"Há uma maneira de contribuir para a proteção da humanidade que é não se resignando"
Não há melhor forma de homenagear um grande homem que conhecendo, revisitando e discutindo sua obra e seus feitos. Por isso, saquei do compartimento secreto do "banheirão" os livros do argentino Ernesto Sabato, falecido neste sábado (30), quando estava prestes a completar cem anos.
Folheando a obra de memórias Antes Del Fin, de 1988, me deparei com um trecho sublinhado por mim mesmo. Diz respeito à experiência do mais importante escritor argentino enquanto presidente da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), instituída em 1983, para investigar os crimes cometidos por agentes do Estado durante os anos de Terror do violento regime militar no país.
"O horror que dia após dia íamos descobrindo deixou em todos os que integravam a Conadep a obscura sensação de que nenhum de nós voltaria a ser o mesmo, como costuma ocorrer quando se desce aos infernos", conta Sabato. "Nossos informes eram transcritos por datilógrafas que tinham que ser substituídas quando, em prantos, diziam que não lhes era mais possível continuar com o trabalho. Em mais de 50 mil páginas ficaram registradas as desaparições, torturas e sequestros de milhares de seres humanos, em geral jovens idealistas".
Grosso modo, a Conadep de quase 30 anos atrás - a exemplo de comissões semelhantes instituídas por vários países, como a África do Sul pós-regime do apartheid - é idêntica a tão criticada Comissão da Verdade que setores do governo brasileiro e militantes dos Direitos Humanos defendem que seja criada no Brasil para apurar os "excessos" de nossa Ditadura.
Já os trechos sublinhados do meu exemplar da novela El Túnel, escrita em 1948, não fui eu que destaquei, "en todo caso, habia un solo túnel, oscuro e solitario". Vai-se um grande. Oxalá, com tantos admiradores, que já não se sentisse só.
Nenhum comentário:
Postar um comentário