Não dou a mínima para o Oscar. Ponto.
Imagino que, para um cineasta que não trabalhe nos Estados Unidos, receber um prêmio de "melhor filme" não-norte-americano concedido por membros de uma "Academia" cinematográfica que foi incapaz de premiar Charles Chaplin (em 72, ele ganhou, como consolo, um prêmio honorário) e Orson Welles (a estatueta por melhor roteiro não foi o suficiente para distinguir um gênio cinematográfico como Welles) não significa muita coisa além da efêmera visibilidade comercial. Puro marketing.
Alem do mais, a cerimônia de entrega dos prêmios é um troço chato cuja expectativa e repercussão tem muito mais a ver com o interesse mórbido pelas roupas e penteados dos astros e estrelas do que com a sétima arte.
Considerações feitas, o assunto hoje chamou minha atenção por causa do filme que a comissão do Ministério da Cultura escolheu para, entre indicados de todo o mundo, concorrer a uma das cinco vagas destinadas aos finalistas da categoria world movie (porque, para os yankees, há o cinema norte-americano e há o cinema do resto do mundo).
E o indicado brasileiro foi...O Som ao Redor. O que me deixou surpreso - não sei se pela ousadia ou pela falta de visão. Como apenas um dos meus três leitores assistiu ao filme do pernambucano Kleber Mendonça Filho, fui ouvir outras pessoas para constatar que, de fato, a maioria das pessoas não viu o filme; muitas sequer tinham ouvido falar dele. O que, talvez, seja uma estratégia da comissão do MinC: já que ganhar o Oscar de melhor filme não-norte-americano nunca foi uma questão de Estado, aproveitemos o fato midiático para estimular a curiosidade do público interno para uma obra que valha a pena ser vista, mas que, de outra forma, passaria despercebida entre os blockbusters tão ao gosto da Academia.
Se for essa a ideia, ponto para o grupo. Se não...bom, então não consigo pensar em um filme brasileiro menos indicado para o gosto dos profissionais da indústria cinematográfica responsáveis por escolher os ganhadores do Oscar 2014.
No dia em que assisti a O Som ao Redor, fui abordado por um casal de argentinos que, embora vivam no Brasil já há alguns meses, não entenderam a fundo a trama e, por isso, não compreendiam as razões de tantas críticas elogiosas na imprensa. Difícil foi explicar aos dois, em espanhol, que o filme é complicado também para os brasileiros e que, de fato, sua força não está na estética, na forma, mas sim no roteiro. Sobretudo pelas meias palavras a atiçar os bons entendedores da História, da sociologia e da formação econômica brasileira.
Kleber foi bastante ousado e abriu várias frentes de discussão em seu filme (o coronelismo, os códigos familiares, o consumismo como símbolo de progresso, a insegurança pública, a velha luta de classes...), fazendo valer o ingresso para aqueles que gostam de um filme que incomode e faça pensar. A ousadia, contudo, tem um preço. Nesse caso específico, o custo é a dificuldade de perceber aonde o diretor quer chegar com as tomadas de tvs de tela-plana e de acompanhá-lo buscar sentido numa Recife encastelada. Para compreender além do que é explicitado na tela, o telespectador precisa de uma ampla gama de informações prévias. Principalmente sobre a última década. Informações que, talvez, não digam nada aos "acadêmicos" de Hollywood que irão avaliar a indicação brasileira.
Tudo bem. Se a indicação servir para que os piratas passem a vender O Som ao Redor nos bares e rodoviárias, terá valido à pena a ousadia da comissão.
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