Pode-se discordar das opiniões da ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, mas é necessário reconhecer que, ao contrário da maioria dos seus pares e dos parlamentares brasileiros, a gaúcha não se furta à polêmica. Hoje (18), ela fez um polêmico "desabafo" ("isso está no meu coração, precisando ser dito") que deverá lhe causar aborrecimentos caso a imprensa não esteja ocupada apenas com o carnaval. Não descarto, contudo, que a ministra, já acostumada às críticas à atuação da secretaria e à defesa dos Direitos Humanos, tenha decidido expressar o que muitas pessoas comentavam à boca miúda (comentário que não ameniza em nada a responsabilidade do assassino de Eloá Pimentel, Lindemberg Alves)
Ao citar caso Eloá, ministra cobra responsabilidade de famílias na proteção de crianças e adolescentes
A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), sugeriu hoje (18) que a família de Eloá Pimentel também tem sua parcela de responsabilidade no envolvimento da adolescente com Lindemberg Alves, condenado a mais de 98 anos pelo assassinato da jovem.
“Vejam o que é a morte da menina Eloá. Uma situação absurda, que revolta o povo brasileiro, mas em todos os noticiários vemos que aquele que matou a Eloá entrou na sua casa e pediu autorização para a sua família para ter uma relação [namoro] com ela, que tinha [na época] 12 anos”, disse a ministra.
Sem poupar críticas ao assassino pelo crime ocorrido em outubro de 2008, Maria do Rosário foi taxativa: a família não deveria ter permitido que Eloá namorasse com Lindemberg, já na época, maior de idade.
“Ele é responsável pelos seus atos e pelo crime. Foi condenado a mais de 98 anos de prisão e eu acho que foi feita justiça, mas quero dizer que nenhuma família, ninguém, deve permitir que crianças estejam mantendo relações em qualquer lugar, permitidas ou não. As crianças brasileiras tem que ser mais protegidas pelos seus pais e suas mães”, declarou a ministra.
Questionada sobre qual seria, em sua opinião, a idade apropriada para que pais autorizassem seus filhos a namorar, a ministra evitou dar sua opinião pessoal, respondendo com base na legislação em vigor. “Não sou eu que julgo isso, mas a legislação diz que com menos de 14 anos, qualquer relação sexual é uma violação e um estupro de vulneráveis. E não basta fazermos leis. É preciso que todos as cumpram. Por isso estou chamando a atenção para este aspecto”, comentou a ministra, demonstrando estar ciente da polêmica que suas declarações podem suscitar.
O “desabafo”, conforme classificou Maria do Rosário, foi um alerta para que a sociedade assuma sua responsabilidade na proteção das crianças e adolescentes. Pela legislação brasileira, cabe ao Estado, à sociedade e à família zelar pelo bem-estar e pelos direitos dos jovens.
“Será que é possível que pais e mães não estejam atentos [para o fato] que, com 12 anos de idade, não é possível que os meninos e as meninas estejam sexualizados precocemente?”, questionou a ministra. “O governo federal, os municípios e os estados estão trabalhando muito para formar a rede de proteção [às crianças e adolescentes], mas precisamos que a sociedade esteja mais atenta”, cobrou a ministra.
“Precisamos não só de governos mais atentos – e estamos tentando fazer nossa parte -, mas também de pais e mães mais atentos, cuidadores e sociedades mais atentos. A sociedade tem que fazer sua parte. Se vocês tiverem dúvidas sobre se uma menina ou um menino está sofrendo um abuso, sigam a intuição e denunciem. Busquem o apoio do Disque 100, do Conselho Tutelar, da polícia. Se, na dúvida, não denunciamos [um caso suspeito], uma criança pode ser morta ou abusada”. (fonte Agência Brasil)
E provando que quem não está confuso é porque não entendeu nada, para completar, quando se imagina que o representante legal da família vai rebater a tentativa da ministra de apontar parte da responsabilidade da(s) família(s), o que ele faz? Parabeniza-a pela coragem de, como muitos querem crer, `tocar o dedo na ferida´
Advogado da família de Eloá diz que é mesmo preciso mais atenção dos pais sobre atitudes dos filhos
O advogado da família da jovem Eloá Pimentel, Ademar Gomes, disse hoje (18), que a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, tem razão ao cobrar dos pais mais atenção sobre as atitudes e decisões dos filhos. Procurado pela Agência Brasil, Gomes elogiou as declarações da ministra, mas acrescentou que o governo tem que se preocupar com a educação e com o que classificou de “falta de limites dos meios de comunicação”.
“A ministra está de parabéns em suas declarações, mas o governo também deve pensar em limites aos meios de comunicação para que as famílias possam então cobrar seus filhos. Hoje, com os meios de comunicação invadindo nossas casas com cenas que envergonham toda a família, fica difícil os pais controlarem os jovens”, destacou o advogado, criticando alguns programas de TV. “A qualquer hora é possível vermos cenas de sexo na televisão”, completou.
O advogado chegou a parabenizar a ministra pela coragem de falar publicamente sobre o tema, mas frisou que não se pode transferir à família a responsabilidade pelo desfecho do caso. “O assassino extrapolou e é o maior responsável pela morte da Eloá, tanto que a Justiça o condenou a mais de 98 anos de prisão, mas não podemos perder de vista que esse é um caso como tantos outros que acontecem, cometido por um jovem de máformação, que não teve uma educação adequada, criado com liberdade excessiva”, frisou Gomes.
Ele garantiu que a família de Eloá tentou impedir que ela namorasse com Lindemberg Alves, mas não conseguiu se sobrepor à vontade da jovem, assassinada em maio de 2008. “Hoje é muito difícil impor limites às crianças e aos jovens”, disse o advogado, lembrando o caso de Flávia Anair de Lima, morta no ano passado. Flávia, que tinha 16 anos, morreu após cair da sacada do apartamento onde vivia com o então namorado, o ex-jogador de futebol, Rafael Silva, de 20 anos. Como o casal teria brigado horas antes, a polícia investiga o que de fato aconteceu.
Também no ano passado, a Justiça condenou o ex-jogador de futebol Janken Ferraz Evangelista, de 30 anos, pelo assassinato de sua mulher, Ana Claúdia Melo da Silva, que, ao ser morta, em 2009, tinha 18 anos. Segundo notícias publicadas na época, o casal se conheceu quando Ana tinha 14 anos. (Fonte: Agência Brasil)
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