domingo, janeiro 06, 2008

domingo, 06 de janeiro de 2008

Vestígios engavetados
Sobrevivi a dezenas de entrevistas de emprego
A pelo menos uma centena de horas em filas de repartições públicas,
A patrões, gerentes, encarregados, candidatos,
A pastores, pesquisadores e a toda a sorte de puxa-sacos.
Sobrevivi à distância física e temporal. À espera.
Sobrevivi para ver chegar o “tempo dos rumores arrebentarem”,
Para o grande barato de escapar às balas perdidas,
Aos veículos e nações desgovernadas.
Vinte e tantos poucos anos sobrevivendo a planos econômicos e outros tantos desmandos
Me instruíram a abstrair riscos insignificantes:
Os malefícios do sol, a água do mar poluído,
O vento encanado, a friagem, o sereno,
O bicho-do-pé, o encosto, a espinhela caída,
O leite semidesnatado, o colesterol ruim...

Os perigos a evitar são outros para quem cumpre a tarefa de sobreviver conscientemente
Diante da proliferação dos bingos,
Da disseminação dos vírus,
Da má qualidade do ensino,
Dos shoppings center,
À ignorância e à disenteria cerebral.

Apesar de não ter sido convidado para o Jogo do Milhão
Sou um sobrevivente.
Comemoro com discrição para não incomodar ninguém
Caso existisse presente que não o circunstancial,
Eu seria o mesmo?

Nenhum comentário: