
Até onde me lembro, o ator Michael Sheen, que no filme interpreta o jornalista David Frost, comemorava o fato de ter fechado um acordo para entrevistar, com exclusividade, o ex-presidente norte-americano Richard Nixon, vivido por Frank Langella. A história é real e se passou em 1977. Frost foi o primeiro a entrevistar Nixon após este ter renunciado à presidência dos EUA, em 1974, por causa do escândalo de Watergate. Apresentador de programas de entretenimento, com fama de ser um playboy fútil e mulherengo e sem nenhuma experiência relevante

Pois não é que, apesar da direção cativante de Ron Howard, eu peguei no sono. Pior. De repente eu me vi assistindo a um David Frost estupefato diante do...Dono do Maranhão, o Imortal e Vitalício “Sr. Presidente”. E o diálogo, real ou imaginário, sucedeu mais ou menos assim, embora eu não saiba precisar se em 1977 ou em 2009.

_ (Sr. Presidente) Não tinha mesmo. Acreditava que o dinheiro tivesse fins humanitários. Que fosse para ajudar pessoas carentes. (Me pareceu ouvi-lo acrescentar um “para a instituição com fins culturais”, mas isso eu não sei se foi um acréscimo posterior de minha imaginação)
_ (Frost) Bom, o dinheiro estava sendo entregue em cabines telefônicas, com nomes falsos, e em aeroportos, por pessoas usando luvas.
_ (Sr. Presidente) Olha, eu já declarei o que tinha a declarar sobre isso. São negócios de meus advogados e eu não sabia de nada.

_ (Frost) Se eles são os único responsáveis, porque quando o senhor descobriu não chamou a polícia e mandou prendê-los? (Aqui também pensei entender Frost acrescentar um “prender esses aloprados” bem baixinho, mas restou a dúvida)
_ (Sr. Presidente) Talvez eu devesse mesmo ter feito isso. Chamar a Polícia Federal no meu gabinete e dizer, “aqui estão esses homens. Levem-nos e joguem-nos no xadrez”. Só que eu não sou assim. Eu conheço as famílias dos dois e conheço-os desde que eram crianças.
Pausa. A câmera dá um close em Frost, que parece não conseguir acompanhar o raciocínio de vossa excelência. O Vitalício, no entanto, parece perceber o descompasso entre seu pensamento e o entendimento mediano, aqui, representado pelo jornalista, e acrescenta:
_ (Sr. Pr

_ (Frost, aturdido) O senhor está dizendo que, em certas situações, o presidente pode decidir se algo é do interesse da Nação e fazer algo ilegal?
_ (Sr. Presidente) Estou dizendo que quando o presidente faz algo, não é ilegal. É nisso que acredito...mas percebo que ninguém concorda comigo.
_ (Frost) Neste caso, então, o senhor aceita esclarecer tudo de uma vez por todas, admitir que violou a lei?
_ (Sr. Presidente) ...
_ (Frost) Chamaria seus atos algo além de “erros”?
_ (Sr. Presidente) Que palavras você usaria?
_ (Frost, já suando) Minha nossa! Já que o senhor me perguntou, acho que há três coisas que as pessoas gostariam de vê-lo dizer. Primeiro, que (será que eu o ouvi dizer atos secretos e desvios de recursos) foram mais que erros, foram delitos. E que, portanto, deve ter havido um crime. Segundo, as pessoas gostariam de ouvi-lo falar “eu abusei do poder que tinha como presidente”. Terceiro, “permiti que o povo tivesse muito tempo de agonia desnecessária e quero que me desculpem por isso”.
_ (Sr. Presidente) Bom, é verdade. (Toda a equipe técnica e o próprio Frost acusa

_ (Frost) E o povo?
_ (Sr. Presidente) ...Eu o decepcionei.
Nisso, algo me trouxe de volta. Se do sonho, da alucinação ou da realidade, não sei dizer. Só sei que voltei a me dar conta de meu corpo esparramado no sofá ao ouvir o som vindo da casa do vizinho. Renato Russo gritava “que país é este?”. ?.
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