sábado, março 07, 2009

De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (8)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
06 de mar 2009 14:23


"Caro Turista, ao ouvir o toque das sirenas (de alarme): se o som for pausado significa que uma simulaçao está em curso. Já se o som for contínuo, significa que a área deve ser evacuada. Siga os caminhos conforme sinalizado neste mapa até chegar a um dos pontos de menor risco".
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Pois é. Isso é uma das cinco recomendaçoes do folder que um viajante recebe ao chegar à cidade de Baños de Agua Santa ou, simplesmente, Baños, na província (estado) de Tungurahua, a 180 quilômetros de Quito ou duas horas de ônibus desde Latacunga, minha parada anterior.
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Confesso que ao ouvir falar em Baños e suas águas termais pensei comigo mesmo: deve ser uma espécie de Caldas Novas equatoriana. Nao estava completamente enganado. A cidade de cerca de 20 mil habitantes é um balneário onde as pessoas das cidades mais próximas passam os finais de semana e os moradores lotam as quadras públicas para jogar volêi, principalmente, e futebol. As recomendaçoes de segurança, no entanto, sao necessárias, já que a cidade fica espremida entre as encostas do Vulcao Tungurahua (5016 metros) e o Rio Pastaza. Como o chamado "Gigante Negro" voltou a entrar em atividade em 1999, as autoridades aconselham que os moradores da cidade e turistas estejam sempre atentos aos informes do Instituto Geofísico da Universidade Politécnica.
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Além disso, o folder já citado orienta as pessoas a utilizarem óculos e gorros quando estiver "caindo" cinzas e cubrir o nariz com uma máscara ou pano úmido. "As pessoas com alergia ou asma nao devem se expor às cinzas expelidas pelo vulcao, em especial crianças e idosos".
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Agora, estará se perguntando você e os dois ou três eventuais leitores de seu blog, que diabos um surfista brasiliense semifosco foi fazer em uma cidade como esta, a centenas de quilômetros de seu destino final, a praia? A resposta, meus amigos, é a busca por adrenalina.
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Após descer um trecho do Vulcao Cotopaxi de bicicleta, soube pelo guia Vinicio Araque que Baños é muito procurada por cicloturistas que querem conhecer o trajeto de 22 quilômetros entre a cidade e o núcleo de Rio Verde. Nao apenas pela possibilidade de pedalar sem maiores riscos, mas principalmente para conhecer o Manto de La Novia, uma imensa cachoeira visível da estrada e acessível graças às chamadas "tarabitas", uma espécie de gaiola presa a um cabo de aço suspenso a mais de 100 metros de altitude acima do rio e que atravessa de um lado a outro o penhasco. E também o Pailón Del Diablo, já em Rio Verde.
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Aluguei uma bicicleta por apenas US$ 5 dólares o dia inteiro e, as 12h15 p.m., me larguei estrada abaixo. Fui devagar, parando várias vezes durante o trajeto para fotografar (já sei, já sei...preciso te enviar fotos) e respirar. A temperatura subia conforme eu descia. A estrada é movimentada, mas os motoristas respeitam aos ciclistas, desviando e chegando a invadir a pista do sentido contrário apenas para se afastar das bicicletas.
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Catorze quilômetros depois, prendi a bicicleta em um mirante com uma corrente e um cadeado sem-vergonhas e atravessei o despenhadeiro a bordo da tal "tarabita". Que medo! Nao da altitude, mas de que me roubassem a bicicleta (algo que, segundo o senhor que me alugou a bike, jamais aconteceu). Você sabe bem quais sao os fantasmas que atemorizam a nós, brasileiros, nao?
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Ao atravessar o penhasco, a tarabita costuma fazer uma breve parada sobre a queda d´àgua para que os turistas tirem suas fotos. O vapor da água que atinge a gaiola é pouco, mas refrescante. Já do outro lado, o visitante pode andar em meio à vegetaçao até o mirante construído logo acima do Manto de La Novia. Na volta, sentei-me à margem de um riacho e fiz uma das melhores refeiçoes de minha vida apenas com as frutas, chocolate e biscoitos que levava comigo.
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De volta à estrada (as bicicletas permaneciam intocadas, no mesmo lugar), já sem casacos ou gorro, percorri o trecho que faltava até Rio Verde. Sempre montanha abaixo, aproveitando-se da leve inclinaçao que em nenhum momento chega a oferecer qualquer perigo. No povoado, deixei a bicicleta presa no quintal da casa de uma senhora e voltei a me embrenhar no mato. Andei por mais uns 20 ou 25 minutos até me deparar com a ponte de onde se avista integralmente o Pailón Del Diablo, uma nova queda d`água, talvez ainda maior que o Manto de La Novia. No início da ponte, uma placa recomendava que somente cinco pessoas permanecessem juntas sobre a ponte. Permaneci sozinho todo o tempo que fiquei ali.
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Para voltar a Baños é preciso apanhar um dos caminhoes que transportam ciclistas e bicicletas juntos, na caçamba. Já era por volta de 19 horas e o frio era de rachar, mas me senti alegre e satisfeito como nunca. Mesmo o hotel nao sendo lá grande coisa, me senti tomando um banho digno de hotel cinco estrelas. Para encerrar a noite, encontrei uma cantina italiana próxima ao Mercado Municipal onde, sob a bençao de quadros do Poderoso Chefao Marlon Brando, comi um dos melhores macarroes que já provei em minha vida.
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É só isso. A viagem segue e agora já estou em RioBamba, onde planejo tomar o trem que percorre a chamada rota do Nariz do Diabo.
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Abraço
Carlos Leite

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