quinta-feira, dezembro 10, 2009

Paraísos Artificiais

MAGNÍFICO! Eis o mínimo que posso dizer do romance "As Viúvas das Quintas-Feiras", da jornalista argentina Claudia Piñeiro. Meu amigo Carlos Leite trouxe de Buenos Aires uma cópia pirata do filme (que, na Argentina, estreou em agosto deste ano) e acabou por me deixar curioso sobre o livro que, por coincidência, está em promoção na livraria Leitura.

Vencedor do prêmio Clarín de 2005 e sucesso de vendas em seu país, a história se passa em um condomínio fechado nas cercanias de Buenos Aires e é, segundo o escritor José Saramago, a "análise implacável de um microcosmo social em acelerado processo de decadência", em meio a sucessivas crises econômicas que atingiram o país vizinho nas últimas duas décadas do século passado.

"Altos de La Cascada é o bairro onde vivemos". "Um bairro fechado, isolado por um alambrado perimetral escondido por detrás de arbustos de variadas espécies, com campo de golfe, quadra de tênis, piscina, duas club houses. E segurança privada". "Mais de duzentos hectares protegidos, nos quais só podem entrar pessoas autorizadas". "Ao redor do conjunto, a cada cinquenta metros, há câmeras que giram cento e oitenta graus". "As ruas têm nomes de pássaros".

"Não há calçadas. Circulamos de automóvel, moto, quadriciclo, bicicleta, carrinho de golfe, scooter ou patins e, quando caminhamos, o fazemos pela pista de rolamento. Em geral, qualquer pessoa que esteja caminhando sem traje ou equipamento esportivo é empregada doméstica ou jardineiro".

Hábil, Cláudia Piñeiro constrói personagens críveis por meio das quais descreve, de forma sutil, porém irônica, os códigos e valores tão caros à classe média ocidental, tão preocupada com as aparências e com o futuro.
"Todos os que viemos morar em Altos de La Cascada dizemos ter feito isso buscando o "verde", a vida saudável, o esporte e a segurança. Com essa desculpa, inclusive diante de nós mesmos, acabamos por não confessar por que viemos. E, com o tempo, já nem nos lembramos. A vinda para La Cascada produz um certo esquecimento mágico do passado. O passado que resta é a semana passada, o mês passado, o ano passado. Vão-se apagando os amigos da vida inteira, os lugares que antes pareciam imprescindíveis, alguns parentes, as recordações, os erros. Como se fosse possível, em certa idade, arrancar as folhas de um diário e começar a escrever um novo".
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Recomendo! E deixo aqui o link para quem quiser ler o primeiro capítulo do livro de 252 páginas publicado pela editora Alfaguara. Abaixo, trailler do filme baseado no livro e dirigido por Marcelo Piñeyro (o mesmo de Plata Quemada e Cinzas do Paraíso).

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