quarta-feira, fevereiro 23, 2011

127 Horas

Pra início de conversa, jamais saiam de casa sem dizer a suas mães aonde vão. Depois, estejam certos de que por mais autossuficientes que forem, mesmo que sejam um "super-herói americano", vocês sempre vão precisar, "ops!", de outras pessoas.


Eis, aparentemente, as duas principais mensagens contidas no filme 127 Horas, do diretor inglês Danny Boyle, sobre a história real do montanhista Aron Ralston, um solitário amante de paisagens selvagens e atividades radicais que, após um acidente, fica preso em um cânion isolado no meio do nada sem que ninguém saiba onde ele se encontra ou quando deveria voltar à cidade grande e ao trabalho 

Exímio construtor de sagas visuais cujos títulos mais conhecidos (Cova Rasa, Trainspotting e Quem Quer Ser Um Milionário?) contém algumas cenas memoráveis - como o imáginário mergulho de um drogado (Ewan McGregor) numa privada imunda, em Trainspotting -, Boyle volta a explorar o sentimento de desajuste de seus protagonistas. Além disso, seus cacoetes estilísticos estão todos presentes: edição veloz, cores vivas `estourando´, rigor pop na escolha da trilha sonora (tocada alta) e cenas de pormenores (o interior da câmera filmadora ou do cantil d´água) aparentemente desnecessárias não fosse a soma de tudo isso a marca estética de Boyle.

Estética, aliás, muito apropriada, pois, além do roteiro, é a edição vertiginosa e algumas técnicas de direção que impedem que o filme caia numa incrível mesmice. Na vida real, tudo o que restava ao verdadeiro Ralston fazer durante os cinco dias em que passou com o braço direito preso sob uma rocha era controlar seu estoque de água, seus batimentos cardíacos, a lenta passagem das horas, o nível das baterias da câmera filmadora e da única lanterna que tinha consigo e a resposta de seu corpo às mudanças de temperatura.

Agora, embora eu tenha escrito muito sobre o diretor, acredito que a razão maior do sucesso do filme é a ótima atuação do ator James Franco, o Duende Verde do blockbuster Homem Aranha. A interpretação de Franco não deixou muita margem para que Boyle, mesmo que quisesse, caisse na armadilha de ser piegas ao contar a história de redenção de Ralston. Bom nas cenas em que relembra seus erros do passado, ótimo nas cenas em que arranca risos nervosos da platéria e conquista a empatia do público para o sujeito que, na vida real, devia ser visto como um verdadeiro misógino. Franco é um forte candidatos ao Oscar  de melhor ator  (nas bolsas de aposta, só perde para Colin Firth, de O Discurso do Rei) e, a meu ver, merece ao menos um prêmio de consolação pelo "Ops" sarcástico que solta no meio de um depoimento alucinado.
 
E só pra terminar, voltando à capacidade de Boyle de filmar sequências marcantes, digo que a deste 127 Horas é, sem sombra de dúvidas, a do imprevisível mergulho no poço existente em uma caverna.
 

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