domingo, março 01, 2009

De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (6)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
28 de feb 2009 22:02



Amigo, agora sim minha viagem começa a ganhar um ar aventuresco. Deixei Quito hoje (28) cedo. Um táxi me deixou no terminal de onde saem os ônibus para a cidade de Latacunga, capital da província (estado) de Cotopaxi, onde está o vulcao ativo mais alto do mundo (5.897 metros), o Cotopaxi.

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O ônibus é barato (US$ 1.50), mas como parece ser regra no Equador, faz várias paradas ao longo do percurso para apanhar mais passageiros. Assim, demora duas horas para percorrermos os 89 quilômetros que separam as duas cidades. E em cada parada uma horda de ambulantes invade o veículo, oferecendo de àgua a pedaços de frangos fritos. Também nao é incomum passageiros viajando com pequenos cachorros em seus colos.

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Nada disso, no entanto, conseguiu roubar minha atençao da paisagem andina. De Quito, que está a cerca de 2.800 metros do mar, o ônibus tem que galgar aos poucos a Cordilheira dos Andes. A estrada é sinuosa e dei graças a Deus por a Rodovia Panamericana estar em boas condiçoes, pois confesso que em alguns trechos tive medo de que o motorista nao consiguisse fazer a curva.

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Apesar do sol de meio-dia, viajamos com praticamente todas as janelas fechadas. Desse modo, fingi ignorar o frio que faz do lado de fora e segui fotografando a paisagem que um brasileiro como eu classificaria como árida, embora essa nao pareça ser a palavra exata, já que, à distância, o verde cobre as montanhas e picos.

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Minha primeira impressao de Latacunga nao foi das melhores. Tu me conhece e sabe que nao sou lá muito exigente, mas, pelo que vi até aqui, e pelo pouco que tenho viajado, já deu para concluir que o Equador ainda tem muito o que melhorar em termos de infra-estrutura turística.

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Saltei próximo ao terminal de ônibus e caminhei algumas poucas quadras para chegar ao modesto Residencial Santiago (US$ 8 por pessoa a diária, sem café da manha, que custa outros US$ 2). Saca aquela sensaçao que nos acomete quando pedimos um sanduíche ou refeiçao com base no que vemos em uma foto do cardápio e ao receber o pedido o produto nao faz jus à propaganda? Pois foi como me senti diante do hotel que havia escolhido após uma pesquisa na internet. Por problemas nos banheiros, tive que trocar de quarto por duas vezes. E em nenhum dos três porque passei encontrei vestígios do que havia visto na internet. Por sorte, a dona era atenciosa e seu esforço para agradar - e, lógico, a idéia de quanto estou economizando ficando aqui mesmo - me levou a desistir de procurar outro lugar.

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Há pouco para se ver na cidade. Ainda desconfiado por conta da disenteria que tive após almoçar em Otavalo, andei bastante à procura de um lugar que me parecesse limpo. Como nao quis arriscar e eventualmente comprometer minha ida, amanha, ao Vulcao Cotopaxi, preferi nao experimentar a comida típica local, o chugchucara. Imagino que um suiço ou holandês faria a mesma expressao que eu diante desta iguaria. Por fim, encontrei o Restaurante Rodelu, que funciona no térreo do hotel de mesmo nome, entre as ruas Quito e Padre Salcedo.
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Voltei para o hotel, dormi um pouco e, ao voltar a sair, já nao havia nada o que fazer, mesmo sendo sexta-feira. Quase tudo ja estava fechado e acabei tendo que voltar a comer no Rodelu. Há na Praça de Santo Domingo um café onde parecem se reunir turistas e locais. Por US$ 1 tomei um café com amareto que me devolveu a cor a cara (faz frio, muito frio a noite) e agora estou aqui te escrevendo esta longa e detalhista mensagem que você me pediu para colocar no seu blog que ninguém lê. E estou bem.

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Com as ruas desertas e a iluminaçao pública acesa, a cidade ficou um pouco mais bonita. E o que importa é que estou vivo em Latacunga, a milhares de quilômetros de casa e, principalmente, do trabalho que deixei para viajar. Ainda estou longe da praia e das ondas, mas quem sabe amanha eu nao descubro que é possível praticar snowboarding no Cotopaxi.

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Desde Equador, te envio um calido abraço fuerte

Carlos "Leche"

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