Antes de retornarmos a Brasília, eu e Carlos Leite decidimos conhecer Ilhéus, para onde teriamos que voltar de qualquer forma para apanhar nosso voo. Entusiasmado com as ondas de Itacaré e ressabiado pelos alertas para que não fôssemos (pois nos arrependeriamos, diziam), Leite resistiu, mas acabou topando minha sugestão de passarmos dois dias na terra de Gabriela, Tonico Bastos, Nacib e de antigos cabarés como o Bataclan (hoje transformado em um café e restaurante familiar).
Leite nunca leu Jorge Amado. Não gosta de novelas. E os únicos filmes brasileiros a que assistiu foram Cidade de Deus e Tropa de Elite. Isso, lógico, explica sua indiferença. Para convencê-lo, tive que mostrar a previsão das ondas no site waves, vídeos no youtube e argumentar que seria uma boa pegar umas ondinhas que pareciam mais longas, embora menores que as de Itacaré. No fundo, no fundo, o que eu queria era aproveitar que já estava por ali para conhecer mais uma cidade. Com tudo que lemos sobre Ilhéus pré-vassoura de bruxa, não podia acreditar no que nos diziam em Itacaré - que não havia nada o que fazer na cidade; que as únicas praias que valiam a pena visitar ficavam no distrito de Olivença, a cerca de 20 quilômetros de Ilhéus, e por aí vai.
Chegando, a primeira coisa que descobrimos é que há poucas pousadas próximas ao centro, onde fica o principal atrativo turístico local, o quarteirão Jorge Amado. E, pior, que as que existem são caras para o que oferecem. Com a ajuda de um taxista conseguimos arranjar um quarto embolorado numa pousada de frente para a Praia da Avenida, a cerca de setecentos metros do centro. Primeiro sinal de alerta: praia e pousada nos pareceram duas minas de ouro por explorar e não entendiamos o porque de estarem assim, abandonadas.
Caminhando você vê a imponência da neoclássica Catedral de São Sebastião, erguida em frente à Praia da Avenida; o Bar Vesúvio, onde, na primeira metade do século XX, os coronéis do cacau se reuniam; o que resta do luxo do Ilhéus Hotel, construído em 1930 para hospedar os muitos comerciantes e visitantes que desembarcavam no porto da cidade e o Bataclan e se anima com o movimento das ruas. E, principalmente, entente logo onde Jorge Amado encontrou inspiração para criar sua Gabriela.
Infelizmente, essa sensação dura pouco. Apenas o tempo em que as lojas permanecem abertas. Depois das 19 horas, restam, além do Vesúvio com seus poucos turistas estrangeiros (os brasileiros, na maioria, aparentemente só se aproximam para tirar fotos ao lado do boneco de Jorge Amado), outros três ou quatro no Centro e mais um de frente à praia, além de uma loja do Subway e um carrinho de cachorro-quente.
Para nosso azar, choveu nos dois dias, nos impedindo de ir para outras prais mais distantes do centro (que, nos garantiram, são bem melhores, a exemplo Dos Milionários e De Olivença). E, pior, o vento forte constante deixou as ondas da Avenida ainda mais mexidas que as de Itacaré. Leite, lógico, me torrou a paciência por conta disso. E, com razão. Porque, mesmo um quarto com vista para a praia, qualque que seja a praia, sendo melhor que estar no trabalho, em Brasília, a Praia da Avenida realmente pede um projeto de urbanização urgente. Ô prainha sem graça. Estamos prontos pra voltar.
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