Moradores estão com medo da onda de assaltos nas 400
Eles reclamam dos recentes furtos nos apartamentos e da falta de policiamento
Elisa Tecles, do Correio Braziliense - 26/11/09
Uma onda de assaltos preocupa moradores das quadras 400 das asas Sul e Norte. Nas últimas duas semanas, criminosos invadiram pelo menos sete apartamentos durante o dia. Na tarde de terça-feira, três adolescentes entraram em uma residência na 416 Sul, agrediram o morador e levaram celulares, joias, notebooks e dinheiro. A atuação dos criminosos é parecida com a tática usada em apartamentos do Sudoeste em julho e agosto deste ano: eles interfonam até encontrar um imóvel vazio e levam objetos de valor.
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Há duas semanas, a funcionária pública Lindalva Cunha, 48 anos, recebeu um telefonema da imobiliária avisando que o apartamento onde ela morava, no Bloco Q da 403 Norte, havia sido arrombado. O crime ocorreu na hora do almoço, quando a casa estava vazia. Os invasores deixaram marcas nas duas portas de acesso à residência. Eles destruíram a entrada da frente, fechada com três trincos, mas não conseguiram arrombá-la. O grupo recorreu à entrada de serviço, que ficou toda arranhada. “A porta ficava sempre trancada com duas voltas de chave. A gente sai cedo e só volta à noite, eles devem conhecer nossa rotina”, teme Lindalva.
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O prejuízo da moradora foi alto: o grupo levou uma televisão LCD 32 polegadas, joias, tênis, um notebook e R$ 1 mil em espécie. “Meu guarda-roupa estava revirado, com tudo no chão. Fiquei em estado de choque, não venho mais aqui sozinha”, revelou. Lindalva morava no apartamento há menos de quatro meses e decidiu sair de casa depois do assalto. Ela está de mudança para a Asa Sul — a nova moradia tem grades de segurança.
No mesmo dia do furto, bandidos também invadiram o apartamento em frente ao de Lindalva.. “Uma moradora saiu para ir ao comércio e deixou a grade aberta. Eles devem ter roubado os dois ao mesmo tempo, mas ninguém do prédio viu nada”, comentou a vítima. Os vizinhos da funcionária pública estavam com tudo encaixotado, prontos para se mudar do apartamento. Os bandidos sumiram com malas cheias de pertences da casa.
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Um terceiro apartamento do edifício foi invadido nas últimas semanas. No Bloco M, uma residência do primeiro andar também teve a porta arrombada. Um grupo de quatro rapazes tentou por duas vezes entrar no Bloco P, mas acabou surpreendido pelo porteiro, Luiz Moreira, 52 anos. “Eles estavam insistindo, querendo entrar. Eles forçaram a porta, mas me viram e saíram correndo”, lembrou.
Equipamentos
Segundo Luiz, a tática dos homens era interfonar para todos os imóveis em busca de um vazio. O porteiro reparou que o grupo costumava andar pela quadra entre 9h e 15h e carregava uma chave de fenda. Ele mudou o horário de almoço para não deixar o pilotis vazio no início da tarde. “A gente fica de olho e toma cuidado. Tem que manter o prédio direito”, disse. A onda de assaltos também atingiu a 404 Norte.
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Os blocos Q e P da 403 Norte têm porteiros, mas não contam com sistema de câmeras. De acordo com o prefeito da 403 Norte, Luiz Gomes, 82 anos, a instalação do equipamento em alguns prédios da quadra está sendo discutida pelos condôminos. “Esse método de segurança é um pouco caro, nem todos podem cooperar”, disse. Luiz lembra que pouco se vê policiais fazendo ronda nas redondezas. “Antigamente, até que passava, mas agora não tem. Eles ficam mais no comércio cuidando do trânsito”, afirmou. Segundo o prefeito, os próprios moradores se ajudam, fiscalizando o movimento na quadra.
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A Polícia Civil não tem dados de quantos imóveis foram arrombados nas 400 este mês, mas os moradores falam em pelo menos sete casos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 287 imóveis de todo o DF foram roubados entre janeiro e junho deste ano. No mesmo período de 2008, ocorrerram 186 casos. Ou seja, um aumento de 54%.
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O presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Brasília, Saulo Santiago, lembra que as queixas de furtos nas 400 aumentaram depois de outubro. “Com a proximidade do fim do ano, isso piora”, reforçou. Segundo ele, as 400 são prejudicadas tanto pela falta de porteiros durante as 24 horas por dia quanto pela fragilidade da segurança. “Com um pontapé se pode arrombar uma porta. Os prédios das 400 foram construídos em uma época em que não havia criminalidade em Brasília. Agora, os moradores devem pensar em uma blindagem para os blocos”, comentou.
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O furto de um apartamento na 412 Norte na semana passada levou os agentes da 2ª DP (Asa Norte) a prender dois homens acusados do crime. Um deles deixou as impressões digitais gravadas em uma garrafa de uísque da residência. A dupla levou joias, bebidas alcoólicas, tênis e perfumes.
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O delegado-chefe da 2ª DP, Antônio Romeiro, ressalta que o problema de furto à residência na Asa Norte está localizado nas 400. “As quadras mais vulneráveis são as 400. Alguns prédios não têm porteiro 24 horas nem um sistema de segurança eficaz. Nas outras quadras, isso dificilmente ocorre”, disse.
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