quarta-feira, setembro 23, 2009

Postais da Era Kirchner

Meu amigo Carlos Leite já retornou de Buenos Aires e só agora eu arranjei um tempinho para compartilhar com vocês, meus três leitores, as impressões (e as fotos) deste surfista brasiliense que, por obra de "una hermosa chica porteña", topou ir para a capital argentina ao invés de aproveitar mais uma semana de folga pegando onda em alguma praia brasileira.

(O título deste post é uma alusão ao livro da jornalista argentina Hinde Pomeraniec - Rusos: Postales de la era Putin - recém-lançado na Argentina e que Leite me trouxe de presente. Voltarei a escrever sobre ele)

De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : De Argentina (2)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
14 de setembro de 2009 17:44


"Semifosco, eis as primeiras impressões deste surfista brasiliense a respeito desta grande metrópole localizada às margens do Rio da Prata:


* Frio. Não muito, diria você, mas para mim, 14 graus já é bastante frio.
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* Os portenhos adoram SMS. É ter uma oportunidade e eles se põe a enviar mensagens por celular. A todo instante é possível ver alguém batucando aquelas pequenas teclas, seja no metrô, restaurantes, shoppings ou até mesmo enquanto dirigem um táxi, como o motorista que me levou até o hotel, o primeiro a literalmente me assustar com esse detalhe.
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Congresso
* Que beleza viajar para um país onde o real vale mais que a moeda local. Na Argentina, atualmente, um real vale dois pesos, ou quase duas passagens de metrô. Duas pessoas podem jantar em um bom restaurante gastando em média 60 pesos, ou cerca de R$ 30, com direito a uma garrafa de vinho. A cerveja belga Stella Artois long-neck, por exemplo, custava cerca de $ 7, ou R$ 3,50.
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* O negócio, no entanto, é trocar nossos reais em instituições como o Banco Piano (onde encontrei a melhor cotação, de um por dois). Em bares, restaurantes e lojas eles pagam um pouco menos e nem todos aceitam nosso dinheiro.
Casa Rosada, sede da Presidência
* Buenos Aires é o principal destino turístico dos brasileiros na América Latina (quiçá, no exterior). Em geral, eles andam em grupos, lotam hotéis e pontos turísticos como o Café Tortoni ou El Caminito. Não sei porque, mas me fizeram pensar nos paulistanos que, no inverno, seguem para Campos de Jordão. Logo, se for registrar a elegância portenha, cheque antes se a pessoa em questão não é, na verdade, um brasileiro realizando seu sonho de classé média.

Metrô
* Aliás, afirmar que os argentinos são elegantes é uma generalização tal qual como dizer que os paulistas (e não os paulistanos) vivem apressados. Uma coisa é quem trabalha ou vive na região central ou em Puerto Madero, algo assim como quem transita pela Avenida Paulista ou pela Esplanada dos Ministérios. Outra coisa bem diferente é quem, no final do dia, tem de apanhar o metrô (subte) até a Estação Retiro para dali pegar o trem de volta para casa.
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* Outro chavão que sempre ouvimos é que o argentino é um povo orgulhoso, no sentido positivo do termo. Não sei se estou tendo azar, mas, a julgar pelo tratamento que tenho recebido, o adjetivo mais apropriado seria grosso ou, na pior hipótese, sem-educação.
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* Isso pode estar relacionado ao meu espanhol precário. Em alguns momentos, tive a impressão de que os portenhos se sentiam ofendidos com meus esforços para falar em seu idioma (que eles insistem não ser o espanhol, mas sim o castelhano?!?!?).
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* Ou pode mesmo ser orgulho, mas orgulho ferido de ver os brasileiros que podem se dar ao luxo de viajar torrando dinheiro em livrarias, restaurantes, e lojas de roupas enquanto o argentino médio está quebrado, tentando entender o que passou com seu país, que já foi a oitava economia mundial. Segundo me disseram, os professores, como muitas outras categorias, ganham, em média, 1.500 pesos - R$ 750 reais.
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* Agora, que dá inveja, dá. Como é que uma cidade quase tão grande quanto São Paulo, com uma população também enorme (somada a região metropolitana, já são cerca de 12 milhões de pessoas), pode viver em um ritmo tão diferente das capitais paulista ou fluminense? Como pode ter preservado tão bem seu patrimônio arquitetônico? Como pode proporcionar a seus cidadãos e aos turistas esse sentimento de segurança que possibilita que caminhar sem destino e se perder por suas ruas seja um dos melhores programas a fazer?
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* Mas daí a dizer que ir a Buenos Aires é como estar em um pedacinho da Europa....puta síndrome de cachorro magro a nossa! Como se um lugar para ser bonito ou civilizado tivesse que ficar na Europa.

Em breve, mais estórias de minha experiência portenha. Abraço
Carlos Leche"

2 comentários:

Renata Viana disse...

Semifosco, quer dizer que este em Buenos Aires??? É por lá que tu andas??? Pode mandar notícias, tou com saudades de vc!

Muitos Bjs

Anônimo disse...

Oi, Rê. Na verdade, quem viajou foi esse meu amigo das fotos, o Carlos Leite, um brasiliense que insiste em se dizer surfista e que vive viajando atrás de ondas e de um rabo de saia. Curioso, ele quis saber quem é você e eu então mostrei a ele uma foto sua do orkut. Ele me pediu que te enviasse a seguinte mensagem (disse que era para praticar o espanhol, embora eu não tenha entendido a razão do exibicionismo), ignorando o meu aviso de que é casada:

"Hola, chica. Que tal? Lamento que el semifosco no nos tenga presentado. El es un tonto, yo sempre digo. No quier saber de viajar a menos que sea a trabajo. Bueno, quiça yo pueda te mostrar algunas fotos que saqué en BA. El semifosco me ha dicho que vives cerca de la playa y yo estoy loco para surfar. Besos y mucho gusto"