quarta-feira, agosto 06, 2008

Quarta-feira, 6 de Agosto de 2008


ALMOÇO INDIGESTO

Quando assumiu o desafio de transpor para as telas dos cinemas o romance Almoço Nú (Naked Lunch), de Willian S. Burroughs, o mais alucinado entre os escritores beatniks, o cineasta David Cronenberg (1943) já havia se tornado mundialmente conhecido por Scanners (1981), A Hora da Zona Morta (1983) e A Mosca (1986).

Bastariam esses três títulos para que o canadense inscrevesse sua obra entre os mais polêmicos e, porque não dizer, bizarros filmes fantásticos. No entanto, com Almoço Nú – que no Brasil recebeu o horrível título Mistérios e Paixões -, Cronenberg queria provar ser capaz de filmar uma história considerada impossível de ser filmada.

Na hora de adaptar a obra de Burroughs, Cronenberg se deparou com o desafio de tornar crível as alucinações de Bill Lee, um escritor que “desistiu de escrever por considerar a atividade muito perigosa”. Após algumas prisões por uso de drogas, Lee – alter ego de Burroughs, vivido pelo Robocop Peter Weller – arranja um emprego como exterminador de insetos, dividindo seu tempo entre matar baratas e discutir literatura com seus dois únicos amigos (uma referência aos escritores Jack Kerouac e Allen Ginsberg [correção: segundo Sam Kashner [Quando eu era o tal – minha vida na Jack Kerouac School – Ed. Planeta], na segunda metade dos anos 1950, Burroughs recebeu em Tânger, Marrocos, a vista de Allen Ginsberg e Peter Orlovsky, e não de Kerouac. No post acima, as reações à Almoço Nú e outras obras beats há 50 anos]).

A coisa desanda quando sua esposa, interpretada por Judy Davis, se torna viciada no veneno que Bill utiliza para matar os insetos. Estimulado pela mulher, que descreve o “barato” provocado pela substância como “bastante literário”, Lee toma seu primeiro pico. E logo, como Joe, está viciado.

A partir daí, o escritor começa a ter alucinações em que é perseguido pela polícia por assassinar sua esposa à maneira de Guilherme Tell, ou seja, praticando tiro ao alvo. Lee vê máquinas de escrever se transformando em baratas que falam e que lhe desvendam um esquema internacional de tráfico de uma substância alucinógena obtida à partir da carne de um inseto brasileiro.

Das conversas com as estranhas criaturas que vê nas situações mais inusitadas, Lee crê ter sido escolhido para ser um agente responsável por se introduzir em meio à corporação criminosa, reportando seus planos. Tudo isso pontuado por sua atração por um escritora que lhe lembra a esposa morta (vivida pela mesma Judy Davis) e as dúvidas sobre sua própria sexualidade.

Este, ao lado de Rock Horror Show, sobre o qual ainda pretendo escrever, ocupa papel de destaque dentre os filmes mais estranhos que já assisti. Minha cópia em DVD eu comprei em uma Loja Americanas, por R$ 9,90.

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