(II) Quando "collas" e "cambas" se enfrentam por uma suposta autonomia
Infelizmente, a cisão política acabou por estimular diferenças étnicas e sociais entre a população de Santa Cruz. Desde a véspera da consulta, o ânimo se acirrou em algumas localidades e simpatizantes de ambas as propostas chegaram às vias de fato. No domingo (4), as ruas do bairro popular Plan Tres Mil, a sete quilômetros do centro da capital do estado, Santa Cruz de la Sierra, se tornou um campo de batalha onde massistas e favoráveis à autonomia, sobretudo da União Juvenil Cruzenha, se enfrentavam armados com paus, pedras, rojões e até estilingues.
Para um estrangeiro, era difícil distinguir quem era quem em meio à correria. Ao mesmo tempo, era impossível ficar alheio ao ódio que punha em campos opostos os chamados “collas” e “cambas”.
fotos: Alex Rodrigues

Collas é como são pejorativamente chamados as pessoas de outras regiões que se mudaram para Santa Cruz em busca de melhores condições de vida. Vêm sobretudo de estados como La Paz, Sucre e Chuquisaca. Já os cambas são os nascidos em Santa Cruz, o estado mais rico do país, próspero em petróleo, gás natural e em plantações de soja.
Para o cientista político Alfonzo Román, essa rixa entre os dois grupos foi determinante para o resultado da consulta. Román criticou os líderes sociais que, segundo ele, estimularam o ódio para conquistarem votos. “Diante da incapacidade de apresentarem propostas ideológicas, uma nova filosofia de Estado, tomaram como bandeira as diferenças culturais, raciais, étnicas e sociais”, afirmou Román, responsabilizando governo e oposição pela divisão “do país, das cidades, das regiões, dos povos. Os resultados também são reflexo de uma luta de classes, devido à diferenças culturais e de pontos de vista”.


Para o cientista político Alfonzo Román, essa rixa entre os dois grupos foi determinante para o resultado da consulta. Román criticou os líderes sociais que, segundo ele, estimularam o ódio para conquistarem votos. “Diante da incapacidade de apresentarem propostas ideológicas, uma nova filosofia de Estado, tomaram como bandeira as diferenças culturais, raciais, étnicas e sociais”, afirmou Román, responsabilizando governo e oposição pela divisão “do país, das cidades, das regiões, dos povos. Os resultados também são reflexo de uma luta de classes, devido à diferenças culturais e de pontos de vista”.


Para o cientista, o estatuto autonômico de Santa Cruz não é aplicável. Román entende que os líderes pró-autonomia desejam apenas acumular influência política para pressionar o governo federal a negociar reivindicações dos estados e da oposição. “Este documento é uma mistura de autonomia, federalismo e separatismo. Até mesmo os líderes do movimento pró-autonomia estão convencidos de que ele não poderá ser implementado a menos que se declare a independência do estado”.
O cientista, no entanto, teme pelo acirramento da disputa. “A menos que as pessoas que estão à frente dessa confrontação tenham nobreza para sentar e negociar um projeto de Constituição que aglutine todos os setores do país, vamos terminar em uma confrontação.”


O cientista, no entanto, teme pelo acirramento da disputa. “A menos que as pessoas que estão à frente dessa confrontação tenham nobreza para sentar e negociar um projeto de Constituição que aglutine todos os setores do país, vamos terminar em uma confrontação.”



Na mesma noite da consulta, Morales convidou os governadores de todo o país a trabalharem por uma “real autonomia”, auxiliando-o a aprovar o novo texto constitucional. “Que meu chamado seja ouvido a fim de garantirmos a verdadeira autonomia para todo o povo, não apenas para alguns grupos”, disse Morales durante pronunciamento em rede nacional.


Aparentemente alheio às implicações de seu gesto, o Senado boliviano aprovou na noite da quarta-feira (7) uma resolução que reconhece os resultados da consulta cruzenha. Sem a participação dos parlamentares governistas, que se retiraram da sessão, a oposição declarou que “a legítima vontade e atitude demonstrada pelos cidadãos cruzenhos em todo o departamento deu um sinal inequívoco à Bolívia de unidade e de sua vocação democrática”, isso apesar dos questionamentos legais, da estrutura mambembe em que transcorreu a consulta e de todas as brigas.
Só para se ter uma idéia, os votos eram contados manualmente, em blocos, pelos próprios mesários, que abriam as urnas dentro de salas onde não havia a presença de qualquer pessoa contrária à autonomia. Os votos iam sendo contabilizados de forma rudimentar, anotados em lousas e os ditos observadores internacionais eram pessoas convidadas pela Corte Departamental de Santa Cruz e integravam organismos como o Partido Cristão Cubano com sede em Miami (EUA).
Só para se ter uma idéia, os votos eram contados manualmente, em blocos, pelos próprios mesários, que abriam as urnas dentro de salas onde não havia a presença de qualquer pessoa contrária à autonomia. Os votos iam sendo contabilizados de forma rudimentar, anotados em lousas e os ditos observadores internacionais eram pessoas convidadas pela Corte Departamental de Santa Cruz e integravam organismos como o Partido Cristão Cubano com sede em Miami (EUA). Neste domingo (11), a Agência Boliviana de Informações divulgou que Morales irá promulgar amanhã (12) a Lei de Referendo Revogatório de seu próprio mandato, bem como dos de seu vice e dos nove governadores. Com isso, dentro de 90 dias, ou seja, 10 de agosto, a população de toda a Bolívia voltará às urnas a fim de responder a) se está de acordo com a continuidade do processo de mudanças liderado por Morales e pelo vice-presidente, Álvaro García Linera; b) se está de acordo com a continuidade das políticas, ações e gestão do governador de seu estado.




O projeto de lei havia sido apresentada por Morales em dezembro de 2007 à Câmara dos Deputados, que o aprovou há quatro meses. Na última quinta-feira (8), o Senado o sancionou.Para o vice-ministro de Coordenação Governamental, Héctor Arce, a iniciativa vai muito além do referendo revogatório originalmente sugerido pelo próprio Morales, já que os bolivianos irão avaliar as propostas, programas e ações de seus governantes. Para Arce, diante disso, não há qualquer sentido na realização das consultas sobre a autonomia de Pando, Beni e Tarija. “Estas são consultas que ao invés de fazer bem a autonomia lhe estão causando um tremendo dano. Essas consultas estão à margem da lei e alguém vai ter de se responsabilizar”.




2 comentários:
Preguiça de escrever, é?
Acho que vou ficar com Serra Negra mesmo....rsrs
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