foto: Valter Campanato (Agência Brasil/Radiobrás)
Considerações
No início, o céu era de brigadeiro e ninguém que não estivesse ganhando muito dinheiro com isso ligava para quem sobrevoava as estradas esburacadas e os trilhos abandonados. Então veio o transponder desligado - se voluntária ou involuntariamente, nem as caixas-pretas sabem.
Abruptamente, tomamos consciência da existência das torres de controle e dos quatro Cindactas do apocalipse aéreo. Fomos apresentados a uma tal de Anac, conhecemos um tal Cenipa e tivemos a prova de que os controladores de vôo existem sim, mas não falam muito bem o inglês.
Em meio ao ‘apagão’, vimos ressurgir não apenas os brigadeiros, comandantes e capitães de farda, mas também os parlamentares-mariposas buscando a luz dos holofotes. Mais tarde, entrariam na trama um empresário bem-sucedido e pragmático, um assessor obsceno, um prefeito sem-noção, um dono de bordel e, como escreveu o jornalista Paulo Henrique Amorim, o ministro genérico do general Patton. Enquanto isso, quem realmente devia explicações parafraseou Paulinho da Viola: “não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”.
Na Câmara dos Deputados, mortes, transtornos e prejuízos incalculáveis ainda não eram o bastante para garantir a audiência. Era necessário algo mais palatável do que continuar falando em contingenciamento de verbas ou na existência de áreas não cobertas por radares. Overbooking, desde que devidamente traduzido, é forte e capaz de causar indignação diante da usura e do desmando, mas a forma mais fácil de chamar a atenção parecia ser reclamar das barrinhas de cereais distribuídas durante os vôos.
Difícil foi tomar partido a favor ou contra a desmilitarização. Pelo menos até que, na queda de braço, quem representava uma “influência nefasta” ao grupo de controladores fosse preso, acusado de “insubordinação ou motim” pelos defensores da “disciplina férrea”. Parte da mídia aderiu e passou a retratar os controladores como sabotadores de radares.
Só que, após dez meses de prazos adiados, passamos do drama à tragédia. Nem bem tínhamos nos habituado a expressões e termos técnicos absolutamente desnecessários para quem só quer chegar ao seu destino, surgiram dúvidas ainda mais difíceis de serem respondidas.
O que são e para que servem os groovings? Uma pista pode funcionar sem as ranhuras que permitem que a água da chuva escorra? Uma aeronave com um dos reversores travados é segura? É possível arremeter um avião de cerca de 60 toneladas após ele pousar a 175 km/h em uma pista de menos de 2 quilômetros? Um aeroporto pode funcionar em meio a tantos prédios, com casas a 50 metros da cabeceira da pista? Não é loucura aprovar a abertura de quase 30 postos de gasolina próximos a um aeroporto? Uma aeronave com capacidade máxima de 185 pessoas pode transportar 187, ainda que as duas excedentes sejam “crianças de colo” de quase dois anos? Qual a carga horária cumprida por tripulantes durante os dias em que, devidos a sucessivos atrasos, as companhias aéreas não conseguiram planejar seus vôos? Porque os vôos têm de passar todos por São Paulo?
Após nove meses acompanhando o caos aéreo, depois de dez dias do acidente com o Airbus A-320 que fazia o vôo JJ 3054 da TAM e de nove dias 'internado' nos dois principais aeroportos de São Paulo, não tenho certeza alguma. Sei apenas que nem os especialistas se entendem. Que o único que se arrisca a apontar o dedo em direção a alguém parece ser o repórter da Veja, Marcio Aith. O problema é que isso me parece precipitado (além de ser a Veja, né!). Segundo o jornalista Paulo Henrique Amorim, "Aith é o autor daquela famosa “reportagem” co-assinada por Daniel Dantas, que provou (?) a existência de contas secretas do Presidente Lula e do Dr. Paulo Lacerda (!)".
Ao fim de tudo, o que ainda me espanta é constatar que não sei quem preside a Agência Nacional de Transportes Terrestres, a ANTT. Não sei o que faz o Dnit nem a quem cabe fiscalizar os investimentos feitos nas estradas. Da mesma forma que não tenho visto a recém-criada Secretaria Especial dos Portos anunciar medidas para impedir que os portos do país entrem em colapso. Nem ouvi explicações plausíveis de porque os sucessivos governos desmontaram a malha férrea brasileira.
Desconfio que o apagão não seja apenas aéreo, e sim do transporte em geral. (aliás, alguém poderia explicar porque o setor aéreo está sob a responsabilidade do Ministério da Defesa? Deve ter algo a ver com a tal da sobreposição das funções de defesa do espaço aéreo, atividade de caráter militar, e de controle do tráfego aéreo, função que pode muito bem ser executada por civis).
Agora, esta de substituir o correligionário pelo aliado político...esta eu juro que não entendi. Até o César Filho, sim, o ex-Angélica, já sacou e perguntou no SBT: "Será que o Jobim vai se lançar à presidência?".
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