sábado, julho 04, 2009

A Luta é Cultura!

Ontem (3), caiçaras, quilombolas, índios guaranis e artesãos tomaram as ruas do Centro Histórico de Paraty. Portando faixas e cartazes e avançando ao som do maracatú por entre poetas, estudantes e peruas, representantes dos moradores de comunidades tradicionais protetaram contra o que classificam como "a pressão exercida pela especulação imobiliária, a ausência de políticas públicas".

Segundo o manifesto distribuído pelo Fórum de Comunidades Tradicionais - entidade civil que diz lutar pelos direitos e pela manutenção da identidade cultural das comunidades locais - há pelo menos 30 anos a região sofre as consequências negativas da construção da Rodovia Rio-Santos. Ainda de acordo com o manifesto, a estrada pavimentou um modelo de desenvolvimento baseado no turismo, seguido pela a construção de condomínios de luxo e de empreendimentos como marinas e resorts que acabaram por determinar a expulsão dos moradores originais de suas terras.

Alvo das críticas mais contundentes, o Condomínio Laranjeiras é acusado de dificultar o acesso de moradores da Vila Oratória a suas próprias casas, além de impedir que antigos pescadores usem a praia, privatizada. A quem não se mudou para bairros periféricos, restou a alternativa de se tornar caseiro, tomando conta das casas milionárias.

"A política ambiental implementada na região desconsidera historicamente a presença das comunidades nos seus territórios, proibindo-os de manter práticas tradicionais como plantar e pescar e até mesmo construir ou reformar suas moradias, através de uma estratégia de intervenção incompatível com as possibilidades de manejo sustentável da biodiversidade na Mata Atlântica", diz a nota do Fórum de Comunidades Tradicionais.

Segundo um dos representantes da associação de moradores de Laranjeiras que pediu para não ser identificado, após a construção do condomínio, iniciada há cerca de 20 anos, as pessoas que vivem em Vila Oratória passaram a ter que se identificar na portaria instalada na única via de acesso ao local. Além disso, diz ele, há uma segunda guarita logo após a vila e esta impediria o acesso à praia de pessoas que não sejam proprietários de casas no condomínio.

Durante o protesto, que chegou a contornar a Praça da Matriz, passando ao lado da tenda onde as pessoas acompanhavam por telões as palestras de escritores convidados para a Flip, os manifestantes reclamaram da indiferença do poder público para com esta e outras questões.

Artesãos acusaram o IPHAN de, com o argumento de estar protegendo o patrimônio histórico, impedí-los de trabalhar nas ruas do Centro Histórico, ao passo que dezenas de estabelecimentos cujos proprietários, segundo eles, não passam de comerciantes intermediadores, com dinheiro para arcar com impostos e outras taxas, estão estabelecidos no local de maior afluxo turístico.

O protesto chamou a atenção dos visitantes, mas diante da inicial indiferença da imprensa, só foi ter sua eficácia confirmada no final da noite, quando Chico Buarque, ao término de sua palestra, pediu licença para falar sobre o assunto e pedir atenção ao tema.


Nenhum comentário: