sábado, janeiro 30, 2010

A boa hoje é...

Aos colegas brasilienses: hoje tem Frejat (Barão Vermelho), de graça, na área externa do Conjunto Cultural da República, na Esplanada. O cantor, compositor e guitarrista carioca se apresentará as 20 horas, tocando o repertório de seu terceiro trabalho solo, Intimidade entre Estranhos, lançado ano passado. Amanhã (31), as 19 horas, Frejat toca na Praça do Relógio, em Taguatinga, também de graça.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Gabriel García Marques: Primeiros textos jornalísticos (1948/1952)

"Nada [do antigo sentido poético] encontramos no desolado patrimônio dos nossos antepassados. Recebemos nosso tempo desprovido dos elementos que faziam da vida uma jornada poética. Entregaram-nos um mundo mecânico, artificial, no qual a técnica inaugura uma nova política da vida [...] Com este mundo materializado, onde os peixes têm de abrir água aos submarinos, com esta civilização de pólvora e clarins, como podem nos pedir que sejamos homens de boa vontade?"
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Gabriel García Márques, em crônica de maio de 1948, extraída do primeiro de cinco volumes que a Editora Record publicou compilando toda a obra jornalística (reportagens, editoriais, crônicas e resenhas) escritas pelo autor de Cem Anos de Solidão e de O Amor nos Tempos do Cólera, graças aos quais é considerado o maior romancista hispano-americano do século XX.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

O Alencar dos Verdes


Agência Brasil
repórter: Luana Lourenço
foto: Renato Araújo (ABr)


A senadora Marina Silva (PV-AC) confirmou hoje (28) o empresário Guilherme Leal, presidente da Natura, como provável candidato à vice de sua chapa para as eleições presidenciais.

“Há o desejo de ambas as partes, do PV e de grande parte do empresariado brasileiro”, disse em uma entrevista coletiva em Porto Alegre. Marina está na cidade para atividades do Fórum Social Mundial.

Já Leal disse que a confirmação da chapa passará por um processo de amadurecimento, como a composição de outras candidaturas, que assim como a de Marina, ainda não anunciaram formalmente os vices.

“Quando me filiei foi um gesto político. Tinha o significado de que estou a serviço do movimento que a Marina está promovendo. Os desejos, as disponibilidades políticas estão colocadas, precisam ser amadurecidas”, afirmou o empresário.

Segundo Marina, Leal é um empresário que discutia e se preocupava com a sustentabilidade “quando o tema ainda não era moda”. A senadora afirmou que como todos os pré-candidatos ainda não definiu uma plataforma de governo, mas que suas propostas deverão reconhecer e manter avanços das duas gestões anteriores, a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em relação às críticas sobre a pouca experiência como gestora, Marina lembrou os mais de cinco anos à frente do Ministério do Meio Ambiente e disse que o debate não pode ser reduzido a esse aspecto.

“Governar um país vai além da gestão. Se bastasse um técnico, com certeza o Lula nunca teria sido presidente, porque ele não tinha experiência de gestão”, lembrou.

Biscoito Fino Às Massas


Óbvio ululante: são raras, muito raras, as ocasiões em que a tv brasileira se digna a presentear os telespectadores com programas de qualidade, inteligentes e belos. E não por falta de capacidade ou de condições. É que, como já foi dito, ninguém nunca deixou de ganhar dinheiro subestimando a inteligência do público. Estão aí os realitys shows para comprovar a tese.

Aí, de tempos em tempos, talvez para se redimir dos pecados ou justificar o argumento de que os programas brasileiros estão entre os melhores do mundo, alguém decide lançar algo que preste.

Produzida pela O2 Filmes e pela Rede Globo, que a exibiu no segundo semestre de 2009, a série de TV Som & Fúria é um destes casos. Foi, sem sombra de dúvida, uma das melhores produções que a tv brasileira levou ao ar no ano passado, oferecendo biscoito fino às massas ao misturar Shakespeare às histórias dos atores que integram a Cia do Teatro Municipal de São Paulo.

Agora, lançada em dvd (R$50), é possível avaliar o conjunto da obra de mais de 8 horas de duração e se surpreender não só com a excelência da atuação de um elenco inspirado, mas também com a qualidade do roteiro e com a coesão narrativa, mesmo tendo sido dirigida por vários diretores (Fernando Meirelles, Toniko Melo, Gisele Barroco, Fabrizia Pinto e Rodrigo Meireles).

Difícil apontar a melhor atuação entre o elenco que reúne Felipe Camargo, Andréa Beltrão, Cecília Homem de Mello (a vice-secretária-geral da companhia de teatro, Ana), Dan Stulbach, Cris Couto, Daniel Dantas, Daniel de Oliveira, Gero Camilo, Maria Flor, Pedro Paulo Rangel, Wandi Doratiotto, Paulo Betti, Rodrigo Santoro e muitos outros ótimos atores.

Se puder, compre já. Se não, dê um jeito de tomar emprestado, alugue, baixe ou encomende ao seu "pirata" preferido pois coisa fina assim a tv não costuma reprisar em horários mais acessíveis.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

O Fim da História e as Últimas Chuvas

É chato lembrar, mas 63 pessoas já morreram no estado de São Paulo entre 1º de dezembro e o dia 27 de janeiro devido às fortes chuvas. Mais chato ainda é frisar que isso é, também, um problema político. E não estou me referindo aqui aos eventuais efeitos que isso trará para as eleições que se avizinham. Estou falando é da falência da Política como a ciência responsável por fixar as normas e as ações que assegurem o bem-estar de todos os cidadãos e da cidade como um todo.

Lógico que não há como os administradores públicos dançarem uma rumba pedindo aos céus que as chuvas cessem. Além disso, é óbvio afirmar que a população também tem uma parcela de culpa por jogar toda a sorte de lixo nas ruas. Porém...não parece surpreendente que as áreas mais atingidas sejam sempre as mesmas? Ou que as enchentes se repitam ano após ano, cada vez com maior intensidade, sem uma solução satisfatória?

Embora eu não ache justo jogar sobre o ombro de A ou B a responsabilidade pela origem de um problema estrutural que vem de décadas, também acho que os mesmos A ou B circunstancialmente no poder devem sim responder pela falta de ousadia política, por ambicionarem não mais que ser bons “gestores”, “gerentes” ou “técnicos competentes”. Isso compete ao funcionalismo público.

Há, porém, um bom número de cidadãos eleitores que não pensam como eu e que, descrentes em relação à política partidária, procuram um político com um perfil próximo ao do “funcionário do mês” a quem darão seu voto de confiança. Em geral, estas são as pessoas que defendem que “a cidade está pronta”, que não são necessárias mudanças e que, assim, esvaziam a representação política de sua carga ideológica.

As chuvas deste início de 2010, contudo, reforçam que aos que delegamos a representação política cabe mais que apenas gerir o já existente. Cabe alterar as prioridades conforme as necessidades e distribuir equitativamente as benesses do Estado, o que exige disposição para contrariar interesses e adotar medidas impopulares. Algo que um “gerente” é incapaz de fazer.

Esta discussão, no entanto, não se resume ao estado de São Paulo. Se se confirmarem ao menos parte dos terríveis prognósticos feitos por especialistas, a disputa ideológica irá se acirrar cada vez mais. A exemplo do “enfrentamento sem solução entre a expansão econômica e a conservação do meio ambiente", sobre o qual sugiro a leitura do livro O Ecologismo dos Pobres (ed. Contexto), do espanhol Joan Martínez Alier, um dos maiores teóricos do conceito de Justiça Ambiental, sobre o qual volto a postar, abaixo, o vídeo da ativista norte-americana Majora Carter.
São idéias que os que acreditam que a disputa entre classes está superada devem ter em mente, pois ao que tudo indica o "enfrentamento" agora se dá em outros termos e vai exigir cada vez mais a mediação política e não o simples "gerenciamento de crises" tão em voga entre as Polianas.


sexta-feira, janeiro 22, 2010

O jornalismo e o Haiti

Texto escrito pelo repórter Andrew Cawthorne, correspondente da agência de notícias Reuters, e reproduzido hoje (22) pelo O Estado de S. Paulo. As fotos são do fotógrafo Marcello Casal, da Agência Brasil

Jornalistas ajudam em desastres como o do Haiti?
ANDREW CAWTHORNE - REUTERS - DE PORTO PRÍNCIPE

_ "Pode me ajudar?"

_ "Ah... Talvez os soldados norte-americanos ou a Cruz Vermelha lá em cima possam".

_ "Não. Você pode me ajudar? Preciso que você ajude meu bebê".

A haitiana que levava uma criança ferida e febril me pegou desprevenido enquanto eu fazia algumas entrevistas com sobreviventes do terremoto em um campo de refugiados. Olhando nos meus olhos, com uma insistência digna, ela fez uma pergunta que se insinua desconfortavelmente na cabeça de correspondentes estrangeiros há gerações: podemos ajudar?
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Às vezes, como ocorre no Haiti nestes dias sombrios desde o terremoto do dia 12, o cronista não pode evitar se tornar participante, por mais que deseje usar o notebook ou a câmera como escudos. O rosto daquele bebê estava tão coberto de cortes, pus e feridas que era difícil de olhar. Em torno dele, no mesmo acampamento, havia 50 mil refugiados. Além dali, em uma miríade de acampamentos, havia centenas de milhares mais: desabrigados, famintos e machucados pelo terremoto. Não estavam lá, porém, para servirem de objeto de pena: muitos realizavam atos de heroísmo dos quais nós, escribas que proliferávamos como ervas daninhas, jamais seríamos capazes.
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Então nós ajudamos? Nós, as hordas que saltamos dos aviões para as boleias de caminhões, para reportar o desastre natural que colocou o Haiti terrivelmente de volta no mapa-múndi?
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Nossas incontáveis palavras e imagens certamente ajudaram a galvanizar uma reação internacional sem precedentes. Nossas visitas aos rincões de Porto Príncipe, onde ninguém estava recebendo nada, devem ter dado urgência e direção à entrega de ajuda. Demos voz aos desabrigados, e nossas reportagens sobre os resgates nos escombros e a solidariedade dos haitianos nas ruas trouxeram esperança.
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Para os detratores, porém, a mídia mais uma vez saltou dentro de uma tragédia a fim de explorar o sofrimento alheio, atrapalhar as equipes de resgate e desperdiçar recursos preciosos como gasolina, comida e água, necessários para manter nossas custosas operações. "UMA BOA AÇÃO POR DIA" E no longo prazo?
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Organizações como a minha mantêm um repórter em tempo integral no Haiti. A casa de Joseph Guyler Delva desabou, e ele mandou mulher e filhos para o Canadá, mas continua mandando notícias do seu país, e continuará a fazê-lo dia após dia, mesmo bem depois que os correspondentes que vieram "de paraquedas" já tiverem partido. Apesar disso, o interesse da mídia vai se apagar conforme os dias e semanas passarem, justo quando o Haiti mais precisa que o mundo fique ao seu lado no longo prazo.
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Jornalistas veteranos do mundo inteiro vieram cobrir o desastre haitiano e foi interessante ver como lidaram com a questão tantas vezes entredita da ajuda: o que fazer primeiro, fotografar ou recolher o bebê ferido? Alguns poucos se atiraram no esforço de auxílio, ajudando a transportar os feridos para postos médicos, fazendo algum atendimento médico básico, ou tentando encontrar os pais desaparecidos de crianças. Outros aplacaram suas consciências fazendo "uma boa ação" por dia. Alguns se ativeram ao seu trabalho, entendendo não ter capacidade ou vocação para aquilo que tantos médicos, soldados e agentes humanitários estavam lá para fazer.
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Cruzando a fronteira do Haiti para a República Dominicana, antes de embarcar de volta para casa, essas questões zumbiam na minha mente enquanto caminhões carregados de ajuda passavam correndo na direção contrária. Qualquer orgulho profissional no trabalho da semana passada parecia irrelevante, quase ofensivo. Imagens de missões anteriores no Iraque, na Somália e no Peru se alternavam em uma mente sonolenta e estressada. Furacões, conflitos, acidentes aéreos, deslizamentos e atentados a bomba se fundiam com as angustiantes visões e odores de Porto Príncipe. A questão da ajuda ardia mais ao fundo. O bebê? Ele recebeu tratamento, não se preocupe. Se eu ajudei? Simplesmente não sei.

Réquiem para um Sonho

Mais um belo filme do vencedor do Oscar, Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain). Antes de comentá-lo, no entanto, um preâmbulo.


O fato que ficou para a história é conhecido por todos: entre 15 e 18 de agosto de 1969 cerca de 500 mil pessoas se reuniram na pequena Bethel, há cerca de uma hora e meia de Nova York, para prestigiar o Festival de Woodstock. Durante três dias de “paz e música” (e lama, muita lama), hippies e outras tribos curtiram ao som de alguns dos maiores músicos da época.
Pelo palco passaram, entre outros, Richie Havens, Arlo Guthrie, Joan Baez, Santana, Mountain, Janis Joplin, Grateful Dead, Creedence Clewater Revival, Sly and the Family Stone, The Who, Jefferson Airplane, Joe Cocker, The Band e (ufa!) Jimi Hendrix...E aí já não é preciso dizer mais nada. Para bom entendedor, bastam estes nomes para demonstrar porque Woodstock é tido como um dos mais importantes acontecimentos culturais das últimas décadas, um marco da cultura pop, o festival dos festivais.
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Infelizmente, ao contrário do que muitos pensam, o evento não representa o início ou sequer o auge dos tempos de “paz e amor”. Na verdade, para muitos, Woodstock é o lusco-fusco, o ocaso do movimento, cujo fim simbólico ocorreria quatro meses depois, em um show gratuito dos Rolling Stones, realizado na cidade de Altamont, e durante o qual um fã seria morto por membros da gang Hells Angels, contratados para fazer a segurança dos músicos. Sobre isso, vale assistir ao documentário Gimme Shelter – Rolling Stones, relançado este mês.
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Isto é o que ficou para a história. A cena de milhares de jovens chafurdando na lama felizes, chapados de LSD puro e maconha, muitos protestando contra a Guerra do Vietnã ao som de excelentes músicos. Porém...como nos lembra Ang Lee, muitas outras histórias aconteceram durante Woodstock. Casais se formaram, namorados se separaram, gente pirou e, como sustenta Aconteceu em Woodstock, uns poucos encontraram a si próprios.
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Baseado no livro de memórias de Elliot Tiber (Taking Woodstock: A True Story of a Riot, A Concert, and A Life) - que teria convencido os organizadores do festival a realizarem os shows em sua cidade natal após outras comunidades, Woodstock entre elas, os terem expulsado – o novo filme de Ang Lee indica como os moradores da pequena cidade rural são afetados primeiro pela chegada das equipes responsáveis pelos preparativos do festival e, depois, pela horda de hippies que invadiu a cidade, levando consigo dinheiro e o caos.
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É neste contexto que Tiber vai ter a oportunidade de rever o relacionamento com seus pais, sua sexualidade e seus sonhos e projetos pessoais. Ou seja, Woodstock acaba servindo de pano de fundo para Ang Lee voltar registrar as difíceis relações familiares com a leveza que caracterizou seus primeiros filmes (A Arte de Viver e Banquete de Casamento), entremeando seu relato com considerações pessoais a respeito da inocência que caracterizou a época e da prevalência final do dinheiro sobre a ideologia.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Repórter de um tempo mau

Bendito Maldito – Uma Biografia de Plínio Marcos (editora Leya) é, sem qualquer demérito, a homenagem feita por um amigo a um dos mais importantes dramaturgos brasileiros das últimas décadas (um santista, vale ressaltar) nos dez anos de sua morte. Mas, acima de tudo, é um relato saborosíssimo de se ler.

No livro de exatas 500 páginas, o jornalista, ator e diretor teatral Oswaldo Mendes concilia objetividade jornalística e uma apurada pesquisa histórica ao relato de episódios que ele próprio vivenciou ao longo das conturbadas quatro últimas décadas do século XX, período em que Plínio lutou para sobreviver e ver sua obra, proibida pela censura, encenada.

Polêmico, transgressor (inicialmente, talvez mais por suas supostas “deficiências” do que por convicção), apaixonado por futebol e certamente muito divertido, Plínio é apontado por muitos críticos como o primeiro dramaturgo brasileiro a levar aos palcos tipos marginalizados nunca antes retratados como são: cafetões, prostitutas, gigolôs, drogados, trabalhadores do cais do Porto e toda a sorte de pobres não idealizados, personagens sem quaisquer convicções políticas ou consciência de classe, lutando para sobreviverem com um mínimo de dignidade.

Peças como Dois Perdidos Numa Noite Suja, Navalha na Carne, Barrela, Querô, Abajur Lilás e outras hoje são consideradas clássicas e continuam sendo montadas e inspirando filmes e outras formas de manifestações artísticas. Dois Perdidos, por exemplo, volta a ser apresentada em Santos no próximo dia 29, 40 anos após sua exibição na cidade ter resultado na primeira de várias prisões de Plínio.

Não bastasse contextualizar a vivência de Plínio e dar a devida dimensão a sua obra artística, Oswaldo consegue condensar várias outras biografias em seu livro. Para se ter uma idéia da extensão da pesquisa realizada pelo autor, o índice onomástico traz nada mais nada menos que 600 nomes. Ou seja, em meio às revelações sobre Plínio é possível conhecer e entender um pouco mais sobre a pujança cultural santista nas seis primeiras décadas do século passado, sobre a dama do Modernismo, Patrícia Galvão (Pagu), sobre Procópio Ferreira e sobre a diva do teatro, Cacilda Becker.

Destaque aqui para a pouca conhecida história de porque, em 1968, o jornal O Estado de S. Paulo decidiu extinguir o Prêmio Saci após um grupo de atores devolver os troféus ganhos em anos anteriores por entenderem que o jornal estaria apoiando a censura militar. Só lendo o livro para saber um pouco mais não só sobre o episódio, mas também como Plínio acabou indo parar em um debate televisivo com um parlamentar que defendia limites para os “excessos” do teatro. Ou porque, revoltado com o jornal, ele supostamente teria atirado uma pedra contra a porta do jornal.

Outro fato que me chamou a atenção foi a coerência de Plínio ao longo de toda sua vida. Encerrado o período militar, costumavam indagar ao dramaturgo se ele se sentia injustiçado por ter sido tão perseguido e por suas peças terem sido proibidas por tanto tempo, o que, de certa forma, o obrigou a se tornar camelô da própria obra, vendendo seus livros nas portas de teatros e de faculdades.

“Se sentir perseguido é coisa de bunda mole. Eu fiz por merecer! Eu sacaneava a milicada a toda hora e conheço bem a lei das causas e efeitos. Se eu dava uma pedrada na cabeça do Sodré [Roberto de Abreu Sodré, ex-governador de São Paulo] o que ia esperar? Que eles me mandassem flores? Porra! Bateu, levou”.
Clique aqui para ouvir a entrevista que Oswaldo Mendes concedeu ao programa Galeria, da Rádio Cultura, inclusive imitando o modo sibilino amalandrado de falar de muitos santistas.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Este amaldiçoado país caribenho

Primeiro eu pensei em reproduzir aqui, na íntegra, o texto postado pelo jornalista Renato Rovai, editor da Revista Fórum, em seu blog. Depois pensei em também escrever algo achincalhando com este cônsul. Não deixando de escrever que já havia comentado com minha namorada a ironia de que o representante no Brasil da primeira Nação americana a abolir a escravidão seja branco. Por fim, estupefato após assistir algumas vezes ao trecho gravado pelos repórteres do SBT sem o conhecimento do cônsul, conclui que a fala de Gerge Samuel Antoine é auto-explicativa.



Como bem disse Rovai, vá de retro cônsul dos infernos

Isto também é uma vergonha?

O “anjo pornográfico” Nelson Rodrigues sustentava que duas características da segunda metade do século 20 para frente eram o desaparecimento das escarradeiras de louça das salas de visita e repartições públicas e a ascenção dos idiotas sem modéstia, aqueles que, ao contrário dos antecessores de sua espécie - que não exalavam um suspiro -, perderam a humildade de vários milênios e passaram a vestir as melhores casacas e receber as maiores condecorações.

“Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos”, anotou o dramaturgo. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues talvez acrescentasse que, não satisfeitos com gritar a plenos pulmões, alguns idiotas decidiram se apossar de alguns veículos de comunicação, essas potentes caixas de ressonância.

Nos últimos dias, os exemplos de bom jornalismo imodesto têm se multiplicado. Primeiro foi o âncora Boris Casoy que, no Jornal da Band, destilou seu preconceito de classe contra os lixeiros ao classificar como uma merda a idéia de algum editor de colocar dois garis, vassouras em punho, desejando um feliz ano-novo aos telespectadores. “Que merda...Dois lixeiros...o mais baixo da escala de trabalho”.


Em seguida veio o Jornal Nacional. Por alguma razão, o jornal global decidiu que deveria dedicar cerca de 9 minutos à memória da jovem Yumi Faraci, umas das vítimas dos deslizamentos de terra ocorridos em Angra dos Reis (RJ). Na ocasião, 29 corpos já haviam sido encontrados e muitas pessoas seguiam desaparecidas. A reportagem inicial sobre Yumi, de 2 minutos e 24 segundos, humaniza o frio registro da tragédia, mostrando o rosto e a história de uma das vítimas. A partir daí, contudo, o que se assiste é uma questionável entrevista de mais de seis minutos com os pais da jovem, amigos do repórter Tino Marcos.

No que pese o drama da família e a dimensão da tragédia, alguns telespectadores terão se questionado (como fizeram alguns amigos meus, entre eles alguns jornalistas) sobre o propósito de tal matéria. Alguns, como eu, acharam um desrespeito com outras vítimas cujos parentes não têm amigos repórteres. Além disso, ao optar por entrevistar os pais da garota em meio a dor, Marcos não poderia se furtar a fazer perguntas a respeito da situação da pousada Sankay, construída pelos pais da garota no sopé de um morro que, agora, muitos especialistas dizem que já emitia sinais de que viria abaixo. A pousada estava devidamente autorizada para funcionar naquele local? Quem autorizou?

Eu, no lugar de Marcos, talvez não tivesse coragem de perguntar isso a amigos que acabaram de perder a filha. Por isso mesmo, não realizaria tal entrevista já que essas sim são as perguntas que ajudariam os telespectadores a entenderem as causas de desgraças semelhantes a que atingiu a família de Yumi e das demais pessoas que passavam a noite na pousada. E que, pior, continuarão acontecendo. É a velha discussão: o que é interesse do público e o que é de interesse público? A qual dos dois o jornalismo deve procurar atender?


Mas os bons exemplos não ficaram por aí. E, a meu ver, o mais perfeito deles foi dado no último dia 8, pelo blog do Noblat. Neste caso, mais que uma opção editorial controversa, o episódio suscitou um questionamento sobre a ética jornalística. Alheio ao que prescrevem todos os manuais de jornalismo, o repórter Severino Motta mentiu para conseguir uma informação. E, pior, o que mais chama a atenção é essa mentira ter sido confessada em público sem qualquer mea-culpa.

Dilma emagrece em spa no Rio Grande do Sul
“[…]
Dilma 2010 - mais magra e elegante - fará sua estréia na próxima segunda-feira de volta ao trabalho. Ela está internada desde o final de dezembro no “Kurotel – Centro de Longevidade e SPA”, em Gramado, no Rio Grande do Sul. Há pouco, o repórter deste blog, Severino Motta, falou com ela. Seu relato:
"Liguei na recepção do Kurotel e disse que precisava passar uma mensagem da ministra Erenice Guerra para a ministra Dilma Rousseff. O atendente falou "Ok" e transferiu a ligação. Dilma atendeu de imediato.
Eu - Ministra...
Dilma - Sim. Quem fala?
Eu - É Severino Motta, do Blog do Noblat. Estou ligando pois estamos preocupados com sua saúde. Gostaria de saber como a senhora está...
Dilma - Não faça isso. Não ligue dizendo que é urgente. Eu estou descansando. Que coisa... Não faça isso.
Eu - Sim ministra, mas só queria saber...
Dilma - Não faça isso. Até logo, viu?
A preocupação do blog com a saúde da ministra fazia sentido.”
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Pois é. A preocupação do blog com a saúde fazia tanto sentido que a ética jornalística deixou de fazer sentido. Não bastava o jornalista ligar e perguntar pela ministra para, de acordo com a resposta do atendente, ter ou não a confirmação de que a ministra de fato estava no spa? Aliás, a menos que as despesas tenham sido pagas com dinheiro público, que interesse há para o cidadão se a ministra estava ou não em um spa durante suas férias? Será um sintoma do contágio do chamado jornalismo político pelo jornalismo marrom-glacê de celebridades?
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Mais um exemplo? Pode ser o extraído da revisto IstoÉ desta semana. O corpo de uma modelo é encontrado carbonizado numa lixeira, nos Estados Unidos. Fato. Ocorre que, hoje, com a concorrência da internet, as revistas semanais têm que usar de toda a criatividade para divulgar notícias que, na maioria das vezes, já são de conhecimento geral. E o que fez o criativo redator da notícia para superar a possível falta de interesse dos leitores de IstoÉ?
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Beleza em Cinzas
"Ela foi objeto do desejo de homens e, por que não?, de mulheres, ao posar nua em páginas de revistas e ao desfilar em passarelas. QUANTOS SONHOS ERÓTICOS SEU EXUBERANTE CORPO NÃO FREQUENTOU? Com o respeito que nos inspiram os mortos, quantos não desejaram seu corpo? Pelo que acaba de ficar dito, sabe-se já, então, que ESSE CORPO MORREU. Morreu no domingo 3 e abalou os EUA ao longo da semana, justamente pela circunstância da morte. O CORPO TÃO DESEJADO DA MODELO PAULA SLADEWSKI, 26, FOI MISTERIOSAMENTE ENCONTRADO NUMA LIXEIRA DE MIAMI. Carbonizado. HORRÍVEL. Retorcido. Só se sabe que é de Paula pelo que restou, PELO QUE RESTA DOS BONITOS OU FEIOS - A ARCADA DENTÁRIA. OS FÃS DE PAULA SE DESPEDIRAM OLHANDO UM CAIXÃO HERMETICAMENTE FECHADO" .
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Pois é. A preocupação do redator com homenagear O CORPO que tantos sonhos eróticos despertou com algo além do frio registro de seu brutal assassinato também fazia sentido. Ainda bem que os parentes da vítima não irão ler essa homenagem. Isso para não falar que o redator ainda consegue extrair uma lição moral do episódio: seja você feio ou bonito, sua arcada dentária sobreviverá a você. Só faltou ele acrescentar esperar que a modelo, enquanto viva, tenha tratado bem de sua arcada para que esta não tenha saído mal em sua última foto.
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Longe de mim chamar Marcos, Motta ou mesmo o redator da Isto É de idiotas. Não sei que tipo de pressão e necessidades os levou a tais atos, que bem podem ser vistos como “opções editoriais equivocadas”. Mas será que não havia ninguém mais em suas equipes para apontar isso? Para apontar o equívoco, a grosseria? Ou, para não deixar de citar a revista mais vendida do pais, a falta de caráter de Veja ao xingar sem cerimônias o presidente eleito pelo voto de milhares de venezuelanos, Hugo Chávez?

domingo, janeiro 10, 2010

O Segredo de Seus Olhos

Caso decida abandonar a vida peregrina e a tentativa de aprender a surfar, meu amigo surfista, Carlos Leite, pode, quem sabe, tentar a sorte como crítico de cinema.

No final de setembro, o surfista prego retornou da Argentina e me presenteou com cópias piratas de dois filmes hermanos recém-lançados (Leite, isso é crime, viu?). Sobre um deles, Las Viúdas de Los Jueves (As víúvas das quintas-feiras) eu escrevi em 10 de dezembro. Basta procurar oito posts abaixo. Já sobre o outro, não soube o que dizer de tanto que gostei do filme.

Ao me entregar os cds, Leite adiantou que As víuvas era interessante, mas que El Secreto de sus Ojos (Os segredos de seus olhos) é um dos melhores filmes a que ele já havia assistido. Como nossos gostos não necessariamente coincidem, não fiz muito caso. Até ver os 15 primeiros minutos da obra do argentino Juan José Campanella, dos emocionantes O Filho da Noiva e o Clube da Lua. Bastou isso para concluir estar diante de um filme estupendo, de difícil classificação. Romance? Suspense? Um filme de investigação com um final surpreendente? Tudo isso regado com humor.

Hoje (10), a Folha de S.Paulo informa que mesmo sendo um filme hispano-americano, El Secreto está entre os quatro principais candidatos ao prêmio de melhor filme do prêmio Goya, o Oscar do cinema espanhol. O filme de Campanella disputa o título com El Baile de La Victoria, de Fernando Trueba, e com os favoritos Celda 211, de Daniel Monzón, e Agora, de Alejandro Amenabár. O vencedor será anunciado no próximo dia 23.
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Além de melhor filme, El Secreto também disputa os prêmios da Academia de Cinema Espanhol de melhor direção, melhor ator (para o muso do cine argentino, Ricardo Darín), roteiro adaptado, música original e atriz revelação (Soledad Villamil). Para efeito de comparação, Os Abraços Partidos, de Pedro Almodovár, foi indicado a apenas três categorias: atriz (Penélope Cruz), roteiro e música originais.

Senti por Guillermo Francella não ter sido indicado a melhor ator coadjuvante pois sua atuação é impressionante, misturando, sem perder a credibilidade, humor e fragilidade ao interpretar um escrivão idoso e bêbado . Como não vi aos outros filmes, só me resta imaginar que os atores indicados devem dar um show. Ou a academia espanhola terá cometido uma grande injustiça, pois estou certo de que Francella inscreveu sua interpretação entre os grandes momentos do cinema.

Para quem quiser ler (em espanhol) um análise mais acurada do que a minha e a de Leite, indico o site Con Un Ojo Dorado (clique aqui)









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Obs: Só para constar. Ao que me parece, a frieza com que o júri do Goya tratou Abraços Partidos é justificável. Desde 1995, quando foi lançado Carne Trêmula, este é o filme mais fraco de Almodóvar.

Por que Janis Joplin?




Para que eu não me esqueça desta mulher que, para muitos, forma com Jimi Hendrix e Jim Morrison a Santíssima Trindade do Rock (se é que isso existe).

Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra de Janis Joplin, recomendo a biografia escrita por Myra Friedman e lançado, no Brasil, pela Editora Civilização Brasileira. Não sei se o livro continua sendo publicado, mas é fácil encontrá-lo em bons sebos. Uma história de bebedeiras, frustrações amorosas, experiências lisérgicas e ótima música em meio a um dos mais ricos momentos culturais do século XX, quiçá da história.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

O Filho de Lindu

Voltando à carga descansado após uma semana no litoral paulista. Deu pouca onda, até mesmo em Maresias (São Sebastião – SP), mas, ainda assim, curti bastante, surfando (pouco!), nadando, lendo, passeando e... comendo (bastante!). Quer coisa melhor? Em Santos (SP) deu tempo até de ir ao cinema assistir a Lula – O filho do Brasil.

Deixei o Cine Roxy achando que, além de estar aquém da biografia do atual presidente, o filme peca por, ao fugir do didatismo, não apresentar uma satisfatória contextualização dos fatos políticos e sociais que permitiram o surgimento do fenômeno Lula. Se bem que seria ingenuidade minha dizer que o filme é ruim por esta razão.


Não esperava uma obra política do cineasta Fábio Barreto (O Quatrilho), que admite ter feito um filme "sobre mãe e filho, para mostrar uma família que serve de exemplo". Ainda assim, lamentei que ele não tenha conseguido, contextualizando melhor os fatos, promover a discussão sobre a importância do movimento sindical durante o regime militar e seu posterior recrudescimento. Isso é uma pena já que o próprio Barreto acredita que, hoje, "muita gente não sabe que o princial fator para Lula estar na Presidência foi a vida sindical". Movimento social que ele mesmo acredita ter sido o real responsável pela derrocada da "ditadura militar".


Feito para contar a já manjada história (apesar de almejar a originalidade) de superação de Lula desde que sua família deixa o sertão pernambucano até o momento em que ele, já a frente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, comanda a histórica greve operária que evidenciou as fissuras do milagre econômico, o filme bem poderia se chamar “O filho de Lindu”. A gente quase chega a crer que Lula chegou à presidência unicamente por ouvir os conselhos de sua mãe e “teimar” mesmo após perder três eleições.


Enfim, há cenas muito mal resolvidas (a da enchente, para citar uma), erros de continuidade, a edição parece ter sido feito às pressas e, segundo a imprensa, várias "liberdades" em relação à história contada no livro que originou a película. Se o filme não chega a ser de todo ruim, isso se deve, em primeiro lugar, ao interesse que a biografia de Lula desperta, e em segundo lugar ao bom desempenho do elenco, com destaque para Glória Pires (prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília) e Milhen Cortaz, respectivamente pai e mãe de Lula.
Se o filme, ao contribuir para a mitificação de Lula, vai ou não ajudar a campanha da candidata petista à presidência é uma outra história sobre a qual não me aventuro a opinar.