terça-feira, agosto 13, 2013

I Love Jazz


Dentre a diversidade musical que caracteriza Brasília (DF), os único segmento que talvez não se veja contemplado pelos empresários locais seja o que reúne os aficionados ou interessados por jazz. Não há, na capital federal, uma única casa em que se possa ouvir o gênero com regularidade. Isso apesar de haver vários excelentes jazzistas na cidade - se não sabe, fique sabendo que há tempos a grande Rosa Maria (ou Rosa Marya Colin, sim, aquela da versão de California Dreamin) decidiu se fixar em Brasília.

A falta de "inferninhos" jazzies (se é que este adjetivo existe e se escreve assim), contudo, não impede milhares, sim, eu disse MILHARES de pessoas de todos os anos se reunirem no Parque da Cidade durante as tardes de um fim de semana para curtir o que há de melhor em termos de jazz tradicional. São pais com filhos, idosos, casais de namorados deitados sobre cangas, turmas de amigos que aproveitam a oportunidade para fazer um piquenique, gente acompanhada de garrafas e mais garrafas de vinho, ciclistas e atletas que corriam no parque...enfim, toda sorte de pessoa que dá ao menos uma paradinha para ouvir boa música e apreciar o pôr do sol ou as mornas noites brasilienses ao som de jazz.

Enquanto isso, no palco, os instrumentistas e cantores provam sem nenhum esforço que o jazz nada tem de pernóstico, pedante ou hermético. É sim sofisticada, mas é também empolgante, como tão bem diziam os escritores beatniks que, na distante década de 1950, nos Estados Unidos, escreviam sob a influência do gênero obras que, pouco depois, influenciariam uma revolução comportamental. Sobre isso, vale a pena assistir ao ótimo filme Na Estrada, adaptação norte-americana do clássico On The Road, de Jack Kerouac, dirigida pelo brasileiro Walter Salles.

Já sobre o festival I Love Jazz, que este ano chegou à quinta edição e que acontece, simultaneamente,  em Belo Horizonte (MG), a quem não foi só resta assistir aos vídeos abaixo ou aos vários outros disponibilizados na internet para sacar a qualidade dos feras que tocaram de graça durante o último fim de semana. Não faço nem ideia de quanto eu  pagaria para assistir a um show de uma cantora como Niki Haris - para mim, a grande estrela desta edição. Só no sábado, segundo os jornais, cerca de 4 mil pessoas prestigiaram o evento, dando mais vida ao Parque da Cidade (local onde, no passado, Mônica, de moto, se encontrou com Eduardo, de camelo).









O vídeo da pianista norte-americana Judy Carmichael e seu quarteto eu tomei emprestado da conta de Marcelo Ledes no youtube. O da empolgante apresentação do Niki Haris Quintet é de Henrique Behr, que, mesmo com o som de palmas próximas e repentinamente cortado, ficou infinitamente melhor que meu, gravado à distância e poluído pelas conversas de  pessoas a minha volta que não pararam de tagarelar um minuto sequer.  O da Orange Kellin´s New Orleans Deluxe Orchestra eu mesmo gravei, quando, enfim, consegui, por pouco tempo, um lugar próximo ao palco. O do Pink Turtle então, nem se fala. Foi o que gravei da maior distância. Mesmo assim, é uma versão de Get Up, Stand Up, de Bob Marley, e não achei outro. Mas acho que vale registrar que, no geral, não curti Pink Turtle, que, mesmo com o repertório moderninho, me lembrou a orquestra de Ray Conniff. Ficou faltando apenas Butch Miles and the Jazz Express Big Band. Quem sabe ano que vem. 

domingo, agosto 11, 2013

De Lá Até Aqui



tempos eu não compartilhava uma playlist com músicas que estivera ouvindo. Estava e ainda estou sem tempo para selecionar algumas a fim de dividi-las com meus três leitores.Mesmo assim, aqui está uma nova playlist. Criada graças à facilidade de que, ao contrário das cinco anteriores, temáticas (música de auto-ajuda; músicas que separei para ouvir na praia, de férias; músicas para me estimular a encarar mais um dia; música brasiliense e música paraense - veja, e acesse, relação ao lado direito) esta traz um único artista, ou melhor, grupo. 

Trata-se do Móveis Coloniais de Acaju, grupo brasiliense que meus três leitores já conhecem bem e que, a esta altura, após 15 anos de existência, já conquistou muita gente no Brasil inteiro. 

"Mas por que um playlist inteiramente dedicado a um grupo?". A resposta é que, na verdade, esta lista é exclusivamente dedicada a um único cd: De Lá Até Aqui, que chega às lojas amanhã (12), mas que já está disponível para audição no Deezer (e aqui, lógico). E que eu passei o domingo inteiro ouvindo. Logo, se este espaço é para compartilhar com meus três leitores o que anda fazendo minha cabeça...(para ouvir as faixas na íntegra é necessário se inscrever no Deezer, o que te permitirá pesquisar sons que a maioria dos programadores de rádio e e tv nem sequer sonham pesquisar, ocupados que estão com o último sucesso descartável da semana)

Mais calmo e bem-produzido que os anteriores (o enérgico, mas desigual, Idem (2005) e o excelente C_mpl_te (2009)), De Lá Até Aqui renova a certeza de que o Móveis está entre os artistas mais interessantes e empolgantes da nova safra da música brasileira.

Assim como o disco anterior, quanto mais eu ouço este, mais eu gosto das canções e descubro versos em cujo alcance eu não tinha reparado a princípio. Destaques para o arranjo da belíssima Campo de Batalha (Meu campo de batalha sou eu / A culpa que me espera morreu / Meu corpo é onde a luta viveu / Meu campo de batalha sou eu / Vontade é combater ilusão) e para a alegria contagiante de Vejo Em Teu Olhar e Saionara. 

terça-feira, agosto 06, 2013

"ONDE ESTÃO MURILO E OS OUTROS 38 DESAPARECIDOS GOIANOS?"

fonte: Agência Brasil

(clique para ouvir)

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Enquanto cidadãos e organizações de defesa dos direitos humanos cobram das autoridades do Rio de Janeiro o esclarecimento sobre o que ocorreu com o pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido há 23 dias, a dona de casa goiana Maria das Graças Soares luta quase que sozinha, há oito anos, para saber o paradeiro de seu filho Murilo Soares. O garoto é umas das 39 pessoas que, segundo organizações sociais de defesa dos direitos humanos, desapareceram após serem abordadas por policiais militares na região metropolitana de Goiânia nos últimos anos.
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"Eu também queria saber onde está o meu filho. Eu queria que os governantes, as autoridades, também me ajudassem”, disse Maria das Graças à Agência Brasil. “São 39 famílias de desaparecidos após abordagem policial que até hoje não tiveram respostas”, comentou a dona de casa, referindo-se aos números parcialmente revelados no ano passado, em um relatório da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás.
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Morador da Rocinha, Amarildo desapareceu no dia 14 de julho deste ano, após ser levado por policiais militares para a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade, no bairro de São Conrado, na zona sul do Rio. O caso gerou protestos de moradores da Rocinha aos quais, depois, se somaram os de segmentos da sociedade fluminense. Após chegar às redes sociais, a pergunta "Onde está Amarildo?" atraiu a atenção da imprensa brasileira e internacional. Já o caso de Murilo e das outras 38 supostas vítimas da abordagem policial goiana atraem cada vez menos a atenção da opinião pública. 
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Murilo tinha 12 anos quando, em 22 de abril de 2005, policiais do grupo Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) pararam o carro dirigido pelo servente Paulo Sérgio Pereira Rodrigues, de 21 anos. A pedido do próprio pai (que, na época, já estava separado de Graça), Murilo voltava para casa de carona com Paulo. Várias pessoas presenciaram o momento em que os policiais revistavam o motorista enquanto o garoto permanecia de pé, ao lado do veículo. Foi a última vez que Murilo e Paulo foram vistos. O carro foi encontrado no dia seguinte, carbonizado e sem a aparelhagem de som e as rodas. Os corpos dos dois ocupantes, no entanto, jamais foram localizados. Paulo tinha antecedentes criminais.
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Oito policiais acusados de latrocínio (roubo seguido de morte) e ocultação de cadáver foram absolvidos pela Justiça de Goiás por falta de provas materiais. O Ministério Público recorreu da sentença e o resultado do julgamento foi anulado pela Justiça Estadual, que decidiu levar os policiais ao Tribunal de Júri por duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáveres. Por falta de indícios, a nova decisão também foi anulada e o novo julgamento não aconteceu.
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Passados oito anos, Maria das Graças diz ter perdido a esperança de que alguém seja punido pelo sumiço de seu filho. Por já não acreditar que o garoto esteja vivo, ela diz alimentar unicamente a esperança de dar um enterro digno ao seu filho. “Minha expectativa é que um dia eu possa enterrar os restos do meu filho. Este é meu sonho. Eu quero encontrar o Murilo, não importa o jeito que ele esteja”.
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Há três meses, ao pedir que a investigação e o julgamento das mortes de moradores de rua de Goiânia fossem federalizados, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, sugeriu que também as denúncias de desaparecimentos após abordagens policiais na região metropolitana da capital goiana também fossem federalizados. O pedido da ministra foi encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no começo de maio.
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No pedido, é mencionada a suspeita de violência policial e atuação de grupos de extermínio em Goiás que, desde 2000, resultaram em “sistemáticas violações aos direitos humanos, diante da inércia estatal para investigar, julgar e punir os possíveis autores”. A cargo do ministro Jorge Mussi, do STJ, o deslocamento da competência ainda não foi julgado. Na ocasião em que o pedido de federalização foi apresentado, a Polícia Militar de Goiás informou, por meio de sua assessoria, que acompanha os desdobramentos do caso, classificado como “extremamente complexo”, e que tem o maior interesse no esclarecimento dos fatos para que, se comprovadas as acusações, os eventuais responsáveis sejam punidos.

sexta-feira, agosto 02, 2013

A Humilhação do Futebol Brasileiro

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    Camp Nou
    JOGO EM ANDAMENTO!


"O principal motivo deste amistoso é vermos este menino [Neymar] jogando ao lado do Messi". 

Sério que isso é tudo que um comentarista esportivo brasileiro, supostamente um amante do futebol, tem a dizer a respeito de mais um vexame do Santos diante do clube espanhol Barcelona?

"Ah, mas perder do Barça de Messi não é vergonha". Perder não, mas voltar a protagonizar um tragicômico espetáculo que confirma o atual desnível entre o futebol brasileiro e o de outras potências mundiais... ah, isso é sim uma vergonha que deveria ser compartilhada por todos os que realmente gostam do esporte. 

Não entendi a tolerância, a condescendência dos comentaristas globais (ou fingi não entender. Sabe como é, né? Muito dinheiro envolvido em um espetáculo desses). Independente de se tratar de um amistoso, quem estava em campo representando o futebol brasileiro não era um folclórico Ibis. Não. Era o ex-time com o qual Pelé se consagrou, equipe oito vezes campeã brasileira, três vezes vencedora da Libertadores e bi-campeão Mundial Interclubes. Não bastasse esse passado de glórias, os entusiastas brasileiros deveriam lembrar que, ainda hoje, o Santos é uma das principais equipes brasileiras. E se preocupar. Pois se uma forte equipe brasileira passa, pela segunda vez, um vexame como o que o Santos passou hoje diante do Barça, há muito o que pensar sobre a qualidade do futebol nacional.

Não somos o país do futebol? Não somos um celeiro de craques? O futebol e o brasileiro não são tão indissociáveis a ponto de justificar a realização da Copa do Mundo? Não nascemos todos já com a ginga necessária para driblar os adversários e adversidades? Por que, então, enquanto os jogadores do Barça constroem coletivamente verdadeiras obras-primas de jogadas eficientes, nossos atletas se vêem perdidos em campo, contando com o talento individual e arriscando chutões pra frente? Isso para não falar na nossa visível falta de estratégia tática. Por que nos conformamos com a vergonha de uma de nossas principais equipes?

Será que nos conformamos com a vergonha de uma de nossas principais equipes porque continuamos apostando no indivíduo? Nas personalidades? Como disse o juiz Arnaldo, "vamos deixar a tristeza de lado e falar da alegria deste menino [Neymar, mais uma vez]. Quanto mais você fizer, quanto melhor você vier a ser, melhor será para o futebol brasileiro". E nada mais, somente umas palavras do Galvão, que, a certa altura, deu uma leve estocada nas Polianas apontando "a vergonha para um time tão importante quanto o Santos".

A questão é que se o futebol deve ser tema de interesse (e ação) dos governos conforme costuma defender o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, a humilhação do Santos deveria ser vista como uma vergonha do futebol brasileiro, administrado de forma amadora. E a vitória do Barça deveria ser interpretada como a vitória do "futebol apolíneo" da velocidade e da eficiência coletiva sobre o futebol dionisíaco que praticamos com cada vez menos sucesso (só não vou escrever sem nenhum sucesso pelas recentes vitórias do Corinthians e do Atlético Mineiro).

quinta-feira, agosto 01, 2013

Malafaia vai `às cordas´ na moral


Os manos diriam "perdeu, playboy". Os estrategistas gritariam a plenos pulmões, entusiasmados, "xeque-mate!". Madrinha Naninha suspiraria entre dentes: "um dia a máscara cai". Sinuca de bico, senti eu. 

Ao participar do programa Na Moral, da tv Globo, o pastor Silas Malafaia enrolou, enrolou, enrolou e, após tentar convencer a todos que é tolerante, não aceitou o convite de um representante umbandista, o babalorixá Ivanir dos Santos, para participar de uma caminhada ecumênica que, em resumo, prega o respeito à diversidade religiosa e o reconhecimento da laicidade do Estado. A presença de Malafaia, afirmou o autor do convite, seria um claro recado aos evangélicos que o ouvem. 

Mesmo liso como sabonete, Malafaia ficou sem saída: ou aceitava o convite ou inventava uma desculpa qualquer para o fato de ser um dos líderes do único segmento que não aceita participar do evento. Se aceitasse, precisaria, daqui a alguns meses, caminhar lado a lado com os umbandistas que alguns pastores evangélicos demonizam e com lideranças católicas com quem disputa fiéis. Enrolou e não respondeu objetivamente, escolhendo, assim, a segunda opção. Para tentar se justificar, disse querer evitar corroborar atos que, segundo ele, têm motivações políticas. Logo ele que, nos últimos tempos, tem frequentado Brasília mais que muitos parlamentares.

E foi isso. Um único momento digno de nota durante o debate. O que levou uma internauta de ironizar, no twitter, que "se o país é laico, deviam ser proibidos estes tipos de debates religiosos ridículos que só servem para dar ibope pra barraco". Não dá para dizer que seja um comentário insensato. Principalmente quando alguém assistindo ao programa decide escrever "Entenda, Deus comanda tudo!!! Sua existência é por permissão DELE". Aí, meu amigo, certo está o outro que declarou "laico é meu sono. Respeito".

Mesmo com a camada de verniz que o ex-ministro do STF, Carlos Ayres Britto, emprestou à atração, a simples presença de Malafaia entre os debatedores indicava, de cara, que a conversa não ia muito longe. Mas é da lógica do show business. Tanto quanto o apresentador Pedro Bial exibir os mesmos arroubos verbais pretensamente poéticos pelos quais ficou marcado no comando do Big Brother - essa sim uma atração laica.