Assunto : Saudaciones, compañero (7)
Para : semifosco semifosco@blogspot.com 01 de mar 2009 20:50
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Vamos brindar, amigo. Hoje, toquei a neve pela primeira vez em minha vida e sinto que devo comemorar. Por isso tenho diante de mim uma taça de vinho tinto de ótima qualidade - o caubernet sauvingnon Gato Preto - que me custou apenas US$ 2. Nao sei se você já experimentou beber em grandes altitudes. Se nao, posso te dizer que uma taça, ainda mais quando o sujeito está cansado, vale por uma garrafa.
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Como ia dizendo, eu hoje tive meu primeiro contato com a neve. E eu nao saberia te dizer muita coisa a respeito de sua consistência e nem mesmo se é tao gelada quanto imaginamos, pois estava tao empolgado ao ultrapassar a marca dos cinco mil metros de altitude e afundar meus pés na neve que ao apanhá-la em maos, nao registrei o que senti. Recordo de ter pensado que hoje é um daqueles dias de que me lembrarei para o resto de minha vida.
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Sem nunca ter experimentado o montanhismo, cheguei a cerca de 900 metros do cume do Vulcao Cotopaxi que, com seus 5897 metros de altitude, é o mais alto vulcao ativo do mundo. Nao bastasse isso, me joguei estrada abaixo, de bicicleta, descendo uns 670 metros me equilibrando para nao beijar o caminho de terra e pedra.
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Sao cerca de 60 quilômetros desde a cidade de Latacunga, onde passei a noite, até o estacionamento do Parque Nacional do Cotopaxi, local a 4500 metros de altitude onde chega a maioria dos que planejam superar o ar rarefeito e as encostas do vulcao. Para estes, a primeira etapa a ser vencida sao os 300 metros que separam o "parqueadero" do Refúgio José Rivas, a 4800 metros. Acompanhado por um guia local, levei quase 40 minutos para caminhar esses 300 metros, sempre aproveitando para fotografar a paisagem a cada pausa para retomar o folêgo.
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Confesso que, para mim, sujeito pouco afeito a grandes altitudes, que jà nao se sente à vontade nos pouco mais de mil metros de Brasília, a meta era chegar ao refúgio, comer algo na companhia do guia e de montanhistas de várias partes do mundo, incluindo algumas poucas famílias equatorianas (para quem a subida nao deve ser um desafio tao grande) e voltar. Só que Vinicio Araque, meu guia, me convenceu de que eu conseguiria ir além e de que precisava tocar a neve. PAra tanto, dizia ele, bastava subir mais uns 150 ou 200 metros.
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Falando assim parece fácil, mas foram os poucos passos mais exaustivos da minha vida. Após ter parado um pouco no refúgio para descansar e me aclimatar, já nao sentia mais as mesmas dores que senti no peito e nas costas ao subir o primeiro trecho. Mesmo assim, as pernas pesavam, estava ofegante, me faltava o ar e o frio me cortava a pele do rosto, apesar da toca. Neste ponto, entendi que cada centado dos US$ 45 pagos ao Araque haviam sido bem investidos.
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Há 11 anos Araque trabalha como guia turístico. Nasceu próximo ao Cotopaxi e está acostumado com a altitude. Além disso, faz questao de deixar claro que adora o que faz e me tratou nao como a um cliente, mas sim como a um amigo. Por seu intermédio, fiquei sabendo que há 55 vulcoes em todo o Equador, mas apenas 18 deles seguem ativos. O mais alto deles é o Chimborazo, também na Cordilheira dos Andes. Tem 6257 metros, mas diferentemente do Cotopaxi, está inativo.
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Nao permanecemos mais que dez minutos a cerca de 5100 metros, mas foi o suficiente para que eu me sentisse recompensado pelo esforço. Voltamos pela mesma trilha até o refúgio, onde conforme a temperatura subia, aumentava o número de visitantes.
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De volta ao estacionamento, apanhei a mountain bike que Araque me trouxera e, seguido por ele em sua caminhonete, comecei a descer a montanha. Nao sei te dizer em quanto tempo cheguei ao lago que demarca os 3830 metros, mas neste ponto me dei por satisfeito. Colocamos as bikes de volta na caçamba da caminhonete e voltamos a Latacunga, celebrando a sorte de, após alguns dias de chuva, ter sido brindado com um belíssimo sol que nos possibilitou tiramos belas fotos do cume nevado do Cotopaxi.
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Exausto, passo mais uma noite em Latacunga.
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Abraço.
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