quarta-feira, maio 23, 2012

Caçando o que fazer


_  Ah! Brasília não tem o que fazer".

_ Sério. E o caderno de 30 páginas encartado toda sexta-feira no jornal, com a agenda cultural da semana? É ilusão minha?

_ Ah, mas nem se compara com São Paulo. 

_ Puta que pariu. Não, não se compara. Assim como os 140 quilômetros de trânsito paulistano lento também não se compara com nada.

_ ...

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Depois de sete anos vivendo na capital federal, com um breve intervalo de dez meses em que não mais me readaptei à cidade de São Paulo, conclui que o Distrito Federal é vítima de duplo preconceito.

O primeiro, externo, é perpetuado por quem não conhece ou conhece superficialmente a cidade. E, mesmo assim, sai reproduzindo clichês. Além disso, os estereótipos e chavões também são disseminados por muita gente que, como eu, veio morar na cidade em busca de oportunidades de emprego ou estudo, mas segue desprezando-a. 

(Não que Brasília - e o Distrito Federal como um todo - não mereça ser criticada. Mas há motivos e motivos para tanto. E, sinceramente, ouvir quem insiste em compará-la com a capital paulista, por exemplo, é algo que, hoje, me torra a paciência) 

Na semana passada, em três situações, me vi sentado à mesa diante de pessoas saudosas da pauliceia desvairada, apontando a falta de opções culturais em Brasília. Irritado, no sábado de manhã, me propus a ver o que havia para ver e fazer na cidade e do que eu dava conta.

Para começar, escolhi um dos 32 filmes atualmente em cartaz na cidade. Lógico que, entre eles, há muita porcaria, mas isso não é uma exclusividade brasiliense. Para meu teste, por acaso, me dei bem. Aliás, superbem. 

Assisti ao excelente Habemus Papum, do diretor italiano Nanni Moretti, um filme sensível e engraçado que narra as incertezas com que o Vaticano tem que lidar quando o papa recém-eleito sofre uma crise e um bloqueio no dia em que se apresentaria aos fieis. Quando as luzes se acenderam, constatei que quase todos na plateia tinham um sorriso no rosto.

Sai do cinema e tive que correr para chegar a tempo do segundo programa escolhido, o primeiro dos dois espetáculos do Festival Teatro Brasileiro, que, até o dia 3 de junho,  trará 16 peças gaúchas a quatro cidades do Distrito Federal e a outras quatro de Goiás.

Primeiro assisti a Automákina - Universo Deslizante, do grupo De Pernas Pro Ar. A interação do ator Luciano Wieser com a bem bolada máquina-cenário (que também faz às vezes de instrumento musical (!)) e com os bonecos-autômatos com máscaras que lembram o rosto do próprio ator é interessante, mas tenho dúvidas se compreendi a questão central da peça, "a arte da sobrevivência". 

Na sequência, sem intervalo, seguiu-se a apresentação do espetáculo Miséria, Servidor de Dois Estancieiros, da Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais, que conquistou o público com a bem-humorada história do ferreiro Miséria, seus dois patrões e os personagens que lhes cercam.

A noite de sábado ainda reservava vários shows. Para mim, o  que mais prometia era o do Sargento Pimenta, bloco carnavalesco carioca que toca clássicos dos Beatles como All You Need is Love e Yellow Submarine em ritmo de samba (e que, hoje (23), se apresenta na choperia Stadt Bier). Fora as festas, como a sempre bombada Makossa, apresentações musicais em bares e shows , para mim, de gosto duvidoso, como o do "romântico" Tiaguinho.

No domingo, perto da hora do almoço, peguei a bicicleta e fui conferir a exposição de fotos Laços de Família: Etnias do Brasil, na Biblioteca Nacional. Pedalando pelo Eixão fechado ao tráfego de veículos, pensava em ir também ao Conjunto Cultural da República (aquele em formato de bola, no centro da Esplanada dos Ministérios), onde estão em cartaz as exposições O Egito Sob o Olhar de Napoleão e outra de quadros do artista plástico Willy Bezerra de Mello. No final das contas, como tinha uma almoço marcado e perdi algum tempo apenas vendo o movimento de pessoas caminhando pelo Eixão, acabou não dando tempo. 

A tarde, segui para a Caixa Cultural para assistir a mais uma peça do festival de teatro. A da vez foi O Amargo Santo da Purificação, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, que levou algumas pessoas às lagrimas com o excelente e comovente espetáculo sobre a vida do político e líder da luta armada contra o regime militar, Carlos Marighella.

Para ver um filme, três peças e uma exposição, (mais um dvd em casa) durante apenas um dia e meio, tive que preterir quase uma centena de outras opções. Mas, entre um programa e outro, tive o privilégio de rodar a pé, de ônibus e de bike pelo arborizado Plano Piloto, sob sol e céu azul, enquanto, em boa parte do país, as pessoas tiritavam de frio. No fim das contas, comprovei para mim mesmo que, conforme afirmava, Brasília tem sim o que oferecer.  Inclusive barato ou de graça. Basta disposição e acesso à informação.

Um comentário:

Eliana disse...

E eu de férias aqui, ora caçando o que fazer, ora morrendo de tédio!!!