Dentre a diversidade musical que caracteriza Brasília (DF), os único segmento que talvez não se veja contemplado pelos empresários locais seja o que reúne os aficionados ou interessados por jazz. Não há, na capital federal, uma única casa em que se possa ouvir o gênero com regularidade. Isso apesar de haver vários excelentes jazzistas na cidade - se não sabe, fique sabendo que há tempos a grande Rosa Maria (ou Rosa Marya Colin, sim, aquela da versão de California Dreamin) decidiu se fixar em Brasília.
A falta de "inferninhos" jazzies (se é que este adjetivo existe e se escreve assim), contudo, não impede milhares, sim, eu disse MILHARES de pessoas de todos os anos se reunirem no Parque da Cidade durante as tardes de um fim de semana para curtir o que há de melhor em termos de jazz tradicional. São pais com filhos, idosos, casais de namorados deitados sobre cangas, turmas de amigos que aproveitam a oportunidade para fazer um piquenique, gente acompanhada de garrafas e mais garrafas de vinho, ciclistas e atletas que corriam no parque...enfim, toda sorte de pessoa que dá ao menos uma paradinha para ouvir boa música e apreciar o pôr do sol ou as mornas noites brasilienses ao som de jazz.
Enquanto isso, no palco, os instrumentistas e cantores provam sem nenhum esforço que o jazz nada tem de pernóstico, pedante ou hermético. É sim sofisticada, mas é também empolgante, como tão bem diziam os escritores beatniks que, na distante década de 1950, nos Estados Unidos, escreviam sob a influência do gênero obras que, pouco depois, influenciariam uma revolução comportamental. Sobre isso, vale a pena assistir ao ótimo filme Na Estrada, adaptação norte-americana do clássico On The Road, de Jack Kerouac, dirigida pelo brasileiro Walter Salles.
Já sobre o festival I Love Jazz, que este ano chegou à quinta edição e que acontece, simultaneamente, em Belo Horizonte (MG), a quem não foi só resta assistir aos vídeos abaixo ou aos vários outros disponibilizados na internet para sacar a qualidade dos feras que tocaram de graça durante o último fim de semana. Não faço nem ideia de quanto eu pagaria para assistir a um show de uma cantora como Niki Haris - para mim, a grande estrela desta edição. Só no sábado, segundo os jornais, cerca de 4 mil pessoas prestigiaram o evento, dando mais vida ao Parque da Cidade (local onde, no passado, Mônica, de moto, se encontrou com Eduardo, de camelo).
O vídeo da pianista norte-americana Judy Carmichael e seu quarteto eu tomei emprestado da conta de Marcelo Ledes no youtube. O da empolgante apresentação do Niki Haris Quintet é de Henrique Behr, que, mesmo com o som de palmas próximas e repentinamente cortado, ficou infinitamente melhor que meu, gravado à distância e poluído pelas conversas de pessoas a minha volta que não pararam de tagarelar um minuto sequer. O da Orange Kellin´s New Orleans Deluxe Orchestra eu mesmo gravei, quando, enfim, consegui, por pouco tempo, um lugar próximo ao palco. O do Pink Turtle então, nem se fala. Foi o que gravei da maior distância. Mesmo assim, é uma versão de Get Up, Stand Up, de Bob Marley, e não achei outro. Mas acho que vale registrar que, no geral, não curti Pink Turtle, que, mesmo com o repertório moderninho, me lembrou a orquestra de Ray Conniff. Ficou faltando apenas Butch Miles and the Jazz Express Big Band. Quem sabe ano que vem.