terça-feira, fevereiro 08, 2011

Deu nos telejornais. A tristeza e a desolação tomaram conta do Rio de Janeiro. Populares choram as perdas. Autoridades locais divulgam às câmeras as providências adotadas para contornar a “tragédia”. Independente das iniciativas governamentais, o brasileiro não desiste nunca e o povo já fala na união de todos, na crença de que Deus não vai faltar numa hora desta.

Redes de TV acionam seus helicópteros em busca da melhor imagem aérea. E, no chão, dá-lhe cenas da “gente humilde e batalhadora” da “comunidade” chorando. Felizmente, apesar dos prejuízos econômicos, não houve mortes. Não? Como assim? Não passavam de 880 as vítimas fatais?

Ah, não. Você não entendeu. A “tragédia” em questão é o incêndio que destruiu fantasias e carros alegóricos de três escolas carnavalescas do Rio de Janeiro. Só pode ser provação. Juízo Final: depois das águas que levaram vidas, casas, bens pessoais e sonhos, as chamas consumiram um galpão da Cidade do Samba, ameaçando a realização da “maior e mais alegre” festa popular brasileira. Até mudança de regulamento teve que ser aprovada e anunciada com destaque como se fossem mudanças nas regras previdenciárias.

Lamento o trabalho perdido dos foliões. Solidarizo-me com a tristeza dos que amam sua escola e vem no episódio uma tragédia. Dou graças a Deus por ninguém ter morrido. Torço para que as pessoas possam desfilar com alegria na Marquês de Sapucaí, mesmo que vestindo suas roupas do dia a dia e sem os carros alegóricos que foram queimados (não ganhariam, com certeza, mas imaginem o efeito catártico se isso acontecesse). E é só. Eu que não gosto de Carnaval (mas gosto de samba) vejo as notícias e não sinto piedade ou horror, de forma que o substantivo “tragédia” aplicado por alguns jornalistas me parece um exagero. Principalmente depois do que aconteceu na região serrana do estado, onde seguem as buscas aos corpos dos desaparecidos. Fossem outros tempos, alguém teria sugerido que este ano não haveria clima para festejar o Carnaval. Imagina só quanto de dinheiro não deixaria de ser movimentado. Quantia que poderia ser parcialmente usada para reconstruir as regiões atingidas e ajudar os sobreviventes, diriam os cínicos e as polianas.

Moral deste texto: o incêndio é notícia de destaque? É. É lamentável? Óbvio. Tem implicações? Sem dúvida, mas é preciso bom senso para relativizá-las. Para a mídia não fica bem a falta de critérios. Trágico foram as mortes causadas pelo descaso, assunto que, aos poucos, começa a ser substituído por outros na pauta do dia.

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