terça-feira, fevereiro 15, 2011

Um Cara Que Discute (e descreve) A Relação

Releve a primeira impressão que a capa e o ótimo título do primeiro livro do publicitário Gabito Nunes podem suscitar: "a manhã seguinte sempre chega" não é um livro de auto-ajuda e o autor não promete nada além de se esforçar para entregar ao seu leitor um texto leve e divertido. Qualidades que não impedem que, ao fim do livro, a conclusão seja que sorrir a dois exige esforço e que, mais cedo ou mais tarde, você também vai quebrar a cara - se já não quebrou - para então começar tudo de novo.



E como se diz por aí, o importante não é o que se conta, mas como se conta. Admirador de escritores marginais como John Fante, Charles Bukowski, Jack Kerouac, Carpinejar e Caio Fernando Abreu, o gaúcho tem um texto que se aproxima da informalidade de um bom bate-papo entre amigos.



Gabito não vai ganhar nenhum grande prêmio literário com este livro, mas os cerca de 50 mil acessos mensais ao seu site - "caras como eu", no qual a maioria das crônicas foi originalmente publicadas - e a pilha de exemplares à venda nas livrarias indicam que o cara encontrou seu espaço como escritor. Principalmente entre o público feminino.



Tudo Que direi A Minha Filha

Até onde tenho notícias, não possuo herdeiros biológicos. Quanto mais uma garota adolescente toda macia e perfumada, tarada pela iniciação ginecológica. Chegará minha vez de pagar pelos hímens complacentes que despedacei em lugares apertados e abafados pela voz esganiçada do Axl Rose. Mas graças ao bom deus não é o momento.

Já pensou ter de cercear o namoro da sua garotinha com a Sthefany Meyer e seus vampiros punheteiros tão em alta? Você atende a campainha esperando um genro cordato e dá de cara com um Nosferatu júnior, um Batman anêmico, o filho do Zé do Caixão. Seria demais pra mim. Não é Halloween, meu filho! E é sem travessura ou gostosura com filha minha! No jantar de apresentação eu já faria minha especialidade. Macarrão alho e óleo. Com alho extra. Eu mereço.

Pais podem ser muito tiranos, mas não lhes tiro a razão. E olha que já tive de pedir em namoro uma garota que saía há poucas semanas sob a mira de uma faca de pão. Pai tirano é comigo. O fato é que pais agem pela emoção diante de tudo que pode ocorrer com suas filhas. Recentemente, tive notícia de uma menina de pai rígido que resolveu se aventurar escondida e retornou pra casa paraplégica, vítima desses moços velozes e furiosos que mal controlam a própria ejaculação, quanto mais um volante. É duro.

Uso a razão toda vez que escrevo uma crônica sobre o comportamento amoroso de homens e mulheres. Quem forma opinião deve ter a mente elástica, deve ponderar e selecionar os vocábulos. Mas se tivesse de falar à minha filha, o sermão seria outro. Homem é homem, minha filha. Pau é pau, não confunda. Pau é diversão, como o Palhaço Pirulito que animava suas festinhas, lembra? Ele vinha, fazia aquela algazarra toda, seus olhinhos brilhavam e choravas toda santa vez que ele recebia o ordenado, despintava a cara de pau e saía. Mas ele era um palhaço, minha filha. Tinha de ir embora. Era engraçado, prazeroso, lúdico, eu sei. Mas era um palhaço e fuzarquear era sua única serventia.

Um palhaço vai te acompanhar no pronto-socorro de madrugada e segurar sua mão na hora do benzetacil na bunda? Imagina um palhaço ralando pra botar bife e batata frita na mesa? Palhaço lava o banheiro? Se sua mãe falecer, o palhaço estará no velório a te abraçar forte? Não. Homem é como o papai. O palhaço é um pau. Você desfruta e o deixa ir, sem dedicar um mililitro de lágrima. Combinado?

Um dia você vai se deparar com um homem. E tenha cuidado ao diferenciá-lo dos Palhaços Pirulitos da vida. Se mostre uma mulher de valores fortes e definidos, pois um homem requer ao seu lado um alguém de conduta compatível com a dele. Pessoas que prestam buscam nada menos que pessoas que prestam. Essa é a única verdade que direi à minha filha, sem me preocupar em ter uma visão ponderada e anti machista. Sente em cima, lamba e esfregue na cara quantos paus você quiser, dê sem dó ou restrição, em todas posições possíveis e impossíveis, sempre com camisinha ou exame de HIV em dia. Mas jamais esqueça: todo pau é um palhaço, não um homem. Homem te ama, te cuida, te protege. Homem não te persegue, anda do seu lado. Homem não te abandona.

Tudo isso, claro, após seus 25 anos, quando ela terminar a faculdade e estiver apta a namorar. E três vivas para o ensino à distância.

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