Futebol não é o meu forte. Sequer posso dizer que tenho um time pra chamar de meu. Quando adolescente, torcia não para o "Timão", mas sim para a Democracia Corinthiana. A razão é que eu sempre fui daqueles que preferem Stones a Beatles. Daí a fácil identificação do então adolescente com a equipe formada por figuras como Biro-Biro, Wladimir, Casagrande, Sócrates, Ataliba, Zenon etc.
Encerrada a singular experiência de atletas tentarem conquistar poder decisório em seus clubes, deixei de assistir a futebol. Nos últimos anos, contudo, me empolguei com o Santos Futebol Clube. A aproximação começou devagar, em 1995, quando a equipe do artilheiro Giovanni faturou o Paulistão e o vice-campeonato brasileiro, devolvendo a alegria à torcida alvinegra praiana e, consequentemente, a minha cidade natal.
Desse período, ficou, para o clube, o aprendizado de que mais vale formar seus próprios talentos e investir numa equipe equilibrada do que em grandes medalhões. Pouco tempo depois, essa mentalidade proporcionou o surgimento de Diego e Robinho. Mesmo os meus conterrâneos que não diferenciam um centroavante de um árbitro sentiam orgulho ao ver o nome da cidade associado a algo tão espontâneo quanto os dribles de Robinho e a raça de Diego.
Veio então um novo período de ostracismo até que, há menos de três anos, o país foi apresentado a Neymar e a Paulo Henrique Ganso. Eu, então, já havia deixado a cidade e alimentava, a distância, a saudade e a necessidade de preservar e reafirmar minhas origens caiçaras. Não podendo falar das belezas das praias santistas e incapaz de impressionar os outros com as referências ao maior porto da América Latina e ao maior jardim praiano do mundo segundo o Guinness Book (isso para não falar que mencionar sindicalismo, ex-cidade vermelha e Plínio Marcos também não surte efeito sobre a maioria das gatinhas), me restou fazer pilhéria com os dribles desconcertantes de Neymar e com o belo futebol apresentado pelo Santos. E houve um breve momento no ano passado que praticamente todo brasileiro tinha dois times, o seu (por hábito) e o Santos (por amor ao futebol-espetáculo).
Em 2010 o time venceu o campeonato paulista e a Copa do Brasil. Este ano, voltou a vencer o Paulistão e a Libertadores. No final do ano, disputa o Mundial de Clubes, no Japão. Em função da boa fase, sua torcida é a que mais cresceu nos últimos anos. Eu sou um destes tantos "maria-vai-com-as-outras", mas o motivo pelo qual acho importante comentar a renovação do contrato de Neymar com o Santos é outro. É que, como muitos, considero que é mais que hora de os brasileiros amantes do futebol (o que, admito, não é o meu caso) exigirem a saída de Luis Álvaro de Oliveira da presidência do Santos para que possa assumir a presidência da CBF. Sim. Eu me filio ao movimento Luis Álvaro para a presidência da CBF.
Quando digo que não amo, que não entendo e que não acompanho futebol, estou na verdade expressando minha indignação contra uma das pessoas mais arrogantes com quem já tive o desprazer de cruzar pelos corredores da vida, Ricardo Teixeira. Sempre joguei e continuo jogando religiosamente minhas peladinhas, mas, até voltar a me empolgar com o Santos, não assistia a nenhum jogo por considerar que há tempos o futebol deixou de ser um esporte "das massas" para se tornar um negócio "de massa", administrado de forma a atender o interesse de poucos. Não sou eu que digo isso, mas sim quem entende do riscado, como, por exemplo, o antropólogo e professor da Universidade Federal Fluminense, Marcos Alvito, um dos fundadores da recém-criada Associação Nacional dos Torcedores: "A CBF é basicamente um gigolô da seleção brasileira e um parasita do futebol brasileiro pelo qual ela não faz nada"
Os clubes são deficitários. As condições em que a maioria dos jogadores exerce sua profissão são aviltantes. Os torcedores são desrespeitados, quer como cidadãos, quer como consumidores. O(s) governo(s) está (ão) sempre pronto(s) a socorrer os clubes, mas nunca para fiscalizá-los. Calendários e horários são definidos de forma a atender a conveniência de uma empresa de comunicação. E, para mim, o pior: a atenção dada à modalidade acaba por ofuscar todo o gigante potencial esportivo brasileiro. (Há anos prometo um dia constranger um ministro do Esporte ou um dito jornalista esportivo perguntando-lhes sobre qual a semelhança entre Sandro Mineirinho e Adriano Mineirinho para que ambos sejam fenônemos mundiais).
No Santos, Luis Álvaro provou ser a antítese de Teixeira, conforme apontou o jornalista Vitor Birner em seu blog. "Implementou conceitos modernos, de governança corporativa, no Santos. Não se cercou de amigos e parentes. O conselho gestor, formado por profissionais competentes e bem-sucedidos, toma decisões. Segurou Ganso e Neymar além do imaginado. Hoje há uma geração crianças ‘neymarzistas’. Os santistas estão felizes. O valor da transferência do atacante aumentou".
É isso. O anúncio de que Neymar fica em Santos até a Copa de 2014 é um golaço não do atacante, que será bem recompensado para permanecer em sua cidade, em seu país, perto de amigos e familiares e onde provou ser possível obter reconhecimento mundial, mas sim da diretoria do clube. Vai na contramão de tudo o que vinha acontecendo. E dá alguma esperança de que o Brasil possa de fato ser o país do futebol. Nem que apenas pelo tempo que durar a crise econômica internacional.
***************
E já que falei da Democracia Corinthiana, mas sei que 66% dos meus três leitores não sabiam do que se tratava, segue uma foto ilustrativa de porque era fácil para um garoto que amava os Rolling Stones se identificar com os craques Sócrates, Vladimir e Casagrande curtindo ao lado de Rita Lee.
***************
E já que falei da Democracia Corinthiana, mas sei que 66% dos meus três leitores não sabiam do que se tratava, segue uma foto ilustrativa de porque era fácil para um garoto que amava os Rolling Stones se identificar com os craques Sócrates, Vladimir e Casagrande curtindo ao lado de Rita Lee.
Nenhum comentário:
Postar um comentário