quinta-feira, fevereiro 17, 2011

A Iluminada

...e no nono dia, já descansado, Deus criou Natalie Portman.

Exageros à parte, com sua atuação em Cisne Negro, a atriz israelense prova ser uma das melhores atrizes da atualidade. Já tendo recolhido vário prêmios de prestígio, como o Globo de Ouro, é difícil não apostar que, no próximo dia 27, ela vá receber também o Oscar de melhor atriz. Não vi ainda a nenhum dos filmes com as demais indicadas, mas não consigo imaginar, neste ano, um desempenho melhor.

No suspense psicológico dirigido por Darren Aronofsky (dos ótimos Réquiem para um Sonho e O Lutador), Portman dá tal dimensão a sua personagem, Nina, que acaba por torná-la uma versão feminina do alucinado Jack Torrance incorporado por Jack Nicholson em O Iluminado.
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Aliás, os dois roteiros tem muito em comum. Enquanto Torrance perde a razão durante uma estada no Hotel Overlook, Nina não dá conta da pressão de querer ser a melhor dançarina de sua companhia e de disputar com as outras bailarinas o papel de protagonista da peça Lago dos Cisnes. Além disso, tem que lidar com as cobranças e o assédio de seu diretor (Vincent Cassel, em mais uma ótima atuação), com a superproteção de sua mãe (Barbara Hershey) e com a exposição pública e o medo de errar. Fora os suplícios físicos decorrentes da intensa rotina de ensaios e exercícios, de uma sugerida bulimia e do fato de, aos 20 anos, ainda ser virgem e solitária.

É a partir do conflito psicológico gerado por todo este stress que se desenvolve a paranoia e a história de Nina. E, no caso, o tema do balé dramático Lago dos Cisnes representa à perfeição esta dualidade: para ganhar o papel principal, Nina terá que superar sua ânsia por perfeição técnica e sua fragilidade e inocência – perfeitos para que desempenhe o cisne branco, amoroso e delicado – e permitir vir à tona traços de sua própria personalidade como a intuição e a ambição exigidas na interpretação do selvagem e sedutor cisne negro.

Li em algum lugar e concordo que o filme é como um palco montado para destacar todo o talento de Portman, que desde seu primeiro filme de expressão, O Profissional (1994), de Jean Luc Besson, tem revelado inteligência artística para escolher os papéis e os diretores a que se entrega. E no que pese todo oba-oba em torno da tórrida cena em que, no filme, ela divide a cama com outra dançarina, é, a meu ver, numa cena simples, a que ela chora no banheiro ao ligar para a mãe para contar que foi selecionada para dançar os cisnes, que se confirma o quanto ela é boa.

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