Já escrevi aqui sobre o programa Ídolos, da Record, e comentei que não acredito na fórmula de tentar formar e lançar novos astros da música por meio de reality shows. Na ocasião, escrevi que "é preciso ser muito ingênuo para acreditar que participar ou até mesmo vencer um programa de auditório baste para transformar alguém na nova estrela da música popular brasileira". Hoje, acho que o caso da cantora Roberta Sá confirma o que eu dizia, mas também que uma oportunidade destas pode ser um bom cartão de visita, desde que trabalhada com inteligência e senso de oportunidade.
Há apenas dez anos, a potiguar era uma ilustre desconhecida estudante de comunicação social de 20 anos que frequentava aulas de canto e se apresentava para amigos e parentes por diversão. Então, incentivada por sua professora de canto, ela decidiu se submeter ao teste de seleção de novos participantes do programa Fama, da Rede Globo. Foi aprovada, mas ficou pouco tempo no ar e passou longe de vencer a disputa. Mesmo assim, a partir daí, sua história virou biografia.
Três anos após ter participado do Fama e ainda sem contrato com uma gravadadora, a cantora chamou a atenção do escritor de telenovelas Gilberto Braga e emplacou uma canção na trilha de uma novela das 20 horas. Assim, Roberta voltou à programação platinada pela porta da frente enquanto o nome do vencedor da edição do Fama do qual ela participou só o google saiba responder. Mas ainda não foi desta vez que ela se rendeu ao caminho mais fácil. Seguiu aparando arestas e pavimentando um caminho certeiro. Em 2008 foi indicada para o Grammy Latino como artista revelação do ano.
Hoje, com quatro elogiadíssimos cds gravados (um deles, ao vivo) com esmero, Roberta é apontada por muitos especialistas como uma das melhores intérpretes do país. Provavelmente, é por isso que ela não encontra dificuldades para contar com participações ilustres em seus projetos. Grandes compositores e instrumentistas como os do Trio Madeira, com quem gravou, no ano passado, o disco "Quando o Canto é Reza" (2010), ourivesaria com os sambas de roda do compositor baiano Roque Ferreira. Coisa fina mesmo, por mais que dilua a espontaneidade do trabalho original.
O próprio compositor disse ao jornal O Estado de S. Paulo que não ficou plenamente satisfeito com a suave e virtuosa interpretação que Roberta e o Trio Madeira deram a suas canções. Segundo ele, o resultado final ficou "light". "E samba de roda não é light", explicou ele. Mesmo assim, além de boas críticas, o cd vem obtendo um bom resultado de vendas e shows como o que o grupo fez no Teatro Nacional, em Brasília, na última quinta e sexta-feira, estavam praticamente lotados.
No palco, Roberta passa a impressão de ainda estar em formação. Fato positivo, já que suscita a pergunta sobre o que ela estará fazendo daqui a mais algum tempo já que, com tão pouco tempo de estrada, já tem personalidade e domínimo para produzir um trabalho tão belo quanto este "Quando o Canto é Reza". Sem dúvida alguma, Roberta Sá foi o ponto alto da agenda brasiliense deste final de semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário