quinta-feira, novembro 17, 2011

Universo Almodovariano


Só mesmo um cineasta como Pedro Almodóvar para levar às telas, com maestria, uma trama como a de A Pele que Habito. Um filme difícil até de classificar, que dirá resenhar sem com isso estragar a surpresa do roteiro. Um terror sem um "monstro" unidimensional? Um suspense sem grandes sustos? Um insólito "Frankstein" almodóvariano? Ou uma ode e um alerta às obsessões 

Acho que, atualmente, apenas o espanhol e os norte-americanos Quentin Tarantino e Terence Malick (A Árvore da Vida) gozam da necessária liberdade para transformar suas particularíssimas visões em filmes que agradam a uma considerável parcela do público adulto (há outros importantes e comercialmente bem-sucedidos diretores como, por exemplo, Clint Eastwood, mas estes se associam a uma outra corrente cinematográfica, muito mais próxima à tradição hollywoodiana, na qual a mão do diretor não é tão perceptível - Eastwood é uma exceção, uma avis-rara, daí sua grandeza).      

A Pele não é, a meu ver, o melhor de Almodóvar. E, ainda assim, é surpreendente. Principalmente porque aponta para a aparentemente infinita capacidade do diretor se reiventar e fugir aos estereótipos que, a cada novo ciclo, vão surgindo em torno de seu nome. Ao fim de 133 minutos, as luzes da sala se acendem e deixam ver o sorriso no rosto do público. E a expressão nada tem que ver com a história do cirurgião plástico Richard Ledgard (Antonio Banderas). Não. O quase imperceptível sorriso é provocado pela constatação de que Almodóvar é um raro contador de histórias capaz de não só manipular a trama, mas a própria plateia, envolvendo-a e conduzindo-a por seu universo particular. 

Conselho: Se possível, não assista a nenhum trailler do filme. Além de excepcionalmente ruins, são capazes de estragar parte da surpresa.

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