quarta-feira, outubro 11, 2006

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Há dez anos, neste mesmo horário, o telefone do hotel onde eu trabalhava, em Santos, começou a tocar. Atendi-o. Era minha então namorada. As duas chamadas que se sucederam também eram pessoais, de amigos muito próximos. Um deles ligava de São Paulo. Os três tinham o mesmo tom de voz embargado e denunciavam a mesma hesitação em reproduzir a notícia que tinham acabado de ouvir: Renato Russo, vocalista da Legião Urbana e principal letrista do rock brasileiro durante a década de 80, estava morto.

Não tenho vergonha de dizer que quando atendi a quarta chamada - esta, de trabalho - estava chorando. Da mesma forma que para meus amigos e para milhares de fãs da Legião Urbana, eu parecia ter perdido alguém muito próximo. Lembro de diversos apresentadores da MTV, Soninha entre eles, consternados, apresentando seus programas com as pálpebras inchadas. Por quase dois dias, shows, entrevistas e clipes da Legião ocuparam quase que a totalidade da grade da emissora.

Hoje, entendo porque. Renato Manfredini Júnior (1960 – 1996) foi realmente muito próximo e teve influência direta sobre a educação sentimental de milhares de pessoas.

Por mais de uma década, desde que, em 1985, o primeiro disco da banda chegou às rádios e estourou sucessos como Ainda é Cedo, Geração Coca-Cola, Soldados e Por Enquanto, as letras de Renato e a postura da banda conquistaram não apenas a simpatia do público, mas uma admiração que levou jornalistas a atribuírem a seu vocalista uma liderança quase messiânica sobre os fãs. Ledo engano. Estes ouviam-no e assimilavam quando ele dizia não haver nada de especial em si mesmo. Ainda que isso contribuísse ainda mais para que o achassem especial, impedia que se tornassem tietes. Assim, Renato não era adorado por ser famoso, por dar entrevistas ou porque aparecia na tevê. Em geral, era admirado pela capacidade de se comunicar com quem o ouvia.

Hoje, lógico, ouço Legião de outra forma. Mas a admiração por suas mensagens não diminuiu. Pelo contrário. Ao ver garotos e garotas que estavam nascendo em 1996 cantando as mesmas músicas que eu cantava nas rodinhas de violão de meus tempos de adolescente, acompanhado por meus amigos, sei que Renato Russo e a Legião deixaram uma obra perene.

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