É chato lembrar, mas 63 pessoas já morreram no estado de São Paulo entre 1º de dezembro e o dia 27 de janeiro devido às fortes chuvas. Mais chato ainda é frisar que isso é, também, um problema político. E não estou me referindo aqui aos eventuais efeitos que isso trará para as eleições que se avizinham. Estou falando é da falência da Política como a ciência responsável por fixar as normas e as ações que assegurem o bem-estar de todos os cidadãos e da cidade como um todo.
Lógico que não há como os administradores públicos dançarem uma rumba pedindo aos céus que as chuvas cessem. Além disso, é óbvio afirmar que a população também tem uma parcela de culpa por jogar toda a sorte de lixo nas ruas. Porém...não parece surpreendente que as áreas mais atingidas sejam sempre as mesmas? Ou que as enchentes se repitam ano após ano, cada vez com maior intensidade, sem uma solução satisfatória?
Embora eu não ache justo jogar sobre o ombro de A ou B a responsabilidade pela origem de um problema estrutural que vem de décadas, também acho que os mesmos A ou B circunstancialmente no poder devem sim responder pela falta de ousadia política, por ambicionarem não mais que ser bons “gestores”, “gerentes” ou “técnicos competentes”. Isso compete ao funcionalismo público.
Há, porém, um bom número de cidadãos eleitores que não pensam como eu e que, descrentes em relação à política partidária, procuram um político com um perfil próximo ao do “funcionário do mês” a quem darão seu voto de confiança. Em geral, estas são as pessoas que defendem que “a cidade está pronta”, que não são necessárias mudanças e que, assim, esvaziam a representação política de sua carga ideológica.
As chuvas deste início de 2010, contudo, reforçam que aos que delegamos a representação política cabe mais que apenas gerir o já existente. Cabe alterar as prioridades conforme as necessidades e distribuir equitativamente as benesses do Estado, o que exige disposição para contrariar interesses e adotar medidas impopulares. Algo que um “gerente” é incapaz de fazer.
Esta discussão, no entanto, não se resume ao estado de São Paulo. Se se confirmarem ao menos parte dos terríveis prognósticos feitos por especialistas, a disputa ideológica irá se acirrar cada vez mais. A exemplo do “enfrentamento sem solução entre a expansão econômica e a conservação do meio ambiente", sobre o qual sugiro a leitura do livro O Ecologismo dos Pobres (ed. Contexto), do espanhol Joan Martínez Alier, um dos maiores teóricos do conceito de Justiça Ambiental, sobre o qual volto a postar, abaixo, o vídeo da ativista norte-americana Majora Carter.
São idéias que os que acreditam que a disputa entre classes está superada devem ter em mente, pois ao que tudo indica o "enfrentamento" agora se dá em outros termos e vai exigir cada vez mais a mediação política e não o simples "gerenciamento de crises" tão em voga entre as Polianas.
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