quinta-feira, julho 07, 2011

Cá estou eu de novo. Pela sétima ou oitava vez diante da antes carinhosamente chamada Tenda da Matriz. Que agora passa a ser inequivocadamente conhecida como a Tenda do Telão, já que foi transferida da praça ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios (cuja reforma externa parece finalmente ter sido concluída) para o outro lado do Rio Perequê-açu, na Praia do Pontal, em Paraty (RJ). E de onde acompanho a abertura da 9ª Festa Literária Internacional (Flip).


Agora pode-se dizer que aqui fica a turma do fundão desta variada fauna que comparece ao evento cult-nerd-chique-pop literário, ou, simplesmente, à Festa. Aqueles que não conseguem ingressos para a Tenda dos Autores ou que preferem economizar R$ 30 e assistir aos bate-papos pelo telão, pagando apenas R$ 10, com direito a fones de ouvido. E há também os "pipocas", um povo semifosco que não paga nem mesmo os R$ 10 para entrar na tenda da Matr...digo, do Telão, e assiste a tudo do lado de fora mesmo, de preferência com um copinho de cachaça (também conhecida como parati) em mãos. Daí a sensacional ideia de um determinado banco que, desde o ano passado, distribui banquinhos de papelão dobráveis para quem, como eu, ficava de pé ou se sentava no chão.


Quem deve ter ficado satisfeito com a mudança são os donos de quiosques, estava pensando equivocadamente. Até ver o proprietário do quiosque ao lado da tenda andando pra lá e pra cá, irritado com a multidão que tomou posse de suas mesas e cadeiras, transformando o lugar em um palanque e consumindo quase nada. Tinha gente sentada até em frente aos banheiros, impedindo os habituais clientes de chegarem até eles.


Foi neste clima festivo que o "jovial" crítico literário Antonio Candido, de 92 anos, se encarregou de abrir a Flip, fazendo não uma conferência, mas sim dando um depoimento sobre o autor homenageado deste ano, o modernista Oswald de Andrade, com quem conviveu a ponto de considerá-lo um amigo.


"Não pretendo falar sobre sua obra ou sobre sua biografia, mas sim sobre algo de que só eu posso falar: minha visão sobre Oswald [que Cândido insiste em chamar de Oswaldo] e sobre como ele se situava para mim e para a minha geração. [Isso porque] Sou um sobrevivente e um dos poucos que o conheceu que ainda estão vivos", comentou o crítico, autor dos importantíssimos Literatura e Sociedade (que li) e Formação da Literatura Brasileira (que não li). Nada muito sexy, convenhamos, mas depois da terceira dose...


À fala de Cândido se seguiu uma boa apresentação do professor e músico caiçara (ele nasceu em São Vicente), José Miguel Wisnik. Que só não foi melhor por falta de modéstia, pois Wisnik, que ainda iria se apresentar cantando antes do esperado show de Elza Soares, se alongou demais, falando quase tanto quanto seu mestre na Usp, Antonio Cândido. E ainda por cima adotando um tom professoral, apesar dos esforços para apontar a já bastante explorada influência de Oswald e de seu conceito de antropofagia para as artes brasileiras do final dos anos 1960 (sobretudo para o tropicalismo) e assim, dimensionar a importância do modernista. Pior, lendo um trecho do livro de...Caetano Veloso, Verdade Tropical. Sinceramente. Pode ser coincidência, mas toda vez que ouço o Wisnik ele dá um jeito de encaixar os velhos "novos baianos" Caê e Gil em sua fala.


Aliás, não ficou por aí. Saí para dar uma volta enquanto Wisnik fazia sua aplaudidissima apresentação e só me reaproximei do palco quando a entrada da Elza Soares foi anunciada. Um mês após se submeter a uma cirurgia, a diva caminhou amparada e se apresentou sentada, nada que ofuscasse o brilho de sua voz, o que, no entanto, quase ocorreu com as repetidas intervenções de Wisnik, que procurava "explicar" não sei o quê antes do início de cada música. Putz!


Mas bastou Elza soltar a voz e cantar os primeiros versos de Paciência (Lenine) para que a festa reinasse.

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