terça-feira, março 10, 2009

De: Carlos Leite leiteempedra@ig.com.br
Assunto : Saudaciones, compañero (9)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com
08 de mar 2009 19:01

Qualquer que seja o país subdesenvolvido, os mais pobres serao sempre igualmente feios. Ainda que uma ou outra Nacao se destaque por "contar" com uma pobreza mais fotogenica, daquelas que excitam os leitores da National Geographic, ao vivo, a feiúra terá a mesma aparencia, os mesmos ritos e gestos e, principalmente, o mesmo cheiro.
* * *

Como ve, amigo semi-fosco, hoje meu humor nao está em seu melhores dias. Estou em Guayaquil, novamente indisposto devido a algo que comi, creio eu. Por causa disso, nao pude fazer o passeio de trem ate o Nariz do Diabo. Acordei cedo (5 h.), ainda em Riobamba, e apanhei um onibus até a cidade de Alausi. Normalmente, este trajeto de duas horas seria percorrido já de trem, mas devido as fortes chuvas que castigaram o Equador há algumas semanas, o percurso está interrompido. Assim, lá fomos nós, turistas de diversos países, em um onibus de US$ 2, sem qualquer aventura.

Permaneci em Alausi enquanto o grupo seguia de trem rumo ao Nariz do Diabo, economizando US$ 8. Talvez tenha sido melhor, ja que tive mais de tres horas para circular pela pequena cidade. Alem disso, o trem nao é propriamente um trem. Montaram a estrutura de um onibus sobre a carroceria de um trem, e é isso. Mas nao pense que estou desqualificando o passeio a que só nao fui por "forcas maiores". A regiao é belíssima e nao duvido que valha muito a pena.

De Alausi apanhei um novo onibus para Guayaquil e tive de aguentar o sarcasmo do bilheteiro ao perguntar se o veículo em que permaneceríamos por quase quatro horas, sem parada, dispunha de banheiro. Diante da resposta negativa, pensei em me precaver e aproveitar o banheiro da estacao, mas para minha surpresa, o mictório masculino ficava ao fundo da sala de espera/garagem, a vista de todos que aguardavam sentados pelo horário de embarcar.

Te conto essas coisas para que voce compreenda a seguinte conclusao: no Equador, ou o sujeito perde o pudor ou vai passar maus bocados estrada a fora.

Nao acho conveniente voce publicar este e-mail politicamente incorreto, mas eu precisava registrar algumas das impressoes ruins que tive do país. E isso inclui, além do transporte e das condicoes das estradas, a comida, que tem me causado grande estranheza. Nao porque os alimentos sejam desconhecidos, mas pelo aspecto da maioria dos lugares onde tenho confiado fazer minhas refeicoes.

Lógico que minha condicao de mochileiro nao me permite comer em lugares muito caros, mas após meu segundo desarranjo intestinal, posso dizer que já provei da comida de alguns "copos sujos" e de restaurantes nao tao modestos. Com excecao da cantina italiana de Baños, nenhum chegou a surpreender. E em quase todos, a quantidade de moscas me colocou de alerta.

Nao me sinto disposto a conhecer Guayaquil. Vejo em material turístico propaganda sobre a reurbanizacao do chamado Malecón, uma espécie de bulevard ou quarteirao, nao sei ao certo, revitalizado, mas leio o articulista de um jornal criticando as autoridades locais por proibirem pessoas calcando "zapatillas" de andarem pelo local ou mesmo que casais de namorados se beijem ou "demonstrem afeto exacerbado".

Amanha, sigo para a praia. Espero estar melhor para poder te enviar e-mails mais satisfeitos.

Abraco
Carlo Leite

Nenhum comentário: