segunda-feira, maio 18, 2009

Ao saudoso Billy

A última foto de Billy
Pois é, Billy Hooper. Sorte sua não ter ficado para ver a situação atual. Os covardes venceram e, hoje, ninguém mais teme aquilo que gente como você representou um dia. E olha que, pelo menos na aparência, há tipos capazes de provocar mais estranhamento do que você, Wyatt Fonda e todos aqueles hippies branquelos que vocês encontraram ao longo de sua jornada sem-destino.

Está muito claro que as coisas não saíram como sua geração imaginou quando defendeu a imaginação no poder. Sei que vocês não gostam que mitifiquemos algo que não vivemos, mas é óbvio que as coisas mudaram bastante. E, se não necessariamente para pior, também não foi para melhor.


Quer um exemplo? Lembra-se daquele garoto que publicou um primeiro texto na Rolling Stone no mesmo ano (1969) em que a tua história chegava ao cinema? Sim, o tal de Lester Bangs. Pois saiba que ele também não ficou para ver o oco. Morreu em 1982, gordo, supostamente devido a uma overdose de medicamentos quando tentava se livrar do alcoolismo.
(foto: Lester Bangs)
Morto, acabou virando cult entre estudantes de jornalismo e profissionais que o lêem, mas que escrevem conforme determinam os manuais de redação como o da Folha de S.Paulo, publicado pela primeira vez em 1984, apenas dois anos após a morte de Bangs.

Bangs hoje está envolto na mesma substância intangível que buscava mimetizar de seus ídolos: a tal “Atitude” cool. Em maior grau, o mesmo aconteceu com o pai do jornalismo gonzo Hunter Thompson. Ambos inclusive viraram personagens de filmes hollywoodianos. O primeiro, em 2000, no filme Quase Famosos, de Cameron Crowe. O segundo, em Medo e Delírio em Las Vegas, interpretado por Johnny Deep. A diferença é que se antes a atitude chocava, agora, serve para vender cartão de crédito para universitários.

Selecionado, editado e compilado, Bangs – que foi despedido da Rolling Stone por ser desrespeitoso com os músicos que entrevistava – hoje serve duplamente ao sistema: aos negócios, contribuindo para que as máquinas registradoras não enferrujem, e aos que o lêem, a quem oferece um vislumbre para além das camisas-de-força dos manuais que pregam a objetividade jornalística, inviabilizando análises subjetivas como a que ele chegou ao entrevistar Lou Reed.

“O fato é que Lou [Reed], como todos os heróis, está aí para tomar porrada. Eles não seriam heróis se não fossem uns miseráveis cães sarnentos, os párias da terra, e mais, a única razão para se construir um ídolo é joga-lo por terra novamente, como qualquer outra coisa. Heróis são uma puta coisa estúpida de se ter e um bloqueio geral a tudo que você queira conquistar por conta própria”. (do artigo Vamos Agora Louvar os Famosos Duendes da Morte, publicado na revista Creem, em março de 1975)

Engraçado é que o próprio Bangs ridicularizava o tipo de armadilha a qual ele e muitos outros de sua geração (você e Wyatt Fonda entre eles) se encontram presos.

“O mito heróico dos anos 60 era o sujeito detonado. Viva rapidamente, seja mau, encrenque-se, morra jovem. Em parte, isso tinha a ver com a inexistência absoluta de heróis reais, objetivos, decididos, de cabeça erguida, nobre e de sucesso. Eu mesmo sempre quis imitar o filho-da-puta mais autodestrutivo que eu visse, caso ele se comportasse com algum senso de estilo. Aproveitar as experiências transviadas desses caras para sair do corpo por tabela compensava, de alguma maneira, o vazio de nossas próprias vidas horrivelmente normais. É por isso que Lou Reed era necessário”.

Entendeu, Billy? Será por isso que você, Wyatt, Hendrix, o Rei Lagarto, Che, Kerouack, Dean, Miles, Bukowski e tantos outros de sua geração continuam sendo necessários? E será que essa necessidade não é escamoteada porque serve para vender camisetas?

Wyatt e Billy confraternizando

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