quinta-feira, março 20, 2008

Playa Zancudo - Costa Rica

Ainda nao sao sete horas quando o surfista brasiliense Carlos Leite se levanta da cama. Leite ouve do quarto da pousada, a 50 metros da praia, o barulho das ondas quebrando. Ele pensa que, naquele ponto da praia, elas nao podem estar grandes, e se dá conta de que Zancudo desperta tao vagarosa e silenciosamente que o som das ondas é amplificado como se fossem surfáveis. Tanto quanto as que espera encontrar em outro ponto.

Leite deixa a namorada dormindo, apanha a máquina fotográfica e segue sozinho para a praia semi-deserta. Ao longo de uma corrida de meia hora, o surfista encontra apenas cinco pessoas caminhando pela areia escura e grossa. As ondas já começam a aumentar e, a cerca de 2,5 quilômetros da pousada Macondo, Leite enfim se depara com um dos motivos que o trouxeram até este ponto de difícil acesso do sul da Costa Rica: ondas solitárias de 1 metro na série se formam e abrem tanto para a direita quanto para a esquerda.

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Apesar de ansioso, Leite volta à pousada para tomar o café da manha com sua namorada. Ele calcula que, quando voltar à praia, já com a maré subindo, encontrará ondas ainda maiores um pouco além do ponto onde esteve há pouco. De qualquer forma, é preciso esperar pelo momento certo, determinado pela maré. Na Costa Rica, mais que no Brasil, é o próprio oceano quem dita a melhor hora para o surf.

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Durante o café, Leite conversa um pouco com o dono da pousada, o italiano Daniele Giuseppe Borello, que há 14 anos deixou o frio e as fábricas onde trabalhava para se fixar em Zancudo. Há dois anos chegou Patrícia, sua namorada. Com a ajuda dela e de outro conterrâneo, Luiggi, o restaurante Macondo acabou sendo escolhido como a melhor cantina italiana de Zancudo - é bem verdade que, além dela, Leite só viu uma outra, mas, de qualquer forma, a comida é excelente e faz jus ao título.



Daniel se queixou por o governo costarriquenho nao investir em melhorias no acesso à praia, asfaltando a única estrada que vem de Golfito - a mesma que liga Golfito a Pavones, uma praia mundialmente conhecida pela qualidade de suas ondas e a qual Leite, apesar da proximidade, desistiu de ir devido à dificuldade de transporte - ou disponibilizando mais barcos públicos, já que, hoje, há um único que sai de Golfito ao meio-dia e leva meia hora para chegar a Zancudo. Se perdem este barco e o ônibus que parte quase a mesma hora, os turistas e moradores que querem chegar a Zancudo tem de apanhar uma lancha particular, pagando muito mais caro.

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Ao comentar o fato da maioria dos estabelecimentos comerciais em pontos turísticos costarriquenhos pertencerem a estrangeiros, Daniel comentou o fator óbvio do maior poder aquisitivo de quem chega vindo de países com moedas fortes, mas também deixou escapulir um comentário muito utilizado no Brasil em outros tempos. "A los ticos les gustan hacer lo vago", disse ele, ou seja, os costarriquenhos sao chegados a nao fazer nada.

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Finalmente Leite e namorada seguiram para a praia. Caminharam cerca de dois quilômetros sob sol forte, seguindo pela areia, entre o mar e a vegetaçao que encobre a estrada e as casas de Zancudo. Quando pararam, uma série de ondas se erguia no mar, a pouco mais de 50 metros da areia.

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Leite vestiu sua lycra de olho na série, simulou um alongamento e se atirou ao mar. A correnteza facilitava a remada até o fundo, mas mesmo assim, Leite sentia os braços pesados após meses sem surfar. Quando chegou no outside, sentado na prancha à espera de sua primeira onda, ele virou para admirar a praia. Vista do mar, a vegetaçao que avança sobre a areia parecia ainda mais exuberante.

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Quando voltou sua atençao para o horizonte, Leite pressentiu a ondulaçao avançando em sua direçao. Virou a prancha em direçao à praia e começou a remar, prevendo o ponto em que a massa de água iria dobrar-se sobre si própria. Conforme a onda se ergueu, a força do mar impulsionou ao surfista brasiliense que, ao chegar atingir a crista, se pôs de pé sobre a prancha.

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Dropando para a direita, de costas para a onda aberta a sua frente, Leite relaxou o corpo e apenas permitiu que a prancha deslizasse ligeira sobre o mar. Tentou fazer o mínimo de movimentos possíveis e seguiu assim até que a onda perdesse a força.

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Quando se jogou de cima da prancha, mergulhando no Oceano Pacífico, Leite já podia dizer ter iniciado sua primeira surf trip pela Costa Rica. E voltou para o outside pensando sobre se todo o resto da viagem seria fácil assim.

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