terça-feira, março 31, 2009
Sons de Norte a Sul
De Norte a Sul
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quarta-feira, março 25, 2009
(Só agora tive tempo de postar a primeira das últimas três mensagens que o correspondente globetrotter Carlos Leite me enviou do Equador. Não sei quando voltarei ao blog, mas, em breve, a conclusão da trip deste surfista prego semi-fosco e a atualização das músicas).
Alguns dos moradores mais capitalizados constroem as primeiras pousadas e não tarda muito para que surjam os primeiros “forasteiros” que, apaixonados pelo local, decidem fixar residência e aproveitar o que ainda resta do paraíso original, contribuindo, na maioria das vezes e ainda que involuntariamente, para acelerar o processo de degradação local. Vem a primeira padaria, o primeiro café, a cantina italiana, pizzaria e, dependendo do afluxo de turistas, não tarda a surgir uma grande boate com letreiro néon divulgando as baladas de quarta à domingo.
Em Pipa (RN), até recentemente uma pacata vila de pescadores, uma loja vende roupas da Blue Man e da Crawford. Em Montañita, há uma surf shop com Reef e Billabong. O tipo de consumo almejado pelos moradores destes locais que, na maioria das vezes, vivem uma outra realidade econômica.
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De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (9)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
08 de mar 2009 19:01
Assunto : Saudaciones, compañero (9)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
08 de mar 2009 19:01
Destino de nove entre dez surfistas que viajam ao Equador e que não seguem para Galápagos, Montañita não consta da maioria dos mapas equatorianos oficiais. Omissão que não impediu que a praia da província (estado) de Santa Elena ficasse mundialmente conhecida, tornando-se um verdadeiro surf point, freqüentado não apenas pelos aficcionados no esporte, mas também por mochileiros em geral, hippyes, freaks e algumas gatas.
Caminhando pelas poucas ruas do povoado é fácil constatar que o turismo – e o surf em particular – modificou a vida da pequena comunidade, trazendo alguns importantes benefícios econômicos e ampliando o leque de oportunidades de emprego e geração de renda, mas também novos problemas ainda não devidamente equacionados.
É mais ou menos a mesma história de outros surf points do Brasil e do mundo (litoral Norte de São Paulo, Bali, Pipa, Floripa, Costa Rica, etc): aos primeiros surfistas seguiram-se outros tantos jovens com outros interesses. Junto vieram as garotas e as primeiras festas, realizadas na praia mesmo. Não demorou e as informações sobre o novo “paraíso” circularam entre os mais “descolados”, chamando a atenção de alguns “formadores de opinião”.
Eleitos como lugares “da moda”, não tarda para que estes picos sejam invadidos por turistas com as mais diversas expectativas e concepções quanto à diversão, deturpando o clima reinante até então. Os locais, por sua vez, descobrem que podem ganhar algum dinheiro alugando quartos ou transformando os quintais de suas casas primeiramente em modestos campings e, no fim, em estacionamentos para algumas das centenas de motoristas estressados que dirigem até o local.
Alguns dos moradores mais capitalizados constroem as primeiras pousadas e não tarda muito para que surjam os primeiros “forasteiros” que, apaixonados pelo local, decidem fixar residência e aproveitar o que ainda resta do paraíso original, contribuindo, na maioria das vezes e ainda que involuntariamente, para acelerar o processo de degradação local. Vem a primeira padaria, o primeiro café, a cantina italiana, pizzaria e, dependendo do afluxo de turistas, não tarda a surgir uma grande boate com letreiro néon divulgando as baladas de quarta à domingo.
Em Pipa (RN), até recentemente uma pacata vila de pescadores, uma loja vende roupas da Blue Man e da Crawford. Em Montañita, há uma surf shop com Reef e Billabong. O tipo de consumo almejado pelos moradores destes locais que, na maioria das vezes, vivem uma outra realidade econômica.
Apesar de tudo isso, da falta de água no hotel, das constantes quedas de energia elétrica, da ausência de um posto de saúde bem equipado, o astral em Montañita é propício para se largar na areia e esquecer de tudo isso. De forma que, agora, vou surfar com a prancha que acabo de alugar. Depois escrevo contando mais.
Abraço
Carlos Leite
Carlos Leite
terça-feira, março 10, 2009
De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (9)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
08 de mar 2009 19:01
Qualquer que seja o país subdesenvolvido, os mais pobres serao sempre igualmente feios. Ainda que uma ou outra Nacao se destaque por "contar" com uma pobreza mais fotogenica, daquelas que excitam os leitores da National Geographic, ao vivo, a feiúra terá a mesma aparencia, os mesmos ritos e gestos e, principalmente, o mesmo cheiro.
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Como ve, amigo semi-fosco, hoje meu humor nao está em seu melhores dias. Estou em Guayaquil, novamente indisposto devido a algo que comi, creio eu. Por causa disso, nao pude fazer o passeio de trem ate o Nariz do Diabo. Acordei cedo (5 h.), ainda em Riobamba, e apanhei um onibus até a cidade de Alausi. Normalmente, este trajeto de duas horas seria percorrido já de trem, mas devido as fortes chuvas que castigaram o Equador há algumas semanas, o percurso está interrompido. Assim, lá fomos nós, turistas de diversos países, em um onibus de US$ 2, sem qualquer aventura.
Permaneci em Alausi enquanto o grupo seguia de trem rumo ao Nariz do Diabo, economizando US$ 8. Talvez tenha sido melhor, ja que tive mais de tres horas para circular pela pequena cidade. Alem disso, o trem nao é propriamente um trem. Montaram a estrutura de um onibus sobre a carroceria de um trem, e é isso. Mas nao pense que estou desqualificando o passeio a que só nao fui por "forcas maiores". A regiao é belíssima e nao duvido que valha muito a pena.
De Alausi apanhei um novo onibus para Guayaquil e tive de aguentar o sarcasmo do bilheteiro ao perguntar se o veículo em que permaneceríamos por quase quatro horas, sem parada, dispunha de banheiro. Diante da resposta negativa, pensei em me precaver e aproveitar o banheiro da estacao, mas para minha surpresa, o mictório masculino ficava ao fundo da sala de espera/garagem, a vista de todos que aguardavam sentados pelo horário de embarcar.
Te conto essas coisas para que voce compreenda a seguinte conclusao: no Equador, ou o sujeito perde o pudor ou vai passar maus bocados estrada a fora.
Nao acho conveniente voce publicar este e-mail politicamente incorreto, mas eu precisava registrar algumas das impressoes ruins que tive do país. E isso inclui, além do transporte e das condicoes das estradas, a comida, que tem me causado grande estranheza. Nao porque os alimentos sejam desconhecidos, mas pelo aspecto da maioria dos lugares onde tenho confiado fazer minhas refeicoes.
Lógico que minha condicao de mochileiro nao me permite comer em lugares muito caros, mas após meu segundo desarranjo intestinal, posso dizer que já provei da comida de alguns "copos sujos" e de restaurantes nao tao modestos. Com excecao da cantina italiana de Baños, nenhum chegou a surpreender. E em quase todos, a quantidade de moscas me colocou de alerta.
Nao me sinto disposto a conhecer Guayaquil. Vejo em material turístico propaganda sobre a reurbanizacao do chamado Malecón, uma espécie de bulevard ou quarteirao, nao sei ao certo, revitalizado, mas leio o articulista de um jornal criticando as autoridades locais por proibirem pessoas calcando "zapatillas" de andarem pelo local ou mesmo que casais de namorados se beijem ou "demonstrem afeto exacerbado".
Amanha, sigo para a praia. Espero estar melhor para poder te enviar e-mails mais satisfeitos.
Abraco
Carlo Leite
sábado, março 07, 2009
De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (8)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
06 de mar 2009 14:23
"Caro Turista, ao ouvir o toque das sirenas (de alarme): se o som for pausado significa que uma simulaçao está em curso. Já se o som for contínuo, significa que a área deve ser evacuada. Siga os caminhos conforme sinalizado neste mapa até chegar a um dos pontos de menor risco".
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Pois é. Isso é uma das cinco recomendaçoes do folder que um viajante recebe ao chegar à cidade de Baños de Agua Santa ou, simplesmente, Baños, na província (estado) de Tungurahua, a 180 quilômetros de Quito ou duas horas de ônibus desde Latacunga, minha parada anterior.
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Confesso que ao ouvir falar em Baños e suas águas termais pensei comigo mesmo: deve ser uma espécie de Caldas Novas equatoriana. Nao estava completamente enganado. A cidade de cerca de 20 mil habitantes é um balneário onde as pessoas das cidades mais próximas passam os finais de semana e os moradores lotam as quadras públicas para jogar volêi, principalmente, e futebol. As recomendaçoes de segurança, no entanto, sao necessárias, já que a cidade fica espremida entre as encostas do Vulcao Tungurahua (5016 metros) e o Rio Pastaza. Como o chamado "Gigante Negro" voltou a entrar em atividade em 1999, as autoridades aconselham que os moradores da cidade e turistas estejam sempre atentos aos informes do Instituto Geofísico da Universidade Politécnica.
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Além disso, o folder já citado orienta as pessoas a utilizarem óculos e gorros quando estiver "caindo" cinzas e cubrir o nariz com uma máscara ou pano úmido. "As pessoas com alergia ou asma nao devem se expor às cinzas expelidas pelo vulcao, em especial crianças e idosos".
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Agora, estará se perguntando você e os dois ou três eventuais leitores de seu blog, que diabos um surfista brasiliense semifosco foi fazer em uma cidade como esta, a centenas de quilômetros de seu destino final, a praia? A resposta, meus amigos, é a busca por adrenalina.
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Após descer um trecho do Vulcao Cotopaxi de bicicleta, soube pelo guia Vinicio Araque que Baños é muito procurada por cicloturistas que querem conhecer o trajeto de 22 quilômetros entre a cidade e o núcleo de Rio Verde. Nao apenas pela possibilidade de pedalar sem maiores riscos, mas principalmente para conhecer o Manto de La Novia, uma imensa cachoeira visível da estrada e acessível graças às chamadas "tarabitas", uma espécie de gaiola presa a um cabo de aço suspenso a mais de 100 metros de altitude acima do rio e que atravessa de um lado a outro o penhasco. E também o Pailón Del Diablo, já em Rio Verde.
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Aluguei uma bicicleta por apenas US$ 5 dólares o dia inteiro e, as 12h15 p.m., me larguei estrada abaixo. Fui devagar, parando várias vezes durante o trajeto para fotografar (já sei, já sei...preciso te enviar fotos) e respirar. A temperatura subia conforme eu descia. A estrada é movimentada, mas os motoristas respeitam aos ciclistas, desviando e chegando a invadir a pista do sentido contrário apenas para se afastar das bicicletas.
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Catorze quilômetros depois, prendi a bicicleta em um mirante com uma corrente e um cadeado sem-vergonhas e atravessei o despenhadeiro a bordo da tal "tarabita". Que medo! Nao da altitude, mas de que me roubassem a bicicleta (algo que, segundo o senhor que me alugou a bike, jamais aconteceu). Você sabe bem quais sao os fantasmas que atemorizam a nós, brasileiros, nao?
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Ao atravessar o penhasco, a tarabita costuma fazer uma breve parada sobre a queda d´àgua para que os turistas tirem suas fotos. O vapor da água que atinge a gaiola é pouco, mas refrescante. Já do outro lado, o visitante pode andar em meio à vegetaçao até o mirante construído logo acima do Manto de La Novia. Na volta, sentei-me à margem de um riacho e fiz uma das melhores refeiçoes de minha vida apenas com as frutas, chocolate e biscoitos que levava comigo.
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De volta à estrada (as bicicletas permaneciam intocadas, no mesmo lugar), já sem casacos ou gorro, percorri o trecho que faltava até Rio Verde. Sempre montanha abaixo, aproveitando-se da leve inclinaçao que em nenhum momento chega a oferecer qualquer perigo. No povoado, deixei a bicicleta presa no quintal da casa de uma senhora e voltei a me embrenhar no mato. Andei por mais uns 20 ou 25 minutos até me deparar com a ponte de onde se avista integralmente o Pailón Del Diablo, uma nova queda d`água, talvez ainda maior que o Manto de La Novia. No início da ponte, uma placa recomendava que somente cinco pessoas permanecessem juntas sobre a ponte. Permaneci sozinho todo o tempo que fiquei ali.
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Para voltar a Baños é preciso apanhar um dos caminhoes que transportam ciclistas e bicicletas juntos, na caçamba. Já era por volta de 19 horas e o frio era de rachar, mas me senti alegre e satisfeito como nunca. Mesmo o hotel nao sendo lá grande coisa, me senti tomando um banho digno de hotel cinco estrelas. Para encerrar a noite, encontrei uma cantina italiana próxima ao Mercado Municipal onde, sob a bençao de quadros do Poderoso Chefao Marlon Brando, comi um dos melhores macarroes que já provei em minha vida.
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É só isso. A viagem segue e agora já estou em RioBamba, onde planejo tomar o trem que percorre a chamada rota do Nariz do Diabo.
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Abraço
Carlos Leite
quinta-feira, março 05, 2009
De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (7)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com 03 de mar 2009 17:20
Assunto : Saudaciones, compañero (7)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com 03 de mar 2009 17:20
Camarada, sei que isso vai soar estranho, mas concluí que nós, brasileiros, precisamos conhecer melhor a história economica e política dos outros países sul-americanos. Esse tipo de papo nao é muito minha praia, mas percebi que nao sabia absolutamente nada sobre o Equador até iniciar o planejamento de minha viagem. Sequer sabia que este país nao tem uma moeda própria, que dirá o significado disso.
O Equador declarou-se independente em 1830, sete anos, portanto, após o Brasil ter se erguido contra o domínio portugues. Em 2000, em meio a uma crise inflacionária, o país dolarizou oficialmente sua economia, abolindo o uso do sucre. Na ocasiao, segundo o historiador equatoriano Enrique Ayala Mora, o dólar já valia 25 mil sucres. Apenas dois anos antes, a moeda norte-americana valia pouco mais de 5 mil sucres.
"O Equador é o único país sul-americano a ter cometido o desatino de abandonar uma instituicao fundamental: a moeda nacional, fixando a taxa de cambio, eliminando o sucre e transformando o dólar em moeda de curso legal", afirma o brasileiro Paulo Nogueira Batista Jr. no prefácio do livro Breve História Economica do Equador, do economista equatoriano Alberto Acosta.
Segundo Batista, a tomar a decisao, o governo do ex-presidente Jamil Mahuad Witt (1998/2001) converteu o país em uma província monetária dos EUA. "Os problemas acarretados por essa decisao sao, de fato, extremamente graves. Perde-se a receita de senhoriagem, isto é, os recursos que o governo obtém com a emissao monetária, que é entao transferida para o país emissor da moeda adotada, no caso, o dólar. Perde-se também o emprestador de última instancia, elemento central do sistema financeiro moderno".
Ainda de acordo com o economista, países que contam com bancos centrais e moedas nacionais podem se valer da emissao de dinheiro para socorrer o sistema financeiro em momentos de grande instabilidade e risco de corrida bancária, instrumento utilizado sempre que as instituicoes financeiras de um país se veem diante de crises de caráter sistemico.
Aqui, cabe dizer que, embora Batista Jr. entenda que a economia equatoriana está diretamente submetida as decisoes do Federal Reserve - que, ao tomá-las, nao leva em consideracao os efeitos que essas medidas terao sobre o pequeno país sul-americano - nem a populacao, nem o governo dao sinais de que uma mudanca esteja a caminho.
Dias antes de eu viajar, o presidente Rafael Córrea afirmou que a dolarizacao foi uma "cantinfla", algo como uma piada ruim, mas que, por enquanto, nao há forma de desfaze-la. Já para a maiorias das pessoas com quem conversei sobre o assunto, a dolarizacao foi uma boa medida para sair da crise que o país atravessava e nao deve ser desfeita. O dono de um dos albergues onde me hospedei inclusive me contou que a dolarizacao era uma medida já pensada anos antes do governo de Mahuad e que se houvesse sido implementada entao, quando o dólar valia pouco mais de 3 mil sucres, teria sido melhor.
De qualquer forma, como diz Batista Jr., o Equador se distanciou dos demais países sul-americanos ao submeter-se a dolarizacao. O exemplo mais drástico, escreve o brasileiro, foi o da Argentina, cuja economia esteve semi-dolarizada e, em meio a uma profunda crise economica, o governo decidiu restaurar o peso e adotar um regime de flutuacao da taxa cambial, a exemplo da maioria das economias mundiais.
Assim como Córrea fala na dificuldade para devolver o sucre as ruas equatorianas, Batista Jr. reconhece que o processo de restauracao é dramático. "Mesmo assim, os problemas provocados pela dolarizacao sao tao graves que o país pode ser levado, em algum momento, a optar pela volta de sua moeda".
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Estou em Baños
segunda-feira, março 02, 2009
De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (7)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com 01 de mar 2009 20:50
Assunto : Saudaciones, compañero (7)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com 01 de mar 2009 20:50
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Vamos brindar, amigo. Hoje, toquei a neve pela primeira vez em minha vida e sinto que devo comemorar. Por isso tenho diante de mim uma taça de vinho tinto de ótima qualidade - o caubernet sauvingnon Gato Preto - que me custou apenas US$ 2. Nao sei se você já experimentou beber em grandes altitudes. Se nao, posso te dizer que uma taça, ainda mais quando o sujeito está cansado, vale por uma garrafa.
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Como ia dizendo, eu hoje tive meu primeiro contato com a neve. E eu nao saberia te dizer muita coisa a respeito de sua consistência e nem mesmo se é tao gelada quanto imaginamos, pois estava tao empolgado ao ultrapassar a marca dos cinco mil metros de altitude e afundar meus pés na neve que ao apanhá-la em maos, nao registrei o que senti. Recordo de ter pensado que hoje é um daqueles dias de que me lembrarei para o resto de minha vida.
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Sem nunca ter experimentado o montanhismo, cheguei a cerca de 900 metros do cume do Vulcao Cotopaxi que, com seus 5897 metros de altitude, é o mais alto vulcao ativo do mundo. Nao bastasse isso, me joguei estrada abaixo, de bicicleta, descendo uns 670 metros me equilibrando para nao beijar o caminho de terra e pedra.
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Sao cerca de 60 quilômetros desde a cidade de Latacunga, onde passei a noite, até o estacionamento do Parque Nacional do Cotopaxi, local a 4500 metros de altitude onde chega a maioria dos que planejam superar o ar rarefeito e as encostas do vulcao. Para estes, a primeira etapa a ser vencida sao os 300 metros que separam o "parqueadero" do Refúgio José Rivas, a 4800 metros. Acompanhado por um guia local, levei quase 40 minutos para caminhar esses 300 metros, sempre aproveitando para fotografar a paisagem a cada pausa para retomar o folêgo.
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Confesso que, para mim, sujeito pouco afeito a grandes altitudes, que jà nao se sente à vontade nos pouco mais de mil metros de Brasília, a meta era chegar ao refúgio, comer algo na companhia do guia e de montanhistas de várias partes do mundo, incluindo algumas poucas famílias equatorianas (para quem a subida nao deve ser um desafio tao grande) e voltar. Só que Vinicio Araque, meu guia, me convenceu de que eu conseguiria ir além e de que precisava tocar a neve. PAra tanto, dizia ele, bastava subir mais uns 150 ou 200 metros.
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Falando assim parece fácil, mas foram os poucos passos mais exaustivos da minha vida. Após ter parado um pouco no refúgio para descansar e me aclimatar, já nao sentia mais as mesmas dores que senti no peito e nas costas ao subir o primeiro trecho. Mesmo assim, as pernas pesavam, estava ofegante, me faltava o ar e o frio me cortava a pele do rosto, apesar da toca. Neste ponto, entendi que cada centado dos US$ 45 pagos ao Araque haviam sido bem investidos.
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Há 11 anos Araque trabalha como guia turístico. Nasceu próximo ao Cotopaxi e está acostumado com a altitude. Além disso, faz questao de deixar claro que adora o que faz e me tratou nao como a um cliente, mas sim como a um amigo. Por seu intermédio, fiquei sabendo que há 55 vulcoes em todo o Equador, mas apenas 18 deles seguem ativos. O mais alto deles é o Chimborazo, também na Cordilheira dos Andes. Tem 6257 metros, mas diferentemente do Cotopaxi, está inativo.
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Nao permanecemos mais que dez minutos a cerca de 5100 metros, mas foi o suficiente para que eu me sentisse recompensado pelo esforço. Voltamos pela mesma trilha até o refúgio, onde conforme a temperatura subia, aumentava o número de visitantes.
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De volta ao estacionamento, apanhei a mountain bike que Araque me trouxera e, seguido por ele em sua caminhonete, comecei a descer a montanha. Nao sei te dizer em quanto tempo cheguei ao lago que demarca os 3830 metros, mas neste ponto me dei por satisfeito. Colocamos as bikes de volta na caçamba da caminhonete e voltamos a Latacunga, celebrando a sorte de, após alguns dias de chuva, ter sido brindado com um belíssimo sol que nos possibilitou tiramos belas fotos do cume nevado do Cotopaxi.
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Exausto, passo mais uma noite em Latacunga.
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Abraço.
domingo, março 01, 2009
De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (6)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
28 de feb 2009 22:02
Assunto : Saudaciones, compañero (6)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
28 de feb 2009 22:02
Amigo, agora sim minha viagem começa a ganhar um ar aventuresco. Deixei Quito hoje (28) cedo. Um táxi me deixou no terminal de onde saem os ônibus para a cidade de Latacunga, capital da província (estado) de Cotopaxi, onde está o vulcao ativo mais alto do mundo (5.897 metros), o Cotopaxi.
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O ônibus é barato (US$ 1.50), mas como parece ser regra no Equador, faz várias paradas ao longo do percurso para apanhar mais passageiros. Assim, demora duas horas para percorrermos os 89 quilômetros que separam as duas cidades. E em cada parada uma horda de ambulantes invade o veículo, oferecendo de àgua a pedaços de frangos fritos. Também nao é incomum passageiros viajando com pequenos cachorros em seus colos.
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Nada disso, no entanto, conseguiu roubar minha atençao da paisagem andina. De Quito, que está a cerca de 2.800 metros do mar, o ônibus tem que galgar aos poucos a Cordilheira dos Andes. A estrada é sinuosa e dei graças a Deus por a Rodovia Panamericana estar em boas condiçoes, pois confesso que em alguns trechos tive medo de que o motorista nao consiguisse fazer a curva.
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Apesar do sol de meio-dia, viajamos com praticamente todas as janelas fechadas. Desse modo, fingi ignorar o frio que faz do lado de fora e segui fotografando a paisagem que um brasileiro como eu classificaria como árida, embora essa nao pareça ser a palavra exata, já que, à distância, o verde cobre as montanhas e picos.
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Minha primeira impressao de Latacunga nao foi das melhores. Tu me conhece e sabe que nao sou lá muito exigente, mas, pelo que vi até aqui, e pelo pouco que tenho viajado, já deu para concluir que o Equador ainda tem muito o que melhorar em termos de infra-estrutura turística.
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Saltei próximo ao terminal de ônibus e caminhei algumas poucas quadras para chegar ao modesto Residencial Santiago (US$ 8 por pessoa a diária, sem café da manha, que custa outros US$ 2). Saca aquela sensaçao que nos acomete quando pedimos um sanduíche ou refeiçao com base no que vemos em uma foto do cardápio e ao receber o pedido o produto nao faz jus à propaganda? Pois foi como me senti diante do hotel que havia escolhido após uma pesquisa na internet. Por problemas nos banheiros, tive que trocar de quarto por duas vezes. E em nenhum dos três porque passei encontrei vestígios do que havia visto na internet. Por sorte, a dona era atenciosa e seu esforço para agradar - e, lógico, a idéia de quanto estou economizando ficando aqui mesmo - me levou a desistir de procurar outro lugar.
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Há pouco para se ver na cidade. Ainda desconfiado por conta da disenteria que tive após almoçar em Otavalo, andei bastante à procura de um lugar que me parecesse limpo. Como nao quis arriscar e eventualmente comprometer minha ida, amanha, ao Vulcao Cotopaxi, preferi nao experimentar a comida típica local, o chugchucara. Imagino que um suiço ou holandês faria a mesma expressao que eu diante desta iguaria. Por fim, encontrei o Restaurante Rodelu, que funciona no térreo do hotel de mesmo nome, entre as ruas Quito e Padre Salcedo.
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Voltei para o hotel, dormi um pouco e, ao voltar a sair, já nao havia nada o que fazer, mesmo sendo sexta-feira. Quase tudo ja estava fechado e acabei tendo que voltar a comer no Rodelu. Há na Praça de Santo Domingo um café onde parecem se reunir turistas e locais. Por US$ 1 tomei um café com amareto que me devolveu a cor a cara (faz frio, muito frio a noite) e agora estou aqui te escrevendo esta longa e detalhista mensagem que você me pediu para colocar no seu blog que ninguém lê. E estou bem.
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Com as ruas desertas e a iluminaçao pública acesa, a cidade ficou um pouco mais bonita. E o que importa é que estou vivo em Latacunga, a milhares de quilômetros de casa e, principalmente, do trabalho que deixei para viajar. Ainda estou longe da praia e das ondas, mas quem sabe amanha eu nao descubro que é possível praticar snowboarding no Cotopaxi.
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Desde Equador, te envio um calido abraço fuerte
Carlos "Leche"
De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Asunto : Saudaciones, compañero (5)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
27 de feb 2009 20:45
Asunto : Saudaciones, compañero (5)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
27 de feb 2009 20:45
Amigo, você já tomou chá de orégano? Pois saiba que é um santo remédio para o fígado. Pelo menos é o que me dizem os funcionários do albergue Alcala, sensibilizados com meu estado. Logo após te escrever, comecei a sentir uma indisposiçao, um enjôo, certamente causado pelo frango que comi ontem, em Otavalo.
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Confesso estar estranhando um pouco a comida. Talvez tenha a ver com minha necessidade de buscar lugares baratos, mas, até o momento, nao fiz nenhuma refeiçao digna de nota. Pelo contrário. A comida típica é feita à base de batata e milho, quase sempre acompanhada ou de frango, ou de uma carne semelhante ao músculo ou ao que chamamos de carne de segunda.
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Após várias xícaras de chá de orégano, me senti um pouco mais disposto e sai para dar minha última volta por Quito. Ainda bem que deixei para o fim a visita ao Museu do Banco Central, no mesmo bairro onde estou hospedado (La Mariscal) onde pude conhecer um pouco mais sobre a história do Equador, principalmente sobre o período inca. Em seu vasto acervo, o museu guarda desde peças cerâmicas com mais de 6 mil anos, até máscaras cerimoniais feitas em ouro e peças religiosas do período colonial. Para estrangeiros, a entrada custa US$ 2.
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