sexta-feira, janeiro 22, 2010

Réquiem para um Sonho

Mais um belo filme do vencedor do Oscar, Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain). Antes de comentá-lo, no entanto, um preâmbulo.


O fato que ficou para a história é conhecido por todos: entre 15 e 18 de agosto de 1969 cerca de 500 mil pessoas se reuniram na pequena Bethel, há cerca de uma hora e meia de Nova York, para prestigiar o Festival de Woodstock. Durante três dias de “paz e música” (e lama, muita lama), hippies e outras tribos curtiram ao som de alguns dos maiores músicos da época.
Pelo palco passaram, entre outros, Richie Havens, Arlo Guthrie, Joan Baez, Santana, Mountain, Janis Joplin, Grateful Dead, Creedence Clewater Revival, Sly and the Family Stone, The Who, Jefferson Airplane, Joe Cocker, The Band e (ufa!) Jimi Hendrix...E aí já não é preciso dizer mais nada. Para bom entendedor, bastam estes nomes para demonstrar porque Woodstock é tido como um dos mais importantes acontecimentos culturais das últimas décadas, um marco da cultura pop, o festival dos festivais.
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Infelizmente, ao contrário do que muitos pensam, o evento não representa o início ou sequer o auge dos tempos de “paz e amor”. Na verdade, para muitos, Woodstock é o lusco-fusco, o ocaso do movimento, cujo fim simbólico ocorreria quatro meses depois, em um show gratuito dos Rolling Stones, realizado na cidade de Altamont, e durante o qual um fã seria morto por membros da gang Hells Angels, contratados para fazer a segurança dos músicos. Sobre isso, vale assistir ao documentário Gimme Shelter – Rolling Stones, relançado este mês.
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Isto é o que ficou para a história. A cena de milhares de jovens chafurdando na lama felizes, chapados de LSD puro e maconha, muitos protestando contra a Guerra do Vietnã ao som de excelentes músicos. Porém...como nos lembra Ang Lee, muitas outras histórias aconteceram durante Woodstock. Casais se formaram, namorados se separaram, gente pirou e, como sustenta Aconteceu em Woodstock, uns poucos encontraram a si próprios.
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Baseado no livro de memórias de Elliot Tiber (Taking Woodstock: A True Story of a Riot, A Concert, and A Life) - que teria convencido os organizadores do festival a realizarem os shows em sua cidade natal após outras comunidades, Woodstock entre elas, os terem expulsado – o novo filme de Ang Lee indica como os moradores da pequena cidade rural são afetados primeiro pela chegada das equipes responsáveis pelos preparativos do festival e, depois, pela horda de hippies que invadiu a cidade, levando consigo dinheiro e o caos.
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É neste contexto que Tiber vai ter a oportunidade de rever o relacionamento com seus pais, sua sexualidade e seus sonhos e projetos pessoais. Ou seja, Woodstock acaba servindo de pano de fundo para Ang Lee voltar registrar as difíceis relações familiares com a leveza que caracterizou seus primeiros filmes (A Arte de Viver e Banquete de Casamento), entremeando seu relato com considerações pessoais a respeito da inocência que caracterizou a época e da prevalência final do dinheiro sobre a ideologia.

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