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_ Porra! Que história é essa? - intimou a voz.
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_ Ô, off the boff! A que devo a honra após tanto tempo? - ironizei, adivinhando a razão da irritação de meu amigo Carlos Leite, o surfista prego que conheci assim que cheguei em Brasília e que, neste espaço de cinco anos, largou um emprego estável e pouco promissor, deixou a namorada, vendeu a bateria que não poderia carregar consigo e passou a viver de pequenos expedientes que lhe possibilitem cair na estrada em busca de ondas. Oceânicas ou sensoriais.
_ Ô, off the boff! A que devo a honra após tanto tempo? - ironizei, adivinhando a razão da irritação de meu amigo Carlos Leite, o surfista prego que conheci assim que cheguei em Brasília e que, neste espaço de cinco anos, largou um emprego estável e pouco promissor, deixou a namorada, vendeu a bateria que não poderia carregar consigo e passou a viver de pequenos expedientes que lhe possibilitem cair na estrada em busca de ondas. Oceânicas ou sensoriais.
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_ Não vem com história não, véio! Tu não ia me contar?
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_ Ué, estava esperando você voltar seja lá de onde esteja chegando.
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_ Eu estava em Natal, mas agora estou indo praí.
_ Não vem com história não, véio! Tu não ia me contar?
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_ Ué, estava esperando você voltar seja lá de onde esteja chegando.
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_ Eu estava em Natal, mas agora estou indo praí.
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E desligou. Passados vinte minutos ouvi o barulho da catraca de uma bicicleta e do pneu sob o piso de mármore. O interfone tocou e eu nem precisei perguntar quem era. Abri as portas e o sujeito bronzeado não tardou a surgir diante de mim. Abracei-o mais efusivamente que de costume – já havia dito a minha namorada que nos últimos dias tenho andado emotivo.
E desligou. Passados vinte minutos ouvi o barulho da catraca de uma bicicleta e do pneu sob o piso de mármore. O interfone tocou e eu nem precisei perguntar quem era. Abri as portas e o sujeito bronzeado não tardou a surgir diante de mim. Abracei-o mais efusivamente que de costume – já havia dito a minha namorada que nos últimos dias tenho andado emotivo.
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_ Pô, paulista. Como assim?
_ Pô, paulista. Como assim?
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_ Pois é! Já tá sabendo, não é?
_ Pois é! Já tá sabendo, não é?
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_ Caraco, meu. Tu tá louco?
_ Caraco, meu. Tu tá louco?
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_ Já ouvi isso de outras pessoas, mas imaginei que você, mais do que ninguém, iria entender. Afinal, esse sempre foi meu plano. Comentei isso contigo várias vezes.
_ Já ouvi isso de outras pessoas, mas imaginei que você, mais do que ninguém, iria entender. Afinal, esse sempre foi meu plano. Comentei isso contigo várias vezes.
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_ Sim, mas não tem nada a ver, véio! Tu é sussa, tá a pampa aqui. Vai fazer o quê em Caos?
_ Sim, mas não tem nada a ver, véio! Tu é sussa, tá a pampa aqui. Vai fazer o quê em Caos?
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_ Trabalhar. No mesmo emprego, só que a noventa quilômetros da praia. Cara, pensa só. Vou voltar a pegar onda ao menos aos finais de semana. Se marcar, consigo uma vez ou outra fazer um bate-volta no meio da semana. Não estou entendendo tua reação.
_ Trabalhar. No mesmo emprego, só que a noventa quilômetros da praia. Cara, pensa só. Vou voltar a pegar onda ao menos aos finais de semana. Se marcar, consigo uma vez ou outra fazer um bate-volta no meio da semana. Não estou entendendo tua reação.
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_ Pô, véio...com quem mais aqui em Brasília eu vou assistir a vídeos de surf? Quem teria ido comigo àquela exposição de pranchas no Park Shopping? E quem vai querer ouvir meus relatos quando eu voltar das surf-trips?
_ Pô, véio...com quem mais aqui em Brasília eu vou assistir a vídeos de surf? Quem teria ido comigo àquela exposição de pranchas no Park Shopping? E quem vai querer ouvir meus relatos quando eu voltar das surf-trips?
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_ Eu acho que você tá precisando arrumar uma namorada, mas quanto às histórias, continua me escrevendo que eu as publico no meu blog. Deve ter três ou quatro pessoas que as lêem.
_ Eu acho que você tá precisando arrumar uma namorada, mas quanto às histórias, continua me escrevendo que eu as publico no meu blog. Deve ter três ou quatro pessoas que as lêem.
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_ Véio, já pensou no trânsito, no barulho? Como é que tu vai trocar essa tranquilidade, esse céu, por aquela selva de concreto?
_ Véio, já pensou no trânsito, no barulho? Como é que tu vai trocar essa tranquilidade, esse céu, por aquela selva de concreto?
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_ Pois é! Eu já pensei nisso. E concluí que é uma pena que dificilmente a gente consiga unir o melhor de dois mundos. Depois, eu vou e se não der certo volto com a certeza de que aqui é meu lugar. Melhor que passar mais cinco anos prometendo que no próximo ano eu vou. Aliás, se você não tivesse família e amigos de infância aqui eu diria que você deveria fazer o mesmo.
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_ O argumento não pareceu convencer meu amigo, mas como não soube o que dizer, Leite lançou um olhar a nossa volta como quem tentasse memorizar um cenário que sabe que verá pela última vez. Caminhou até a estante e correu os dedos pelos vídeos de surf até retirar um: Nalu.
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_ Cê tá louco?!? Aqui é meu QG. Pode não ter onda, praia, grandes shows, muvuca nas ruas, mas ainda é das melhores cidades do país para se viver.
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_ Concordo em parte contigo. E por isso mesmo essa não foi uma decisão fácil. Por mais que eu sempre tenha dito que ia, na hora h foi difícil me decidir a abrir mão das comodidades brasilienses. Mas acho que pra mim agora deu.
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_ Então você está decidido?
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_ Acho que as circunstâncias decidiram por mim, mas lembre-se da primeira conclusão: Remou, tem que dropar.
_ Acho que as circunstâncias decidiram por mim, mas lembre-se da primeira conclusão: Remou, tem que dropar.
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_ Sei, sei....E a segunda é que a onda do vizinho sempre nos parece mais lisa e cavada que a nossa.
_ Sei, sei....E a segunda é que a onda do vizinho sempre nos parece mais lisa e cavada que a nossa.
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_ Ah, deixa disso, cara...Até parece que tu tem razão para ficar com inveja de mim. Até porque tu quase não para mais aqui. Pensa só: vai ficar mais fácil a gente marcar uma session juntos. Quando for a São Paulo basta me ligar. Vai até poder ficar em casa.
_ Ah, deixa disso, cara...Até parece que tu tem razão para ficar com inveja de mim. Até porque tu quase não para mais aqui. Pensa só: vai ficar mais fácil a gente marcar uma session juntos. Quando for a São Paulo basta me ligar. Vai até poder ficar em casa.
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_ Então é isso? Você está certo disso?
_ Então é isso? Você está certo disso?
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_ Sim. Estes são meus últimos dias em Brasília.
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_ Sim. Estes são meus últimos dias em Brasília.
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_ Pô, então tu podia ao menos me deixar esse vídeo de lembrança, não?
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