domingo, fevereiro 12, 2012

Metal Contra As Nuvens


Eles fazem parte do vocabulário do rock´n´roll. São as vogais do alfabeto do rock"
Cris Robinson, Black Crowes

"Para mim, quatro dos maiores músicos que já pisaram nos palcos do rock´n´roll"
Richie Sambora, Bon Jovi

"A combinação [de talentos dos quatro integrantes] é simplesmente uma daquelas coisas que acontecem uma vez em um milhão"
Lenny Kravitz

Estive na primeira apresentação deles em Nova York. Tinha 16, 17 anos, e aquele show mudou a minha vida. Já havia ouvido o [primeiro] disco deles e ficado estupefato, mas quando os vi ao vivo, foi, tipo, "caramba..."
Ace Frehley, Kiss

"Não conheço ninguém que acredite que existe um baterista melhor do que John Bonham. Isso é inquestionável"
Dave Grohl, Foo Fighter (e ex-baterista do Nirvana)


É sempre a mesma coisa. Ponho o primeiro disco do Led Zeppelin para tocar, o da famosa foto do Hindenburg em chamas, e logo me pego imaginando o que significou para um jovem acomodado em sua casa, ouvir, em 1969, os primeiros acordes de Good Times, Bad Times explodindo de suas caixas de som. Como terá ele reagido à faixa de abertura do primeiro disco daquela que muitos críticos reconheceriam tardiamente ter sido a "maior e mais poderosa banda de rock da Terra" de sua época? Aos exatos 13 segundos de tic-tic-tics do chimbal, de ataque surdo aos bumbos da bateria e ao memorável riff da guitarra de Jimmy Page. E, mais: como terá ele se sentido ao fim dos 44,28 minutos de audição e à descoberta do "dirigível de chumbo"?

Whole Lotta Led Zeppelin - A História Ilustrada da Banda Mais Pesada de Todos os Tempos (Ed. Agir, 288 páginas), organizado pelo jornalista Jon Bream, é uma valiosa ajuda para quem se dispor a fazer este exercício de perspectiva. Ou melhor dizendo, para quem quiser entender como Page, o vocalista Robert Plant, o baterista John Bonham e o baixista John Paul Jones ajudaram a consolidar a mística de abusos e exageros dos astros do rock´n´roll, inaugurada pelos também britânicos Rolling Stones numa época em que a música ainda era mais que um simples produto embalado para azeitar as engrenagens da indústria cultural.

Para o fans, um livro imperdível que comprova que, ao contrário do que o próprio autor afirma no primeiro capítulo do livro, o Led Zeppelin não "é, foi e sempre será a banda Jimmy Page". Não. O grande diferencial do grupo foi justamente potencializar o talento de quatro músicos talentosíssimos sem que as partes se diluíssem em meio ao todo. Ou seja, no "zeppelin de chumbo", todos tinham o mesmo espaço. Não à toa, todos os quatro integrantes costumam ser apontados como referências e frequentam as listas de melhores de todos os tempos elaboradas por seus pares e por críticos musicais.

Sem se alongar em tecnicismos, o livro se torna atraente a qualquer um que goste de música, principalmente pelas histórias de bastidores, fartamente ilustradas com belas fotos da época. Conta como Page, que já vinha de um outro grupo de sucesso, o Yardbirds (no qual tocaram Jeff Beck e Eric Clapton), selecionou o então desconhecido Robert Plant, jovem vocalista de uma banda universitária, o "maníaco" baterista "que gostava de tocar alto" John Bonham e o multi-instrumentista John Paul Jones, que o procurou após ler um artigo sobre o novo grupo de Page.

"Tínhamos, os quatro, personalidades e interesses muito diferentes, mas acredito que, de alguma forma, fomos reunidos pela divina providência para tocarmos juntos", definiu Page em uma entrevista concedida 35 anos após o primeiro ensaio conjunto, em 1968, no porão de uma loja de discos londrina. "Houve um tipo de silêncio aturdido, expectante. Nunca tinhamos tocado juntos e, de repente, estavamos reunidos e foi muito estranho, quase assustador. Tão bom que foi estranho. E esse aspecto permaneceu conosco do primeiro ao último dia".

Embora não seja correto afirmar que Page era "O" dono da banda, não dá para negar que foi ele sim o maior responsável pelo sucesso e erros do grupo, já que, além de selecionar os músicos e compor a maioria das canções, o guitarrista produziu ele próprio os oito discos de estúdio e um ao vivo lançados entre 1969 e 1978.

"Eu queria controle artístico total, porque sabia exatamente o que queria fazer com aqueles caras", diz Page sobre sua a "abordagem incomum" que adotou em seu novo projeto, três décadas antes do chamado rock independente comprovar ser sustentável.

A série de artigos entrevistas, análises e comentários de quase uma centena de pessoas (o escritor beatnik William Burroughs entre elas) reunidas no livro, também relembra as histórias e lendas geradas em meio às facilidades e exageros à disposição dos jovens astros ingleses. Os encontros com as fans durante as turnês (Uma das groupies favoritas de Page, Lori Maddox, tinha apenas 14 anos quando eles se conheceram. Nascido em 1944, Page devia ser uns quinze anos mais velho); as festas regadas à álcool e drogas; o vício; as perdas familiares; a bem-sucedida administração dos negócios (a cargo do quinto Zeppelin, o agressivo empresário Peter Grant, cuja ligação com "gângsteres" ou meros criminosos também ficou famosa), o que permitiu ao grupo ser o primeiro do show business a ter seu próprio avião...

Tudo já sugerido no imperdível filme de Cameron Crowe, Quase Famosos, de 2001.(Filme em que Crowe conta sua experiência pessoal de, com apenas 15 anos, ter acompanhado uma turnê do Zeppelin para escrever um artigo para a revista Rolling Stone)

O Zeppelin durou pouco mais de dez anos. Não sobreviveu à morte do baterista, supostamente asfixiado em seu próprio vômito ao dormir após ter tomado algo como 24 doses de vodka durante 24 horas. Durante o tempo que durou, seus integrantes inscreveram seus nomes no panteão dos mitos da música. Mais que isso. Criaram um gênero: a palavra heavy metal [metal pesado], segundo consta, foi aplicada pela primeira vez por um crítico para definir o som elétrico que os ingleses influenciados pelo blues norte-americano faziam.

Por isso mesmo, Whole Lotta Led Zeppelin é material obrigatório para quem curte rock.

Um comentário:

GUILHERME disse...

Puta que pariu mano....esse primeiro pedaço do show é animal demais! Me trouxe de volta uma emoção de LED que senti qdo vi esse show pela primeira vez, na minha primeira república de faculdade. Com um cara que hj é vocalista e professor de rock and roll. Fantástico!