segunda-feira, novembro 28, 2011

Uma outra paisagem santista

Uma queda d´água de cerca de dez metros escondida em meio à vegetação, na região central da cidade? Assistir, do barranco, a uma pelada, torcendo pelo Juventude E.C.? Nadar fugindo de jacaré numa  lagoa no topo do morro antes que a especulação imobiliária a polua ou a privatize? Desfrutar de uma visão panorâmica dos grandes e feios espigões almejando arranhar os céus? Sentir o cheiro de uma enorme plantação de banana na cidade que vai cedendo espaço as boulangeries e empórios? Ver os chalés? 


Pois é. Mesmo em Santos, onde os caiçaras foram extintos, isso ainda é possível. Basta subir o  Morro da Nova Cintra. Dizem os historiadores que o próprio Martim Afonso de Sousa teria organizado a construção de um engenho d´água no local, determinando que fosse construída uma capela dedicada a São Jorge , o Engenho dos Erasmos, cujas ruínas ainda existem até hoje, a oeste do morro.

Só que para ver estas coisas não basta subir de carro, à noite, durante a época da famosa festa junina que se celebra no local, comer um churrasquinho e descer. É preciso bater perna, subir e descer ruas atento à paisagem e, principalmente, vencer o preconceito - pai do medo - e se misturar.  

sexta-feira, novembro 25, 2011

Versões e cópias


Há cerca de uma semana, registrei no post Mal Adaptado À Falta de Inspiração minhas impressões sobre a mais recente peça de Denise Stoklos, Preferiria Não?, aventurando-me a fazer algumas considerações a respeito de adaptações artísticas como a que a diretora/atriz/coreógrafa fez do conto de Herman Melville, O Escriturário.

Ontem (24), o jornal Folha de S.Paulo publicou no caderno Ilustrada duas matérias que embora tratem do `plágio artístico´ como método de criação -  o que não é o caso de Denise Stoklos -, me fizeram enxergar o tema por outro prisma. Sei que os especialistas discutem a aplicação e os efeitos da reprodução, da apropriação e da citação há décadas, de maneira que tudo aqui indicado é muito superficial. Mesmo assim, achei o assunto interessante e decidi, além de pesquisar mais, compartilhar os links aos meus três leitores que possam se interessar.

Copiar e Colar - Artista e escritor cria o manifesto da literatura não criativa e garante que a literatura do futuro será feita a partir de novas versões e cópias do que já estava escrito      

Conceito Atual de Plágio Divide Especialistas - Para professor de teoria literária, achar que `copia e cola´ refresca métodos de criação é inocente. "Que há uma crise na produção cultural atual não há dúvida. Mas achar que esse `copia e cola´ pode funcionar como base para um novo método de criação é muito inocente", alfineta Alcir Pécora, professor de teoria literária da Unicamp.

quinta-feira, novembro 24, 2011

Stiller sabe


Eu sou gay.
[...]
Quer dizer, eu acho que talvez eu seja gay.
[...]
Não sei ao certo. Eu também estou surpreso com a revelação. Até porque, continuo não sentindo atração alguma por homens. Ao menos conscientemente. Além do mais, toda minha experiência sexual até hoje se limita ao "convencional" homem/mulher. Mesmo assim, eu talvez seja gay e ainda não saiba. E tudo por causa de Hollywood.

Descobri minha latente homossexualidade enquanto olhava para a tv, ao lado dos meus pais. O que, convenhamos, é algo minimamente suspeito, concordo, mas isso não vem ao caso. Na verdade, eu estava de férias, entediado, trocando de canais e parei só por alguns minutos diante de uma cena de mais um destes filmes vulgares estrelados pelo tal de Ben Stiller (a exceção são os dois primeiros Entrando Numa Fria, mas não por mérito dele, né? Afinal, um filme com Robert De Niro e uma sequência com ele e Dustin Hoffman não pode ser de todo ruim. Embora seja um sinal dos tempos dois ícones do cinema toparem fazer figuração ao lado de um cara destes).

Nos poucos minutos que durou a cena eu pensava que só mesmo Stiller e o tal Adam Sandler para imbecilizar de tal forma a todo um gênero cinematográfico - no caso, a comédia. Depois do apogeu destes dois e de sucessos como Todo Mundo em Pânico, a classificação comédia se tornou, para muitos, o equivalente a um aviso de mantenha distância dos cinemas. Para os estúdios de Hollywood, no entanto, estes muitos espectadores arredios são compensados por outros tantos que levaram os mais de 50 (!) filmes estrelados por Stiller a, juntos, arrecadarem mais de R$ 2 bilhões em todo o mundo.  

Continuando...eu estava pensando nisso quando fui apresentado a uma inequívoca forma para se descobrir se um sujeito é "gay", mesmo que ele próprio ainda não saiba. Segundo o filme (que eu não me dei ao trabalho sequer de descobrir o nome) basta lhe perguntar se ele prefere Brad Pitt ou Russel Crowe. Se o tipo de que desconfias optar por Pitt, Bingo!, ele é homossexual. RS,RS,RS,RS,RS,RS,RS Engraçado, né? Como assim? Não entendeu? Ôrra, sujeito chato, meu!

Diante de minha recém-adquirida insegurança sexual, já sabem meus três leitores a quem eu prefiro, não? Agora, talvez valha dizer que antes de ouvir a explicação para a engraçadissima, hilária e fundamentada piada (não por acaso, no filme, a pergunta é feita à personagem de Stiller por um garoto de cerca de dez anos, que eu acho que deve ser o público alvo deste tipo de obra, daí, portanto, a razão dos produtores fazerem-no parecer mais inteligente que o adulto em questão), antes de ouvir a piada inteira, eu fiz um cálculo muito simples e pessoal. E confesso ter resistido um pouco para dar meu voto já que não pega bem para caras metidos a sabidos admitir admirar o talento de Pitt (estou me referindo ao talento como ator!).

O cálculo que fiz foi o seguinte: Pitt brilhou em Clube da Luta, um de meus filmes preferidos. Fez questão de atuar em Snatch - Porcos e Diamantes, do ainda pouco conhecido Guy Ritchie, mais tarde o sr. Madonna. Deu show em O Curiosos Caso de Benjamin Button e também em Doze Macacos. Seven - Sete Crimes Capitais é, hoje, um cult-movie. Ainda modelo e inexperiente, ele conseguiu se destacar com uma pequena ponta em Thelma & Louise. E se até mesmo um filme menor, como Sete Anos no Tibet, ganha com sua presença, o que não dizer daqueles em que é dirigdo por grandes diretores. Quem não se lembra da cena de Bastardos Inglórios em que o norte-americano tenta se passar por um italiano  ou de sua atuação precisa em Entrevista com o Vampiro?

Já Russel Crowe, pelas minhas contas, traz, no currículo, apenas dois grandes filmes merecedores de serem comparados aos com Pitt que mencionei: Dália Negra e Intrigas de Estado (Isso mesmo. O Gladiador não é um dos dois, ainda que Crowe esteja perfeito no papel. Papel para o qual, não tenho dúvidas, ele foi escolhido em função da atuação em Dália Negra).

Ambos são excelentes atores, sem dúvida, mas basta comparar a lista de filmes em que atuaram e outro aspecto pesará a favor de Pitt: ele ousa mais. Não sei se em função de receber mais (afinal, ele também fez muita coisa mediana) e melhores convites, mas quantos galãs correm o risco de frustrar suas fãs como ele, fazendo filmes difíceis como o recente Árvore da Vida ou Babel.

E foi assim que eu descobri minha verdadeira opção sexual, segundo mais um péssimo filme de Ben Stiller. Continuo gostando de mulheres, mas acho que não se pode conciliar isso com reconhecer que Brad Pitt é um bom ator.  

*****
Lógico que estou exagerando e que não era nada disso que Ben Stiller, o(s) sagaz(es)roteirista(s) de seus filmes ou o garotinho de dez anos tinham em mente. Mas Stiller e os seus, como legítimos representantes dos machos da espécie, sabem que o que seus pares gostam mesmo é de atores viris como Vin Diesel, Steven Seagal e, no limite, Russel Crowe que, apesar de bom ator, é macho pacas e não é tão galã quanto Pitt. Lógico que não dá para tê-los em todos os filmes. Portanto, às vezes é necessário recorrer à perseguições automobilísticas ou a piadinhas infames incapazes de arrancar uma risada de quem tem um mínimo de inteligência.

segunda-feira, novembro 21, 2011

À Sombra de um Delírio Verde


Um triste e sangrento episódio marcou o lançamento na internet, hoje (21), do documentário À Sombra de Um Delírio Verde, sobre o qual já escrevi aqui, após conversar com um dos diretores, Cristiano Navarro.

Há apenas três dias, mais um ataque criminoso contra uma aldeia indígena foi registrado no Mato Grosso do Sul. O documentário denuncia justamente o processo de genocídio contra o povo indígena Guarani Kaiowá, vítima da ação de um grupo fortemente armado.

“Os guarani kaiowá são, talvez, hoje, o povo indígena em pior situação no Brasil. Segundo denúncias de organismos internacionais, o que há [em suas aldeias] é um processo de etnocídio. Enquanto isso, o outro lado se opõe a qualquer tipo de demarcação de uma reserva, uma reação nada sensível”, afirma
Navarro, que antes de assumir a edição do jornal e do site Brasil de Fato, foi o responsável por publicar o jornal Porantin entre os anos de 2002 e 2006, período em que visitava aldeias guaranis kaiowás com frequência.

O documentário está disponível no link http://vimeo.com/32440717

domingo, novembro 20, 2011

"Há viagens sem regresso nem repetição"


Narrativa breve (um "quase romance", conforme indicado pelo próprio autor) e autobiográfica, No Teu Deserto é um dos mais recentes livros do jornalista português Miguel Sousa Tavares. Como esta é a primeira obra que li do autor, fui pesquisar na internet e notei que a história dividiu opiniões. Achei desde os que se disseram decepcionados até os que consideraram o livro um dos melhores de Tavares. Eu, particulamente, gostei e me animei a ler outras coisas dele.

Para quem, como eu, sabe pouco ou nada a respeito do autor que, ainda em 2009, dizia já ter vendido mais de um milhão de cópias de seus livros e que pode viver exclusivamente dos direitos autorais recebidos, vale ler a entrevista ao português Diário de Notícias, "Estou a pensar ir-me embora para o Brasil"

Abaixo, uma colagem de trechos selecionados por mim. (espero que isso seja divulgação e não pirataria)

Essa história que vou contar passou-se há vinte anos. Passou-se comigo há vinte anos e muitas vezes pensei nela, sem nunca contar a ninguém, guardando-a para mim, para nós que a vivemos [...] lembro-me exactamente quando foi e que idade tinha: tinha trinta e seis, e lembro-me por isso mesmo, porque foi o ano da minha vida em que me senti mais novo [...] E, se eu era jovem, tu, a meus olhos, eras a própria juventude. Tudo em ti, não apenas os teus absurdos vinte e um anos.

[...] A ideia de começar finalmente a contar esta história a alguém nasceu-me quando procurava uma fotografia qualquer, numa das gavetas onde guardo (nunca percebi bem para quê) centenas de fotografias e slides de memórias [...] E foi assim, abrindo a gaveta à procura de qualquer outra coisa, que, sem aviso, me escorregou para as mãos uma fotografia tua tirada durante aqueles quatro dias. Fiquei a olhar-te longamente, longa, longa, longamente. E longamente me fui dando conta de que tudo aquilo acontecera mesmo.

[...] Muitas vezes me lembro dos nossos diálogos, durante as longas horas daqueles sofridos e gloriosos dias, interminavelmente aos saltos e solavancos dentro do jipe, navegando no vazio, num horizonte despido de qualquer vaidade e presunção. Dias de inocência, de iniciação, de descoberta, pelo deserto do Sahara adentro.

Então, com o passar dos anos, fui pensando que um dia teria de contar esta história. Não a história de como atravessamos o deserto e voltamos, mas a história de como conseguimos chegar ao deserto. Por isso escrevo esta história. Porque sinto a sua falta, muitas vezes. E porque gostaria de lhe perguntar se ela se lembra como eu me lembro, mas sei que sim. Sei que ela se lembra. Sei que foi feliz então, como eu fui, mas deve achar que eu me esqueci, que me fechei no meu silêncio, que me zanguei com seu último desaparecimento. Não é verdade.

[...] _ E por que é que ficam calados depois?

_ Porque já não têm mais nada de importante para dizer.

E fiquei a pensar [nos] sahraoui que, como não têm nada, absolutamente nada, poupam tudo. Poupam a água, a comida, poupam as energias viajando de noite para evitar o calor [do deserto]. Até poupam nas palavras.

_ Mas tu não poupas as palavras: tu escreves. Todas as noites gastas uma hora a escrever um diário nesse teu caderno...

_ Escrever não é falar.

_ Não? Qual é a diferença?

_ É exactamente o oposto. Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer.

sábado, novembro 19, 2011

Mal adaptado à falta de inspiração


Desde que, há cerca de 15 anos, assisti a uma peça do então ainda homem de teatro Cacá Rosset, no teatro da Fiesp, em São Paulo, tornei-me desconfiado em relação à obras teatrais ou cinematográficas "adaptadas" ou "livremente inspiradas".

Não consigo lembrar qual era a peça (O Avarento, de Moliére? Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare?), mas não esqueço da desagradável sensação de ter sido enganado. Era como comprar catupiry e receber um requeijão genérico, de segunda; não ter visto à Legião Urbana e ter que se contentar com um show da Catedral ou, sem dinheiro para contratar a Beyoncé para uma exibição particular, levar pra casa a Gabi Amarantos (a "Beyoncé do Pará").

A sucessão de palavrões e piadinhas "livremente" inseridas no texto que resistiu ao longo de séculos despertando o interesse e a admiração de sucessivas gerações me parecia evidenciar a superficialidade de nosso tempo. Então era necessário "adaptar" os clássicos a fim de torná-los palatáveis à plateia? E essa adaptação significava contar umas piadas fora do contexto original, falar uns palavrões, vestir as personagens com um figurino moderninho ou, no cinema, adotar uma edição de video-clip?

Não que não haja adaptações bem-feitas. Há as que são respeitosas em relação à obra original. E quando digo respeitosa não quero dizer que sejam fiéis. Pelo contrário. Em algumas, só com esforço é possível identificar traços das que lhes deram origem. Só que, quando alertados, localizamos os principais aspectos, ou seja, a essência, aquilo que faz da obra original algo digno da admiração de todos, principalmente daqueles mesmos que se propõem a, à partir dela, criar algo totalmente novo ou a buscar uma nova forma de contar o que já foi exibido milhares de vezes sem que suas possibilidades se esgotassem. A não ser quando a motivação para a adaptação não passa de preguiça (para dizer o mínimo).

Esta semana, dois episódios me fizeram reviver a mesma sensação de inadequação, levando-me a refletir sobre o assunto (para algo então eles serviram).

No teatro, ocorreu, infelizmente, durante o mais recente espetáculo de Denise Stoklos, Preferiria Não?, baseado no texto Bartleby, O Escriturário, do norte-americano Hermam Melville (autor de Moby Dick). Digo infelizmente primeiro porque é quase injusto comparar a proposta de Denise Stoklos à de Cacá Rosset (mas fazer o quê se o resultado das peças, para mim, foi quase o mesmo?). Há anos a defensora do "teatro essencial" vem sendo bem-sucedida em fundir a dramaturgia a sua própria experiência biográfica, a exemplo dos espetáculos Vozes Dissonantes e Desobediência Civil (este último, um dos melhores a que já assisti).

Neste mais recente, contudo, a coisa não funciona. Ou, ao menos, não funcionou na apresentação da última quinta-feira (17), no Sesc Santos. Embora a própria atriz/diretora/coreógrafa/dramaturga sustente no folder da peça de que não há, no espetáculo, "simples cacos (invencionices teatrais que apareçam aqui e ali com a simples e fortuita intenção de distrair)" deixei o teatro com a sensação contrária. Não entendi no que fazer piada com o ministro do Trabalho Carlos Lupi, com Palloci ou colocar o escriturário Bartleby na condição de motoboy contribuíram para o texto de Melville.

Em segundo lugar, digo infelizmente porque Denise Stoklos é tão boa atriz que é capaz de prender a atenção da plateia mesmo o texto não funcionando. Além do domínio técnico pleno, ela parece estar sempre possuída por uma verdade, de tal forma que nos ilude, nos envolve, quase não nos deixando dar-nos conta de que nada de mais aconteceu no palco durante a mais de hora em que acompanhamos sua tentativa de fazer Bartleby e ela própria se confundirem. Mas o engodo é fácil de desmontar. Basta, passada a surpresa do truque, se perguntar sobre o que era a história. Enquanto me lembro de Vozes e Desobediência anos após assistí-las, já na manhã seguinte eu não sabia explicar as idas e vindas de Preferiria Não?. Estou até agora tentando sacar o que afinal de contas Denise queria dizer com a história que dissesse respeito a nós (com certeza ela não me instigou a sair de casa para vê-la reclamar dos editais com que são selecionados os artistas que receberão recursos das leis de incentivo fiscal). Ainda que tudo estivesse muito bem costurado.

*****

Ah, o outro episódio? Dez minutos dentro da sala de cinema onde se exibia o novo Os Três Mosqueteiros, com Orlando Bloom e a bela Milla Jovovich. Sim. Dez minutos foi tudo que eu suportei desta constrangedora adaptação da bela história escrita no século XIX por Alexandre Dumas e agora transformada em um misto de Piratas do Caribe com Resident Evil (razão, talvez, para a escolha de Bloom e de Milla, protagonistas dos dois). E o engraçado é que a menção aos Três Mosqueteiros é uma mera fórmula preguiçosa do estúdio de obter uma chancela para a porcaria do filme. Porque se trocasse o nome das personagens e substituísse algumas cenas, poderia muito bem anunciar uma nova obra descartável, tamanha a distância entre as duas. Ou pelo menos entre a história original e os dez minutos iniciais que eu aguentei antes de sair e pedir para o lanterninha me deixar entrar em qualquer outra sala, mesmo que o filme, qualquer que fosse ele, já tivesse começado. (Acabei assistindo a Reféns, com Nicolas Cage e Nicole Kidman. Fraco, mas diante do que eu havia deixado para trás, pode-se dizer que é uma obra-prima) 

quinta-feira, novembro 17, 2011

Universo Almodovariano


Só mesmo um cineasta como Pedro Almodóvar para levar às telas, com maestria, uma trama como a de A Pele que Habito. Um filme difícil até de classificar, que dirá resenhar sem com isso estragar a surpresa do roteiro. Um terror sem um "monstro" unidimensional? Um suspense sem grandes sustos? Um insólito "Frankstein" almodóvariano? Ou uma ode e um alerta às obsessões 

Acho que, atualmente, apenas o espanhol e os norte-americanos Quentin Tarantino e Terence Malick (A Árvore da Vida) gozam da necessária liberdade para transformar suas particularíssimas visões em filmes que agradam a uma considerável parcela do público adulto (há outros importantes e comercialmente bem-sucedidos diretores como, por exemplo, Clint Eastwood, mas estes se associam a uma outra corrente cinematográfica, muito mais próxima à tradição hollywoodiana, na qual a mão do diretor não é tão perceptível - Eastwood é uma exceção, uma avis-rara, daí sua grandeza).      

A Pele não é, a meu ver, o melhor de Almodóvar. E, ainda assim, é surpreendente. Principalmente porque aponta para a aparentemente infinita capacidade do diretor se reiventar e fugir aos estereótipos que, a cada novo ciclo, vão surgindo em torno de seu nome. Ao fim de 133 minutos, as luzes da sala se acendem e deixam ver o sorriso no rosto do público. E a expressão nada tem que ver com a história do cirurgião plástico Richard Ledgard (Antonio Banderas). Não. O quase imperceptível sorriso é provocado pela constatação de que Almodóvar é um raro contador de histórias capaz de não só manipular a trama, mas a própria plateia, envolvendo-a e conduzindo-a por seu universo particular. 

Conselho: Se possível, não assista a nenhum trailler do filme. Além de excepcionalmente ruins, são capazes de estragar parte da surpresa.

terça-feira, novembro 15, 2011

O Palhaço


O prolífico Selton Mello acertou a mão em sua segunda incursão por detrás das câmeras, ou seja, no papel de diretor. E olha que, apesar da aparente simplicidade do roteiro de O Palhaço, há certa ousadia artística na forma como Selton conta a história de um palhaço deprimido e em crise de identidade, sem fazer concessões ao humor rasteiro.  Nada, contudo, tão denso quanto seu primeiro filme, Feliz Natal, de 2008. Falta, é verdade, ritmo, unidade, a algumas cenas, mas isso não chega a comprometer o resultado final de seu novo longa-metragem.

Abrilhantado pela atuação do excelente Paulo José (que interpreta o palhaço Puro Sangue, pai de Pangaré, a personagem corporificada pelo próprio Selton) e por ótimas participações de uma turma há muito ou nunca vista nas telas (Jackson Antunes, Tonico Pereira, Ferrugem (!) e um surpreendente Moacir Franco, hilário em sua pequena ponta), O Palhaço é uma boa surpresa.

domingo, novembro 13, 2011

Só O Ouro


Chego em Santos e o primeiro lugar a que a saudade me leva é à roda de samba do Ouro Verde, no Marapé. Após duas horas e meia, saio leve e faceiro, mas ainda disposto a tentar a sorte em outro lugar. Apenas para constatar que, aparentemente, o Ouro Verde se tornou um dos poucos lugares de boa música brasileira nesta "sonífera ilha". O outro é o Bar do Torto, próximo a minha casa (sim. Para mim, Santos continua sendo minha casa. Por isso me dou ao direito de criticar a falta de criatividade dos donos de casas noturnas que convidam para tocar bandinhas que fazem cover do Rappa e do J.Quest; a falta de coragem dos músicos santistas que não ousam surpreender seu público e o desinteresse de quem sai de casa a noite somente para aplaudir sua boa memória musical e capacidade de reconhecer refrões de grandes hits).



O Descobrimento do Brasil



Após passar por diversos cargos em indústrias de diferentes setores, meu pai dedicou os últimos vinte anos de sua vida profissional aos negócios de uma família empreendedora, destas tantas que ajudaram a desenvolver não apenas a cidade de Santos, mas o país. Por acaso, tanto os donos do negócio quanto seu delegado eram portugueses, mas quero crer que isso foi circunstacial. Poderiam ser espanhóis, japoneses, chineses, judeus-brasileiros e até mesmo, com menores chances, santistas.

(Engraçado, mas nas lembranças de minha infância os santistas mais bem-sucedidos eram cosipanos, estivadores ou profissionais liberais como médicos e advogados. Quando muito, tinham uma lojinha, uma papelaria ou um boteco com um único empregado também ele explorado)

Ao longo de duas décadas, meu velho dedicou ao menos doze horas diárias, seis dias por semana, ao trabalho. Não tinha horário certo para almoçar - algo que fazia no próprio local de serviço, entre uma tarefa e outra. Não tinha sábados, domingos e feriados de folga. Nas suas férias, não viajávamos. Na verdade, até meus 15 anos eu havia deixado o estado uma única vez, para ir a Minas Gerais, com minha mãe, comprar roupas para revender. O trabalho, muito, era para custear poucas coisas.

Mas voltando ao meu pai, vale dizer que ele treinava sozinho, em casa ou no trabalho, o inglês que aprendera quando jovem e que desenvolvera trabalhando a bordo de um navio mercante e, depois, já de volta ao Brasil, como tradutor técnico. Ainda hoje ele continua traduzindo para o português, em bloquinhos de recados, todo o Velho Testamento. Só para praticar o idioma que, acredito eu, domina como poucos. Não bastasse isso, há alguns anos ele encasquetou com o japonês. Em pouco tempo já conseguia identificar ideogramas e conversar um pouco com a família de japoneses dona de um lava-rápido (acho que era circunstancial e que eles poderiam ser espanhóis, japoneses, chineses, judeus-brasileiros e até mesmo, santistas). Meu pai ainda é capaz de citar, de memória, os trechos de Os Lusíadas de que mais gosta. Infelizmente, os patrões estavam pouco familiarizados com os versos do autor dos maiores épicos da língua portuguesa, de forma que meu pai jamais recebeu qualquer distinção por esta particularidade.

Além do dinheiro recebido em troca da sua força de trabalho, todo ano meu pai e os outros funcionários recebiam uma cesta de Natal como reconhecimento à dedicação aos negócios da família portuguesa. Na pesada cesta que pai trazia para casa de ônibus havia um pacote de passas, um vidro de azeitonas, uma caixa de bombons, alguns itens de que não me lembro, torrones, jujubas, um panetone barato e uma indefectível garrafa de Sidra ou Espuma de Prata. Por uns três anos, após a chegada de Collor ao poder e à abertura do mercado brasileiro ao exterior, a coisa se sofisticou e os espumantes foram provisóriamente substituídos por garrafas azuis de vinho Liebfraumilch (que, traduzindo, significa Leite de Mãe, de onde se deduz tudo. Como na época havia poucas opções nacionais à disposição do brasileiro médio, o alemão fez um grande sucesso, iniciando-nos nos segredos da enologia, o que possibilitou o advento das tábuas de queijo e cantadas envolvendo foundue. Isso, contudo, não durou muito e logo voltamos a Sidra).

A cesta devia ser dada como um verdadeiro ato de generosidade patronal, mas nunca entendi porque os chefes não entregavam aos seus funcionários o dinheiro correspondente para que os próprios comprassem o que quisessem ao invés de pagar para quem uma empresa comprasse torrones e jujubas de Natal)

Como é de conhecimento geral, a maioria das criaturas que habitam o litoral brasileiro não dão aos festejos natalinos a mesma importância que dão ao Reveillón. Por isso, se fôssemos bancar a família feliz estourando a champagne genérica para a foto, a ocasião seria a comemoração do Ano-Novo. A questão é que, na maioria das vezes, meu pai ou estava trabalhando ou estava tentando vencer o trânsito e voltar para casa após mais um dia de trabalho. De forma que as garrafas nunca eram abertas e terminavam indo parar em um armário, deitadas como se fossem vinhos caros acondicionados em uma adega climatizada. Os anos passaram, as garrafas se tornaram um acervo sem qualquer valor ou sabor, seus rótulos amarelados. Quando chegaram a vinte, meu pai se aposentou.

O paradoxo é que, ao deixar de trabalhar para a família de portugueses, meu pai viu não só a sua situação financeira, mas a própria economia do país se estabilizar. E tal como outros 30 milhões de brasileiros, conheceu a sensação de ascender um degrau que fosse na escala social. Aos iogurtes que, graças às doze horas diárias de trabalho, nunca faltaram em casa, acrescentamos ocasionais garrafas de vinho chileno e, vez ou outra, um português. Dentro da desigual ótica brasileira, acho até que já podemos nos dizer classe média. Com isso, não só os hábitos de consumo mudaram como a própria compreensão da realidade. O que não mudou foi o fato de eu, ainda hoje, ouvir vozes sussurrando conceitos ultrapassados como luta de classes e mais-valia sempre que vejo um rótulo de Sidra.

Por isso, foi como um ato de libertação, uma alforria, algo como a lei áurea, estourar, ontem, todas as garrafas que havia na casa dos meus pais e, sob o olhar consternado da minha mãe, despejar o conteúdo na privada. "Será que não é bom para temperar uma carne?", ainda tentou me impedir ela.

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sexta-feira, novembro 11, 2011

11/11/11

Um dia ímpar: férias (ou o que resta delas)                                    - Coisa constrangedora circular por Brasìlia com uma prancha de surf -

quinta-feira, novembro 10, 2011

Popular e bem-humorado

As capas do carioca Meia Hora são simplesmente sensacionais. Isso sim é humor popular e inteligente.

Isso é Rap?

Rap, do inglês, Ritmo e Poesia. Poesia, ainda que a seu modo, o rapper paulistano Criolo já provou que sabe fazer. Ritmo (e boa voz) tá ficando óbvio para cada vez mais gente que ele também tem de sobra.



Meu primeiro contato com a música de Criolo foi através do clipe da música Subirusdoistiozin. Ouvi e chapei. Pensei que se estivesse começando hoje, Adoniran Barbosa faria algo parecido, se apropriando do dialeto das ruas como já fazia em seu tempo. (O clipe é bom, mas é uma pena que interrompa a ótima música a todo instante)



Antes, porém, Criolo já havia estourado com Não Existe Amor em SP. "São Paulo é um buquê. Buquê são flores mortas, num lindo arranjo". "Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel". Quem conhece a dor e o prazer que é viver na maior cidade brasileira há de concordar ao menos parcialmente com a poética seca e ressentida do rapper.



A verdade é que o mais recente disco do Criolo, Nó na Orelha, foi um dos mais surpreendentes lançamentos musicais recentes. Até porque, embora tenha mais de vinte anos de carreira, Kléber Gomes, antes conhecido como Criolo Doido, pensava em lançar um último trabalho e então abandonar a música. Deu no que deu. O material caiu na mão do produtor Daniel Gajaman que, junto com o também produtor Marcelo Cabral, convenceram o MC (mestre de cerimônia) a, além do rap, se aventurar por outros gÊneros musicais como samba e bolero. Botaram cordas, sopros, teclados na história, mas preservaram a musicalidade e a poética do rapper, que se revela um bom cantor.

O disco pode ser baixado no site amusicoteca, no link www.amusicoteca.com.br/?p=4194


O Dia do Fico



Futebol não é o meu forte. Sequer posso dizer que tenho um time pra chamar de meu. Quando adolescente, torcia não para o "Timão", mas sim para a Democracia Corinthiana. A razão é que eu sempre fui daqueles que preferem Stones a Beatles. Daí a fácil identificação do então adolescente com a equipe formada por figuras como Biro-Biro, Wladimir, Casagrande, Sócrates, Ataliba, Zenon etc. 

Encerrada a singular experiência de atletas tentarem conquistar poder decisório em seus clubes, deixei de assistir a futebol. Nos últimos anos, contudo, me empolguei com o Santos Futebol Clube. A aproximação começou devagar, em 1995, quando a equipe do artilheiro Giovanni faturou o Paulistão e o vice-campeonato brasileiro, devolvendo a alegria à torcida alvinegra praiana e, consequentemente, a minha cidade natal. 

Desse período, ficou, para o clube, o aprendizado de que mais vale formar seus próprios talentos e investir numa equipe equilibrada do que em grandes medalhões. Pouco tempo depois,  essa mentalidade proporcionou  o surgimento de Diego e Robinho. Mesmo os  meus conterrâneos que não diferenciam um centroavante de um árbitro sentiam orgulho ao ver o nome da cidade associado a algo tão espontâneo quanto os dribles de Robinho e a raça de Diego. 

Veio então um novo período de ostracismo até que, há menos de três anos, o país foi apresentado a Neymar e a Paulo Henrique Ganso. Eu, então, já havia deixado a cidade e alimentava, a distância, a saudade e a necessidade de preservar e reafirmar minhas origens caiçaras. Não podendo falar das belezas das praias santistas e incapaz de impressionar os outros com as referências ao maior porto da América Latina e  ao maior jardim praiano do mundo segundo o Guinness Book (isso para não falar que mencionar sindicalismo, ex-cidade vermelha e Plínio Marcos também não surte efeito sobre a maioria das gatinhas), me restou fazer pilhéria com os dribles desconcertantes de Neymar e com o belo futebol apresentado pelo Santos.  E houve um breve momento no ano passado que praticamente todo brasileiro tinha dois times, o seu (por hábito) e o Santos (por amor ao futebol-espetáculo). 

Em 2010 o time venceu o campeonato paulista e a Copa do Brasil. Este ano, voltou a vencer o Paulistão e a Libertadores. No final do ano, disputa o Mundial de Clubes, no Japão. Em função da boa fase, sua torcida é a que mais cresceu nos últimos anos. Eu sou um destes tantos "maria-vai-com-as-outras", mas o motivo pelo qual acho importante comentar a renovação do contrato de Neymar com o Santos é outro. É que, como muitos, considero que é mais que hora de os brasileiros amantes do futebol (o que, admito, não é o meu caso) exigirem a saída de Luis Álvaro de Oliveira da presidência do Santos para que possa assumir a presidência da CBF. Sim. Eu me filio ao movimento Luis Álvaro para a presidência da CBF.

Quando digo que não amo, que não entendo e que não acompanho futebol, estou na verdade expressando minha indignação contra uma das pessoas mais arrogantes com quem já tive o desprazer de cruzar pelos corredores da vida, Ricardo Teixeira. Sempre joguei e continuo jogando religiosamente minhas peladinhas, mas, até voltar a me empolgar com o Santos, não assistia a nenhum jogo por considerar que há tempos  o futebol deixou de ser um esporte "das massas" para se tornar um negócio "de massa", administrado de forma a atender o interesse de poucos. Não sou eu que digo isso, mas sim quem entende do riscado, como, por exemplo, o antropólogo e professor da Universidade Federal Fluminense, Marcos Alvito, um dos fundadores da recém-criada Associação Nacional dos Torcedores: "A CBF é basicamente um gigolô da seleção brasileira e um parasita do futebol brasileiro pelo qual ela não faz nada"


Os clubes são deficitários. As condições em que a maioria dos jogadores exerce sua profissão são aviltantes. Os torcedores são desrespeitados, quer como cidadãos, quer como consumidores. O(s) governo(s) está (ão) sempre pronto(s) a socorrer os clubes, mas nunca para fiscalizá-los. Calendários e horários são definidos de forma a atender a conveniência de uma empresa de comunicação. E, para mim, o pior: a atenção dada à modalidade acaba por ofuscar todo o gigante potencial esportivo brasileiro. (Há anos prometo um dia constranger um ministro do Esporte ou um dito jornalista esportivo perguntando-lhes sobre qual a semelhança entre Sandro Mineirinho e Adriano Mineirinho para que ambos sejam fenônemos mundiais).

No Santos, Luis Álvaro provou ser a antítese de Teixeira, conforme apontou o jornalista Vitor Birner em seu blog. "Implementou conceitos modernos, de governança corporativa, no Santos. Não se cercou de amigos e parentes. O conselho gestor, formado por profissionais competentes e bem-sucedidos, toma decisões. Segurou Ganso e Neymar além do imaginado. Hoje há uma geração crianças ‘neymarzistas’. Os santistas estão felizes. O valor da transferência do atacante aumentou".

É isso. O anúncio de que Neymar fica em Santos até a Copa de 2014 é um golaço não do atacante, que será bem recompensado para permanecer em sua cidade, em seu país, perto de amigos e familiares e onde provou ser possível obter reconhecimento mundial, mas sim da diretoria do clube. Vai na contramão de tudo o que vinha acontecendo. E dá alguma esperança de que o Brasil possa de fato ser o país do futebol. Nem que apenas pelo tempo que durar a crise econômica internacional.

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E já que falei da Democracia Corinthiana, mas sei que 66% dos meus três leitores não sabiam do que se tratava, segue uma foto ilustrativa de porque era fácil para um garoto que amava os Rolling Stones se identificar com os craques Sócrates, Vladimir e Casagrande curtindo ao lado de Rita Lee.

quarta-feira, novembro 09, 2011

A Maior Onda Já Surfada

Vinte e oito metros. Ou algo como um prédio de oito andares. Eis o tamanho da onda surfada pelo surfista havaiano Garrett Macnamara, em Portugal. É a maior onda já dropada com sucesso por um ser humano, cinco metros maior que a pega pelo norte-americano Mike Parsons, na Califórnia, em 2008. Apesar de a session histórica ter ocorrido no último dia 1º, só hoje a notícia correu mundo, deixando a todos boquiabertos e se perguntando sobre qual será o limite para estes malucos após a invenção do town-in, modalidade em que o atleta é rebocado para dentro da onda por um jet-sky.

Um XIX no 51


Santista workaholic que não consegue dedicar mais de 40 horas ao ócio criativo proporcionado por uma boa praia, Paulo Celestino vive do teatro desde 1994. Só viaja a trabalho, é verdade, mas junto com o premiado Grupo XIX de Teatro (Hysteria; Hygiene e Arrufos), do qual é um dos fundadores, encontrou uma maneira de se desenvolver fazendo aquilo em que acredita. Formado pela Escola de Arte Dramática (EAD) da USP,  também já atuou no CPT, de Antunes Filho. Em 2009, dirigiu a peça In Memoriam, inspirada no filme Wandafuru Raifu (Depois da Vida), do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda. Nos últimos anos, passou a experimentar a linguagem audio-visual, já tendo filmado o experimental Qual Seu Filme de Amor Preferido, em que, além de registrar o processo de criação do espetáculo Arrufos, discute a concepção idealizada de amor romântico. Animal político, é um dos diretores da Cooperativa Paulista de Teatro, cargo que o obrigou a descobrir  Brasília (com a qual se surpreendeu positivamente), para aonde tem vindo com frequência a fim de participar dos debates em torno da reforma da Lei Rouanet. Na capital, além de chá de cadeira, já tomou Diabo Verde e Beira Bier (duas exclusividades do Bar Beirute).

terça-feira, novembro 08, 2011

Música Urbana

"Antes que eu confunda o domingo com a segunda" rolê de carrinho Eixão Setor Hospitalar Setor Comercial Norte e Sul "tudo está fechado" então é rock slide ollie in to tail estilêra brecha manêra no Conic submundo federal zoando passa a mulecada equilibrada sobre o shape rodinha poliuretano crassssssh no cimento liso [Ivan Presença? - ausente] calça rasgada tênis rasgados rasgando o tédio varando cinco degraus wallride na Dulcina de Moraes Rage Against The Machine e a batalha de Los Angeles na orelha "pleno domingão se o negócio é bom cê fica chinezim" esporte "afasta de mim as piteira" aproxima as biates eu tenho rodas sob os sapatos "as ruas têm cheiro de gasolina e óleo diesel por toda a plataforma" superior da Rodoviária dá para afundar o nose vendo tudo niemeyer à minha volta "tudo quase sempre como eu" nunca quis caldo de Viçosa pastel de vento mata-larica sexy a dois reais "matilha de crianças sujas no meio da rua" "zé-povinho é o cão" Brasil de Fato feio pra caraio!  nós é nós e o tempo vai distante na minha frente se distanciando cada vez mais o rolamento não dá conta de alcançá-lo música urbana na manchete outro crime outro bacana outra otoridade enquanto eu volto pros eixos papai-mamãe-filhinho donos de capitanias bacanais baganas e diplomas suo sujo suo demais suo na tarde de domingo toda a noite da véspera e os trucks tremem porque sei que "tudo é fase, irmão"...mas eu me equilibro e deslizo pra casa.

segunda-feira, novembro 07, 2011

Outra ditadura, outras verdades


Estou há uma semana adiando escrever sobre o ótimo disco que o (ex?)rapper Criolo lançou no primeiro semestre e que só recentemente eu fui ouvir com calma. A intenção era recomendar aos meus três leitores que baixassem uma cópia de Nó na Orelha, disponível no site Musicoteca e tirassem suas próprias conclusões. Não tive tempo. E nem foi preciso porque, a esta altura, mesmo o menos antenado deles já leu ou ouviu falar sobre o paulistano. Principalmente após ele receber uma das maiores distinções que um letrista de rapper poderia esperar: ser citado por Chico Buarque. E não foi qualquer citação, tipo uma menção durante uma entrevista. Não. Chico simplesmente cantou todo um trecho da versão que Criolo fez para um de seus maiores clássicos, Cálice, composta junto com Gilberto Gil. O que levou muita gente - inclusive eu - a procurar a tal versão rapper do hino setentista antiditadura. E ela é realmente duca...E o episódio ,cheio de significados. Como em todas suas letras, Criolo fala da necessidade de outra Comissão da Verdade. Tanto que motivou Chico a voltar a incluir a música, agora adaptada a uma nova realidade, em seus shows, após anos sem tocá-la por considerá-la muito ligada ao período da ditadura militar. É isso.  A reinterpretação dos versos do clássico por quem conhece a atual realidade das ruas deixou Chico a vontade para voltar a cantá-la.



Confirmado: ke11y!

 Após a lambança da ASP (leia posts abaixo), o norte-americano Kelly Slater enfim confirmou seu DÉCIMO PRIMEIRO título de campeão mundial de surf, vencendo uma única bateria nas quartas de finais.

sábado, novembro 05, 2011

Slater não é campeão?!?!?!


Hã? Como é que é? Dois dias após anunciar ao mundo que o rei-careca tinha batido seus oponentes e, mais uma vez, conservado a almejada coroa, a ASP (Associação de Surf Profissional) volta atrás e informa que o norte-americano Kelly Slater ainda não possui pontos suficientes para garantir, antecipadamente, seu 11º títúlo mundial? Putz!

Depois a gente reclama que a imprensa esportiva - sobretudo a brasileira - não dá o merecido espaço ao surf. Este é o tipo de erro que compromete não apenas a credibilidade da entidade máxima do esporte, como a imagem do surf profissional como um todo. Já o resultado, por si só, tem uma vantagem: manter o interesse e as atenções voltadas para as etapas restantes do circuito, sobretudo para a que deveria estar acontecendo hoje (5), em San Francisco (EUA), prejudicada pelo mau tempo. Em tese, a conquista do 11º título mundial por ke11y é agora uma uma mera questão formal. (A conferir se Owen Wright conseguirá surpreender e frustrar a expectativa geral)

LEIA: HENDA O QUÊ?!?!

Kelly Slater não é campeão

Por Ader Oliveira - http://www.waves.com.br/

A ASP acaba de lançar uma nota em que admite ter errado o cálculo do sistema de [pontuação do] ranking, anunciando equivocada e prematuramente a conquista do título do World Tour deste ano pelo norte-americano Kelly Slater.

"Nosso sistema de programação do ranking está projetado para desempatar os pontos baseado no sistema de cabeças-de-chave", diz o brasileiro Renato Hickel, tour manager da ASP.

"Kelly (Slater) e Owen (Wright) empataram nos nove melhores dos 11 resultados, então nós fomos para os oito melhores e o sistema deu o título a Kelly baseado em sua melhor posição no seed. Nós estávamos trabalhando com essa suposição e os cenários do título foram baseados nisso. Isso foi um erro. No fim, somos responsáveis por isso e devemos ser responsabilizados. Pedimos desculpas aos nossos fãs, aos surfistas e a Owen e Kelly", continua Hickel.

Ainda de acordo com o dirigente, o ranking costuma ser analisado por quatro pessoas. Porém, apenas Hickel percebeu o erro na última quinta-feira, quando o evento teve folga.

"Todo ano temos empates no ranking, mas essa situação foi inédita. Foi a primeira vez que chegamos à penúltima etapa com os dois primeiros do Tour empatados", explica Hickel.

Agora, Slater precisa vencer mais uma bateria no Rip Curl Pro Search ou na etapa seguinte, em Pipeline, Hawaii, para confirmar o titulo mundial da temporada. Para Wright permanecer na briga, ele deve vencer tanto o Rip Curl Pro Search como o Pipe Masters. Se isso acontecer, os dois travarão um duelo homem-a-homem para definir o novo campeão mundial da ASP.

A entidade assumiu o erro nesta sexta-feira, enviando release para a imprensa e destacando a notícia na capa do site Aspworldtour.com. Antes, o norte-americano Kelly Slater havia divulgado o erro em seu Twitter, depois de ler um comentário de um internauta no Surfline que apontava o erro da entidade.

"A calculadora da ASP deve estar quebrada. Eu ainda não sou o campeão mundial!", postou Slater. "Não estou brincando. Ainda não faturei o titulo. Continuo precisando vencer outra bateria. Peguem aquelas camisetas e bonés de volta", continua o atleta, em alusão ao material promocional distribuído pelo patrocinador.

sexta-feira, novembro 04, 2011

quinta-feira, novembro 03, 2011




A boa memória é um importante atributo para os que não tem imaginação



Vai furando, vai

Ouvidoria da SDH vai apurar denúncias de tortura contra presos catarinenses

Representantes da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos chegam a Santa Catarina nesta quinta-feira (3) para apurar denúncias de maus-tratos e torturas contra presos de unidades estaduais.


Chefiada pelo coordenador-geral da ouvidoria, Bruno Renato Nascimento Teixeira, a comitiva começa a visita pelo Presídio Regional de Blumenau. Já na sexta-feira (4), o grupo deve inspecionar unidades prisionais da região metropolitana de Florianópolis. Além disso, Teixeira se reunirá com representantes de organizações sociais que atuam na defesa dos direitos humanos, do governo estadual, do Ministério Público estadual e de outras entidades.

"Nossa ida ao estado é motivada por uma série de denúncias formuladas pelo Fórum de Defesa dos Direitos e Combate à Tortura no Presídio Regional de Blumenau [que reúne várias entidades e organizações da sociedade civil]. Nosso principal objetivo é mobilizar a rede de proteção dos direitos humanos da região e o governo estadual para, juntos, acharmos uma solução para o problema", disse Teixeira à Agência Brasil.

Entidades denunciam maus-tratos contra presos de Blumenau

Um mês após uma rebelião no Presídio Regional de Blumenau (SC), que deixou o saldo de um morto e ao menos 13 feridos, entidades de defesa dos direitos humanos continuam denunciando a superlotação e o uso sistemático de violência contra os presos. As denúncias vão ser apuradas pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, cujo cordenador, Bruno Renato Teixeira,  chega amanhã ao estado.

De acordo com o Fórum de Defesa dos Direitos e Combate à Tortura no Presídio Regional de Blumenau, que reúne diversas organizações e entidades da sociedade civil e parentes de presos, as condições estruturais da unidade são subumanas, com celas superlotadas e sem ventilação adequada. A entidade também diz que os apenados não recebem assistência jurídica apropriada e que muitos dos que continuam presos já cumpriram suas penas. Além disso, o fórum sustenta que os presos não dispõem de atendimento médico e, muitas vezes, são privados de comida. Objetos eletroeletrônicos como televisores e ventiladores foram recolhidos pela atual administração, mas não foram entregues às famílias dos presos.

Governo catarinense rebate denúncias

Surpreendido pela informação de que representantes da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos irão a Santa Catarina checar denúncias de que os presos catarinenses estão sendo vítimas de maus-tratos e até de tortura, o diretor do Departamento de Administração Prisional de Santa Catarina, Leandro Soares Lima, negou qualquer irregularidade nas unidades carcerárias do estado.


Por telefone, Lima disse à Agência Brasil que as reclamações de parentes de detentos, acolhidas pelo Fórum de Defesa dos Direitos de Combate à Tortura no Presídio Regional de Blumenau, são motivadas pela perda de privilégios que eram concedidos irregularmente aos presos e que a atual direção da unidade prisional vem combatendo com mais rigor, conforme determina a lei. "Até há pouco tempo, havia uma situação de absoluto descaso e de falta de controle disciplinar. Havia certas regalias, como a entrada de material e objetos não permitidos e a atual diretoria, que assumiu há cerca de três meses, está fazendo uma faxina, coibindo as ilicitudes. Isso tem gerado queixas”, disse Lima.

Celas-contêineres ainda são usadas, revela diretor de Departamento Penitenciário

O diretor do Departamento de Administração Prisional de Santa Catarina, Leandro Soares Lima, disse que as celas-contêineres - estruturas metálicas usadas como alternativa temporária à superlotação das prisões - estão espalhadas por "todo o estado", inclusive no Presídio Regional de Blumenau, onde, segundo entidades de defesa dos direitos humanos, os apenados são submetidos a maus-tratos.

"Existem celas-contêineres em todo o estado", disse Lima. Há dois anos, o ex-diretor do departamento Hudson Queiroz também admitiu a existência de contêineres sendo usados como celas. À época, entrevistados de diferentes estados disseram que Santa Catarina foi a primeira unidade da Federação a adotar, ainda em 2003, a “solução provisória” para a falta de vagas no sistema carcerário, um problema que atinge  todos os estados.

"Hoje, a forma como os contêineres estão sendo usados para a custódia de presos não se constitui por si só  uma atitude agressiva. Ele [o contêiner] é extremamente seguro, tranquilo, tem solário individual, é muito mais adequado e não tem cheiro como nas penitenciárias com paredes de alvenaria", disse o diretor.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Henda o quê?!?!?!

"O esporte produziu uma seleta lista de atletas cujos feitos transcenderam os limites de suas respectivas modalidades, transformando-os em mitos. No surf, este cara se chama Kelly Slater. [...] O floridiano é o profissional mais bem-sucedido da história do surf e, na semana passada, ensinou jornalistas e surfistas a pronunciarem a palavra OCTACAMPEÃO"
Octopus Surfer - 20 de outubro de 2006

"Kelly Slater é 10! Dez vezes campeão mundial de surf. Aos 38 anos de idade, o norte-americano garantiu o inigualável feito [...] Não tenho conhecimento de um outro atleta de qualquer outro esporte que tenha obtido tantos títulos mundias. Será que há?"



Já escrevi aqui, neste blog, que é um privilégio ser contemporâneo de Kelly Slater. Para um surfista, é algo semelhante aqueles que curtem futebol e viram Pelé jogar. Ou então quem viu Hendrix, os Beatles, Miles Davis ou os Stones tocarem ao vivo ainda na década de 1960. Como estes, o surfista floridiano extendeu os limites de sua atividade, estabeleceu novos valores e redefiniu parâmetros. Também já escrevi que não fosse a miopia da chamada mídia esportiva, todos saberiam que Slater é o atleta do milênio. Nenhum outro esportista de qualquer outra modalidade ganhou tantos prêmios na carreira como ele.  Hoje (2), Slater ganhou seu 11º título mundial. Aos 39 anos, disputando com alguns garotos que têm a metade de sua idade. Um fenômeno de longevidade em um esporte radical e de explosão. E o pior é que, para alguns especialistas, por mais alguns anos, Slater só perderá para si mesmo. Ou seja, se o careca estiver motivado e desejando vencer, ainda vai demorar a aparecer quem o pare. É esperar para ver.