Para remediar nossa atávica falta de planejamento em infraestrutura, o governo do Distrito Federal (GDF) decidiu colocar um ônibus com ar condicionado ligando a Rodoviária do Plano Piloto ao Aeroporto Juscelino Kubitschek. Custa R$ 8. Bem menos do que eu gastaria indo de táxi. Mesmo com os atuais 15% (e não mais os costumeiros 30%) de desconto que a cooperativa dá a quem pede o carro por telefone, a corrida custaria quase o mesmo que a passagem aérea promocional Natal-Brasília, que me saiu a R$ 39. A outra opção, ainda mais econômica, seria pagar R$ 2 no ônibus normal, mas aí é preciso apanhar o dito umas três horas antes do horário do voo para não correr o risco de chegar atrasado. No executivo da TCB (companhia que ainda não foi privatizada ou, como dizem agora, concedida, e pertence ao governo local) cheguei a tempo, me encontrei com meu amigo, o surfista prego brasiliense Carlos Leite, e fomos tomar um café. Preto. Sem nada para mastigar. Caso contrário toda a economia do táxi ia pro saco.
Para reforçar minha tese de que boa parte do que a imprensa divulga sobre os aeroportos (que estão sim longe de serem primorosos, mas, ainda assim, estão anos-luz à frente dos hospitais públicos brasileiros - para citar só uma das reais prioridades da população) é falta de notícia ou, pior, interesse escuso (olha aí a recente concessão do filé mignon, ou seja, dos poucos aeroportos lucrativos da Infraero) não só meu voo partiu de Brasília no horário como a conexão, de Recife a Natal, decolou antes do previsto e chegou ao destino final com dez minutos de antecedência.
Para confirmar nossa atávica falta de planejamento, não há como deixar o aeroporto de Natal carregando uma prancha senão de táxi ou carona. Ônibus de linha nem pensar. Lotados. Metrô? Faça-me rir. Daí que a sorte se encarrega de ajudar os mochileiros. Graças aos dez minutos de adianto ganhos no voo, cheguei no exato instante em que três norte-americanos se preparavam para sair rumo a Pipa em sua van recém-alugada. Só para ajudá-los com a despesa, aposta quem pagou menos. É que apesar de o Brasil ser a bola da vez, eu continuo com a mesma cara de semifosco esquálido de sempre. Com direito a vidro filmado, ar condicionado e principalmente, espaço, bastante espaço, chegamos a Pipa em cerca de 1h20. Considerando que eu teria que pegar um táxi até Goianinha (R$ 15) e ali aguardar sabe-se lá quanto tempo pelo ônibus até Pipa (mais R$ 10,50) que, recolhendo passageiros, galinhas e vendedores ambulantes, levaria mais de duas sacolejantes horas para chegar ao destino, os R$ 34.5 que gastei a mais (lembrando que o valor total foi uma cortesia da sorte, que me pôs os gringos no caminho) foram muito bem investidos. Fora que, pra minha mais completa sorte, Pat e o casal Leo e Nick falavam português, são democratas e bons de papo. As duas trabalham para uma ong, a America´s Voice, que atua em prol dos imigrantes ilegais que vivem e trabalham nos EUA, enquanto ele é, se bem entendi, uma espécie de agrônomo que produz alimentos orgânicos e que, nas horas vagas, joga capoeira.
Confirmando que o brasileiro ou está mesmo por cima da carne seca ou é besta e não se importa de gastar dinheiro, só tinha gringo no albergue, ou hostel, se preferir, Zicatela Bakano. E trabalhando também. Pra dizer a verdade, quando cheguei havia um outro brasileiro, surfista, hospedado, e um brasileiro ACHO que trabalhando no bar. No resto, os funcionários, e os donos, eram todos argentinos. E simpáticos.
E eu? Por que fiquei aqui? Lógico que a referência, no nome, à famosa praia de surf mexicana ajudou quando ainda pesquisava na internet, mas o que contou mesmo foi a localização e o preço. O bem montado albergue é uma das últimas construções antes da ruazinha de terra que leva à famosa descida pelas falésias da Praia do Amor ou dos Afogados, como preferir (óbvio que o primeiro nome, mais conhecido, tem muito mais apelo turístico, mas o segundo é muito mais apropriado. Papais, mamães, segurem as crianças). E cobra R$ 36 a diária por pessoa em quartos compartilhados. (Como fiquei com uma suíte só pra mim, paguei um pouquinho mais que isso, mas depois de passar por Santos e saber que o Carina Flat está cobrando R$ 209 ao dia por um apartamento com vista para o BNH enquanto da janela das minha modesta, mas espaçosa acomodação eu posso ver o mar da Praia do AMOR, achei o valor justíssimo. Carlos Leite achou que não haveria problema de ficarmos juntos e economizarmos, mas não achei apropriado dividirmos uma suíte chamada Gostoso - foto ao lado).
E eu? Por que fiquei aqui? Lógico que a referência, no nome, à famosa praia de surf mexicana ajudou quando ainda pesquisava na internet, mas o que contou mesmo foi a localização e o preço. O bem montado albergue é uma das últimas construções antes da ruazinha de terra que leva à famosa descida pelas falésias da Praia do Amor ou dos Afogados, como preferir (óbvio que o primeiro nome, mais conhecido, tem muito mais apelo turístico, mas o segundo é muito mais apropriado. Papais, mamães, segurem as crianças). E cobra R$ 36 a diária por pessoa em quartos compartilhados. (Como fiquei com uma suíte só pra mim, paguei um pouquinho mais que isso, mas depois de passar por Santos e saber que o Carina Flat está cobrando R$ 209 ao dia por um apartamento com vista para o BNH enquanto da janela das minha modesta, mas espaçosa acomodação eu posso ver o mar da Praia do AMOR, achei o valor justíssimo. Carlos Leite achou que não haveria problema de ficarmos juntos e economizarmos, mas não achei apropriado dividirmos uma suíte chamada Gostoso - foto ao lado).
E confirmando que estou ou ficando velho ou preguiçoso, aqui estou eu, diante do micro, escrevendo besteiras enquanto Carlos Leite toma sua primeira vaca nas ondas de mais de "um metrão" na série e volta à tona sorrindo como um alucinado. Lá vai ele, remando de volta pro fundo. Eu? Vou deixar pra amanhã. Por que preciso lhes contar do vento que sopra esta época do ano...
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