias de viagem apontam como uma das mais belas praias fluvias do Brasil.

O Puerto Madero Amazônico


Não. Não é Puerto Madero. É, a meu ver, melhor, embora menor. Primeiro porque tem a Amazônia brasileira como cenário. Segundo, porque o atendimento é feito pelos simpáticos paraenses (do que você pode inferir o que quiser, mas não sou eu quem estou afirmando).

É a Estação Das Docas, ponto turístico da capital paraense, Belém, surgido da restauração de um trecho de 500 metros do antigo porto. Restaurantes onde a gastronomia local, sorveterias cuja principal matéria-prima são as frutas regionais, cafeterias, uma livraria e música ao vivo compõem a receita certa para atrair não só quem é de fora, mas os próprios moradores de Belém, que acolheram o empreendimento como "um convite à contemplação da bela Baía do Guajará".

O toque de originalidade fica por conta do aproveitamento da velha estrutura de trilhos onde, hoje, funciona a plataforma em que os músicos de um dos três armazéns se apresentam. A coisa funciona assim: a estrutura fica suspensa e se desloca sobre os trilhos existentes acima das mesas da área interna do armazém. Assim, independente de onde o cliente estiver sentado, a banda passará acima de sua mesa, permitindo-lhe vê-los tocar.

É um lugar agradável e interessante, embora não seja barato (na média, R$ 40 o buffet ou um prato individual. Há um único quilão, cujo nome eu não me recordo agora, onde dá para, comparativamente, economizar. E o melhor: aceita Ticket Restaurant).

Agora, ao contrário da versão portenha, a Estação Docas é resultado de uma ação de revitalização que, infelizmente, ainda não conseguiu transcender as grades que a separam do restante do bairro. Para se ter uma idéia, embora apenas duas quadras separem o Hotel Ver-O-Peso, onde estou hospedado, do local frequentado por turistas e bem-aventurados locais, eu quando voltava um pouco mais tarde apertava o passo, vigilante e receoso.

Este é o ponto negativo da capital paraense. Alguns de seus principais atrativos turísticos, como o Mercado Ver-O-Peso (ao lado da Estação das Docas), o prédio do Mercado Municipal, as praças do Relógio e D. Pedro II, o Forte do Presépio, a Catedral da Sé e outros localizados nos bairros Comércio e Cidade Velha estão em meio à áreas praticamente abandonadas que afugentam alguns turistas. Duvido que muitos fizessem o que eu fiz e decidissem caminhar por ali de dia, que dirá a noite, horário em que, em alguns pontos, é preciso caminhar pela rua ou saltar por cima dos corpos adormecidos embriagados nas calçadas. (Para quem é de Santos, São Paulo ou Rio de Janeiro, basta pensar nas áreas centrais da cidade. Só que, aqui, é onde está a parte mais saborosa da lucrativa galinha dos ovos de ouro que é o turismo, de forma que não dá para entender tal estado de abandono).

A iniciativa não deveria precisar de comparações com Puerto Madero, mas, infelizmente, nosso deslumbramento com o senso comum e falta de curiosidade nos faz comprar a falsa ideia de que tomar um vinho no porto argentino é chique, ao passo que almoçar um filhote no tucupi é um exótico programa de índio. Mesmo que, em ambos os locais, eu tenha encontrado moradores de rua revirando sacos de lixo. E que, no Pará, além da música ambiente ter um alegre sotaque caribenho, a sobremesa sejam os inigualáveis sorvetes de frutas amazônicas, como o cupuaçu.    

sábado, setembro 17, 2011


Que os manauaras não me levem a mal, mas na minha humilde e imparcial opinião, Belém do Pará é mesmo a mais charmosa e descolada capital do Norte do país. Feiras populares como a do Mercado Ver-O-Peso, largas avenidas arborizadas, edificações centenárias, teatros, igrejas, museus e uma pujante cena cultural. Com destaque para a música, conforme pude ver hoje (17). Em apenas sete horas na cidade eu já assisti a dois shows, perdi outro e ainda tenho pela frente um festival com oito bandas locais e encerramento a cargo do Otto, que chegou à cidade no mesmo voo que eu.

Além disso, Belém é uma experiência física: você sai do aeroporto e a roupa gruda em seu corpo. Exagero meu, mas que a proximidade do Rio Guamá é muito bem-vinda, é. Por isso, optei por me hospedar no Hotel Ver-O-Peso (91-3241-2022), que me foi indicado por amigos. As acomodações são simples e mal-conservadas, mas o preço e a localização compensam: de frente para o mercado popular; a menos de cinco minutos de caminhada da Estação Docas e seus restaurantes e barzinhos e próximo a vários pontos turísticos. Além do mais, dá para chegar fácil pegando um ônibus executivo (R$ 3) no aeroporto. O negócio é a noite. Pouco recomendado para mulheres sozinhas. 

Quanto aos shows das bandas Arsenal Vil e Octoplugs, logo mais eu disponibilizo aqui mesmo alguns vídeos das apresentações, mas adianto que me surpreenderam positivamente. Ainda que a segunda tenha sido prejudicada por problemas que a vocalista teve com sua garganta devido ao necessário ar-condicionado. Agora, que é legal descobrir que há uma banda fazendo um bacana trabalho autoral em Peixe-Boi, cidade paraense de cerca de 7 mil habitantes, é.  E a Arsenal Vil, pelo que vi, já tem um certo nome entre o público da capital paraense que curte seu som inspirado no rock e no blues do fim da década de 1960 e 1970.    

Os shows gratuitos aconteceram durante o Ensaio Aberto, evento semanal realizado pelo selo Na Music em parceria com a Associação Pro Rock e que acontece na loja Ná Figueredo (Av. Gentil Bittencourt, 449), além de ser transmitido via web.

sexta-feira, setembro 16, 2011

A pessoa é para o que nasce


No dia em que os balões coloriram minha quadra, eu enfim compreendi que assim como tem gente que nasce com talento para tocar um instrumento, atuar, escrever, surfar, entalhar em madeira, politizar, cozinhar, xavecar, etc, etc, tem que haver quem nasça e lapide o talento para ser público. É o meu caso, um observador semifosco, porém, atento e privilegiado.  


Aposta no Futuro

Ellen Oléria recebe Emicida e Hamilton de Holanda para gravação de seu primeiro DVD

Sexta-feira, 9. O jornal Correio Braziliense noticia que a atração local Ellen Oléria tocará no 6º Encontro Nacional de Motos. Só que o nome da artista não consta da programação divulgada no site do evento. Descubro o telefone da organização e ligo para esclarecer a dúvida.

"Não. Ela não vai tocar. Houve um erro. E, agora, tem um monte de gente ligando para saber dela", diz o sujeito, destacando que, apesar do equívoco, Rita Lee, Frejat e Blitz estão confirmados.

Sábado, 10. O franco-argentino Gotan Project toca de graça na área externa do Museu Nacional e atrai para o local um dos maiores públicos que já vi em um show em Brasília. Coisa de não sei quantas mil pessoas. Como eu, há gente que chega cedo para aproveitar a canja de Ellen Oléria em uma das apresentações que antecedem o show principal. Participação, aliás, divulgada apenas por ela própria, nas redes sociais. O bastante para fomentar o boca a boca.

Quinta, 15. O projeto Açougue Cultural T-Bone traz para seu já tradicional evento de rua nada mais, nada menos que Milton Nascimento. Segundo o Correio Braziliense, cerca de 8 mil pessoas vão ao delírio durante o show gratuito ao ouvir o mineiro cantar Coração de Estudante, Travessia, Maria, Maria, entre outros sucessos.

Em meio à ampla divulgação do show do Milton, surge nas redes sociais a informação de que Ellen Oléria irá gravar, na mesma noite e no mesmo horário, seu primeiro DVD. Quando o também músico Frango Kaos (Galinha Preta) anuncia o início do show, o pequeno teatro de Arena do Sesc Garagem já não comporta mais ninguém.

Fui um dos que, afortunadamente, optaram por Ellen. Bastou duas músicas para me convencer de duas coisas: estou assistindo a uma das apresentações mais emocionantes que já vi na vida e, principalmente, de que os fatos da última semana são um indício de que falar da Ellen Oléria é falar do amanhã. E me emociono ao testemunhar o crescente reconhecimento de tal explosão de talento.

Como já escrevi antes, a brasiliense é a grande aposta para quem gosta de brincar de antecipar sucessos. Pule de dez que ela, que já é uma das maiores revelações da música brasileira, logo, logo vai estourar.

Sua voz potente é, ao mesmo tempo, versátil. Mesmo durante as baladas seu swing salta à vista. E ela sequer precisa forçar a barra reivindicando a tal "pegada black" que tantos simulam ter. As letras de suas canções são boas, com refrões que colam na memória e, mesmo cheias de referências brasilienses, podem ser apreciadas e conquistar o público de qualquer parte. É carismática. Tem presença de palco. E aquela credibilidade que a maioria dos artistas só conquista com bastante tempo de estrada e que lhes permite explorar toda sua potencialidade, não se prendendo a apenas um gênero.

Esta versatilidade ficou patente durante a gravação do DVD. Se a conhecesse, Buscapé diria o mesmo que disse, no filme Cidade de Deus, sobre a festa do Bené: Ellen é tão bacana que só ela mesma para reunir a galera black, as cocotas, a turma do hip-hop das cidades-satélites, playboys e patricinhas do Plano Piloto, idosos, engravatados e mudérnos, homossexuais e semifoscos. E para, ainda pouco conhecida no cenário nacional, colocar no palco o hypado Emicida e o bandolinista virtuose Hamilton de Holanda.

Gritos de "Ellen, te amo", "Linda" e "Poderosa", pontuaram toda a apresentação, entrecortados pelo coro da plateia que cantava junto em músicas do cd independente Peça (2009). Coro que cresceu quando o público identificou a introdução de Testando, que já vem sendo tocada em algumas rádios e na MTV. Aí então cantora, que começou aparentemente contida, se soltou de vez. E se jogou com a segurança proporcionada pela excelente banda que a acompanha, da qual, embora todos sejam igualmente bons, não há como não destacar a baixista Paula Zimbres (que classe tocando seu instrumento!) e o guitarrista Rodrigo Bezerra.

Compartilho aqui alguns vídeos da apresentação, mas recomendo: comprem ou baixem o cd, assistam ao show se puderem e não deixem de comprar o dvd quando ele chegar às lojas. E aí, quando Ellen Oléria estiver fazendo um puta sucesso, você vai poder dizer que a acompanha desde antes dela se tornar nacionalmente conhecida. 

quarta-feira, setembro 14, 2011

Blogs do Além

Um bem-humorado papo com o autor, Vitor Knijnik, durante o lançamento do livro Blogs do Além (ed. Realejo), em Brasília, no dia 13/09/11. Mediadora: Cynara Menezes (CartaCapital)

sexta-feira, setembro 09, 2011

Pecados Capitais


_ Senhor,  perdoai a minha ira, mas a avareza e a preguiça deles é indigna de vossa graça. Portanto, se não for blasfêmia minha, que esta bolha espúria exploda e eles tenham que se haver com aqueles que destrataram e menosprezaram, clamando por um cliente, inclusive aos finais de semana e feriados.



Mudei-me para Brasília há seis anos, onde já morei em três diferentes lugares. E toda vez que tenho que me mudar é a mesma história: me aborreço profundamente, a ponto de pensar em deixar a cidade de que aprendi a gostar por razões que não a qualidade da prestação de serviços.

O problema não é só o valor superfaturado dos aluguéis cobrados no Plano Piloto (onde a especulação grassa), mas também o péssimo atendimento de quase todas as imobiliárias locais. Do alto do poder de quem sabe que a procura por seu produto é maior que a oferta, a maioria delas beira o descaso no trato com os interessados em alugar algo.

Não exagero e todos os amigos com quem converso tem uma experiência desagradável ou desgastante para contar. A queixa mais frequente diz respeito ao fato de as imobiliárias não funcionarem aos sábados. Ou seja, justamente no dia em que mais gente está de folga e pode procurar um imóvel com calma, elas fecham as portas. A mensagem é clara: os interessados que faltem ao trabalho durante a semana ou se virem durante o expediente, pois não somos nós que precisamos de vocês.

Quando digo que quem insistir em procurar um lugar minimamente satisfatório será obrigado a negociar um dia de folga no trabalho estou me referindo a outra prática muito criticada por todos com quem conversei: a entrega das chaves para a visita ao imóvel. Se você acha que as coisas serão fáceis porque é um eventual cliente prestes a abrir mão de uma dinheirama por um cubículo abafado de 40 m², esqueça.

Ainda que opte por continuar vivendo na mesma região e queira visitar um apartamento no bloco vizinho ao que mora, o interessado terá que cruzar a cidade para apanhar as chaves na imobiliária. E, depois de ver que o pequeno cubículo não foi pintado, tem azulejos quebrados e a lâmpada do banheiro está pendurada ao soquete por um fio, terá que refazer o mesmo percurso para devolver as chaves e apanhar seu documento de identidade de volta. Acho provável que a imobiliária fique com o RG para impedir que alguém revoltado com a perda de tempo arremesse as chaves numa boca-de-lobo. Imagine o que representa em tempo e dinheiro todo este vai-e-vém para um semifosco como eu, que se recusa a ter um carro.

Na capital federal, um corretor só te sorri se você estiver procurando um apartamento à venda (algo em torno de R$ 600 mil por três quartos construídos ainda durante a década de 1960). Água gelada, imagino eu, deve ser tratamento dispensado apenas a quem compra uma cobertura (mais de R$ 1 milhão). Portanto, por que ele iria perder seu precioso tempo e sair à rua, enfrentando o sol e a seca, para negociar um mísero contrato de locação? E competentíssimos que são, jamais irão confiar de deixar as chaves com o porteiro do prédio. Você que vá buscá-las com ele.

Além do mais, os corretores são pessoas muito sensíveis. Se quiser ofendê-los, tente negociar o valor anunciado. Ofereça-se para pagar alguns meses adiantados em troca de um desconto. Argumente que uma quitinete em uma quadra comercial, em cima de lojas, bares ou restaurantes, quase insalubre devido ao calor armazenado pela laje, não vale mais de R$ 1 mil. Alguns fingirão te ouvir e até aceitarão ficar com seu contato, prometendo te dar uma resposta. Não se iluda. Eles jamais ligarão, certos que estão de que logo, logo, aparecerá algum interessado.

O problema todo é que no Plano Piloto há poucos imóveis para pessoas que vivem sozinhas. O financeiramente acessíveis ficam quase que a maioria em quadras comerciais.  Ou seja, originalmente, não foram planejados para servir de casa, mas sim de escritórios ou coisa parecida. Quando tem quarto, não tem área de serviço. Quando tem uma cozinha onde cabem fogão e geladeira, não há onde instalar uma máquina de lavar. E como todo dia chegam novos concursados à cidade, quem tem um apartamento sabe que, peça quanto pedir, mais dia, menos dia, encontrará alguém cansado de procurar e com pouca disposição para enfrentar o trânsito para as cidades-satélites. Daí um sujeito ter a desfaçatez de pedir R$ 1.8 mil por um apartamento de 55 m², no final da Asa Norte.

Há pouco o que fazer em relação aos valores. É a lei da oferta e da procura, regra sacra do capitalismo. Ou pague, ou mude-se para uma cidade-satélite e renda-se; conforme-se com pegar ônibus ou metrôs lotados ou comprar um carro, o que, definitivamente, não impedirá que você perca parte de seu precioso tempo no trânsito. Agora, que um mínimo de respeito e atenção por parte dos corretores ajudaria a minimizar esta indignação, ajudaria. 

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Para a minha surpresa, a revolta com o mercado imobiliário gerou protestos também em Santos (SP), onde os valores dos aluguéis são comparativamentes muito mais baixos que em Brasília, mas os salários também são. Se tiver interesse, clique no link abaixo para ler a matéria do jornal A Tribuna. Quem sabe o caminho não é este: cobrar das autoridades o respeito a outra lei que não a da oferta e da procura, a constitucional função social da propriedade.

Mercado de imóveis em Santos é alvo de protesto

quinta-feira, setembro 08, 2011

O Copo Transbordou?


ouça a matéria:

fotos: Marcello Casal/ABr


Após catalisar a insatisfação popular com a corrupção e a impunidade e estimular milhares de pessoas a aproveitarem o Dia da Independência para protestar, os idealizadores da Marcha Nacional Contra a Corrupção garantem que, se depender deles, a pressão popular por mudanças vai continuar.

“Nossa ideia agora é aproveitar a grande adesão e partir para manifestações pontuais, tentando mudar aos poucos as leis atuais. A marcha foi um evento genérico contra a corrupção. Agora, iremos atrás de mudanças efetivas”, explicou Luciana Kalil, uma das organizadoras do ato. Segundo ela, o grupo planeja colher assinaturas para apresentar projetos de lei de iniciativa popular com o objetivo de, por exemplo, extinguir o voto secreto na Câmara dos Deputados e no Senado.

Segundo José Jance Marques, que ajudou na divulgação da marcha, os organizadores planejam esperar a reação dos políticos, “que devem ter entendido o recado”, para então planejar os próximos protestos. “A cobrança tem que continuar e, depois de ontem [7], não dá para deixar passar em branco essa oportunidade. A ideia é sim fazer outros atos”, disse Jance, lembrando que a página da marcha no site de relacionamentos Facebook continuará ativa.

Promovida em várias cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a marcha levou, somente em Brasília, entre 25 mil e 30 mil pessoas à Esplanada dos Ministérios. Precisar o número exato de participantes é quase impossível já que, na capital federal, muita gente que assistia ao desfile oficial de 7 de Setembro aderiu ao protesto.

“O resultado foi positivo e nos surpreendeu demais. Com a adesão de parte do público que estava na Esplanada para assistir ao desfile, conseguimos fazer com que o número de participantes fosse muito maior que as 25 mil confirmações que tínhamos no Facebook”, avaliou Luciana, destacando que a marcha obteve inclusive a atenção da imprensa internacional, com pedidos de entrevistas feitos por jornais da Alemanha, dos Estados Unidos e da Argentina.

Para Luciana, a população está cansada e descrente com as tradicionais formas de organização política e, por isso, não cabia criticar alguém em particular na manifestação. “Fomos procurados por alguns partidos e políticos que queriam que levantássemos bandeiras específicas, contra alguém em particular, mas nunca aceitamos isso. Conseguimos realizar uma marcha apartidária.”

O apartidarismo levou Luciana e outros organizadores a ouvir acusações de não terem “formação política”, fato que  ela admite e que não vê como algo negativo. “Eu realmente não tenho muito conhecimento sobre os partidos políticos e nunca havia participado de manifestações. Fizemos a coisa toda de forma amadora e não sabíamos nem o que fazer quando vimos tanta gente reunida. Só que, além da indignação, foi justamente o caráter apartidário da marcha que motivou tanta gente a participar. Ninguém ali queria empunhar a bandeira de qualquer partido, mas sim, a do Brasil.”

Para o cientista político Luciano Dias, o desafio dos organizadores da marcha será transformar a manifestação apartidária de insatisfação popular em algo capaz de promover transformações políticas reais. Para ele, embora seja uma iniciativa importante, a crítica genérica à corrupção é pouco eficaz.

“A marcha foi uma iniciativa importante. A questão agora é se essa manifestação conseguirá se tornar um movimento político. E, para isso, é preciso ter um objetivo claro, como a aprovação de uma nova legislação anticorrupção”, destacou o especialista.

Sobre a diferença entre a marcha e outras iniciativas que não obtiveram o mesmo respaldo popular, como a tentativa de partidos de oposição de instalar uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), o cientista respondeu que a “a oposição não tem legitimidade para liderar um movimento contra a corrupção, pois ela também tem problemas nesse sentido”.

O apoio de entidades civis como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), segundo Luciana, só se concretizou nos últimos dias antes da marcha e foi mais de ordem institucional. Tanto que, garante ela, foram os próprios manifestantes que contribuíram para a confecção de cerca de 20 mil panfletos de divulgação do ato e para a compra do tecido e da tinta usada para as faixas contra a corrupção.

“Durante todo o tempo, destacamos muito a responsabilidade de cada um e que qualquer mudança só será possível com a união do povo. Deu para ver que está todo mundo insatisfeito e que há uma vontade de mudança muito grande, afirmou a vendedora autônoma.

Diante do resultado da marcha e da atenção que vem recebendo da mídia, Luciana diz que tem ouvido brincadeiras sobre a possibilidade de disputar um cargo eletivo. Possibilidade que ela descarta. “Acho mais fácil eu ajudar a conseguirmos 1 milhão de assinaturas [para um projeto de lei de iniciativa popular] do que entrar ali [no Congresso Nacional] e conseguir mudar a maioria dos deputados. É muito mais fácil conseguirmos a mobilização do povo”.

quarta-feira, setembro 07, 2011

O MAR DO ANO


Você já pensou em conhecer o Tahiti, na paradisíaca Polinésia Francesa? Pergunta besta, né? Quem é que não sonhou com isso ao ver este mar verdinho e a vegetação e as montanhas ao fundo? Parece o lugar ideal para passar a lua-de-mel, não? 

O que você talvez não saiba caso não seja surfista e não se interesse por nada relacionado ao esporte é que, este destino, que já era caro, tende a ficar ainda mais caro devido à grande procura dos últimos anos. Tudo porque é neste exclusivíssimo canto abençoado do planeta que se encontra um dos maiores desafios que quem corre onda pode encontrar: a temida onda de Teahupoo.

Ela nem é a maior das ondas já mapeadas (há, no Hawaii, por exemplo, outras maiores, como Jaws), mas, certamente, é uma, senão a mais, perigosa. Não à toa seu nome significa, no idioma local, "praia dos crânios quebrados"). 

No último dia 27 de agosto ocorreu o fenômeno que todo surfista disputa a primazia de presenciar algo conhecido, entre os iniciados, como "O MAR DO ANO", classificado assim, de forma superlativa. É um verdadeiro pesadelo. Repare que ao contrário do que estamos acostumados a ver, a onda não se eleva muito acima do nível do mar. Na verdade, é como se ela sugasse toda a água a sua frente, de forma que a base da onda fica "um degrau" abaixo do nível do oceano. Imagine o volume e a força da crista batendo sobre você. Pensou? Agora considere que até o fundo há  pouco mais de um metro de água para você afundar. E que, este fundo, não é de areia, mas sim de pedras. Pior. De afiados corais. Sinistro, não?

Neste dia em particular, vários brasileiros estavam no mar. Inclusive Maya Gabeira, uma das poucas mulheres do mundo com disposição para enfrentar tal monstro (é ela que aparece tomando uma vaca insana logo no início do vídeo)

Achei que valia a pena compartilhar com meus três amigos o filme e o depoimento do surfista Bruno Lemos. Assim vocês irão entender quando eu disser que meu sonho é viajar por quase três dias  inteiros só para apanhar um barco até o canal (onde fica o seleto público que pode prestigiar este show) e apenas admirar os mais malucos surfistas do mundo colocando seu pescoço em risco (o profissional Neco Padaratz uma vez tomou um caldo, ficou preso nos recifes, voltou à tona quase desacordado e por pouco não abandonou o esporte. Levou anos para ele voltar a surfar em Teahupoo). E  também irão compreender quando eu brincar que, se tivesse que escolher, preferia encarar o Anderson Silva a esta onda. 


O MAR DO ANO - Bruno Lemos

A sessão de tow in do dia 27 de agosto em Teahupoo, Tahiti, foi uma das mais impressionantes que já presenciei. As ondas estavam perigosas e “insurfáveis” para qualquer ser humano normal.

Apenas alguns poucos surfistas no planeta têm condições de encarar um swell deste calibre. Fiquei feliz e orgulhoso ao ver alguns dos meus amigos exibirem muita categoria neste dia. Tive oportunidade de filmar e fotografar a sessão inteira do canal.

Mas foi muito difícil de captar um bom material. A quantidade de barcos literalmente se batendo no canal de Teahupoo era grande. Na maioria das fotos sempre havia um barco, um jet ou uma cabeça na frente. Mas mesmo assim foi show.

Neste vídeo consegui reunir algumas das melhores imagens. Não tem todas as ondas do dia, pois além desse tumulto no canal, a chuva caía forte em algumas horas. Ficou difícil de registrar tudo, mas de qualquer forma não poderia deixar de fazer um videozinho registrando esse dia tão especial!

segunda-feira, setembro 05, 2011

A Cara Deslavada do Jabá

Tem coisas que fazem do domingo um dia promissor. Coisas simples como acordar a hora que o corpo quiser. Ou permanecer deitado um bom tempo olhando o céu e as árvores através do janelão (aliás, como os engenheiros podem ter trocado os janelões de meia-parede de cinquenta anos atrás pelas atuais clarabóias vedadas por uma persiana e, ainda assim, falar de sustentabilidade). Um bom e demorado café da manhã. Assistir à reprise do Todo Mundo Odeia o Cris. Um banho de mar, piscina, cachoeira ou mesmo de chuveiro para tirar a fuligem dos embalos de sábado a noite. Almoço com amigos sem hora para acabar. Talvez um cochilo no meio da tarde. E um show de graça no final da tarde/início da noite. Para não entrar em detalhes, coisas que fazem o esforço valer a pena.

Infelizmente, outras situações são capazes de estragar não só o domingo como também azedar a semana. Tipo, ler a revista Veja. Infelizmente, há outros exemplos esporádicos (a Veja não. A Veja é constante). O que dizer, por exemplo, da piada abaixo, publicada no Correio Braziliense.

"O cenário pop nacional andava morno nos últimos tempos. No entanto, dois cantores - filhos de ícones da música brasileira - resolveram agitar a cena. (NRSF: atenção agora) FIUK e WANESSA ... Cada um ao seu estilo, os dois trazem elementos novos para a própria carreira e... PARA O CENÁRIO DA MÚSICA BRASILEIRA" (os grifos de espanto são deste redador semifosco que vos escreve)
Deve ser - tem que ser - uma brincadeira de mau-gosto dos dois repórteres que assinaram a matéria `A Cara Remixada do Pop´, sustentando que "Fiuk e Wanessa trazem novos ares para o cenário musical brasileiro".

Rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs,rs Pois é. Uma brincadeira. Pensando assim, ao contrário da Veja, que me dá azia, o Correio me fez rir.

Agora, se não for brincadeira, então a tese de que Fiuk e Wanessa representam "novos ares para o cenário musical brasileiro" explica porque, ao invés de se pautar por jornalões, rádios comerciais e programas de auditório, as pessoas tem preferido os blogs e sites especializados que conhecem e acompanham criticamente Rômulo Fróes, Criolo, Emicida, Cérebro Eletrônico, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Roberta Sá, Macaco Bong, Ellen Oléria, etc, etc, etc ...

E se alguém quiser uma dica para tornar um dia melhor: assista aos dois vídeos abaixo, do Rômulo Fróes, e corra pro site de compartilhamento Musicoteca para baixar, de graça, o cd de um dos muitos novos verdadeiros artistas que, de fato, tem algo novo a acrescentar à música brasileira contemporânea. Aliás, tá aí. O texto do Correio não só não me estragou a semana como acabou ainda me dando a chance de divulgar o site Musicoteca, no qual dá para conhecer o trabalho de vários outros artistas bacanas.


sexta-feira, setembro 02, 2011

Dois bons motivos para ir ao cinema no fim de semana

 
Uma comédia: Quero Matar Meu Chefe. 

Se você gostou de Se Beber Não Case, Um Parto de Viagem e SuperBad é forte candidato a se divertir à beça com o pastelão dirigido pelo versátil Seth Gordon (do ótimo documentário Freakonomics, mas também do açúcarado Surpresas do Amor). Boas piadas, ritmo seguro e um elenco afinado, com ótimas atuações de todos, mas principalmente de Kevin Spacey, Jamie Foxx e do quase irreconhecível Collin Farrel. Isso para não falar, lógico, do "esplendor artístico" da para muitos sem sal Jennifer Aniston, provando que o ex, Brad Pit, pode ter se equivocado.



Um documentário: Filhos de João - O Admirável Mundo Novo Baiano

A cultura das celebridades ainda dava os primeiros passos no país quando, no início da década de 1970, os Novos Baianos surgiram com uma postura libertária e gregária que transcendia a música, levando os integrantes da banda inclusive a viverem juntos, num esquema comunitário, em uma chácara. Além de contar essa história, o excelente documentário de Henrique Dantas explica a influência de João Gilberto sobre a banda e (anteriormente) sobre o movimento Tropicalista. Um filme belíssimo, daqueles que te fazem querer voltar ao cinema no dia seguinte.   

quinta-feira, setembro 01, 2011

Natureza Resiliente






“Há uma carga dramática convulsiva na copa das árvores quando elas ficam nuas de folhas e se chocam contra o cintilante do céu de Brasília. […] As árvores secas de agosto me lembram a coragem de quem suporta dificuldades sem se fazer de vítima nem de mártir. São dramaturgia pura. Monólogo do existir em tempos penosos”



Conceição Freitas, Valente e Bela, Correio Braziliense, 10/07/11